quarta-feira, dezembro 28, 2022

Na casa do senhor Albino


Vai ser proibido fumar no Snob, li algures. Nunca na vida fumei, mas esta é uma notícia que, por uma qualquer mas inconfessável razão, me deixa desconfortável.

Notícias do turismo

O Chiado, hoje à hora de almoço, fez-me lembrar a Piccadilly Circus dos anos 80, onde rareavam os locais e se ouviam os berros estridentes dos portugueses que, armazenados pela Abreu no Mount Royal, se afadigavam com as encomendas das primas, a aviar na Mothercare.

Busha ou Pidjiguiti?

- Não quero conhecê-la. É russa, da terra do Putin.

A conversa foi à hora do almoço, com uma amiga, em face da proposta de lhe ser apresentada uma senhora de nacionalidade russa.

- Imagina que, no tempo do Salazar, por seres portuguesa, não te queriam conhecer. Gostavas?

A tragédia da imprensa em papel

 


Lições da estatística

Se fosse reduzido o número de secretários de Estado, a hipótese de haver destas “barracas” diminuiria - deve estar a pensar António Costa.

terça-feira, dezembro 27, 2022

Obviamente, demitiu-se!

A senhora secretária de Estado saiu do governo, obviamente, tal como, há horas, por aqui achei que ia acontecer. Na realidade, a senhora não parece ter incumprido com nenhuma lei, mas acabou arrastada pelo “clamor popular”. De Murça ao Terreiro do Paço, este é o país que temos.

Um Mega discurso


Cada país com um pavilhão na Expo 98 tinha direito ao seu “dia”. Em geral, enviava um governante para chefiar a sua delegação nacional. Havia lugar à cena do hasteamento de bandeira, passava-se ao interior do Pavilhão de Portugal, Simonetta da Luz Afonso introduzia o filme que revelava a exposição e, subindo ao andar superior, avançava-se para o almoço.

Por mais de uma dúzia de vezes, representei o governo português nestas cerimónias. Acompanhava os dignitários estrangeiros e dizia umas banalidades de circunstância, com alguns apontamentos sobre as relações bilaterais. Alguém da organização da Expo dizia também alguma coisa, breve, antes do convidado encerrar e passarmos às vitualhas, porque, em geral, já se fazia tarde para todos.

Num desses dias, era a vez do Chile. Do lado chileno, estava José Manuel Insulza, ministro dos Negócios Estrangeiros. Pela parte da organização da Expo, surgiu escalado António Mega Ferreira. Quando foi a sua vez de falar, os circunstantes terão pensado que, num instante, ele iria despachar o assunto, com algumas amabilidades da praxe, em nome dos anfitriões.

Era não conhecer António Mega Ferreira! Durante vários minutos, num magnífico improviso, saudou o Chile. Com uma notável erudição, falou da História e da cultura chilena, de Gabriela Mistral e de Pablo Neruda, do Canto Nuevo, de Violeta Parra e de Victor Jara, da beleza de Atacama e do deslumbre de Valparaíso. Não foi um discurso político, minimamente militante. O nome Pinochet, então ainda vivo, não emergiu, nem sequer o de Allende, que, contudo, estava na cabeça de todos os presentes, por detrás das palavras, elegantes e certeiras, de Mega Ferreira. Ali ficou um imenso elogio à vontade democrática do povo chileno, com toda a admiração que este lhe merecia. José Manuel Insulza estava comovido, talvez por não estar à espera de ouvir, naquele contexto, uma intervenção daquela natureza. E disse-o.

Um ano mais tarde, visitei Santiago, onde fui recebido por Insulza. Ao lembrarmos a sua visita à Expo, ele próprio tomou a iniciativa de recordar o “extraordinário discurso de um grande intelectual português” que tinha estado presente no nosso almoço.

Vox populista

Em todas as crises que adubem o populismo, surgem logo a terreiro auto-proclamadas organizações, constituídas por conhecidos profissionais da indignação, que a comunicação social pressurosamente utiliza como forma de aumentar o coro.

Onde a porca torce o rabo

Marcelo Rebelo de Sousa esteve bem perante os “indignados” de Murça. Postura de Estado é aquilo, aprendam!

CD quê?

