domingo, agosto 18, 2024

As Festas


Há por aí belas romarias. E há as Festas. As romarias comparam-se entre si. As Festas são incomparáveis.

Instagram


Quase não uso o Instagram. Dizem-me, porém, que fui "hackeado" e que a minha conta, por conta de alguém, anda a incomodar pessoas. Embora não tendo a menor culpa, peço desculpa. Já me queixei a quem me podia queixar e espero que as coisas se componham em breve.

sexta-feira, agosto 16, 2024

Adeus, Alice


 

Assassinatos de caráter


Para se ir entendendo a violência da política americana, vale a pena observar os "assassinatos de caráter" de que estão a ser alvo os dois candidatos à vice-presidência, com o espiolhar de todos os atos do seu passado que os possam desqualificar aos olhos dos não convertidos.

"O Laranjeira" (Viana do Castelo)


Lá estão, encaixilhadas lado-a-lado, a crónica do crítico gastronómico do "Expresso", Fortunato da Câmara, sobre o restaurante "O Laranjeira", em Viana do Castelo, e a nota inserida neste blogue aquando da morte do proprietário, o meu amigo José Laranjeira. Gostei de ver essas peças por lá. A última pode lê-la clicando aqui.

quinta-feira, agosto 15, 2024

Um argumento jeitoso

A fragilidade revelada perante a incursão ucraniana parece desqualificar o argumento "ad terrorem" de que um qualquer êxito na Ucrânia qualificaria a Rússia para "chegar a Varsóvia" e ameaçar o ocidente. É o ridículo como argumento, mas admito que, embora falso, dê jeito.

"Montebelo" (Alcobaça)


"Restaurante de hotel? É de desconfiar...". Por muitos anos ouvi isto. Este é um preconceito que já não tem o menor sentido, como ontem provei em Alcobaça. Leia no "Ponto Come": 

quarta-feira, agosto 14, 2024

"Jornalismo"

A imprensa que se dedica a coscuvilhar os rendimentos dos políticos - os seus depósitos, casas, dívidas, carros, etc - não é inocente: sabe muito bem que, sob o hipócrita alibi da transparência, está a deitar achas de inveja na fogueira de ressabiamento miserabilista, de que se alimenta o populismo mais reles. No fundo, esse "jornalismo" sabe que contribui para que cada vez seja mais difícil que gente qualificada aceite exercer cargos públicos.

Férias...

Há um mês, quem havia de dizer que Kamala Harris estaria a ameaçar Trump e a Ucrânia estaria a entrar pela Rússia dentro? Fazer comentário internacional na televisão deve ser fascinante neste cenário, em que o mundo se mostra muito mais imaginativo do que os homens. Mas estou de férias...

Lisboa

 



Tal como Paris tem, devia haver uma canção para "Lisboa no mês de agosto".

terça-feira, agosto 13, 2024

"Il Mercato" (Lisboa)


No dia 13 de agosto de 2022, escrevi no blogue "Ponto Come" uma nota sobre uma visita feita ao restaurante "Il Mercato". No dia 13 de agosto de 2024, exatamente dois anos depois, voltei ao restaurante. Leiam aqui

Lula acaba de perder um amigo...

Das cãs

Até há poucos meses, a maioria dos comentadores abordava as gafes e a óbvia senilidade de Biden com "pinças" e um extremo pudor. Agora, saído que foi Biden, é Trump o novo alvo. No mundo e no futuro, a questão da idade dos políticos nunca mais irá sair de cena. Não tarda, chegará também a questão da idade dos comentadores...

Já chegámos aos States!

 


Esta é magnífica!

 


Smarties


Está um Smart plantado há semanas no meu bairro. Daqui a tempos, dele vão nascer frutos coloridos, também conhecidos como "Smarties".

O poder e o voto

Os regimes ditatoriais ou autocráticos fazem eleições porque a isso são obrigados pelo "politicamente correto" que ainda prevalece na sociedade internacional. E todos, sem exceção, se intitulam "democracias". Mas quantos ditadores ou autocratas caíram do poder pela força do voto?

ps - Um conhecido truque para contestar o que atrás se escreveu é ficar a discutir eternamente os conceitos de "ditadura" e "autocracia". 

"Drauche"

Em França, as soluções políticas de Emmanuel Macron são, quase sempre, aquilo que alguém um dia crismou de "drauche" - uma mistura de direita ("droite") e esquerda ("gauche").

Intelectual

Quase nunca falha: quando alguém, depreciativamente, usa a expressão "pseudo-intelectual", a propósito de outrém, é porque sabe que não corre o risco de, a si, alguém vir um dia a "acusar" de intelectual.

Extrema-direita

Quase nunca falha: quando alguém contesta o conceito de "extrema-direita", ou essa pessoa é de extrema-direita ou anda lá muito próxima.

segunda-feira, agosto 12, 2024

Bólide


"Mudámos o óleo e o filtro, os travões estão bem, vimos os outros níveis, os pneus estão excelentes. O motor parece um relógio. Boas férias!". Retorqui: "Então não recomenda que se faça mais nada no carro?" Ele olhou-me com um sorriso: "Nada. Está impecável. Costuma ir ao Norte, não é? Com uma coisa destas, com estes seis cilindros, quase 2500 de cilindrada, chega lá num instante". Entrei no meu carro, que tem uns orgulhosos 18 anos, e olhei a quilometragem: 272 mil quilómetros. Valor de mercado: 5 mil euros, mais coisa, menos coisa.

Olímpicos

A abertura dos Jogos Olímpicos, ainda que prejudicada pela chuva, mereceu muitos mais elogios do que críticas. Embora um tanto franco-francesa em demasia, revelou indiscutível rasgo e ousadia. E os jogos correram muito bem. O encerramento foi, para o meu gosto, um tanto chatote. No todo: muitos parabéns à França! 

Delfim Netto

 
Morreu Delfim Netto. Os obituários trarão, com toda a certeza, retratos muito completos desta interessantíssima figura da economia e da política brasileiras. De ministro da ditadura, no seu período mais duro, a conselheiro informal de Lula, Delfim Netto fez um longo e controverso percurso. A sua inteligência e o seu brilhantismo serão, contudo, unanimenente reconhecidos, tenho absoluta certeza. 

