Sem entrar no domínio das previsões, fizémos, no primeiro ”Observare” de 2021, uma análise ponderada às grandes questões internacionais, antecedida de uma radiografia da nova administração americana. Pode ver aqui.
domingo, janeiro 03, 2021
“Observare” o ano de 2021
Sem entrar no domínio das previsões, fizémos, no primeiro ”Observare” de 2021, uma análise ponderada às grandes questões internacionais, antecedida de uma radiografia da nova administração americana. Pode ver aqui.
Daqui a dias, há eleições
Na eleição presidencial a escolha é fácil. Tudo se resume à resposta a uma simples questão: dentre os candidatos que agora se apresentam, qual é aquele que, em face da experiência e das provas já dadas, apresenta um perfil que mais garantias oferece de poder vir a desempenhar, nos próximos cinco anos, com equilíbrio, moderação e capacidade de diálogo com os vários setores - políticos, institucionais, económicos e sociais - da sociedade portuguesa, o cargo de presidente da República? Eu não tenho a menor dificuldade em escolher.
“Melhorada”
Algumas pessoas (a começar por mim) diziam-me: “O teu blogue tem uma letra muito pequena”. Outros, que não eu, comentavam: “Aquilo precisava de uma corzita!”. Porque não me apetece (por ora) ver debates eleitorais, andei para aqui a mexer no “template” e fiz umas mudanças. Como dizem os brasileiros: dei uma “melhorada”! Se resultou ou não, só os que notaram é que podem dizer alguma coisa (“Mas mudaste alguma coisa? Já não me lembro como era...”). Dá deus as nozes...
sábado, janeiro 02, 2021
“Observare”
Carlos do Carmo e a manhã
Um dia, em Paris, depois de um espetáculo que fez no Chatelêt, perguntei a Carlos do Carmo se, por acaso, estaria disponível para almoçar connosco, no dia seguinte, na embaixada. Respondeu-me: “Não leve a mal, embaixador, mas eu nunca aceito almoços. A minhas manhãs são sempre muito longas... Mas tenho muito gosto em que possamos jantar. Almoçar, não me dá jeito!”
Passaram poucos meses. Eu já vivia em Lisboa. Ia a sair do “Ibo”, um restaurante no Cais do Sodré, e cruzei, na esplanada, Carlos do Carmo e Júlio Pomar, a jantar com as respetivas mulheres. “Ó Júlio! Um dia, em Paris, eu disse ao nosso embaixador que não podia aceitar um convite dele para almoçar. Na altura, fiquei preocupado em que ele tivesse ficado ofendido pela minha recusa. Quero que sejas minha testemunha de que eu só janto!”. E Júlio Pomar, seu grande amigo, confirmou, com aquela gargalhada enrolada que tinha.
A pasta
Começou ontem a quarta presidência portuguesa das instituições europeias. Escrevo “instituições europeias” e não “União Europeia” porque, em rigor, a União Europeia só existe desde 1993. E a nossa primeira presidência teve lugar em 1992.
sexta-feira, janeiro 01, 2021
“Blake & Mortimer”
A Presidência europeia
Pode ver aqui.
quinta-feira, dezembro 31, 2020
A figura do ano
Não tenho a mais leve hesitação em afirmar que a figura do ano de 2020, em Portugal, é a ministra da Saúde, Marta Temido. Com Graça Freitas a seu lado, mas com a responsabilidade política que a esta não incumbe, Marta Temido mostrou o estofo de uma grande servidora pública, com a firmeza, pontuada de humanidade, de uma responsável política. O facto de se ter tornado no alvo predileto dos detratores do Serviço Nacional de Saúde é a maior “medalha” que lhe pode ser atribuída, embora eu espere, com toda a franqueza, que outras venham a tê-la como destinatária.
A outra cidade
quarta-feira, dezembro 30, 2020
Pela mão do sogro
“Este não é um avião oficial. É meu!” Com um sorriso vaidoso, naquela cara em cujos traços se percebia a proximidade da China, o embaixador do Casaquistão, junto da OSCE, Rahkat Aliev, acolheu assim os seus quatro colegas, idos de Viena, que se tinham deslocado ao seu país, numa viagem que ele próprio fazia questão de acompanhar. Partíamos, nessa manhã de 2004, de Almati para Astana.