Durante muitos anos, habituámo-nos tanto a ouvir a opinião do CDS, a propósito de tudo e de nada, que já não nos damos conta do escândalo que é a comunicação social estar sempre a escutar Nuno Melo, em detrimento de uma montanha de outros "partidos" também sem representação parlamentar.

Óbvio!

É mais do que evidente que a senhora já não vai sobreviver como secretária de Estado. A sua posição e autoridade estão definitivamente afetadas, seja ela culpada ou não de alguma coisa. É a sina da vida num governo.

segunda-feira, dezembro 26, 2022

António Mega Ferreira


Há semanas, acabei de ler um largo calhamaço, escrito por alguém que, num “name dropping” obsessivo, parece ter o mundo cultural português como o seu alvo crítico de estimação. A principal “bête noire” do prolífico escriba é António Mega Ferreira. Dei comigo a pensar que só o facto de alguém conseguir convocar tanta acrimónia acaba por revelar a sua real relevância e a enorme dor-de-cotovelo que a sua figura suscita. Mega Ferreira morreu hoje.

António Mega Ferreira foi uma das nossas figuras intelectuais mais brilhantes, nas últimas décadas. Com uma escrita magnífica e uma capacidade de ação notável, fez incursões por diversas áreas da cultura, sempre com extremo mérito, às vezes roçando mesmo a genialidade. As próximas horas trarão obituários e testemunhos completos sobre ele, que se esperam justos. 

Um dia, Paula Moura Pinheiro juntou-nos a ambos num programa televisivo, para falar de alguns prazeres sensuais. Foi uma hora divertidíssima, que anda pela RTP Play, em que falámos da mesa e de outras coisas, do mundo do gosto que ela nos proporciona.

Uns bons anos antes, em casa do meu amigo Fernando Neves, eu tinha revelado que acabara de ler um livro de um autor menor português, uma figura justamente depreciada pela sua mediocridade, cujo nome nem interessa lembrar. Já nem sei a razão, ou a curiosidade, pela qual eu tinha decidido essa inusitada incursão de leitura. O António Mega Ferreira, escandalizado, mostrou a sua incredulidade: “Ó Francisco! Só o simples esforço de estender o braço para a estante, para pegar num qualquer livro dessa figura, já de si é um excesso. Que diabo de autores com que você ainda perde tempo, quando há tão bela escrita que nem toda uma longa vida nos permitirá ler!”.

O António Mega Ferreira tinha toda a razão. Como homenagem, na tarde deste “boxing day”, vou reler o seu magnífico “O Heliventilador de Resende”, que acabo de descortinar numa estante aqui ao lado.

O tio de churrasco

O conceito de “tio de churrasco” é brasileiro (lá diz-se mesmo “tiozão de churrasco”). Trata-se de qualificar aquele familiar, normalmente mais idoso, que um dia cai numa reunião de família e se sente à vontade para soltar opiniões inconvenientes, sob o alibi da “autoridade” da idade ou do seu estatuto, dizendo coisas que já nem pressente como desagradáveis, mas que deixam as pessoas presentes constrangidas, ideias que confrontam “l’air du temps” ou o mínimo de bom senso.

O risco de cada um de nós se tornar num “tio de churrasco” é elevadíssimo, pelo que me policio sempre a mim próprio, antes que me “interditem”, quanto mais não seja pela criação de um embaraçante e penoso silêncio à minha volta. Mas, um dia, arrisco-me a ter esse infortúnio.

Ontem, contudo, tive imensa sorte. Numa jovial reunião de família, alguém sugeriu que duas das pessoas mais velhas, uma das quais eu, entrassem num jogo de debates: eram-nos propostas teses radicais, absurdas pelo seu caráter imperativo, cabendo a cada um dos dois, respetivamente, defender essa tese e atacá-la. Depois, essas mesmas pessoas colocavam-se exatamente na posição contrária, arrasando aquilo que tinham acabado de defender, supostamente com argumentos diferentes dos que tinham sido usados pelo interlocutor. 

O jogo foi divertido, a dialética soltou-se e cada um de nós dois teve a possibilidade de levar até ao absurdo algumas ideias que, num ambiente de conversa serena, nunca defenderíamos. A vintena de assistentes, entre as quais eu tinha uma dúzia de sobrinhos, “desculpou-nos” o extremismo das nossas doutrinas, tanto mais que, no minuto seguinte, nos ouviram dizer exatamente o contrário, com a mesma enfática “lata”.

