Impressiona-me imenso a incapacidade dos canais televisivos portugueses para limitar a extensão dos seus telejornais. Não sei o que se passa na generalidade dos países do mundo, mas, em todos quantos vivi, os períodos noticiosos das televisões de referência têm sempre uma duração bem limitada, raramente excedendo os 30 minutos.
A adoção rigorosa desse modelo ajuda a priorizar a importância das notícias, facilita a que o tratamento dos temas seja feito com sintetismo e limita aquelas palavrosas ligações "ao local", onde os repórteres apenas repetem o conteúdo das peças, alimentam os "manifestantes das oito" ou dão voz a transeuntes que pouco viram.
O que mais impressiona nos telejornais portugueses é a total ausência do conceito de "tempo", o qual, aparentemente, é um bem muito escasso em televisão. Muitas vezes, num debate temático, os moderadores interrompem, com facilidade, uma exposição interessante, por falta de um minuto disponível. Porém, num telejornal, um acidente de estrada ou um incidente desportivo tem direito a longo tratamento, com pormenores e comentários cheios de inanidades perfeitamente dispensáveis. O que mais me preocupa é que, pelos vistos, toda a gente acha isto natural...
Este meu comentário vem a propósito do profissionalismo com que ontem vi tratada, ao longo do dia, na televisão francesa, a imensa tragédia provocada pela tempestade, que aqui causou largas dezenas de vítimas. Cada telejornal dos principais canais da televisão francesa, públicos e privados, não alterou o seu formato de meia-hora, tendo, no entanto, tratado o assunto com profundidade, em peças curtas, com notas humanas, diretos breves e concisos, opiniões de especialistas e - muito importante! - com escassíssimas e muito curtas declarações de entidades oficiais. Tudo isto sem deixar de referir outros temas da actualidade francesa e mundial. E, repito, apenas em 30 minutos.