quarta-feira, janeiro 30, 2019

Maduro & Cia


Artigo hoje publicado no “Jornal de Notícias”. Pode ser lido aqui.

9 comentários:

Luís Lavoura disse...

A União Europeia, cuja "política externa" é sempre uma média aritmética da posição dos seus principais poderes (pontualmente ponderada pelas reticências, ideológicas ou de interesses, de alguns Estados)

Esta apreciação parece-me um bocado malevolente. Em questões importantes, a posição de pequenos Estados tem tido enorme relevância. Por exemplo, o atual showdown entre a União Europeia e o Reino Unido deve-se à relevância que a União Europeia concede à posição de um seu pequeno Estado, a Irlanda, de que não deve haver uma fronteira real ente ela e a Irlanda do Norte. A posição da Grécia, outro pequeno Estado, também teve e tem enorme relevância nas relações da União Europeia com a Turquia e com a Macedónia do Norte.

Anónimo disse...

Artigo ponderado, como convém a um diplomata, embora com alguma crítica de permeio. Que até poderia subscrever.
Vamos ver, entretanto, se a U.E faz voz grossa a Riad, Televive, Pequim, só para dar estes exemplos (já nem me preocupo com a Coreia do Norte, que está longe de mais para nos preocupar. É mais tarefa para o Tio Sam).
Voltando à Venezuela, julgo que a entidade competente para tentar resolver o problema é a ONU. Para isso é que servem as Nações Unidas. E não a Washington, ou Bruxelas.
Guterres e a sua equipa bem poderiam "cozinhar" uma solução, ou um plano, que pudesse vir a ser aceite e negociável por ambas as partes: Maduro+militares e Juan Guaidó (se é que entretanto não irá preso, ao que ouvi ontem não noticiário, caso a PGR local sempre avance com uma queixa contra ele).
Jorge Albuquerque

Joaquim de Freitas disse...

« todos federados por essa grande "ideologia" que é o antiamericanismo, a doença infantil de certos setores do mundo ocidental.”Escreve o Senhor Embaixador.

O antiamericanismo é exactamente a reacção dos homens livres, ao imperialismo americano, às suas guerras e agressões, às suas políticas neo coloniais de exploração dos povos, ao seu desprezo da soberania e independência dos Estados, à sua politica do “ big stick”, que desde Theodore Roosevelt foi sempre o estilo dos americanos de resolver conflitos diplomáticos.

Pois que falamos da Venezuela, como podemos esquecer que foi já contra este povo, que o “big stick” foi utilizado, quando, em 1900, outro grande Império, o Alemão, diante da ameaça de moratória após 24 meses de negociação, na cobrança da dívida contra a Venezuela, a Alemanha cercou cinco portos e bombardeou a base costeira venezuelana em 1902.
O que deu ensejo à extensão da politica Monroe, porque os Americanos detestaram ver outros bombardear o seu quintal ! A partir desse dia o direito de intervir militarmente na América Latina pertence aos yankees..

“Com fala macia e um grande porrete” , você vai longe, dizia Th. Roosevelt Trump não esqueceu de certeza este ditado africano. E é o que ele prepara para os Venezuelanos.

Qualquer que seja a ideologia de cada um, quando leio o CV do autoproclamado presidente, apoiado por gente como Bolsonaro e todos os ditadores da América Latina, e esta pobre Europa a meio caminho do fascismo, só posso pensar que o processo de colonização inglesa na América do Norte que começou a partir do século XVII. resultou na formação de treze colonias, que deram origem aos Estados Unidos.

E que não foi por acaso que as colónias do Norte, junto com as quatro do centro, foram chamadas colónias de povoamento, e foram industrializadas, e as colónias do Sul, foram chamadas colónias de exploração, formadas por grandes fazendas de produtos tropicais, cultivadas por escravos de origem africana.

A América Latina resta para os yankees uma vasta colónia de exploração.

PS) JUAN GUAIDO ? Quem é ? Antes de 22 de Janeiro último, menos de um Venezuelano em cinco não conhecia este deputado obscuro.