Mas por que é que lhes estou a dizer isto, com evidente prazer? Porque, lá no fundo, de algumas das barbaridades que ontem por ali deixei ditas, transpareceu-me intimamente, sem que os auditores pudessem suspeitar, o “tio de churrasco” que já habita escondido em mim…

Conselho

E agora, estejam à vontade: o importante não é o que se come e bebe entre o Natal e o Ano Novo. Grave, grave é o que comemos e bebemos entre o dia de Ano Novo e o próximo Natal.

domingo, dezembro 25, 2022

Tanto fazia

Como era óbvio desde o primeiro momento, o assassino de Paris não pretendia matar especificamente cidadãos curdos, queria apenas mostrar o seu ódio aos imigrantes estrangeiros, em especial muçulmanos. A trágica ironia é que os mortos tanto podiam ter sido curdos como turcos.

Natal


O espírito de Natal dos pobres de espírito.

Café duplo


O senhor João trouxe as duas chávenas de café para a nossa mesa, ontem, ao almoço, na Imperial de Campo de Ourique. Quando fez menção de colocar uma das chávenas à frente da minha mulher, ela retorquiu: “Obrigado, mas eu não tomo café”. O senhor João optou então por pousar as duas chávenas à minha frente: “Eu sei que o seu marido, no fim da refeição, acaba muitas vezes por pedir dois cafés…” E ali ficaram as chávenas.

A cena seria banal, não fosse o conteúdo das chávenas não coincidir. Uma delas era café. O líquido que vinha na outra era um tanto transparente. A minha mulher não tinha notado que o senhor João tinha discretamente colocado nessa segunda chávena uma dose de Bushmills. Vende-se por aí tanto café e poucos se dão conta de que um dos melhores do mercado acaba por vir da Irlanda. 

sábado, dezembro 24, 2022

Almanaque

 


Gosto de oferecer livros no Natal. 

Na vida, quase sempre me aconteceu passar os Natais em Vila Real. (Isso só não sucedeu por três vezes: uma, em 1991, quando vivia em Londres, outra, em 2011, em Paris e, este ano, aqui em Lisboa). Por essas alturas, em Vila Real, começo por me abastecer com algumas coisas que o meu amigo Alfredo tem à venda na Livraria e Papelaria Branco. Como não encontro ali tudo o que quero, passo pela Bertrand do shopping a horas mortas (das oito às oito e um quarto, aquilo é um sossego) e compro o restante.

Gosto de oferecer livros, mas só quando isso é possível. Ontem, passei pela Ler, em Campo de Ourique, e comprei dois livros. Para evitar esperas (sou um comodista nato, intolerante com perdas de tempo, para quem ainda não tivesse suspeitado), pedi sacos e evitei o atraso dos embrulhos. Zarpei dali para as Amoreiras, para adquirir o resto que necessitava. Pois isso! Na Bertrand, estavam filas quilométricas. Na FNAC, idem. Vim-me embora. Desconfio que muita gente vai ficar sem livros oferecidos por mim neste Natal.

Há dois dias, na Férin, comprei o livro que a imagem mostra: um excelente estudo de António Araújo sobre a revista “Almanaque”. (São agora quase cinco horas da manhã de sábado e, com exceção da antologia de textos, já o li todo). Este livro é, como imaginarão, uma prenda de Natal. Para mim. Complementa três outros livros que, há dias, chegaram de França, pela Amazon. Foram também uma oferta a mim mesmo. 

Eu não lhes tinha dito que gosto de oferecer livros no Natal?

sexta-feira, dezembro 23, 2022

Evaristo Cardoso


Foram muitos os anos que levou a construir e consolidar o prestígio daquilo que hoje é o Solar dos Presuntos, um caso de sucesso na restauração de Lisboa, um lugar internacionalmente conhecido, que, há pouco tempo, recebeu o prémio Maria de Lourdes Modesto, anualmente atribuído pela Academia Portuguesa de Gastronomia a um restaurante onde se pratique e promova uma genuína cozinha tradicional portuguesa.

À frente do Solar dos Presuntos esteve, por muito tempo, o seu fundador, Evaristo Cardoso, um minhoto de Monção, que agora nos deixou. 