Às sete
“Ó diabo! Já são sete!”. A frase, ao final da tarde das terças-feiras, é comum, lá por casa. É às sete horas que, por regra, começo o artigo que agora leem. Podia ser mais cedo? Podia, mas não era a mesma coisa. Escrever sem a pressão do tempo, não faz o meu género. (Não sou como aquele relojoeiro, em frente ao mercado de Campo de Ourique, a quem, há alguns tempos, confiei um relógio para conserto e que, perante insistências minhas sobre se o trabalho já estava feito, me disse, sem se rir: “Desculpe lá, mas eu não funciono sob pressão do tempo!“. Para quem trabalha com relógios...). Habituei-me assim, já não mudo. No início, confesso, o método angustiava-me. “Mas, ao menos, pensas sempre, com antecedência, no que vais escrever?”, perguntou-me, um dia, um amigo, a quem revelei este meu comportamento, que, para ele, lhe criaria uma insuportável ansiedade. Claro que, em geral, penso, mas também lhe disse que, muitas vezes, a escolha sobre o tema que esta coluna vai abordar é feita à última hora, sob um impulso momentâneo. “Mas não tens coisas guardadas, para o caso de te faltar a imaginação?”. Quando lhe jurei que não tinha, não me acreditou. Mal ele sabe que a questão se me colocou, ainda há pouco: vou escrever sobre quê, nesta que é a minha última crónica de 2020? Talvez devesse falar sobre isso mesmo, sobre este ano que nos fez perder um ano, que já não vamos recuperar, um ano que nos encheu de medos, de desconfianças, de raiva até. Depois, pensei melhor: não vou “dar confiança” a este ano sinistro, dedicando-lhe um artigo. Não merece. Vou então escrever sobre 2021, o ano que só por muito azar não será melhor do que o anterior? Seria uma banalidade. Mas, então, falar de quê? Já sei! Vou escrever sobre mulheres! Ensandeceu de vez, pensou o leitor. Talvez não. Falar sobre Ursula Van der Leyen é assinalar o papel decisivo que a presidente da Comissão Europeia, nesta tormenta, soube desempenhar, com soluções imaginativas para estimular a economia comum e organizar o processo, tão rápido quanto possível, de distribuição das vacinas. Falar sobre Angela Merkel é notar a “força tranquila” de uma dirigente que mostrou estar à altura da liderança da União, em período bem complexo. Falar de Marta Temido e de Graça Freitas é distinguir, com gratidão, duas senhoras que, apesar das hesitações e erros que uma navegação à vista sempre implicaria, deram ao país uma lição notável de dedicação ao serviço público. É isso! Já descobri tema para esta crónica!
terça-feira, dezembro 29, 2020
Diz a Comissão...
A demagogia medrosa
A RTP e as eleições presidenciais
A RTP acaba de anunciar que vai dar a Vitorino Silva, conhecido como Tino de Rans, toda a cobertura jornalística a que este candidato presidencial tem direito. O serviço público de televisão e radiodifusão não tem “filhos” e “enteados”: além de naturalmente cumprir a lei durante a campanha, deve, nesta fase, garantir uma igualdade de oportunidades, em termos de divulgação jornalística da mensagem de quem reuniu todos os requisitos legais para concorrer ao sufrágio. As outras estações podem atuar como bem entenderem. A RTP não poderia proceder de outra forma. Ponto.
Viva o “Diário de Notícias”!
Hoje, o “Diário de Notícias” regressa “às bancas” como jornal diário em papel. Alguns acharão isto uma reação etária, mas quero dizer que fico muito satisfeito por ver este grande jornal português, uma referência única na nossa imprensa, de novo no prelo. Só posso desejar que a iniciativa tenha sucesso. Felicito Rosália Amorim, a diretora, por ser a cara deste dia. E deixo aqui esta imagem clássica de 1930, de Stuart Carvalhais. Já agora, lembro também que, tal como eu, ele nasceu em Vila Real.
segunda-feira, dezembro 28, 2020
28 de dezembro de 1973
domingo, dezembro 27, 2020
A vacina
“Observare”
Pode ver o programa aqui.
