Nada indica que a votação que, daqui a dias, terá lugar no parlamento britânico, para tentar ratificar o acordo entre Londres e os “vinte e sete”, para uma saída negociada do Reino Unido da União Europeia, venha a ter um resultado favorável a tal acordo. Pelo contrário, todos os sinais apontam em sentido inverso. Uma surpresa seria, contudo, muito bem vinda.
O governo de Theresa May, criado para “pilotar” o Brexit, não terá sido capaz de sustentar uma frente que lhe permita agora validar internamente o esforço negocial. Com isso, fica a ideia de que vai também para o lixo todo o excelente trabalho conduzido pela equipa chefiada por Michel Barnier, que obteve aquilo que seria um magnífico resultado ... se o Reino Unido viesse a aprovar o acordo.
Todo o esforço negocial terá sido, assim, em vão? Não creio. Voltemos um pouco atrás, ao tempo que sucedeu ao referendo que desencadeou o Brexit. Lembremo-nos do sentimento de quase pânico que atravessou então a Europa, levando a histéricas e pouco prudentes declarações de vários responsáveis, colando a vontade democrática de Londres a uma espécie de traição, adjetivada ao absurdo e ao quase insultuoso. Os mercados, interpretando esse desvario, deram então sinais de forte instabilidade e de tensão. Depois, acalmaram. Com o tempo, o trabalho da equipa de Barnier terá sido capaz de decompor a nova realidade, segmentá-la e, na medida do humanamente possível, medir o essencial do que estava em causa “nos papéis do divórcio”. E os mercados sabem isso.
Hoje, perante a perspetiva de um Brexit sem acordo, embora seja inevitável que algum nervosismo possa vir a atravessar de novo os meios económicos, parece que ninguém acredita que isso possa ser o fator desencadeador de um pânico em cadeia, de consequências catastróficas. O trabalho negocial terá tido o interessante mérito de permitir antecipar certos efeitos, pelo menos no que toca aos “vinte e sete”. Muito menos claro parece ser o cenário para o próprio Reino Unido, que inevitavelmente vai entrar num mundo novo e imprevisível.
A gestão do que aí virá não vai ser fácil. O bom senso aponta para que, a um eventual vazio negocial, não venha a somar-se uma acrimónia irresponsável, de ambos os lados. É do interesse comum que, perante um provável impasse, se recomece de imediato o trabalho entre as partes, tentando criar pontes onde for possível estabelecê-las. Os vizinhos não saem do sítio e, com ou sem Brexit, o Reino Unido é um vizinho próximo com que teremos de nos entender.
1 comentário:
Lido com apreço.
Despacho:
Sem comentários a este post, é sem dúvida, revelador da falta de conhecimento deste assunto dos leitores deste blog. ´
Para comentar o que interessa são mais importantes o futbol, as intrigas das visinhas à janela etc. etc.
Pobre país que não sabe pensar por si mesmo o que se lhe passa.
Não deferido por não interessar os intelectuais deste blog.
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