Fica aqui a minha sincera homenagem a alguém que recordo que sempre me recebia com o seu proverbial e amável sorriso. 

quinta-feira, dezembro 22, 2022

“A Arte da Guerra”


Esta semana, em “A Arte da Guerra”, o podcast sobre temas internacionais do “Jornal Económico”, falo com o jornalista António Freitas de Sousa sobre o que pode significar a deslocação de Vladimir Putin à Bielorrússia, o estranho “record” que constitui uma taxa de abstenção superior a 90% nas eleições legislativas na Tunísia e as tensões entre o Qatar e a União Europeia sobre fornecimento de gás.

Pode ver aqui.

Visão


Um belo número é o da “Visão” desta semana. Mas sou suspeito: meti por lá uma colherada escrita.

terça-feira, dezembro 20, 2022

Também

As pessoas que criticam António Costa pela forma menos feliz como se referiu à Iniciativa Liberal deveriam assumir idêntica exigência face ao modo incívico como esta força política agride publicamente Costa e o seu governo, através de uma propaganda visual insultuosa, rasteira e desrespeitosa, espalhada pelo país.

Portar

Muitos aceitam a imigração, “desde que eles se portem bem”. O grande teste à xenofobia é sempre este: estamos dispostos a aceitar os estrangeiros, mesmo que se “portem mal”? Tal como aceitamos os portugueses que se ”portam mal”?

Libé

Cada vez mais me convenço de que o mantra liberal tem uma imensa simplicidade: menos Estado, menor Estado e o que sobrar que fique ao nosso serviço.

“She”

Depois de ver os episódios da série de Netflix sobre os príncipes desavindos com a coroa britânica, cheguei a uma conclusão simples: a série devia chamar-se “She”. O jovem anda por ali, com ar aturdido, a fazer o papel de compère. Ela, sim, sabe o que quer.

segunda-feira, dezembro 19, 2022

Vistoria


No domingo, depois do jogo, fui fazer uma “vistoria” à minha terra. De há muito que, preferencialmente a horas mortas, faço um passeio a pé pelo centro da cidade, sempre que venho a Vila Real. Dizer que calcorreio desde o Cabo da Bila até à Câmara, passando pela Rua Central e pelas três esquinas do “slalom” intermédio (Rosas/Excelsior/Alarcão, Zézé/Santoalha/Ourives e Gomes), não deve dizer rigorosamente nada aos leitores deste espaço. Mas que se há-de fazer?! Embora seja difícil de acreditar, ainda há gente que não conhece Vila Real.

ps - o príncipe (por definição encantado) de penugem na cabeça que percorre o parapeito do castelo (na imagem), à porta de uma loja comercial da Rua Direita, há muito que perdeu o braço. A idade dos vila-realenses tem, aliás, um belo critério de medida: os que ainda se lembram do braço do príncipe e os que nunca viram tal coisa. A questão agora é outra: será que o príncipe, mesmo amputado, vai sobreviver às obras que por ali detetei, na minha “vistoria” de domingo?

domingo, dezembro 18, 2022

É isto, desculpem lá!

Não é popular dizer isto, eu sei, mas hoje é o dia em que, gostemos ou não (e eu não gosto), Leonel Messi fica consagrado, sem a menor dúvida, como o melhor jogador da atualidade e um dos três ou quatro melhores de sempre.

Pensando bem…

Sempre me escapou a racionalidade de um jogador protestar por lhe ter sido marcada uma falta. Até hoje, ainda não vi um árbitro a arrepender-se e dizer: “De facto, pensando bem, você tem razão: não havia justificação para eu ter apitado. Desculpe lá!”

sábado, dezembro 17, 2022

Casa do Baixinho



Como se lá chega não sei explicar, mas qualquer GPS ajuda a percorrer, a partir da A4 ou do centro de Paredes, uns escassos quilómetros até chegar à Casa do Baixinho, no nº 447 da rua do Paço, numa zona rural. 

Entra-se por um pátio onde, diz-me a dona Paula, a dona, no verão se come ao ar livre. Dentro, o ambiente é o que se vê e não difere muito de casas similares: pedra, madeira, lareira. Ah! E não há por ali ninguém “baixinho”. É o nome da quinta!

