sexta-feira, junho 28, 2019

Sarkozy

“Ele está a ler Sarkozy”. A noite de ontem estava magnífica e aproveitei-a até bastante tarde, num café junto ao hotel, aqui em Bruxelas, depois do jantar. A frase, saída em francês da mesa ao lado, era correta: eu estava a ler um livro de memórias de Nicolas Sarkozy, saído já neste mês de junho, que comprara na véspera na magnífica Filigranes. Olhei para a mesa, onde estavam dois homens e uma mulher, e comentei: “Sim, é Sarkozy! Algum problema?”. Arrependi-me, no instante, de estar a ser tão provocatório, mas era tarde para recuar. Não estavam manifestamente à espera que eu “fosse a jogo”, até porque o comentário fora feito num tom de voz não muito alto. Um dos cavalheiros, reagiu: “De maneira nenhuma! Eu até votei nele!”. Fechei a conversa, sorrindo: “Eu não, não gosto de Sarkozy!”. E, deixando-os a digerir a contradição, continuei a ler (já quase acabei o livro) o relato feito pelo antigo presidente francês, no qual, numa linguagem pretendidamente mais consensual, se entretém a demolir adversários, a ajustar algumas contas (o capítulo sobre François Fillon é exemplar) mas também a revelar que foi definitivamente conquistado por uma agenda radical conservadora, em matéria securitária e migratória. Um destes dias, vou ter de fazer um esforço e tentar começar a ler livros que projetem ideias com que sei que vou estar de acordo.

2 comentários:

Jaime Santos disse...

Admiro-lhe a paciência, Sr. Embaixador. Há certamente muitos conservadores que vale a pena ler, mas não consigo imaginar que o antigo PR Francês seja um deles. Mas convém de facto perceber o que pensam os adversários, porque embora Sarkozy esteja provavelmente politicamente morto, o exemplo recente de Boris Johnson mostra que o estado de defunção política só é verdadeiramente atingido com a defunção natural. Sarkozy pode bem estar um dia de retorno e nesse dia a França tremerá. Como alguém dizia quando Sarkozy se candidatou às ultimas primárias do LR, 'Sarkozy a changé, il est pire...'

Anónimo disse...

como perguntava alguem em frança
"ça se lybien?"

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