Foi no "Piantella", essa rotunda (os brasileiros dizem rotatória) obrigatória da política brasileira, que vi pela primeira vez Delfim Netto, no início de 2005. Passeava o seu corpo pesado entre as mesas, saudado por uns e por outros, destacando-se pelos seus vistosos suspensórios. Eu tinha aquela figura gravada, há décadas, das páginas dos jornais e revistas. "É o Delfim Netto, não é?", perguntei ao Toninho Drummond, representante da Globo na capital federal, meu convidado para almoço. "É. Quer conhecê-lo?" Fui-lhe apresentado como o novo embaixador de Portugal acabado de chegar, trocámos umas curtas banalidades e cada um sentou-se na sua mesa.

Passaram mais de três anos e, num outro almoço, desta vez em casa do embaixador da Ordem de Malta, coincidiu ficar sentado ao lado de Delfim Netto. Eu lembrei o nosso anterior encontro no "Piantella", ele fingiu simpaticamente que também se recordava. 

A conversa, creio que entre cerca de oito pessoas, foi naturalmente dominada por ele. Vivia-se o segundo mandato de Lula. Com o impulso da reeleição, os efeitos económicos no bem-estar de certos setores e a hábil exploração interna da sua então forte projeção internacional, o presidente tinha conseguido recuperar parte do desgaste sofrido com as sequelas da crise do "mensalão". Preparava já a sua sucessão através de Dilma Roussef e recordo que fiquei para sempre com a sensação que a então Ministra-Chefe da Casa Civil não colhia grande simpatia de Delfim Netto. 

Nesse almoço, rodeado de uma companhia heterogénea, misto de políticos e diplomatas, Netto foi cauteloso e hábil. Mas, mesmo assim, deixou cair algumas notas críticas sobre a política económica de Lula, aliás não muito distantes do que, por vezes, expressava em artigos pontuais na imprensa. Tudo era apresentado, contudo, num tom construtivo, muito realista, desprovido de qualquer viés ideológico. 

À despedida, disse-lhe que gostaria muito de o convidar para ir um dia à nossa residência. Que teria o maior gosto, foi a resposta, acrescentando que já não tinha uma refeição por lá desde os tempos do "excelente" embaixador Adriano de Carvalho, como qualificou um meu antecessor que, nos anos 80, havia deixado muito bom nome na capital brasileira. 

Prometi contactá-lo para marcarmos uma data. A vida não é o que queremos que ela seja e acabei por não cumprir a promessa. Outros compromissos devem ter-se metido pelo meio e a oportunidade nunca surgiu. Fiquei, para sempre, com muita pena. Não é todos os dias que surge o ensejo de privar com uma verdadeira figura da História.

Delfim Netto sai hoje de cena, aos 96 anos.

domingo, agosto 11, 2024

Lisótima


O meu amigo Marcos Vilaça, uma grande figura pernambuquense que já foi presidente da Academia Brasileira de Letras, sempre me desafiou: "Diga Lisótima, não diga Lisboa". É mesmo!

Bolas

O país da bola aí está, a partir deste fim de semana, em todo o seu esplendor. Seríamos seguramente um país melhor com um pouco menos de futebol.

Hopperários


Finalmente, um quadro à medida de Hopper.

Baixos?


Olhando para o rácio população/medalhas, o país amplamente vencedor destes Jogos Olímpicos é a Holanda, que, quanto mais não seja por essa razão, não merece ser chamada de Países Baixos.

Guerrinhas

A China transformou-se na URSS dos tempos atuais, na disputa Leste-Oeste pelas medalhas. Quem, desses tempos passados, desapareceu de cena foi a Alemanha Oriental, que então disputava os lugares de topo. Os seus atletas ter-se-ão cansado da modalidade de "salto do muro"...

Twitter

Hoje recebi, por mensagem, uma sugestão divertida: "Se me seguir no Twitter/X, eu sigo-o de volta". Há pessoas que não têm a noção do ridículo.

O perigo do ridículo

Um poder nuclear como a Rússia ridiculariza-se, dia após dia, nomeadamente em face da sua própria opinião pública, ao continuar a ameaçar, sem o concretizar, com a utilização da arma atómica. Pode, no entanto, haver um dia em que essa humilhação a faça passar ao patamar da irresponsabilidade.

Às terças

Todas as eleições federais americanas futuras têm já a sua data marcada: têm sempre lugar na terça-feira mais próxima da primeira segunda-feira do mês de novembro dos anos pares, sendo de dois em dois anos para a Câmara e para 1/3 do Senado, de quatro em quatro para Presidente.

Biden

Biden confirmou algo que muitos suspeitavam: uma das principais razões para a sua desistência foi o facto dos candidatos democráticos ao Congresso o considerarem um "empecilho" à sua eleição.

Congresso americano

Relembro: os 433 membros da Câmara dos Representantes dos EUA têm um mandato de apenas dois anos. Assim, em cada ano par, todos os lugares da Câmara vão a votos. Também a cada dois anos, um terço do Senado (33 senadores, com mandato de seis anos) vai a votos.

A agora, António?

A União Europeia dispara comunicados indignados quando há uma violação de Direitos Humanos em países frágeis. Mas é de uma imensa cobardia em face das atrocidades de Israel em Gaza. E alguém lhe ouviu alguma vez a voz perante a indignidade de Guantánamo? E agora, António Costa?

A guerra

A guerra não tem a menor graça. Mas não deixa de ter graça ver os especialistas militares, lidos na imprensa estrangeira, divididos sobre a racionalidade da incursão ucraniana na Rússia. Uns acham aquilo uma aventura insensata, outros uma audácia genial. Logo veremos. 

Alegria nossa


É muito bom ver a saudável alegria deste dois miúdos que, graças ao seu esforço e à sua genialidade, sabem que têm hoje um país a admirá-los. Esta é também a sua grande e merecida medalha.

sexta-feira, agosto 09, 2024

Atletismo português


Descobri este site com informação preciosa sobre o atletismo português. Consultem! 

Vai haver guerra?

Há já uns meses, um amigo, pessoa com educação universitária de nível internacional e com fortes ligações pelo mundo, mundo exterior esse onde vivem os seus filhos, telefonou-me e, de chofre, fez-me esta pergunta terrível: "Achas que vai haver uma guerra?" 

