sexta-feira, janeiro 11, 2019

O bardo


Nuno Pacheco é um excelente e muito estimável jornalista do “Público”, que regularmente se dedica, como hoje uma vez mais faz naquele jornal, a zurzir o Acordo Ortográfico, apontando incoerências (algumas bem verdadeiras) por parte dos seus crescentes seguidores.

Na produção destes seus artigos monotemáticos (que, somados, já davam um livro, que quiçá seria chatote, pela repetição argumentativa), não sei se Nuno Pacheco se dá conta de que cada vez mais se assemelha àquele antigo ministro da Informação do Iraque que, a espaços, surgia por bairros esconsos da Bagdad ocupada, a afirmar, com um sorriso tão amarelo como as areias do deserto, que afinal tudo estava bem, sob controlo de Saddam Hussein, e que as tropas da potência invasora estavam “à bica” de uma derrota memorável, na “mãe de todas as guerras”. Não está, Nuno Pacheco: a guerra está perdida, como já percebeu. Aliás, ao usar hoje a expressão “só a morte é irreversível”, deixa uma subliminar e necrológica prova de que a Servilusa está prestes a assistir derradeiramente a antiga linguagem.

Posso estar enganado (e prometo não perguntar aos vários amigos que tenho lá pelo “Público”), mas tenho a sensação de que, mais dia menos dia, a Nuno Pacheco vai acabar por acontecer o destino de Assurancetourix, o bardo da aldeia de Asterix...

8 comentários:

António disse...

Uma língua não se muda por decreto. Foi totalitarismo puro.

Anónimo disse...

O que é mais irritante nestes velhos do Restelo é que muito do que eles apontam ao AO são coisas que, na prática ou em princípio, já existiam e eles nunca se preocuparam com isso!!!

Isto para já não falar neste facto assustador: 90% dos marretas que batem no AO, no Facebook, nem sequer conseguem escrever corretamente o próprio nome.

Anónimo disse...

Infelizmente, o famigerado AO90 pelas suas incongruências e apenas ratificado por menos de metade dos países que têm o Português como sua Língua Oficial, passada que seja mais uma dezena de anos talvez venha a ser considerado como um dialecto regional da Península Ibérica...
Tínhamos de ser "originais" para não seguirmos a solução de países cuja língua admite variantes em relação a outros que também a tenham como língua oficial, casos do Inglês e do Francês, pelo menos.
José Honorato Ferreira

João Cabral disse...

Engraçado o senhor embaixador não escrever semelhantes textos, por exemplo, acerca de Angola ou Moçambique por não ratificarem o AO90. Saiba que os Angolanos até têm um parecer oficial em que analisam ponto por ponto o texto do Acordo, acabando por concluir o que qualquer pessoa sensata conclui. Ora faça o trabalho de casa e leia para não falar no ar sobre as coisas: https://drive.google.com/file/d/0Bxp0DApleM_RVURHQVYwcXRuSEk/view

Também não sei se lhe fica muito bem, enquanto diplomata, achar que não se deve resistir a um invasor, sejam os Romanos ou até os Alemães... Curiosamente em França. Bom senso, senhor embaixador, bom senso.

Carlos Fonseca disse...

O senhor embaixador escreve:

"Aliás, ao usar hoje a expressão “só a morte é irreversível”, deixa uma subliminar e necrológica prova de que a Servilusa está prestes a assistir derradeiramente a antiga linguagem."

Acontece que o senhor publica apenas uma parte da frase Nuno Pacheco escreveu, que transcrevo:

"Como várias asneiras outrora cometidas e felizmente corrigidas, esta só espera por um momento de clarividência. Porque irreversível, neste mundo, só mesmo a morte."

Não consigo ver na frase a subliminaridade que refere.

arber disse...

Apesar da quase certeza que o senhor embaixador manifesta sobre a morte da antiga linguagem, pode ser que, entretanto, esse seja o destino do AO.
E basta, para isso, que o presidente brasileiro Bolsonaro, fiel seguidor das práticas de Trump, simplesmente rasgue tal acordo, que nem no Brasil é seguido - basta ouvir o baralhado linguarejar de muita gente, do próprio presidente.
Teríamos aí então um feliz "momento de clarividência", que os de cá certamente não deixariam de seguir.

Anónimo disse...

"basta ouvir o baralhado linguarejar de muita gente"

Mais um que não entende a diferença entre ortografia e fala! Irra...

carlos cardoso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...