sábado, dezembro 19, 2020

O exagerado

Custou-me a reconhecê-lo, com a máscara, a porta da livraria, hoje de manhã.

Lembro-me dele como um radical. E, sempre, com um verbo exagerado.

Careca, mais gordo, mais velho, reformado há muito, mas sempre com aquele sorriso jovial, o mesmo que tinha quando andávamos envolvidos nas "guerras" políticas radicais dos anos 70.

Falámos do país e dos dramas caseiros. E ele saiu-se com esta:

- Felizmente que pertencemos a uma geração realizada. Lembras-te quando lutávamos por uma sociedade sem classes?

Eu lembrava-me, mas não percebia onde ele queria chegar.

- Pois bem! Conseguimos o que queríamos: temos hoje uma sociedade sem nenhuma classe...

Continua um exagerado.

2 comentários:

Obelix disse...

Olhe que não, olhe que não...

Anónimo disse...

Estava, no outro dia, a ver o "Triunfo da vontade" e não é que o Hitler também defendia, de viva voz, uma sociedade sem classes?

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...