Puro produto dum projecto de uma década super visada pelos formadores da “Mudança de Regime” da elite de Washington, fazendo-se passar por um campeão da democracia, passou anos na vanguarda duma violenta campanha de desestabilização.

Bastou um telefonema do vice-presidente americano Mike Pence, para que Guaido se proclame presidente da Venezuela! Se a Venezuela fosse o maior produtor de amendoins do planeta, de certo que não teria tido essa promoção… Mas o petróleo, não são amendoins…

Este Guaido; começou o seu "trabalho real", em 2007, quando se formou na Universidade Católica Andrés Bello, em Caracas. Mudou mais tarde para Washington DC para se inscrever no programa de governança e gestão política na Universidade George Washington.

Nesse ano, Guaidó ajudou a liderar os comícios antigovernamentais depois que o governo venezuelano se recusou a renovar a licença para a Radio Caracas Televisión (RCTV). Este canal privado desempenhou um papel fundamental no Golpe de Estado de 2002 contra Hugo Chávez. A RCTV ajudou a organizar manifestações antigovernamentais, e a falsificar informações sobre os incidentes graves desta época, para as agências ocidentais. Se Maduro fosse um ditador….

Anónimo disse...

"...todos federados por essa grande "ideologia" que é o antiamericanismo, a doença infantil de certos setores do mundo ocidental....". Sim, lapidar.

Na verdade essa "ideologia" é a fruta da época vendida durante estes últimos dois anos, pela avassaladora maioria das redações de certos (e muitos) setores informativos ...
Compra quem quer ... e porque gosta.

Anónimo disse...

Senhor embaixador
Do alto da sua autoridade de diplomata, o senhor continua, e continua, e continua a tomar a parte pelo todo: será que "iainda não percebeu" que o país chamado Estados Unidos da América não é "a América". Ou no Ministério que tantos anos e tão bem serviu não se sabe isso? Ou o senhor não aprendeu? Ou não quer aprender? Ou quer mostrar que não quer aprender
Isto está mesmo cheio de "maduros"; mas só os outros é que são.
PL

Anónimo disse...


Pois é, Sr. Embaixador, vejo que olha com bonomia o assalto ao poder pelas marionetes do imperialismo. Vejo que, por cá, há alguma falta de "maduridade" e muita americanice ... Francamente, Sr. Embaixador, não habia nexecidade…

João Pedro

Anónimo disse...

Joaquim de Freitas,
Agradeço-lhe o esclarecimento sobre essa figura (fantoche) apoiada por Bruxelas e Washington.
É sempre bom saber quem é quem. Pelos vistos, trata-se de alguém treinado pelos americanos para depois vir agitar o seu país, ao serviço dos interesses dos EUA.
Enfim...
Jorge Albuquerque

Joaquim de Freitas disse...

Caro Senhor Albuquerque : Existe o perigo real duma intervenção brutal dos estado-unidenses, como foi no Iraque, no Afeganistão, na Líbia, e em toda a América Latina, e a eventualidade duma reacção russa, o que seria catastrófico para a paz no mundo.

Os EUA inventam sempre razoes para invadir, destruir e finalmente obter as vantagens que procuram: recursos de países soberanos e/ou posições estratégicas na carta do Mundo. E encontram sempre, sempre ,lacaios à disposição para os ajudar na ignóbil tarefa.

Recordo um ,que tinha prometido a Bush que os americanos seriam recebidos com flores no Iraque! Chamava-se Ahmed Chalabi!
O antigo protegido do Pentágono e dos falcões de Washington foi depois acusado de fraude e tráfico de falsa moeda.

Este indivíduo sulfuroso, já envolvido em assuntos financeiros escuros e condenado na Jordânia foi fundamental na acreditação da ideia da existência de AMD imaginárias, que o pobre General Colin Powel defendeu lamentavelmente na ONU, graças aos frasquinhos de plástico…vazios! E que, disse ele, é a mais triste recordação da sua vida !

Suspeito de jogar um jogo duplo com o Irão, de amigalhaço protegido ,Chalabi passou subitamente a amaldiçoado!
A vantagem real deste "sulfuroso"foi um elemento flagrante na demonstração da falta de credibilidade de GW Bush e da sua equipa belicosa.

