Posso perceber que este governo queira afirmar bem a sua diferença face ao anterior. O que me parece mais misterioso é que não opte por fazê-lo adotando uma capa dialogante, não confrontacional, sem arrogância, correspondendo à escassez da maioria que tem na Assembleia da República.
Se assim procedesse, dando um ar, verdadeiro ou falso, de estar aberto ao compromisso, julgo que teria uma muito maior possibilidade de, um dia, poder vir a argumentar de que, não obstante toda a sua boa vontade, não consegue governar, por obstrução sistemática por parte da oposição.
O país reconheceria então que o governo se tinha esforçado, mas que a falta de uma sólida maioria parlamentar o tinha impedido de fazer melhor. E isso sublinharia melhor o contraste entre a sua postura e o comportamento "negativo" da oposição. Deste modo, se viesse a ocorrer uma crise institucional, com impacto da funcionalidade do executivo, com necessidade de recurso a eleições, o governo poderia vir a surgir como uma "vítima" aos olhos do país, com a "recompensa" que isso lhe poderia render em termos de votos numa eleição.
Por que razão o governo não se comporta de forma diferente?
Coloquei esta questão, há dias, a uma figura histórica do PSD, por quem tenho grande respeito. A sua resposta foi, no mínimo, desconcertante. Concordando comigo em que uma atitude dialogante poderia ser mais vantajosa, disse-me ser sua opinião que o PSD dos dias de hoje, naquilo que é relevante em termos de decisão política, quase não dispõe de personalidades de outro género do que as que foram aculturadas num clima de agressividade verbal, de quebra de pontes políticas, de "trincheiras" mediáticas e parlamentares. O "jejum" de poder nos últimos oito anos terá agravado esta postura, pelo que, ao lado de Luís Montenegro, há hoje um grupo de assanhados e intraváveis "jeunes loups", muitos com alguma qualidade política, mas todos marcador por essa inescapável atitude "guerrilheira". O PSD do passado, na perspetiva dessa figura, já quase não existe e, em especial, não tem influência na condução do partido. Mesmo o atual governo parece ter sido escolhido para fazer uma política assim, mantendo esta atitude como doutrina.
Será mesmo assim?
9 comentários:
Acabei de ler no Facebook e aqui venho para manifestar a minha forte concordância com o diagnóstico feito pela figura histórica do PSD a quem colocou a questão.
Os governos do PS, salvo escassíssimas excepções de última hora, foram marcados por grande arrogância e indisponibilidade para dialogar com o PSD (o Rui Rio que o diga). Suspeito que o PSD se prepara, até por algum revanchismo, a deixar o PS muitas vezes a pregar no deserto.
Eu não vejo que, neste momento, o PSD e o Governo estejam a ter uma atitude confrontacional. Ainda ontem propuseram uma nova versão da redução do IRS que, segundo eles, acata uma parte das propostas da oposição. Ou seja, estão a tentar dialogar. Qual foi a resposta da oposição? O CHEGA disse que "neste momento não há condições políticas" para chegar a acordo com o Governo, ou seja, o CHEGA é que se coloca numa atitude de ruptura do diálogo. O PS, não percebi bem que resposta pretende dar.
É verdade que o Governo iniciou o seu mandato numa postura confrontacional mas, neste momento, já não me parece que esteja a ter tal postura.
Mandaria alguma humildade e ponderação que este minúsculo Governo tivesse outro tipo de atitude, mais colaborante e aberto às Oposições, designadamente do PS, de quem mais precisa. Mas, não. A arrogância e a confrontação têm sido o timbre e a marca do governo Marca Branca de Montenegro. A AD tem, em termos aritméticos, cerca de 35% de apoio parlamentar, todavia, comporta-se como se tivesse mais de 50%. Pois bem, assim sendo, justificar-se-á o seu derrube, por ocasião da discussão do OE/25. O PR entretanto vem apelar à Oposição, que tem sido maltratada por este governo AD, para não criar uma crise política nessa altura, evitando eleições antecipadas para o ano. Comovente e ternurento, por parte de Marcelo. Enfim, sempre são rapaziada da sua família política. Resumindo, espero bem que esta gentinha da AD, que nos desgoverna, vá pelo cano abaixo no final do ano e depois que venha um outro governo mais refrescante, mais ponderado, menos provocador e menos arrogante. Manter esta malta para além desse período é que seria um erro.
a) P. Rufino
Não só no PSD. Nas primeiras ARs, pós 25 de Abril, havia uma larga % de advogados bem assim como outras profissões, Cidadãos que já tinham "vida" antes de se sentaran no hemiciclo. E teriam depois de saírem.
O fenómeno ex-jotinhas na AR é consequência de um sistema eleitoral não uninominal.
Há por ali muito ilustre deputado de partido que óbviamente nunca venceria uma campanha uninominal.
Deputado selecionado e dependente do partido é uma profissão apelativa para certos perfis, mas transformaram as análizes dos diferentes aspectos dos temas, e consequente legislação, numa acirrada disputa clubística. "Quem não é do Benfica...". É triste.
"No dia em que a subsistência deste Governo depender de um acordo com o PSD, nesse dia este Governo acabou."
António Costa, 2020
O Sr. Rufino é um cómico. Só pode.
Este governo tinha (tem?) a opção de governar mais à esquerda, com algum apoio do PS, ou mais à direita, com apoio do Chega. Mas esses apoios deveriam ser minimamente negociados e Montenegro parece ter escolhido governar sem entrar em diálogo com as oposições, esperando que os apoios apareçam espontaneamente. Já se viu que isso não acontece.
Se Montenegro mudar de atitude, e por agora nada indica que o faça, o PS deverá escolher entre dar um apoio condicional, “puxando” a governação para a esquerda, e empurrar o governo para os braços do Chega, na esperança que não haja acordo possível e o governo caia ou que a governação com apoio do Chega, que seria obviamente mais à direita, não tenha consequências muito graves, que não dure muito tempo e que o resultado das próximas eleições mude significativamente para melhor o panorama político nacional.
Espero (wishfull thinking) que os líderes do PSD e do PS saibam pôr o interesse nacional à frente dos interesses partidários mas espero sentado, pois já cá ando há tempo suficiente para não exagerar muito no optimismo.
Coitado do Leitor António Soares, sentiu-se atingido. Acontece. Este governo Marca Branca é como aqueles cometas que passam rápido e pouco depois desaparecem. Até hoje, as únicas medidas que tomou foi 1) mudar o logótipo; 2) anunciar a construção do novo aeroporto para Alcochete, que já tinha sido pensado pelo governo de J. Sócrates; 3) proceder à substituição de algumas nomeações, como na Misericórdia de Lisboa e no SNS, por exemplo. Estamos esclarecidos? Haverá ainda umas migalhas demagógicas no que respeita ao IRS, para papalvo ver.
a) P. Rufino
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