Este espaço não tem por regular vocação acolher elogios. Mas tem por regra permitir ao seu autor dizer o que entende como justo deixar assinalado.
Algures em 2001, numa conversa em Nova Iorque, Jorge Sampaio, que ali tinha ido como presidente, explicou-me, como cristalino detalhe, as várias dimensões de uma complexa questão, então candente, que emergira como controversa no seio das Forças Armadas. Eu sabia que o chefe de Estado era particularmente atento aos temas castrenses, como testemunhara em reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional, mas surpreendi-me com o notável rigor da análise que fez, que denotava uma profundidade da abordagem, ancorada num sério conhecimento do problema. “Foi o Vitor Viana quem me aprofundou este assunto. Conhece-o?”. À época, praticamente só conhecia de vista o então oficial superior (hoje general) que, como assessor na Casa Militar em Belém, ajudara o presidente, com brilho, naquele particular.
Em 2010, Vitor Rodrigues Viana foi nomeado para chefiar o Instituto de Defesa Nacional, funções que deixará dentro de dias, terminado que foi o seu tempo de serviço. Tal como ocorrera com certa frequência no passado, em geral no âmbito dos cursos de Defesa Nacional, ao longo destes últimos nove anos tive o ensejo de colaborar regularmente com o IDN. Em debates, conferências, palestras, grupos de estudo e várias outras atividades, envolvendo portugueses e estrangeiros, um pouco por todo o país, pude constatar o notável trabalho - e não estou a exagerar! - realizado pelo general Viana à frente daquela instituição, muitas vezes com fortes constrangimentos orçamentais, a sua capacidade mobilizadora, o seu empenhamento na abertura a todas as áreas do país, enfim, a dinâmica que soube imprimir ao Instituto. Com ele, o IDN tornou-se, sem a menor dúvida, num dos mais relevantes “think tanks” deste país, num centro de reflexão que saiu frequentemente das dimensões tradicionais de segurança e defesa para se projetar numa análise das grandes temáticas geopolíticas globais ou regionais, com impacto nessas mesmas dimensões. Nesse património de reflexão, destaco, entre muitas outras obras publicadas, o trabalho preparatório feito, sob a responsabilidade do IDN, a montante da fixação do último Conceito Estratégico de Defesa Nacional (cujo grupo redator vim a integrar), um instrumento de reflexão e análise que se mantém do maior interesse para o futuro.
A partir da próxima semana, o IDN vai passar a ser dirigido por uma mulher, uma distinta académica, naquela que constitui uma inédita mas feliz decisão do ministro João Gomes Cravinho. Estou certo que, tal como já tinha acontecido (algumas vezes) no passado que antecedeu o general Vitor Viana, o IDN, sob a direção da professora Helena Carreiras, irá continuar a manter uma grande vitalidade nos debates e ações de formação que constituem o seu objeto. Mas julgo que o período de quase uma década em que Vitor Viana esteve à sua frente, passará a constituir uma marca importante na história da instituição.
Ao meu amigo Vitor Viana deixo um abraço de reconhecimento e de admiração pelo trabalho feito. E a certeza de que continuaremos a ver-nos por aí...
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