• Em tempos, na Geórgia, também apareceu um tal Mikheïl Saakachvili, nascido em Tblissi, e politico ucraniano! Duas nacionalidades! E finalmente apátrida quando a Ucrânia lhe retirou a segunda nacionalidade. Homem de Washington, procurou envolver a UE num conflito com a Rússia.
Acalmou-se quando os tanques de Putine chegaram às portas da capital, Tblissi. E que Sarkozy , seu amigo, voou ao seu socorro, intercedendo junto de Putine.

• Como Juan Guaido, o mercenário Venezuelano, também foi educado nos EUA. Na Columbia Law School e na• George Washington University Law School.

• Na Ucrânia assistimos em 2014 a um drama que pode prefigurar o de Caracas. Um grande e perverso ditador chamado "Yanukovich , trouxe ao poder Viktor Yushchenko, que tinha tomado o poder na Ucrânia (de forma democrática) em 2010.

• Este recusou a graciosa mão do Ocidente, a bela ideia da União Europeia, a Europa dos valores e da democracia, e preferiu recorrer ao infame Vladimir Putin. O povo ucraniano, então, protestou durante três meses.
• E o grande, o ilustre, o incomparável filósofo francês Bernard-Henri Lévy foi para Kiev para os apoiar, na Praça Maidan.
• Como o pobre senador americano, hoje falecido, Mc Cain. Como a “diplomata” americana Victoria Nuland,, a tal do “"Fuck the EU! - Exactly!". Todos grandes democratas.

• Finalmente, em 22 de Fevereiro de 2014, o ímpio Yanukovich foi derrubado com a ajuda de hostes nazis bem identificadas, obrigando-o a fugir para o seu aliado russo. Ovação, triunfo da liberdade e da democracia. Os Estados Unidos e a Europa aplaudiam com as duas mãos. Um governo transitório foi nomeado, as eleições serão antecipadas.

• ( A EU também “exige” hoje a Maduro eleições antecipadas…Mas quais? Presidenciais, que a oposição perdeu, porque não participou, ou as legislativas que ganhou? )

• Entretanto, a NATO espraiou-se até à fronteira da Rússia…Se na Venezuela a única coisa que lhe interessa é o petróleo, na Ucrânia, são as belas terras onde o trigo é opulento e a proximidade do Urso Russo.

Joaquim de Freitas disse...

(SUITE)



Em 30 de Janeiro de 2019 viu-se o carácter sem precedentes da situação da Venezuela:

Um enxame de câmaras do mundo inteiro, procuravam o "Presidente da transição Guaidó" numa cidade que deveria desbordar de apoiantes para ver o seu "novo Presidente " onde deve ser, isto é. no Palácio Presidencial de Miraflores.

A realidade, mais uma vez, desconcertou aqueles que acreditavam nele: alguns punhados de manifestantes dos bairros ricos e uma curta aparição de Guaidó cercado por cerca de 50 pessoas, no hospital da Universidade Central, cercado por pouco menos de uma centena de alunos e professores de medicina, velhos antagonistas da política de saúde gratuita de Chavez, para a maioria social.

Os jornalistas não compreendiam:

Tudo isso por isto? Após o que, Guaidó escreveu na sua conta Twitter: "Hoje #30 Janeiro, nós venezuelanos saímos novamente para levantar as nossas vozes, para nos encontrar-mos na rua e para mostrar que podemos mudar o país." Um pouco mais cedo tinha agradecido por seu telefonema Donald Trump, que por sua vez tinha “twitado” para celebrar a "mobilização em massa".

A distância entre a construção internacional dos meios de comunicação, as redes sociais, e o que está vivendo o país, é imensa. Guaidó não tem território, nenhum reconhecimento interno, não comanda ninguém, não desperta o apoio que deve despertar, encontra-se mais perto do ridículo do que do poder. A expressão venezuelana mais precisa para qualificá-lo seria "pote de humo", "caixa de fumaça".

Aqueles que conduzem o conflito contra a Venezuela aproximam-se de limites perigosos. Guaidó, o primeiro presidente 2,0, uma ficção real, aparece apenas como um peão no esquema que o colocou lá.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...