Fiquei surpreendido com a questão. Se ela tivesse surgido no intervalo dos concertos na Gulbenkian, onde eu e ele nos vamos encontrando com regularidade, em fins de tarde que nos amainam o espírito, seria normal. Contudo, ser essa pergunta o único objetivo de uma chamada telefónica era coisa bem diferente: traduzia a respeitável angústia que atravessava esse amigo e, no que me dizia respeito, demonstrava alguma confiança no meu juízo, a que eu não podia ser indiferente

Apanhado de surpresa, devo ter começado por dizer algumas obviedades: que a tensão internacional dava sinais de estar em crescendo, que havia no terreno dos conflitos alguns atores essenciais sobre cuja racionalidade decisória havia fundadas dúvidas, que o ambiente de "guerra de surdos" em que o mundo estava a cair tinha fechado certas "pontes" de diálogo de "ultima racio", que começava mesmo a emergir, no discurso de alguns, a perigosa ideia da inevitabilidade de um conflito mais alargado. E porque é essa a minha convicção profunda, imagino que lhe tenha transmitido a ideia, que há muito alimento, de que só pode existir paz quando os adversários, explícita ou implicitamente, acordam numa base mínima de entendimento, que comporte a aceitação de mútuas preocupações de segurança. E que isso estava longe de existir.

Lembro-me de lhe ter dito que o que mais me preocupava era a inconsciência de certas vozes, que pareciam não temer uma deriva do mundo para uma nova guerra, na lógica do "se tiver que ser, que seja". Talvez porque muitos ingenuamente entendem que a guerra, a surgir, acabará por ter um "preço" comportável, que talvez os não "atinja", habituados que estão a assistir no sofá às guerras alheias, feitas dos mortos e feridos dos outros. Mas julgo que não lhe terei falado do mito da guerra "rápida" que, há mais de um século, tinha conduzido à carnificina da Grande Guerra.

Uma coisa, com toda a certeza, lhe devo ter dito, provavelmente constituindo isso para ele uma surpresa: que - e afirmo sempre isto com toda a convicção e sinceridade -  a grande esperança que eu tinha em que se não desencadeasse uma nova guerra internacional alargada residia nos Estados Unidos e, em especial, nos seus militares.

Porquê esta "confiança"? Ao longo da minha vida, nunca fui conhecido por subscrever, "de cruz", as opções estratégicas americanas. Tenho mesmo, nos tempos que correm, sérias reticências perante algumas posições de Washington, em vários teatros de tensão e de conflito, da Ucrânia à Palestina, do Pacífico à América Latina. Mas confio em que os EUA tenham, melhor que ninguém, pelo poder bélico que controlam, a consciência de que um qualquer conflito de natureza grave, com potencial tentação de uso nuclear, poderá significar uma tragédia universal irremediável. 

O meu amigo, que me recorde, não me terá feito a pergunta óbvia: "Mas tu não achas que os russos ou os chineses também devem ter a consciência desse risco?" Eu ter-lhe-ia respondido que, até ver, tendo a confiar mais no "decision-making process" do mundo dito democrático, por muito crítico que dele seja, do que no de atores políticos do campo dos poderes autoritários e centralistas, cujos "checks-and-balances" desconheço. E poderia ter acrescentado que também não confio minimamente em entidades nucleares (ou protonucleares) estrategicamente fanáticas, como Israel, o Irão ou a Coreia do Norte. Ou em certos parceiros europeus empanicados pela conjuntura e, como tal, propensos a (nos fazer) correr riscos limite.

Não sei como acabou a conversa com o meu amigo. Acho que, no seu termo, terá percebido que estou tão preocupado como ele com o estado do mundo, não obstante continuarmos distantes em termos ideológicos e de filosofia política. É que, quando se chega àquilo que é essencial - a vida -, a nossa trincheira acaba por ser a mesma.

quinta-feira, agosto 08, 2024

América


A vida política está cheia de surpresas. Há algumas semanas, Kamala Harris era um embaraço para os democratas americanos. Tida por incompetente, por alegadamente não ter tido sucesso em alguns dossiês que lhe tinham sido delegados, já não era vista por muitos como uma solução para resolver a "questão Biden".

Leal ao presidente até ao fim, pelo menos ao olhar público, o nome de Kamala Harris pareceu emergir, de início, apenas como a única alternativa possível, em face do "disarray" que se instalou no seio do seu partido, perante a inevitabilidade da saída de Joe Biden.

O primeiro sinal de que a "operação Kamala" poderia ser um pouco mais do que isso foi o surgimento de uma evidente preocupação na campanha de Donald Trump. A agressividade quase gratuita que o discurso republicano passou a assumir revelou que a nova candidata estava a fazer mossa.

Algumas primeiras sondagens, mostrando uma redução da vantagem que Trump antes levava sobre Biden, podiam, no entanto, resultar apenas do efeito surpresa. Também o embandeirar em arco nas redes sociais podia apenas refletir o "wishful thinking" reinante nos média liberais.

Contudo, os dias passam e a campanha da candidata não parece esmorecer, antes pelo contrário, estando ainda por medir o efeito da escolha do seu candidato à vice-presidência. Mas ainda não há dados para ajuizar se existe, de facto, uma imparável dinâmica de reversão de tendência de voto, desfavorável a Trump.

A complexidade do voto, na imensa diversidade política dos EUA, recomenda sempre muita prudência, na previsão do caminho que levará até ao sufrágio. Uma coisa, porém, parece evidente: para os democratas, a situação há muito que não parecia tão promissora. Será suficiente?

A piscina de Vila Real


Foi já há algumas décadas, mas, com sinceridade, não consigo precisar quando foi. Lembro-me que estava sentado numa mesa do Café Pompeia, à conversa com um vereador da Câmara Municipal de Vila Real. Tenho ideia de que foi antes do 25 de Abril, mas não tenho absoluta certeza, porquanto essa pessoa foi vereadora antes e depois dessa data.

A nossa conversa era sobre piscinas. Em Vila Real, não havia nenhuma piscina. À época, aprendia-se a nadar, sem um mínimo de condições de segurança, na levada de Codessais, do rio Corgo. 