sábado, dezembro 26, 2020
Foi-se o Zé Aguilar
O Zé era um pouco mais velho do que eu. Começou por morar, lá em Vila Real, na Miguel Bombarda, ao tempo em que eu vivia na Alexandre Herculano, no mesmo grande quarteirão. Com a Teresa e o Jorge (Jói), o Zé era filho do homónimo Dr. José Aguilar, advogado e escritor das horas vagas, fotógrafo de mérito, figura muito marcante da cidade, de quem o Zé terá herdado um pouco o tom de voz - e a profissão, claro. A mim e ao Zé juntaram-nos as iniciativas lúdicas do João Ladislau, que, na nossa juventude, inventava coisas levadas da breca. Organizámos uma volta ao circuito, em bicicleta, com várias metas: à medida que os atletas completavam os percursos, as metas eram desmontadas e iam para outro local, com os ciclistas a aguardar para partir de novo, de Sumol em punho. Com o Zé e o João fiz, de vela na mão, de gatas, o aventuroso percurso das canalizações, então ainda não inauguradas, claro, do novo saneamento da Marginal, insultando os passantes de dentro das gateiras. A família do Zé mudou depois de casa, para o Diogo Cão e viamo-nos menos. Mas ainda nos cruzámos bastante em noites do Club de Vila Real, onde o Zé era o terror do senhor Fernando, como autor de “partidas” memoráveis. Foi depois para a universidade, de onde um dia veio “doutor”, para a cidade, de início para secretário do Governo Civil. Em 1969, comigo do lado da oposição e ele do regime, já marcelista, tivemos ferozes debates à mesa da Gomes, com o João Bé do meu lado, na provocação às autoridades então dominantes. O Zé dizia que eu não conseguia discutir sem ter uma caneta na mão, que fazia rodar no vidro das antigas mesas da Gomes (digo antigas, porque me chegou que as atuais são de mármore). Daí em diante, para o resto da vida, não terá havido uma única vez em que o Zé me encontrasse sem que ele próprio não sacasse, de imediato, de uma caneta, rindo-se, preparando o prolongamento de uma suposta discussão. A verdade é que, depois desse tempo, nunca discutimos muito, embora continuássemos em polos oposto das ideias da política. Mas rimos sempre imenso. Reencontrámo-nos, um dia, aos abraços, na tropa, em Lisboa, onde ambos fomos garbosos oficiais de Ação Psicológica. O Zé regressou, entretanto e em definitivo, a Vila Real. Eu mantive-me, para sempre, a viver fora. Viamo-nos nas férias, trocávamos histórias, graçolas, ressublinhávamos, quase sempre por provocação dele, as nossas continuadas diferenças. Um dia, “contratei-o” como advogado, para um diferendo qualquer, para resolver uma vizinhança incomodativa para a casa do meu pai: ganhámos. A última vez em que falámos, mais longamente, foi à mesa da Pompeia, num final de tarde, numa bela iniciativa do Elísio Neves. Soube então dos seus regulares encontros, pelo mundo, com o José Luis Carneiro, nosso colega de infância, em viagens e aventuras magníficas, que nos contou. A pandemia, disseram-me há pouco, levou-nos agora o Zé, cuja luta contra o vírus eu ia acompanhando, nos últimos dias. Tenho qualquer coisa de fatídico, nos períodos de Natal, lá por Vila Real, no tocante à perda de amigos pessoais: foi nesse tempo que levámos a enterrar o Sérgio Moutinho, o José Araújo, o Manuel Fernandes, o Eduardo Lopes de Silva. Agora, estando fora da cidade, não vou poder acompanhar o Zé até à sua última morada, como os jornalistas sem imaginação costumam descrever os funerais. Deixo ao Jói e a toda a restante família do meu velho amigo Zé Aguilar um abraço, raivoso de impotência e de imenso pesar.
sexta-feira, dezembro 25, 2020
Que galo!
Não sendo religioso, tenho uma imensa dificuldade em entender o que poderá esta senhora esperar da sua ida à Missa do Galo. Com que espírito participará na celebração? Como é que a igreja católica acolhe, no seu seio, pessoas com este tipo de atitude? Como é que os meus amigos católicos (a maioria dos meus amigos são católicos, creio) olham para este gesto, à entrada na igreja, por parte de uma sua co-crente? Não estou a ironizar minimamente, podem crer. Estou a transmitir a simples perplexidade de um ateu, que gostava de poder perceber.
