quinta-feira, agosto 31, 2023

Adieu, Françafrique !

Por décadas, Paris habituou-se a ver a sua influência "respeitada" em África, embora a "Françafrique" tivesse vindo a dar, nos últimos tempos, sinais de um crescente declínio. 

Agora, quase de um momento para o outro, Paris vê a "sua" África sub-saariana começar a cair como um castelo de cartas. A isto há que somar o degradado estado atual das relações com Marrocos, a Tunísia e a Argélia. 

Emmanuel Macron pode vir a ficar, na história francesa, como o titular de um inédito tempo de afastamento com a África, que já não parece ser recuperável. 

De Gaulle e Foccart devem estar a dar voltas nas tumbas.

9 comentários:

Luís Lavoura disse...

E não só. Parece que no outro dia Macron se queixou de que tinha telefonado a Putin, e este pura e simplesmente não lhe tinha atendido o telefone. (Scholz queixou-se do mesmo.)

Luís Lavoura disse...

A Françafrique era uma terra de ditadores deploráveis, como este Bongo que agora caiu, ao que a Europa fechava delicadamente os olhos.

Retornado disse...

O Macron pode afastar de África, mas África não se afasta de França.

Antes pelo contrário.

L'outre-mer não largará a França, aliás a Europa.

Anónimo disse...

o seu a seu dono: quem disse primeiro que a franceafrique tinha terminado não foi o embaixador mas o próprio macron, ainda não há muito tempo (durante uma visita ao gabão, estou em crer). mas claro está, a população desses países continuará a ambicionar viver na frança que os seus dirigentes deploram.

manuel campos disse...


Ainda ontem ao jantar minha mulher levantou a questão do que é que é feito de Macron, pelos visto desaparecido (e acrescento eu que nem sequer "em combate).

Carlos Antunes disse...

Julgo que a perda de influência em África não é só da França, mas do mundo ocidental democrático.
Mo Ibrahim, o magnata sudanês, criador da “Fundação Mo Ibrahim” que distingue a boa governação (Prémio Ibrahim para a Excelência na Liderança Africana) ou critica a má governação em África, responsabiliza as “falhas monumentais dos líderes africanos após a independência”, explicando sem meias palavras (coisa cada vez mais rara) que, “quando nasceram os primeiros Estados africanos independentes, nos anos 50, África estava melhor em termos económicos”. Mo Ibrahim também afirma que os interesses da Europa, por exemplo, apenas podem ser duravelmente garantidos pela democracia e não pelo apoio aos ditadores: “Se a Europa quer garantir a longo prazo os seus interesses, ela tem todo interesse em se aproximar dos povos africanos. Pensar que a conivência com os ditadores será benéfica é um grande erro”, diz Mo Ibrahim.
A questão da perda de influência da França ou dos países ocidentais em África resulta, ao contrário das abordagens democráticas propostas por Mo Ibrahim, de os ditadores africanos estarem pouco interessados em coerências políticas democráticas e, por isso, mais próximos da China e da Rússia que seguem uma política de não interferência nos assuntos políticos internos dos países africanos, sem preocupações democráticas ou de respeito pelos direitos humanos, ambientais ou outros, o que facilita o apoio a líderes autocráticos e governos corruptos para melhor poderem explorar os recursos desses países.
Os ditadores africanos, que através dos recentes golpes militares, têm ascendido ao poder estão pouco interessados na democracia, direitos humanos, combate à corrupção ou boa governação, e têm interesses e agendas que se encontram mais próximas da China e da Rússia, e não me parece que esta mudança do cenário geopolítico do continente africano, com a crescente influência chinesa e russa, se circunscreva à França, mas antes a todo o mundo ocidental.

Joaquim de Freitas disse...

Não há qualquer hipótese de os africanos de qualquer país obterem tratamento igual ao dos estados ocidentais. As políticas dos EUA, da França e outras nunca saíram da descolonização. A prova, a espoliação continua, todos os jornalistas e políticos africanos empenhados afirmam-no; e os dois países colonizadores têm, cada um, um corpo de exército no local para defender o seu roubo organizado, com o consentimento, até agora, dos "negros domésticos", como dizem os africanos, os Bazoum, Ouatarra e outros.

Lá, como noutros lugares, o mundo político-económico está fixado numa renda obtida através da violência, da pilhagem e da corrupção. Isso vem acontecendo há dois séculos, e não são as massas estúpidas que a vida em frente da Netflix que conseguem entender o que está a acontecer e reagir nas ruas ou interpelando os canalhas "à écharpe"..

Estará o Gabão, que foi um dos filhos queridos da Francofonia, a pagar a sua infidelidade indo, sob a liderança de Ali Bongo, para outro lugar, nomeadamente em direcção à Commonwealth?

Carlos Antunes disse...

Um acréscimo ao meu comentário anterior:
Sudão, Guiné Conakry, Burkina Faso, Mali, Níger, Gabão. E vão 6 golpes de estado (7 se contarmos com os dois que aconteceram no Burkina Faso), todos idênticos: os militares a depor Presidentes após eleições consideradas fraudulentas.
Alguns dos novos líderes apressaram-se a proferiram palavras questionando o papel dos países ocidentais em geral que, mesmo após as independências, lá permaneceram explorando minérios, hidrocarbonetos e outros recursos.
Os novos discursos dos militares golpistas (por ex., quando o novo líder do Burkina Faso, capitão Ibrahim Traoré reconhecendo o tamanho do desafio que decidiu assumir, diz que “os jovens da minha geração, devido à pobreza são obrigados a atravessar o mar para tentar chegar à Europa. Morrem no mar. Mas em breve deixarão de o fazer”, ideologicamente pan-africanistas (o regresso ao Pan-Africanismo de Nkrumah?) falam em novas independências, mas enquanto atacam os interesses ocidentais, rendem-se aos neocolonialistas (China, Rússia e grupos extremistas islâmicos ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico, em substituição dos países ocidentais na exploração das riquezas de África) e erguem novos regimes que minados pela corrupção, nepotismo e repressão, pouco se diferenciarão dos que ao longo de décadas apenas têm engordado os ditadores que se têm sucedido no poder. Ou seja, em África, quase todos.
Bem gostava, como alguém de “alma africana” que nunca escondeu as influências que este continente sempre exerceu sobre mim, de assistir a que África vivesse momentos de redenção e que estes novos líderes africanos conseguissem reorganizar as sociedades, resistir às seduções externas, e assegurar a boa governação para benefício dos seus povos.
Infelizmente, não tenho grandes esperanças de que tal esteja ou venha a suceder.



Joaquim de Freitas disse...

O ex-presidente do Gabão, Omar Bongo, tinha 70 contas bancárias, 39 apartamentos, 2 Ferraris, 6 carros Mercedes Benz, 3 Porsches e um Bugatti em França.
Governou por 42 anos (de 1967 a 2009).
O seu filho, Ali Bongo, é presidente desde 2009.
Ele acaba de ser derrubado por um golpe de Estado.
O presidente deposto do Gabão, Ali Bongo, certa vez importou neve da Europa para o Palácio Presidencial, para que a sua família pudesse ter um Natal com neve.
33,4% da população do Gabão vive na pobreza, apesar do país ser rico em petróleo e de ter uma população de apenas 2,4 milhões de pessoas.
- O pai de Ali Bongo governou o Gabão durante 42 anos
- O filho substituiu o pai e governa desde 2009
- Mesmo depois desses anos todos de desgovernação, esse sujeito ainda quer mais 5 anos de poder presidencial

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