Os meus pais nunca tinham autorizado que eu fosse para o rio, onde já tinham ocorrido acidentes. Assim, eu acabara por aprender a nadar, em férias, na doca do porto de Viana do Castelo, onde uns voluntários ensinavam os miúdos. As condições também não eram as ideais, pelo que havia sido criado um movimento cívico para a construção de uma piscina pública para Viana (havia então apenas a piscina do hotel, no topo do monte de Santa Luzia). Eu explicava ao vereador vila-realense que o meu pai, muito ligado a Viana e sensível a um apelo feito por esse movimento, tinha oferecido um saco de cimento para a iniciativa, ideia que estava a ter ampla adesão. E fui perguntando ao meu interlocutor se não seria possível, em Vila Real, alguém vir a avançar com uma proposta idêntica.

O vereador sossegou-me: o município de Vila Real tinha já decidido construir uma piscina, aliás muito perto do tal lugar de Codessais, no rio Corgo, pelo que não estava previsto qualquer apelo para ajuda do público. As obras iam iniciar-se em breve. (Não tenho ideia de quando foram efetivamente efetuadas e concluídas). Felicitei-o e perguntei-lhe, por mera curiosidade, sobre qual iria ser o comprimento e a largura daquela que iria ser a primeira piscina de Vila Real. Para sempre guardei a sua resposta: "A piscina vai ser redonda. Se a fizéssemos retangular, haveria logo gente que queria ir para lá nadar de uma ponta à outra, impedindo as pessoas de tomar banho à vontade..." Bem visto!

quarta-feira, agosto 07, 2024

"Talent de rien faire"

Estou a ter umas férias deliciosamente estranhas. Para além dos acasos imperativos da vida, não tenho nesta não-agenda outros compromissos que não sejam opções lúdicas por mim determinadas. Não trouxe comigo nada para fazer, trabalhos para acabar, atividades profissionais a cumprir, textos a preparar, coisas para estudar ou analisar ou dar parecer. É a primeira vez que isto me acontece, desde há vários anos. Deu algum trabalho organizar assim a vida, por um mês, mas, finalmente, consegui concretizar este objetivo, afinal bem modesto. E, até ver, ainda me não "cheira a setembro".

terça-feira, agosto 06, 2024

Praia

Daqui a pouco, vou começar o meu dia de praia. Aos apressados, ofereço sempre uma manhã de avanço. Mais vale à tarde do que nunca.

segunda-feira, agosto 05, 2024

Uma Volta...


... que era mesmo uma volta Portugal.

A medalha


Não sei se é um reflexo colonialista tardio (se for, paciência!), mas quero dizer que senti como "minha" a medalha do atleta cabo-verdeano.

Sem estilos


Saio arrasado da natação destes Jogos Olímpicos. Ainda agora devo ter batido o record dos 20 metros sem o menor estilo. Mas esqueci-me do relógio.

Eme-érres


Apadrinhei hoje o reencontro de dois MRPP's, que não se viam há 45 anos. Já não há por ali nem martelos nem foices, as estrelas já não são vermelhas, são mais Michelin, não há vestígios do Comité Lenine, o "The Economist" no lugar do "Luta Popular". Mas valeu a pena? Claro que sim!

Sobrinho Simões


Trazia o livro "A Última Lição de Manuel Sobrinho Simões", de Luís Osório, na "saca dos livros de férias", uma ambiciosa molhada de volumes que sempre me acompanha os agostos. Ia conseguir ter tempo para lê-lo? Quebrei a dúvida começando exatamente por ele. Valeu bem a pena!

Manuel Sobrinho Simões, que conheci pessoalmente em Oslo, há 45 anos, e que tenho vindo a cruzar por aí nos últimos anos, é uma das mais fascinantes personalidades do Portugal dos tempos que vivemos. É um cientista, um médico, mas também um humanista, com uma relação muito forte com o país onde vive e sobre o qual, em permanência, reflete e se interroga. Sempre com um saudável e realista otimismo.

O livro reproduz uma longa conversa entre ele e o jornalista Luís Osório. Um diálogo equilibrado, em que o entrevistador teve o cuidado prévio de se preparar muito bem sobre a substância do mundo do entrevistado, colocando-se os dois no mesmo patamar de exigência, para um resultado à altura do desafio que ambos se impuseram. O pensamento de Manuel Sobrinho Simões é muito elaborado e rico, mas Luís Osório, com imensa inteligência e com a escrita soberba que sabemos ser a sua, consegue, sem facilitismos nem truques de divulgação simples, retirar do diálogo um resultado notável. Dali resulta um texto muito agradável de ler, de onde emerge uma intensa racionalidade crítica, sempre pontuada por dúvidas e incertezas. A força de Manuel Sobrinho Simões, ia a dizer, a sua superioridade, é a sua capacidade de pensar o mundo de uma forma empenhada, ao mesmo tempo complexa e simples. Estamos perante um intelectual que se auto-interroga em permanência, às vezes com assumidas fragilidades que o humanizam e o tornam bem próximo do cidadão comum que todos nós somos.

Sai-se deste livro muito mais rico, acreditem. Recomendo-o vivamente. Deixo um abraço a ambos os autores, pessoas por quem tenho estima pessoal e admiração, que é também de sincero agradecimento pelas boas horas de leitura que agora lhes fico a dever.

Sobreturismo

O que é demais é erro, sempre ouvi dizer. Face ao "sobreturismo", não procuremos consensos. Haverá sempre dois países: o que está fatigado com o turista que lhe salta a cada esquina e o que empocha as vantagens de encher os restaurantes, hotéis e o resto. É preciso regular, já.  

domingo, agosto 04, 2024

O João e o Bastos

Eu vivia então em Paris. Numa deslocação a Lisboa, fui, com o João Paulo Guerra e o Baptista-Bastos, almoçar ao Miudinho, em Carnide. A ideia foi do João. A conversa acabou por ser muito sobre jornalismo. Ambos contaram histórias divertidíssimas desse mundo de que eu era apenas um observador distante. A certo passo, o Bastos falou, com ironia, de um colega que era "injustamente acusado de ser jornalista". E o João lembrou a frase que abria um pedaço de prosa de um outro prendado colega, que assim caraterizava um ambiente: "Era meia noite e, no entanto, chovia". Dá raiva pensar que momentos como estes não podem repetir-se.

Queixem-se à morte!


Há dias, alguém dizia que passo o tempo a escrever notas necrológicas. É verdade, mas a culpa não é minha: queixem-se à morte! 

