quarta-feira, março 24, 2021

Confusões caucasianas


Portugal ganhou há pouco em futebol, com uma triste exibição, face ao Azerbaijão. Ter um bom guarda-redes é outra segurança. E o guardião azeri era excelente.

Lembrei-me então de um episódio passado, na sua capital, Baku, onde, em 2012.

O SMS, recebido da minha jovem "oficial de ligação" (pertencente ao "ask me team", aposto nas costas das respetivas t-shirts, que com imensa simpatia nos assistia) era bem claro: "You are requested to a meeting at 4 pm with the Minister of Agriculture of Azerbaijan". Seguia-se um endereço em Baku, escrito em azeri.

Olhei para o relógio e faltava menos de uma hora. Deixei a reunião em que participava e, com um carro e um condutor arrancados à organização, que só entendia a língua local, zarpei para o encontro.

Pelo caminho, fiquei a matutar no que poderia dizer ao ilustre anfitrião. Seria alguma coisa de natureza bilateral, aproveitando a minha passagem por Baku?

O meu ministro, que era então Paulo Portas, tinha passado por ali há alguns meses. Teria ficado algo pendente? Algum "protocolo de cooperação" por cumprir?

Porque nunca gostei de "brincar em serviço", e embora a embaixada portuguesa competente neste país fosse a que estava situada em Ancara e o Fórum em que eu participava nada tivesse de bilateral, antes de sair de Paris (onde era embaixador, cumulativamente, nesse ano, com a Unesco, qualidade em que estava em Baku), eu tinha pedido ao MNE um papel sobre o relacionamento Azerbaijão-Portugal. "À cause des mouches", como costumava dizer um amigo "versado" em francês. Estudara-o e, como mandam as regras, deixara-o prudentemente em Paris. Mas não me recordava de nele se falar de agricultura. Ou seria a minha memória?

A agricultura não é propriamente o meu "forte", mas, porque a diplomacia se transforma, quando as coisas assim o exigem, numa nobre arte do desenrascanço elegante, fui preparando algumas ideias para a conversa com o governante azeri, à medida que o meu condutor furava pelo tráfego infernal da cidade, ungido do dever, e dos fantásticos direitos rodoviários correspondentes, de transportar uma personalidade estrangeira ao seu governante.

Lembrei-me de que talvez viesse à baila a questão da próxima revisão da PAC e a onda protecionista que se avizinha, com o alibi da "segurança alimentar" europeia. Ou seriam as nossas experiências nacionais, em especial em matéria de extensão rural, que mobilizavam a curiosidade de Baku? Ou talvez pudesse surgir na conversa algum "memorando" de colaboração entre universidades (interesseiramente, lembrei-me da “minha” UTAD). Logo se veria! Tomaria nota do que me fosse dito e informaria Lisboa (e a nossa gente em Ancara, claro).

Cheguei já sobre a hora à porta do imenso edifício do ministério. Um engravatado funcionário esperava-me, com olhar ansioso. Apressados, subimos por um elevador, depois seguimos por um longo corredor, até entrar numa sala de reuniões.

Para minha imensa surpresa, por lá estava o grupo de colegas, embaixadores junto da UNESCO, que comigo tinham vindo desde Paris.

Todos tinham saído das suas reuniões da mesma forma apressada que eu. Mas eles sabiam que o encontro que estava prestes a começar era, não com o ministro azeri da Agricultura mas, muito naturalmente, com o ministro da ... Cultura. Com o qual discutimos temáticas que se prendiam com as nossas tarefas na UNESCO. Claro!

2 comentários:

albertino ferreira disse...

Pobre exibição: melhor em campo guarda-redes azeri, teve azar no golo. Campeões do Mundo?, de quê, de futebol não será; o Fernando Santos deve estar louco, os milagres não se repetem e o Ronaldo está cansado, em fim de ciclo!

Tony disse...

Sr. Albertino. Não se esqueça que o Selecionador nacional, Fernando Santos, é devoto de Nossa Senhora de Fátima. Vai haver milagre, vai ver. Agora, digo eu, que não sou possuído, por tanta devoção. Vão levar uma cabazada da Sérvia, já no próximo Sábado.

Livro