A lista é curta, mas as entradas são abundantes. Entre outras, somando o couvert, anotei queijo, presunto, salpicão, pataniscas, feijoada, cogumelos recheados, croquetes, entrecosto, rojões, azeitonas, moelas, pimentos, etc. Se resistir a tudo isto (resisti a menos de metade…), pode avançar para os pratos: há dois bacalhaus (escolhemos o folhado, com creme béchamel, que estava muito bom, havendo outro com broa) ou um naco com feijão preto e arroz. Às quintas, há arroz de pato. Ao domingo (só abre ao almoço), têm cabrito e vitela assada. Por encomenda (tlf. 255 785 808), há mais escolha. As sobremesas são variadas e debitadas pela dona Paula, mas podem ser vistas numa mesa no meio da sala, de onde discretamente surripiei uns figos secos.

A lista de vinhos, com o Douro naturalmente a predominar, não sendo deslumbrante, é muito aceitável. O preço final foi muito honesto, pelo que só posso recomendar uma visita. Permanece uma dúvida: quem terá sido o amigo que, há meses, me “receitou” esta Casa do Baixinho? Não é por nada, é só para lhe agradecer!

Não nos queixemos!

Devemos olhar para o lado antes de nos queixarmos. Há sempre outros, afinal, que têm menos sorte do que nós. Há dias, uma amiga, a quem eu dizia que, em 80% das vezes em que abro uma caixa de medicamentos, me sai o lado da bula, confessou, chorosa: com ela, acontece 100% das vezes. Muita sorte temos nós, afinal! 

Itamaraty

Vale uma aposta? Uma das primeiras iniciativas internacionais do governo Lula - com a China, com a Turquia ou com ambos - será uma tentativa de intermediação de um cessar-fogo, ou mesmo de uma negociação para a paz, na Ucrânia. Mesmo sabendo que isso não terá o mínimo sucesso.

Lugares da memória


Há hotéis onde se vai para passar uma noite. E há hotéis onde se volta para nos impedirmos de os esquecer.

Esplendor no verde


Se os proprietários deste café do Porto tivessem visto as tacadas de um bilharista que eu cá sei, na segunda metade dos anos 60, nas mesas do primeiro andar, não teriam fechado a casa. Ou talvez o fizessem, porque o bilharista, a bem d’zer, nunca foi grande coisa… A sério: não tenho saudades, só tenho pena.

sexta-feira, dezembro 16, 2022

Passagem à disponibilidade



Lá se foi mais um Embaixador...

País da aletria

Tive um despique, à saída de Coimbrões, com um camião de uma empresa, que teimava em não me deixar espaço na fila. Passei-o e olhei o nome: "Lingerie Ternurinha". Este país não existe!

Contradição

A grande novidade dos últimos tempos é o facto de um país como a Ucrânia estar a demonstrar algo que é quase contraditório: embora tema a Rússia, deixou de ter medo de lhe fazer frente.

Nomes…

Ninguém se surpreende que Zelenski seja a personalidade internacional do ano, na imprensa portuguesa (e não só). Que outro nome poderia ser? Mas há quem se espante com o facto de António Costa ser a personalidade portuguesa do ano. Repito a pergunta: quem poderia ser? Vá! Nomes!

quinta-feira, dezembro 15, 2022

Santos


Lá vai Fernando Santos à vida! Nada que surpreenda, depois da eliminação do Mundial. É dos livros que nada fica igual após um desaire, neste caso contra muitas expetativas otimistas. Há muita gente que acha que, com o “material” que tinha à sua disposição, ele deveria ter feito muito melhor. Não sei de futebol o suficiente para me pronunciar. Apenas direi que me pareceu ser um treinador para quem a cautela estava sempre à frente da ousadia. Agora, só peço que não ponham lá o Jorge Jesus!

"A Arte da Guerra"


A corrupção no Parlamento Europeu, a estranha tentativa de golpe na Alemanha e a crise política no Perú foram os temas abordados na conversa com o jornalista António Freitas de Sousa, no podcast do Jornal Económico, “A Arte da Guerra”. Ver aqui

quarta-feira, dezembro 14, 2022

Ora bem!


Jogo, jantar e, depois, este Jacobs pós-Jacobs que me chegou pela Amazon. A dia vai acabar pela noite.