Ontem, estive em Trás-os-Montes no funeral de um familiar. Há minutos, uma rádio trouxe-me a notícia da morte do João Paulo Guerra. Ainda abananado com a notícia, disse já não sei o quê, em menos de um minuto.

À falta de melhor, deixo aqui um texto que, há dois anos, escrevi para um "jornal" organizado pela familia do João, por ocasião dos seus 80 anos, recolhendo histórias dos amigos. Dei-lhe o título de "Nome de Guerra":

"Ó diabo! Eu não tenho nenhuma “história” com o João para contar! Lembro-me de ter posto uma cara, pela primeira vez, há quase quatro décadas, numa voz e num nome que trazia no ouvido desde o “Tempo Zip”. Foi num jantar oficial, quando coincidimos na mesma mesa numa roça, em S. Tomé, durante uma visita de Estado de Ramalho Eanes ao outro Pinto da Costa. Começámos a conversa com alguma cerimónia (“esta malta do MNE…”, deve ele ter pensado), acabámos a função a tratarmo-nos por tu. Eu tinha ido de Luanda ajudar à festa. O João estava ali pelo “O Diário”. No bar, com apoio escocês, prolongámos a charla e iniciámos a amizade. Tão simples como isso.

Tempos mais tarde, com o Nuno e com a Céu, na Mesa Dois, do Procópio, continuámos a falar, sempre com muita gargalhada pelo meio, com uma cada vez maior cumplicidade, com a Clara e Gina à mistura. E, em outras jantaradas, surgiram tantas coisas, causas e gentes comuns. E descobrimo-nos amigos para a vida. Veio depois o tempo dos heterónimos em blogues, as risadas em tertúlias e jantaradas com o Fausto, um almoço histórico, a três, com o Baptista-Bastos, em Carnide. Foi assim que fui “aprendendo” o João: a sua integridade, a sua inteligência, a sua cultura, o seu humor, a sua solidariedade."

Um abraço do tamanho do mundo, João: hoje é o primeiro dia do resto, que é muito, da nossa amizade."

O João sai agora de cena. Há poucas semanas, aquando da morte do Fausto (outro amigo que lá se foi), tentei ligar-lhe. pelo telefone. Sem sucesso. Achei estranha a falta de resposta. Um beijo de imenso pesar à Clara, ao Francisco e à Maria do Céu.

Férias

A política internacional não mete férias. Pelo contrário, da Venezuela à Palestina, da América à Ucrânia, o mundo está cada vez mais animado, se é que o termo é adequado. Mas, se a política internacional não mete férias, o contrário não é verdade: necessito de fazer férias da política internacional.

Toponímia sentimental


Creio que acontece com toda a gente: há nomes de terras que nos evocam emoções, boas ou más. 

Se alguém me falar da localidade de Tamel, perto de Barcelos, vem-me á memória um túnel, no caminho de ferro da linha do Minho, onde, em criança, a inesperada paragem do comboio fumegante, que nos levava para as férias grandes em Viana, me pregou um susto para a vida, de que a melhor prova é mesmo esta nota traumática.

Alpiarça, pelo contrário, é um topónimo que acarreta consigo uma imagem feliz, também de infância. Por lá vivia uma prima direita da minha mãe, numa casa que recordo muito agradável, com uma grande propriedade por detrás. Essa prima, casada com um abastado proprietário ribatejano, tinha um casal de filhos, de idades não muito distantes da minha. Era gente muito amável e acolhedora. Viviam "lindamente", como então se dizia, com satisfação, na nossa família.

À época, todo aquele enquadramento deve ter representado, para o miúdo visitante que eu era, um quadro familiar ideal. Com certeza por essa razão, a palavra "Alpiarça" ficou-me, para sempre, a ecoar boas recordações.

Passei há pouco por Alpiarça. Não tive tempo para ir à procura dessa casa de gente feliz da minha memória de infância, onde regressei, de visita, algumas vezes, ao longo dos anos. É que, passados que foram esses primeiros tempos venturosos, nem tudo correu bem, ou melhor, tudo passou a correr bastante mal no seio daquela família. O marido da prima da minha mãe morreu cedo, as propriedades foram-se em azares imobiliários, os irmãos desentenderam-se fortemente, a prima da minha mãe veio a ter um fim de existência muito pouco feliz. O filho acabou por morrer ainda jovem, a filha, enredada em tragédias pessoais, viria a ter muito pouca sorte na vida.

Não obstante isso, Alpiarça continua a rimar de forma muito positiva na minha toponímia afetiva. Já de Tamel, nem me falem! Cada um é como é, não é?

sábado, agosto 03, 2024

Malta de Dáltona


O polícia espanhol estava com cara de caso. Tinha mandado parar o carro, pouco depois do semáforo. O António tinha consciência de que passara um vermelho, naquela pequena cidade da Galiza. "Era un rojo valiente, hombre!", disse o cívico. O António sabia. Sem a menor esperança de o convencer, sorrindo, ainda assim disse ao guarda: "É que eu sou daltónico...". Surpreendentemente, ouvindo a resposta, o homem comentou: "Usted es daltónico? Y en Dáltona, su tierra, se puede pasar con el rojo?" E o António lá pagou "una dolorosa".

Fomos hoje, de manhã, deixar o António no cemitério de São Martinho, em Bornes, onde temos a nossa gente. Num dia muito triste, fica esta sua história divertida.

sexta-feira, agosto 02, 2024

quinta-feira, agosto 01, 2024

Israel, o Irão e o que aí virá

 


Pode ver aqui.

" A Arte da Guerra"


Na primeira quinzena de agosto, o "podcast" sobre temas internacionais, que todas as semanas faço para o "Jornal Económico", com o jornalista António Freitas de Sousa, entra em pausa estival.

A medalha falhada


Há óbvias injustiças geracionais: nos tempos que eu era (quase) imbatível no "jogo das latinhas" (caricas, em lisboês), nunca ninguém pensou elevar aquilo a modalidade olímpica. Agora que "perdi a mão", já não faço questão... 

País desportivo

Para o português médio, desporto é hoje sinónimo de futebol, de cujo mundo - figuras, transferências, resultados - é um "voyeur" sectário. É uma anormalidade que, no dia seguinte à abertura olímpica, as três capas dos diários desportivos estivessem cheias de futebol.

