sábado, setembro 07, 2024

A França é de direita

A França é de direita, afirmava convictamente o antigo presidente Nicolas Sarkozy, depois de ter sido ouvido há dias no Eliseu. Pelo menos o poder, em França, é, de facto, de direita. Se se somar a extrema-direita de Le Pen, o grupo de Éric Ciotti que a ela se juntou depois de se cindir do Les Républicains, a ala maioritária deste mesmo partido e as três ou quatro componentes do campo macronista, está encontrada uma sólida maioria de direita em França. Mas as coisas não podem ser contabilizadas assim!, dirão alguns. Ai não? O que é Michel Barnier senão o símbolo e a prova provada dessa união das direitas francesas? Oriundo do Les Républicains, partido que estava afastado do poder macronista e do qual resistia a vir a ser um parceiro menor, formação de onde Macron tinha inicialmente "pilhado" quadros para a constituição do seu próprio grupo (e onde regularmente ia sacar trânsfugas benévolos para os seus governos, com Rachida Dati como último exemplo), Barnier tem hoje o natural aval do Les Républicains, com maiores ou menores reticências vai acabar por ter o apoio dos grupos macronistas e, como cereja no bolo, garantirá um "nihil obstat" das gentes de Le Pen e Ciotti. São momentos como este que acabam por provar que as diferenças entre as direitas - da direita envergonhada que se auto-intitula de "centro-direita" até à extrema-direita pura e dura - se atenuam e encontram sempre um lugar geométrico de entendimento quando se trata de isolar a esquerda. É que a esquerda é, como sempre foi, o grande inimigo da direita, como convem lembrar aos distraídos. E quando a esquerda, como agora aconteceu, se perde em erros táticos e embarca em algumas ilusões estratégicas, fragiliza-se e convoca de imediato contra si, com toda a naturalidade, a "frente direitista" de que Barnier é o expoente e Macron o indisfarçado promotor. O resto é conversa.

3 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

O RN ,de extrema direita, comprometeu-se a não votar a censura “imediatamente”…

Elucubrações de há um século:

A partir de 1929, o Partido Nazista assumiu gradualmente o controle das ruas, através das SA – a secção de assalto, a formação paramilitar do partido – o que aumentou o número de brigas extremamente violentas contra organizações de protesto de esquerda, espalhando uma atmosfera de guerra civil no país.

O NSDAP não só se estabeleceu no cenário político, tornando-se a partir do início de 1932 a principal força política do país, como também atraiu agora um segmento cada vez maior das jovens elites nacionalistas. Estão agora convencidos da eficiência da estratégia legalista do partido.

Foi portanto a três níveis que o partido nazi se tornou essencial na Alemanha da crise. Entre as massas e nas ruas, as SA e os membros do partido estão a quebrar as fortalezas dos trabalhadores comunistas e social-democratas e a tornar a sua presença cada vez mais visível e dominante.

Nas urnas, as eleições de 1932 fizeram do NSDAP o partido líder na Alemanha, um actor-chave.

No Inverno de 1932, os círculos nacionalistas clássicos consideraram a formação de um governo de coligação de direita.

Em 30 de Janeiro de 1933, após duras negociações, o antigo presidente assinou o acto de nomeação para o cargo de chanceler … O novo gabinete é, portanto, composto principalmente por figuras da direita nacionalista e os nazis estão em minoria, embora “detenham” o Ministério do Interior.

É o fim da democracia e da República de Weimar.

Rosa Luxemburgo é assassinée em Berlim. Ela é uma figura importante no socialismo revolucionário e na história política do século XX.

marsupilami disse...

Encontram-se por aí as gravações de um programa da radiotelevisão suissa do início dos anos 80 da autoria de Henri Guillemin (historiador francês, católico de esquerda) intitulado "L'affaire Pétain" onde fica bem esquissado o retrato da traição da direita francesa nos anos 30-40. Há outro mais curto sobre o mesmo tema "Le désastre politico-militaire de 1940". Por alguma razão a direita francesa estava completamente descredibilizada em 1945. A memória é curta.

Isa disse...

Há um Petain a rir-se a bandeiras despregadas no mezzanino do Inferno ...

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