Quando a Guerra Fria parecia ter acabado


A Guerra Fria, que durante décadas opôs os ocidentais, sob a liderança dos Estados Unidos, à União Soviética, atravessou, a certo passo, um período de alguma distensão, conduzindo à laboriosa negociação de um “modus vivendi” que tentou reduzir os riscos existenciais e estabelecer alguns canais de regular comunicação.

Foi no quadro da chamada CSCE (Conferência para a Segurança e Cooperação na Europa) que se procurou desenvolver várias “dimensões” de um diálogo entre o Leste e o Oeste, na tentativa de diluir antagonismos e fixar os pontos comuns possíveis entre aqueles dois mundos bem diferentes. Com o fim da União Soviética, a CSCE viria a institucionalizar-se na criação da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa).

A partir de 1994, a OSCE passou a ser a plataforma multilateral onde se tentou, e por muito tempo conseguiu, garantir uma linguagem comum sobre as questões de segurança no espaço euroatlântico e da antiga União Soviética. Mais de meia centena de Estados sentam-se, ainda hoje, à mesa dessa estrutura sedeada em Viena.

Em cada ano, a OSCE é presidida por um país diferente, que conduz a organização durante 12 meses. Há precisamente duas décadas, durante o ano de 2002, Portugal assumiu essa presidência. No final desse exercício, as conclusões propostas pela presidência portuguesa, que, como era de regra, passaram a ser uma “bússola” para o futuro imediato da organização, foram aprovadas por consenso pelos então 55 Estados membros.

Perguntar-se-á: mas, na OSCE, até então, as conclusões não costumavam ser aprovadas por unanimidade? É verdade, mas também é verdade que, a cada ano, esse exercício de harmonização de perspetivas estava a revelar-se mais difícil, pelo que será interessante destacar que acabou por ser com a presidência portuguesa que isso aconteceu pela última vez. 

Desde então, desde há 20 anos, o consenso desapareceu na OSCE. Nunca mais foi possível ter conclusões que contassem com o acordo de todos os Estados. Há dias, na Polónia, mesmo com a ausência forçada da Rússia (cuja delegação oficial foi impedida de participar na reunião final deste ano), a organização esteve muito longe de chegar a qualquer consenso.

Serve isto para dizer que quem conhece o mundo da OSCE sabe que a organização reserva ainda uma memória muito positiva desse trabalho da diplomacia portuguesa, concluído na reunião do Porto, em dezembro de 2002.

Caídos na rede

Foi a pandemia, foram os incêndios, foi o lugar do novo aeroporto ou a linha avançada da seleção. São sempre os mesmos, por aqui, pela redes sociais, sempre zangados, indignados, de adjetivo na tecla e no comentário. Por estas horas, nem imaginam o que eles sabem sobre alterações climáticas, sobre o que se “devia fazer” e não foi feito! É uma malta! 

Português de lá

O português que se fala no Brasil tem uma criatividade única. Chamar “revogaço” a um conjunto forte de medidas revogatórias de decisões anteriormente tomadas é uma extraordinária “trouvaille” semântica.

Na cidade de Niemeyer

O que me impressionou mais no ambiente de confusão (os brasileiros usam “baderna”) que se instalou nas ruas de Brasília é a cobardia das forças de segurança, o medo ou a relutância em impor a ordem democrática.

… e, depois, há Messi!

Percebo que alguns possam não gostar da equipa da Argentina. Mas não entendo que, quem goste um mínimo de futebol, não reconheça o génio, na atualidade incomparável, de Messi. A jogada e a assistência no terceiro golo contra a Croácia são extraordinárias.

terça-feira, dezembro 13, 2022

O dia


Não sei de estado da arte em outros lados mas, por aqui, a coisa começa a compor-se e ainda acaba num belo dia de sol a pôr-se…

Agenda muito doméstica

Dia “às pinguinhas”: reunião, 11:00, Marquês (“pode ser 5ª?”); almoço, 13:30, Campo de Ourique (“é melhor adiar, não achas?”); reunião, 17:30, Baixa (“temos de encontrar outro dia”); jantar de empresa, 20:30, à beira-rio (“cancelado”, diz a SMS). E o zoom das 16:00? Manter-se-á?

segunda-feira, dezembro 12, 2022

12.12.12


Faz hoje 10 anos, dia por dia. Eu era embaixador em Paris e preparava-me para "fechar" a minha carreira diplomática, no final do mês de janeiro de 2013, chegado à idade limite para prestar serviço no estrangeiro. 