No passado, havia duas exceções a esta obsessão monotemática: o ciclismo da Volta a Portugal e o atletismo do meio-fundo e fundo, da escola de Moniz Pereira. Fora disso, o país é freguês pontual de qualquer outra modalidade - qualquer uma! - onde se vislumbre um êxito patriótico.

Diz quem acompanha estas coisas que o nosso desporto escolar é um desastre (não sei se é verdade) e que a banalidade esmagadora da nossa representação olímpica é disso um reflexo natural. Daí que seja de louvar quem ainda se consegue destacar, no meio dessa mediocridade de regra.

quarta-feira, julho 31, 2024

"Chaxoila" (Vila Real)


Há um retrato impressionista do "Chaxoila", no "Ponto Come", tirado numa saltada, há dias, a Vila Real.

Transpiração

Uma testemunha pediu para ser ouvida, à porta fechada, na comissão parlamentar de inquérito "das gémeas". Os deputados - todos os deputados - são pessoas de bem. É muito reconfortante, para a cidadania, esta segurança institucional de que nada transpirará cá para fora.

Sem pódio

Os resultados olímpicos de Portugal são o que são e estão à vista de todos. Confesso que preocupam-me menos as medalhas e, muito mais, o estado do desporto em Portugal. Não seria possível fazer-se uma reflexão especializada, sem intuitos polémicos, estudando caminhos de futuro?

"Vocência"


As comissões parlamentares, particularmente quando não têm imprensa presente, podem tornar-se num local útil de debate e de esclarecimento. Nos idos de 90, passei nelas muitas horas, na Assembleia da República, a responder a questões no âmbito da União Europeia. 

Vivia-se um tempo em que crescia o interesse parlamentar sobre o tema e, para quem estava no governo, era muito curioso aferir do grau de conhecimento dos nossos deputados sobre tais assuntos: salvo algumas exceções, o panorama não era então brilhante, tendo contudo vindo a melhorar imenso com o tempo.

Recordo-me de ter tido "bate-bolas" muito interessantes, com bastante picardia à mistura, com figuras como Silva Marques, do PSD, Paulo Portas, do CDS, e Lino de Carvalho, do PCP. Medeiros Ferreira, do PS, também era de grande exigência para o governo, diga-se. A grande distância, fui, ao longo de mais de cinco anos (1995-2001), o membro do governo com mais regular presença por ali, quer na área dos Assuntos Europeus, quer por vezes no âmbito dos Negócios Estrangeiros e Cooperação. Hoje posso confessar que fazia aqueles exercícios com prazer e, com a experiência entretanto adquirida, com grande facilidade.

Tendo saído de ministro da Justiça a seu pedido, no termo do primeiro governo de António Guterres, o meu amigo José Vera Jardim regressou em 1999 à Assembleia da República, retomando o seu lugar de deputado do Partido Socialista. E logo surgiu na Comissão Parlamentar de Assuntos Europeus. E aí deu mostra de como a Europa lhe era um tema caro.

Eu e o Zé tratamo-nos por tu mas, como é óbvio, a regra de tratamento parlamentar obrigava a que nos dirigíssemos um ao outro por "senhor": senhor deputado para cá, senhor secretário de Estado para lá. Só que o Zé Vera decidiu "gongorizar" o tratamento e, para minha grande surpresa, começou a tratar-me por "Vocência"! Devo dizer que a primeira vez que, do fundo da mesa, ouvi José Vera Jardim a usar essa expressão de "fusão" das palavras "Vossa Excelência", me deu um ataque de riso. "Vocência" é uma fórmula elegante, mas, ao ouvi-la, senti-me como que num debate do tempo do Estado Novo. Mas, afinal, ao que vim a saber, aquela era uma expressão muito utilizadaa nos tribunais, terreno onde o Zé se move como peixe na água.

Há pouco, numa conversa de verão, veio o "Vocência" à baila, pelo que aproveito para aqui evocar o meu amigo José Vera Jardim, a quem as consequências de uma queda chata e inoportuna está a obrigar a um trabalho de recuperação física que lhe tem garantido "falta justificada" na tertúlia da Mesa Dois do Procópio. Com a chegada da "rentrée", o José Vera Jardim vai voltar às lides tertulianas, que também incluem um outro grupo almoçante no Páteo Bagatela, que o outono seguramente reativará.

Até lá, aqui fica o meu voto de rápido restabelecimento, caríssimo Zé. "Vocência" faz muita falta aos seus amigos.

terça-feira, julho 30, 2024

Medina

Fernando Medina surge acusado de prevaricação por ter praticado um ato cuja decisão foi tomada por um órgão municipal coletivo. É isto? Se assim for e vier a ser provado que se trata afinal de um erro grosseiro e calunioso da justiça, quem o cometeu vai ser ser punido? Ou não?

Venezuela

Vale a certeza dos que acham que "aquilo foi uma descarada fraude, para disfarçar a continuidade da ditadura de Maduro" ou dos que entendem que "o povo venezuelano deu uma lição aos títeres de Washington, desejos de regresso violento do capitalismo selvagem ao país"? 

É também isto!


A qualidade das casas em que passamos férias também se mede pela qualidade dos livros que encontramos pelas estantes

Quase que desconfiava!

É a toda a hora: falo com qualquer amigo e ou ele ou alguém de família sentiu-se mal, foi ao médico, surgiu-lhe uma maleita, simples ou complicada. 

Não fosse dar-se o caso de, dia após dia, nós irmos cada vez mais para novos e eu até me permitia desconfiar que isto era da idade. 

JNcQUOI Beach Club (Praia do Pego)


Ver esta minha ousadia "fútil" no "Ponto Come"

segunda-feira, julho 29, 2024

O meu fuso

Em tempo de férias, a minha única ligação à Venezuela é o facto da minha hora de sair da cama corresponder, exatamente, à alvorada por lá: em matéria de horas, vivo pelo fuso de Caracas.

Coisa séria

Nos tempos em que andei pela OSCE, como embaixador português, falava-se, em tom irónico, num sistema de voto eletrónico bielorrusso, que apenas algumas repúblicas da Ásia Central teriam adquirido. Será que o venderam à Venezuela? É que aquilo nunca falhava e acabava com todas as angústias.

Varifakis 2.0


O meu ex-colega nas Nações Unidas, Sergei Lavrov, no seu momento Varoufakis.

