quinta-feira, janeiro 31, 2019

Maduro & Cia


Vão confusos os dias da Venezuela. A liderança de Nicolás Maduro está fragilizada internacionalmente a um ponto nunca antes visto. Por muito tempo, o seu patético e cada vez mais inaceitável regime foi sobrevivendo sob a complacência de muitos e com o apoio de uns poucos - estes últimos talvez menos interessados na pessoa de Maduro e, muito mais, tentando evitar que o país caia de novo na esfera de influência dos Estados Unidos, nessa espécie de “deve-e-haver” de poder que, mesmo depois da  Guerra Fria, continua a marcar o mundo. 

Fica a sensação de que talvez tenha sido a mudança política ocorrida no Brasil que acabou por dar uma espécie de “luz verde” à onda anti-Maduro que se gerou nas últimas semanas. Os EUA, a quem, de vez em quando, dá jeito indignarem-se através de um conflito externo no lado “do bem”, aproveitaram este tempo mais sombrio de Trump para colocarem no terreno toda a sua retórica de pressão, estando ainda por saber se ficarão por aí. Não deixa de ser curioso notar que, por décadas, a América continuou a comprar o petróleo venezuelano, o que serviu para alimentar o regime de Maduro e lhe permitiu pagar principescamente as forças armadas e as polícias repressoras. A “realpolitik” é o nome fino do cinismo político.

A União Europeia, cuja “política externa” é sempre uma média aritmética da posição dos seus principais poderes (pontualmente ponderada pelas reticências, ideológicas ou de interesses, de alguns Estados) hesitou um pouco: depois de declarar algumas platitudes, quebrou-se na tibieza de atitude por impulso de uns quantos, voltando finalmente a juntar-se num requisitório mais exigente face a Maduro. Deixar os EUA na liderança democrática do mundo é sempre um incómodo para Bruxelas, que consegue, de quando em vez, os seus momento de coragem.

Não é muito evidente o que se seguirá, a menos que as forças armadas resolvam pilotar uma transição – naturalmente, descontando uma aventura militar externa, que somaria petróleo ao fogo. O auto-proclamado presidente tem hoje, à evidência, uma maior legitimidade política do que Maduro – por muito que isso custe a alguns “maduros” cá de fora, do PT brasileiro ao PC português, todos federados por essa grande “ideologia” que é o anti-americanismo, a doença infantil de certos setores do mundo ocidental. Mas só numa interpretação abstrusa da constituição isso lhe dá direito formal ao poder. Porém, a teimosia de Maduro acaba por garantir à oposição, a cada dia que passa, a legimidade que a letra da lei lhe recusa.

(Artigo publicado em 30.1.19)

4 comentários:

vitor disse...

A minha sensação é que a eleição do fantoche brasileiro foi só mais um capítulo do grande plano. Basta aliás ver no paraíso que têm mergulhado todos os países da América Latina apoiados por Trump até aqui. Quanto ao resto temos que esperar para ver.

Anónimo disse...

Bolsonaro e Maduro: dois grandes exemplos da democracia e do humanismo!

vitor disse...

Finalmente bom senso.

Um relator independente da ONU para a área dos Direitos Humanos defendeu esta quinta-feira que a aplicação de sanções económicas à Venezuela, numa referência a uma recente decisão dos Estados Unidos, vai agravar a crise que afeta aquele país.

Idriss Jazairy defendeu, numa nota informativa divulgada em Genebra, que as sanções económicas irão juntar-se aos danos já provocados pela queda dos preços do petróleo e pela hiperinflação verificada naquele país.


Este é um momento em que se deve mostrar compaixão ao povo da Venezuela, que sofre há tanto tempo, e promover, sem restringir, o acesso a alimentos e a remédios”, declarou o especialista

Na segunda-feira, os Estados Unidos anunciaram sanções contra a petrolífera nacional venezuelana PDVSA, cinco dias depois de terem reconhecido o líder da Assembleia Nacional (parlamento venezuelano), Juan Guaidó, como presidente interino da Venezuela.

No dia seguinte, a administração norte-americana admitiu que Washington estava a ponderar “sanções adicionais” para pressionar o governo de Nicolás Maduro. O Presidente norte-americano, Donald Trump, prometeu usar “todo o poder económico e diplomático dos Estados Unidos para pressionar a restauração da democracia venezuelana”.

No comunicado divulgado em Genebra, e citado pelo serviço noticioso ONU News, Idriss Jazairy pediu à comunidade internacional para se envolver “num diálogo construtivo com a Venezuela para encontrar soluções para os desafios reais”.

“Precipitar uma crise económica e humanitária não é uma base para a solução pacífica de controvérsias”, disse o relator, pedindo aos Estados para se envolverem e facilitarem “diálogos construtivos com todas as partes para encontrar soluções que respeitem os direitos humanos dos venezuelanos”.

É necessário que todas as partes e todos os países trabalhem por uma solução pacífica que não leve a mais violência”, reforçou.

Na mesma nota, Idriss Jazairy manifestou-se também preocupado perante “relatos” que indicam que as sanções “visam mudar o governo da Venezuela”. Sem especificar a origem dos “relatos”, Idriss Jazairy disse que “a coerção, seja militar ou económica, nunca deve ser usada para procurar uma mudança de governo num Estado soberano”. E reforçou: “O uso de sanções por poderes externos para derrubar um governo eleito está em violação de todas as normas do Direito Internacional”.

Anónimo disse...

Mas um tal Johan Bolton já explicou como eles, "americanos", vão fazer: se o Maduro insistir em ser presidente daqueles estado das traseiras chamado Venezuela, eles vão lá e levam-no para Guantanamo (prisão deles, "americanos", onde não se aplica a lei deles "americanos" e que se situa abusivamente em Cuba). E a democracia triunfará...
Claro que o tal John Bolton não consegue perceber , nem aceita, que o petróleo deles, "americanos", tenha ido parar debaixo do solo e das águas da Venezuela; há que emendar isso...

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...