Tinham decorrido quase 38 anos, desde que entrara para as Necessidades. Como antes já tinha sido funcionário público por quatro anos, decidi pedir a aposentação, a ter efeitos imediatamente após o meu regresso a Lisboa. Não recorri ao estatuto da "jubilação", que me faria andar pelos corredores do MNE até à idade em que seria obrigado a ir compulsivamente para casa, embora isso fosse financeiramente um pouco mais vantajoso. Queria ficar completamente livre, para poder fazer o que me apetecesse.

A minha reforma ia ser bastante baixa (embora muitos teimem em não acreditar, um diplomata tem sempre uma reforma baixa, porque não lhe é permitido descontar sobre o que ganha quando está colocado no estrangeiro). Tinha, contudo, assegurado já a possibilidade de dar aulas numa universidade privada (não podia lecionar nas universidades públicas, porque isso é incompatível com ser-se pensionista do Estado). Ia ser um apenas um modesto “part-time” que me ajudaria a arredondar os meses.

Porém, nesse dia 12 de dezembro de 2012, todos os meus planos de vida se alteraram.

Com intervalo de algumas horas, recebi três telefonemas de Lisboa. Vinham de três pessoas de áreas muito diferentes, que apenas tinham em comum a circunstância de todos terem lido na imprensa que eu me ia aposentar. Uma não me conhecia pessoalmente, com outra tinha tido apenas um breve contacto, da terceira era amigo. Cada um à sua maneira, os três disseram-me que gostavam de poder vir a contar com a minha colaboração, para aconselhamento estratégico, no âmbito das entidades que dirigiam - duas empresas e uma fundação. Todas essas entidades tinham uma ação internacional relevante. Em nenhuma delas iria ser um trabalho "from nine to five", mas sim reuniões e tarefas pontuais: análises de conjuntura, avaliação de riscos políticos em mercados, estudos prospetivos, com algumas viagens internacionais pelo meio. Eram propostas muito sedutoras, em todos os sentidos.

Apreciei muito os convites, o terem-se lembrado de mim. E aceitei-os. Sentia-me particularmente à vontade para o fazer, porquanto essas entidades estavam a convidar alguém que, no plano político, era público e notório nada ter a ver, em termos de proximidade, com o governo que, no nosso país, chegara ao poder, pouco mais de um ano antes. Aliás, muito pouco, no trabalho que eu iria fazer, tinha a ver com as atividades dessas mesmas entidades em Portugal.

Tinha conhecido muitos colegas diplomatas - noruegueses, britânicos, espanhóis, franceses, brasileiros, etc. - que, após se terem terminado o seu serviço público, tinham ingressado, com naturalidade, no setor privado, para iniciarem uma nova carreira, que pudesse aproveitar a sua experiência de décadas. Em Portugal, contudo, salvo uma meia dúzia (se tanto!) de casos, de que tenho o privilégio de fazer parte, não havia nem há essa prática de reaproveitamento profissional dos diplomatas. É pena. Acho que o setor empresarial português perde bastante com isso, embora eu seja suspeito ao dizê-lo. Por essa ausência de oportunidades, brilhantes colegas meus, acabados de sair de postos e de experiências valiosíssimas, passaram, de um dia para o outro, de uma atividade intensa para o passeio quotidiano do seu cão. No meu caso, eu nem sequer tinha cão.

Nos dias de hoje, continuo ligado, em pleno, a duas das entidades que me contactaram, faz hoje uma década. Com a terceira, concluí, há meses, nove anos consecutivos de agradável colaboração. Quem me está a ler compreenderá agora melhor a razão pela qual a data de 12.12.12 me diz bastante.

E o resto?

Faria muito bem à legitimidade do Parlamento Europeu se procurasse estar atento à ação de alguns deputados que ali funcionam como regulares “porta-vozes” e “influencers” em favor de certos regimes estrangeiros, mesmo que a paga, neste caso, possa não ser material mas apenas em “satisfação” pela cumplicidade política.

Dia 25 deste mês

Helena Pereira, no editorial do "Público" de hoje, a dizer o que precisa de ser dito sem meias palavras.  Já agora: à atenção do P...