Pessoal Maduro


Liberdade, liberdade é ter a coragem de usar estes belos fatos de treino, que aliam a mensagem política ao patriotismo e a uma estética apurada. Por aqui poderemos imaginar como devem ser animados os corredores dos centros comerciais venezuelanos.

O meu romance


Há mais de quarenta anos, comecei a escrever um romance, meio policial, meio de intriga política. Por essa época, eu era diplomata em Angola e, ingenuamente achando que a tudo podia chegar na vida, lancei-me uma noite à escrita. Uma noite, porque foi só isso e nada mais.

A trama era ousada. Um comando da Unita tinha-se introduzido em Luanda, durante a guerra civil que então se vivia em Angola, com vista a executar um golpe de mão no palácio presidencial, dali roubando o cadáver do "guia imortal da revolução angolana", Agostinho Neto. À época, era ali que estava guardado o seu corpo, embalsamado pelos soviéticos. Fazer desaparecer o símbolo central do regime constituía um imenso desprestígio para o Estado angolano, demonstrava a fragilidade do poder do MPLA e tinha um efeito de escândalo à escala mundial.

A operação envolvia um diplomata português, forçado a colaborar por via de uma chantagem, bem como uma empresa de transportes, também portuguesa mas com ligações aos serviços secretos franceses, que se encarregaria de "exfiltrar" o cadáver. Havia também pelo meio um ex-Pide, uma "Mata Hari" luso-angolana e outra gente desse género, entre o exótico e o pretensamente interessante. O esquema estava desenhado. Só faltava ... preenchê-lo com palavras escritas.

Disse acima que comecei a escrever o romance. Esse começo foi breve: há dias, no meio de papelada antiga, encontrei as suas únicas quatro páginas manuscritas. O romance começou e acabou ali. Não prossegui na escrita porque, posso hoje imaginar, num oportuno e feliz ataque de bom senso, devo ter percebido que aquela não era, decididamente, a minha vocação. E se assim pensei, melhor o fiz: passei a dedicar-me a outras coisas.

A cena inicial do frustrado romance, a única que havia sido passada a papel, tinha lugar no conhecido cruzamento de dois corredores que atravessam o terceiro andar do Palácio das Necessidades, junto ao gabinete do ministro. O nosso diplomata tinha sido chamado a Lisboa e, enquanto fazia horas para a audiência com o ministro, ia encontrando por ali vários colegas, que há muito o não viam. Enquanto falava com um, outro aproximava-se e o trio prolongava-se, por instantes, à conversa. Até que o primeiro interlocutor ia à sua vida. O nosso diplomata continuava então a trocar impressões com o segundo colega. Porém, nesse entretanto, aparecia um terceiro colega, lá vinha um novo abraço, e a cena repetia-se. O homem, coitado, retido por esses reencontros sucessivos, quase não conseguia sair do sítio! Uma das figuras retratadas na descrição, conhecida por expressões de genuína cordialidade mas com um inescapável vigor físico, era a caricatura do embaixador Gaspar da Silva. Outra, pelo odor a álcool que sempre lhe marcava o bafo pós-pandrial, desenhava um outro colega cujo nome o texto optou por não revelar. A cena tinha, aliás, foros de colar bem com a realidade: é que tinha realmente acontecido comigo, naquele mesmo lugar.

Costuma ser na praia, de pé à beira-água, ao deparar com alguns conhecidos que quase só encontro uma vez por ano, que esta primeira cena do meu "romance" ganha, a cada verão, foros de realidade. Mas, felizmente, por aqui ninguém o leu. Sorte a minha! 

domingo, julho 28, 2024

"Criadagem"

Estou num embaraço. 

Gosto de Rui Moreira, o atual presidente da Câmara do Porto. Acho graça ao seu falar desempoeirado, à cuidada heterodoxia do seu discurso, ao modo algo solitário, quase aristocrático, como anda pela política. Frequentemente, paga o preço do exercício dessa liberdade, quando usa um tom cáustico e acerado, por vezes chocante. Atitude que o leva a cometer erros: há dias, numa reação pública sobre uma fraturante questão urbana, fugiu-lhe a expressão para o termo "criadagem", num contexto de insuportável arrogância. Tinha lido e quase não quis acreditar que Rui Moreira tinha dito aquilo.

Gosto de Pedro Garcias. É um jornalista desassombrado, com uma atenção grande ao nosso comum Norte, sobre o qual, há muitos anos, editou umas conversas em que tive o gosto de participar. Desde então, com ele dedicado a produzir bons vinhos, fomo-nos vendo em alguns contextos enófilos. Por mim, acompanho-o, com regular atenção, nas excelentes crónicas que escreve no "Público". Tal como Rui Moreira na palavra, o Pedro é muito frontal nesses seus textos, e, frequentemente, imagino que crie reações que não devem ser fáceis de gerir.

Rui Moreira disse o que disse, o Pedro Garcias respondeu-lhe agora com um belo texto no "Público". Um texto em que Pedro Garcias tem toda a razão, uma razão que ele expõe, por escrito, com grande elegância e sabedoria. Tenho pena que Rui Moreira não tenha evitado dar o flanco, com um comentário despropositado e tido por deselegante por muita gente. 

O embaraço que referi no início deste texto é o facto de, sendo admirador dos dois, não poder evitar, neste caso, estar em desacordo profundo com Rui Moreira e em acordo solidário com Pedro Garcias.

Dom Sebastião Bugalho

Ouviu-se falar mais de Sebastião Bugalho, nas últimas horas, do que desde que foi derrotado por Marta Temido nas eleições para o Parlamento Europeu. Passei a ter uma coisa comum com o meu amigo Sebastião Bugalho: ambos nunca fomos à Venezuela.

O voto de cá

Trump, se vier a ser reeleito, não o será pelos votos dos seus furiosos e ajavardados apoiantes portugueses. E Kemala Harris, se acaso isso lhe acontecer, não o ficará a dever aos seus babado seguidores lusos. Só os americanos decidem o seu futuro - e o nosso, por arrasto.

Livros

A senhora que chefiava a equipa que limpou a casa que aluguei para férias "assustou-se" com a resma de livros que coloquei na estante: "Credo! Vai ler isto tudo?" Sosseguei-a: "Nem pense! Nem um quarto disso! É para poder escolher". Ela, rindo: "Sempre pode dizer que tentou..."