Brexit
quinta-feira, dezembro 24, 2020
O príncipe desencantado
José Cutileiro integrou uma geração dourada a quem a fortuna, num tempo em que isso era privilégio de poucos, proporcionou uma educação no exterior. Essa sorte a pouco o levaria, além do diletante bocejo estrangeirado, não fora o caso de Cutileiro concentrar um conjunto incomum de qualidades intelectuais e de trabalho. O olhar sobre o país onde nasceu, e o modo como melhor ficariam protegidos os seus interesses permanentes, começou bastante moldado pela sua experiência britânica. Essa leitura acabaria, depois, tributária da convicção de que o atlantismo era um determinismo geopolítico, e não apenas uma entre outras vertentes na equação da nossa ação externa. Porque colava bem ao conservadorismo estratégico das Necessidades, isso facilitou a sua imersão no mundo diplomático democrático. De um europeísmo cauteloso, atento às alianças que pudessem compensar as nossas fragilidades, Cutileiro caldeou, nas suas reflexões sobre o mundo global, uma postura realista, mas que, a meu ver, ficou sempre aquém do cinismo. Leiam-se os seus escritos sobre as temáticas internacionais, para se perceber os valores essenciais que eram o referente do seu pensamento. Em Cutileiro, temos sempre de resistir à tentação fácil de confundir o ator político-diplomático com a diversão caricatural das personagens dos Bilhetes de Colares, um mundo onde ele dá corpo, num português de lei, com disfarçada ternura patriótica, à exasperação de quem vê o país ficar na soleira daquilo que ele gostaria que ele fosse.
(A “Visão” convidou-me a escrever, para a sua edição desta semana, um perfil do embaixador José Cutileiro, uma das 14 personalidades destacadas pela revista, dentre as figuras desaparecidas em 2020.)
Quantos somos?
quarta-feira, dezembro 23, 2020
A responsabilização política
Uma entrevista do presidente da República, embora na pele de candidato à reeleição, deitou mais uma acha na fogueira posta a arder sob o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita. Há já quem faça contas ao tempo que António Costa o manterá no Governo.
terça-feira, dezembro 22, 2020
Notas de um intruso
O dia ia já longo. Eu madrugara, ainda em Corfu, onde estava, há uma semana, como convidado de Georgios Papandreou, à época ministro dos Negócios Estrangeiros grego, num seminário de reflexão sobre temas internacionais.
segunda-feira, dezembro 21, 2020
O homem a quem roubaram a biblioteca
Não recordo o seu nome e, mesmo se dele me lembrasse, não o diria aqui. Era um homem muito simples, na casa dos 50 anos, que me contava belas histórias da sua infância em João Pessoa, na Paraíba, terra de que sentia saudades que a melhor vida que tinha em São Paulo não conseguia atenuar.
domingo, dezembro 20, 2020
“Observare”
Abordámos, neste programa, a instabilidade político-militar no norte de Moçambique e a projeção regional da Turquia, nomeadamente no conflito azeri-arménio. Falei da admissão pelo rei do erro sueco no modelo de gestão da pandemia e do banimento da Rússia das competições desportivas internacionais. Recomendei, a fechar, um livro de Fareed Zakaria.
Velocidades
sábado, dezembro 19, 2020
O exagerado
“Long drink”
No ano de 2004, aquele pobre país da Ásia Central, tal como os outros com o nome a acabar em “ão”, mantinha, no essencial, todos os reflexos típicos da época comunista, tal como eu os recordava dos anos 80.
sexta-feira, dezembro 18, 2020
O bom estado da União
A pandemia abateu-se sobre a Europa, como se abateu sobre todo o mundo, de uma forma devastadora: com imensas mortes diárias, com uma tensão inédita sobre os serviços de saúde, com uma disrupção das atividades económico-sociais, com impactos nos mercados de trabalho, com falências e suspensão de atividades produtivas, com a indução de um ambiente de pânico, de desânimo e de desesperança.
Suecas
quinta-feira, dezembro 17, 2020
Vidas
Soube que morreu, há meses. A morte esteve sempre ligada à sua vida. Dirigia a mais reputada casa funerária da cidade. Era um homem de uma imensa delicadeza, o senhor Euclides.
quarta-feira, dezembro 16, 2020
António Correia de Campos
A presidência e o governo
Não, não é sobre a relação entre os poderes que ocupam Belém e S. Bento que venho aqui falar. Teremos muito tempo para isso, no futuro. Hoje, gostava de refletir um pouco sobre o desafio que Portugal enfrenta, nos seis meses que aí vêm, na presidência da União Europeia.
Giuliani
A América é uma terra de oportunidades. Mas, quando elas escapam das mãos, transforma-se num país cruel. Rudy Giuliani, como mostra este t...