sábado, março 27, 2021

Menu vermelho


Uma senhora com ar de muito perturbada (coitada!), quiçá vítima do trauma psicológico da pandemia, ressuscitou, numa sessão qualquer que foi filmada, uma ideia que se cola ao velho mito de que ”os comunistas comem criancinhas”. Não esclareceu se é em “take away” ou “ao postigo”, fórmulas de serviço que, para mal dos nossos pecados da carne, teimam em nos estragar a normalidade dos dias.

Pena foi que não tenha também referido a requentada (mas muito verosímil) história de que “os comunistas matam os velhinhos com uma injeção atrás da orelha”. Sempre me fez impressão esta precisão de geografia corporal. Há tantos lugares no corpo onde se podem dar injeções com essas qualidades malthusianas e os comunistas logo foram escolher essa zona de cartilagens flácidas. Gostos!

A fábula espalhada pela excitada cidadã, ficou, além disso, e lamentavelmente, um pouco incompleta, porque é sabido, pela fiável memória popular, que o repasto com infantes, de que os “comunas” são regularmente acusados, se passa “ao pequeno almoço”, o que, gastronomicamente, como se sabe, faz toda a diferença.

Para ajudar à diversidade do menu “dessa gente” (e cito), aqui deixo agora a minha modesta contribuição.

Quanto à senhora, que, pelos vistos, está em ambulatório, apenas posso recomendar que tome os medicamentos à hora certa. Ah! E deve também tomar boa nota de que hoje muda a hora.

2 comentários:

aguerreiro disse...

Verosímil infelizmente era, estas estórias propaladas nos anos 40 tinham fundamente infelizmente, o canibalismo em especial de criancinhas foi práctica corrente no Holodomor na Ucrânia.
Quanto á injeçãozinha de trás da orelha reflectia os bons costumes da KGB em liquidar os dissidentes do PCUS com um tirinho por detrás das orelhas (nuca) e só para não ferir os ouvidos católicos do nosso povo, eufemísticamente lhe chamavam "injeção".
Portanto essas estórias não eram contos de lareira. A História provou que eram bem reais

Joaquim de Freitas disse...

O Sr. aguerreiro parece ter uma aptidão para o descriptivo do detalhe, de grande qualidade.

Talvez pudesse analisar o que pode sentir um homem, fechado com mais 16 outros, numa superfície de 9 metros quadrados, sem janelas, e com o teto ao sol dos trópicos…Tinha um nome de utensílio de cozinha.

Portanto esta história não é conto de lareira. A História provou que era bem real. Não é melhor que o tiro na nuca…não! Execrável também…Os responsáveis eram todos bons crentes …

O Sr.aguerreiro se não fosse um historiador selectivo, poderia falar dum governo, britânico este, que também tentou frustrar de todas as formas a ajuda humanitária durante a fome irlandesa, em um projecto semelhante ao holodomor. Conhece?

Eram tempos em que o estado britânico, que tinha começado a aproveitar a prosperidade moderna da Era Vitoriana e a Era Industrial, promulgou leis contra a educação católica e a posse de terras tornavam esse progresso impossível na Irlanda, até o código penal ser abolido 50 anos após a fome, mas a recuperação da economia foi lenta, devido às famílias donas de terra terem continuado com suas propriedades.

O governo britânico tinha começado a tributar pesadamente a agricultura e forçado a região a exportar a maior parte dos seus alimentos para a Grã-Bretanha, o que elevou a dependência da população local por tubérculos, o que tornava susceptível o plantio a pragas.

Na visão actual, é ainda um assunto controverso na história da Irlanda. Debates e discussões sobre o papel do governo britânico à falha na colheita de batata e consequente fome de grande escala, e se tal poderia ser visto como genocídio por omissão, permanecem questões polémicas dos pontos de vista histórico e político.

A Irlanda permaneceu como exportador de alimentos durante todo o período da fome.
As exportações irlandesas de gado na verdade aumentaram durante a fome. Os alimentos eram enviados sob escolta das partes do país atingidas pela fome. Porém, os pobres não tinham dinheiro para comprar alimentos, e o governo não baniu as exportações. Assim, não foi só a doença da batata, mas a politica de desprezo dos ingleses em relação aos católicos irlandesas que explicam os dois milhões ou mais de mortos da fome.

A tragédia é recordada em vários memoriais por toda a Irlanda.

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