Vezenuela


Não, não é erro, é mesmo Vezenuela, não Venezuela.

Vou tentar contar esta história como deve ser. Em Vila Real, a minha terra, há um empresário, uma figura simpatiquíssima que, um dia, há muitos anos, teve como prémio de um determinado êxito profissional, a oferta de uma viagem à Venezuela. Não me perguntem mais pormenores porque não sei. Só posso assegurar-lhes que esta historieta é 100% verdadeira.

Por um qualquer motivo de ordem profissional, um familiar meu, que desconhecia então a ausência do empresário no estrangeiro, tentou contactá-lo. Ligou para a empresa e foi atendido por um funcionário. O rapaz - porque era um jovem, ao que veio a apurar-se - explicou que o patrão estava ausente. E, com um rigor terminológico algo discutível, referiu-se desta forma ao paradeiro da entidade patronal: "Esta semana ele não está cá. Foi para a 'Vezenuela'!"

Magnífico! A corruptela impôs-se de imediato. Desde então, nos muitos anos que entretanto se passaram, numa ala da minha família de Vila Real, sempre que a figura desse empresário amigo vem à baila, sempre nos referimos a ele como "o Vezenuela".

Pior! Há uns tempos, num programa informativo da RTP, onde tinha ido falar sobre Maduro, Guaidó e o processo político venezuelano, uma jornalista colocou-me uma questão sobre a crise política que se vivia em Caracas. Lá falei do tema e, a certo passo, também referi o país. E não é que, em lugar de referir Venezuela, me saiu 'Vezenuela"? Tenho esperança que audiência da RTP, nessa noite de "gaffe", não tenha sido muito elevada...

Ando a pensar contar ao meu amigo empresário de Vila Real o nome que regularmente usamos quando a ele nos referimos. Estou certo que não vai levar a mal....

sábado, julho 27, 2024

A diplomacia da China


Ver aqui.

Mísia


O seu nome, soube agora, era Susana Maria Alfonso de Aguiar, mas ninguém a conhecia a não ser por Mísia. Era uma mulher com um fado estranho, diferente, um registo de voz muito pessoal. E teve também uma vida incomum.

Uma noite, em Paris, há 15 anos, fomos ouvi-la, num espetáculo de casa cheia, com a Maria de Medeiros e o Manuel Maria Carrilho, que então era o nosso embaixador na Unesco. Por lá estivemos juntos em outras ocasiões, nos quatro anos seguintes. Fica esta foto.

Há muito que não ouvia falar da Mísia. Soube que morreu. Tinha 69 anos. Os meus sentimentos.

Polícia

Têm visto polícias a pé pelas ruas, regulando abusos nos passeios e e passadeiras, ajudando a organizar a circulação nas zonas mais congestionadas, dissuadindo a pequena criminalidade e transmitindo um sentimento público de segurança? Eu não! Estarão em teletrabalho? 

Do anti-americanismo

O grande divisor político do mundo contemporâneo são os EUA. É face à América que o mundo se define. Muitos dos defensores da ação russa na Ucrânia, podendo acontecer serem ainda ser "órfãos" da URSS, são essencialmente anti-americanos. Desejam ver a América derrotada pelo mundo.

Vencedores da Guerra Fria, os EUA foram criando, à escala global, inúmeros inimigos. A sua arrogância como potência, os seus "double standards", o seu menosprezo pelo mundo multilateral, que protege os poderes mais fracos, foi fazendo perder a Washington a sua autoridade moral. 

Alguns ocidentais que, no passado, mostravam o seu incómodo com a hegemonia americana, exclusivamente centrada nos seus interesses nacionais, desistiram entretanto de a contestar, ao terem entrado em pânico com a invasão russa da Ucrânia, para cuja contenção os EUA se revelaram essenciais.

Ora quem definiu toda a estratégia para a captação da Ucrânia para a esfera de influência ocidental foram os EUA (com a ajuda do Reino Unido). A NATO e a UE apenas foram atrás, propulsionadas pela russofobia da "nova Europa", como lhe chamava (e bem, vê-se agora) Rumsfeld.

Os EUA têm uma estratégia global que apenas depende dos aliados na medida em que deles forem necessitando para a levarem a cabo, como se viu bem no Afeganistão. Nessa estratégia, o afrontamento à China prevalece claramente sobre o interesse no enfraquecimento da Rússia.

Juntos no desiderato de afrontar a China, rival económico e, como tal, inimigo estratégico, tema em que a proteção a Taiwan é um óbvio fator instrumental, republicanos e democratas divergem, contudo, no modo de tratar o caso da Rússia. 

Trump parece favorecer a imposição de uma paz forçada à Ucrânia, a troco de concessões territoriais à Rússia. Terá a ideia de que esse "deal" com Putin o irá coibir de, no futuro, ter mais ambições expansionistas. A Europa mais anti-Moscovo detesta essa ideia e sonha ter a Ucrânia como tampão. 

Os democratas, historicamente mais intrusivos na ordem externa, não desistiram de proteger o regime de Kiev, porquanto alimentam uma leitura mais tutelar da Europa. Acham, aliás, que isso não é incompatível com a atenção prioritária da América face à China. E que podem mesmo usar a Europa nessa estratégia.

O anti-americanismo tem de escolher entre duas Américas. Do mal o menos, prefere uma América retraída (pelo menos) na Europa, a qual, na sua leitura, significaria uma menor intrusão futura no continente. Por isso, opta por Trump, tanto mais que o seu amor à democracia é escasso.

É irónico que o anti-americanismo, ao escolher Trump, entregue os palestinos ao mais desapiedado líder americano. A verdade, porém, é que, no tema de Israel, entre republicanos e democratas, o diabo pode escolher. A atitude face a Israel é a prova da falência moral da América.

O anti-americanismo é pró-russo? O anti-americanismo está ao lado de quem ajudar a travar a expansão americana. A Rússia faz isso, além de que, em alguns casos, traz memórias de "ontens que cantaram". O facto de ser uma autocracia não a desvaloriza minimamente a esses olhos. Muitas vezes, antes pelo contrário.

Biden e Kamala


Ver aqui.

... e assim acontece!

Foi perto do Arco do Carvalhão, num acesso esconso à A5, há minutos. Há por ali uma caixa de eletricidade. Sobre ela, estavam quatro volumes...