quinta-feira, agosto 01, 2024

País desportivo

Para o português médio, desporto é hoje sinónimo de futebol, de cujo mundo - figuras, transferências, resultados - é um "voyeur" sectário. É uma anormalidade que, no dia seguinte à abertura olímpica, as três capas dos diários desportivos estivessem cheias de futebol.

No passado, havia duas exceções a esta obsessão monotemática: o ciclismo da Volta a Portugal e o atletismo do meio-fundo e fundo, da escola de Moniz Pereira. Fora disso, o país é freguês pontual de qualquer outra modalidade - qualquer uma! - onde se vislumbre um êxito patriótico.

Diz quem acompanha estas coisas que o nosso desporto escolar é um desastre (não sei se é verdade) e que a banalidade esmagadora da nossa representação olímpica é disso um reflexo natural. Daí que seja de louvar quem ainda se consegue destacar, no meio dessa mediocridade de regra.

13 comentários:

jj.amarante disse...

As provas olímpicas baseiam-se no conceito de país, uma instituição muito baseada no conceito de soberania e num comando militar unificado. Uma instituição como esta cploca em competição atletas seleccionados entre 10 milhões de cidadãos com outros atletas seleccionados em países com 10 ou mesmo 100 vezes mais cidadãos. Cada país poderá dedicar-se a um nicho, como por exemplo Portugal se dedica ao futebol, mas com esta desproporção fico sempre a pensar que qualquer medalha para Portugal é uma conquista notável e a ausência de medalhas um fenómeno natural.

Unknown disse...


Já não estou certo que para o português médio desporto seja só futebol, apesar de os media no-lo tentarem enfiar pela garganta abaixo, porque é isso que lhes garante o ganha-pão.
Volvidos 50 anos depois do 25 de Abril, constato que Portugal ainda não conseguiu implementar aqui neste reduto geográfico um modelo de desporto escolar minimamente aproximado ao que algumas ex-colónias tinham em África.



Luís Lavoura disse...

o nosso desporto escolar é um desastre

Depende dos objetivos do desporto escolar e do ponto de vista.

Para grande parte dos encarregados de educação e dos jovens, o desporto escolar é uma perda de tempo e/ou um entretenimento.

Para alguns será uma atividade apenas saudável.

Para outros deve ter como objetivo captar os jovens mais válidos para a prática semi-profissional de uma modalidade conveniente.

Eu, como pai de dois jovens que não têm nenhuma aptidão nem gosto desportivo especiais, não teria gostado que ao desporto escolar fosse dada mais atenção e valia do que aquela que lhe foi dada na educação deles.

Anónimo disse...

"onde se vislumbre um êxito patriótico."
Confunde-se a Pátria com os feitos desportivos, sobretudo no futebol.
Sempre me impressionou muito o facto de os atletas, quando ganham, se embrulharem numa bandeira enorme do respectivo país. Sempre me causou mal estar ver isso.
Zeca

Anónimo disse...

E quando é que não foi assim? As medalhas e boas classificações sempre (!) foram casos singulares. Mas há quem ache que isso pode ser tapado dando a naturalização a atletas com créditos firmados. E quem não concorda com essa política (que não é exclusiva de Portugal, diga-se) é taxado de racista.

josé ricardo disse...

E este país desportivo, esta falta de cultura desportiva do nosso país, também se deve - e muito - ao provincianismo das nossas elites - políticos, embaixadores e ex-embaixadores, presidente da república, deputados comentadores desportivos, televisões, rádios, jornais, etc., etc., etc. - que embarcam na onda emocional deste futebol pátrio que se resumo à esfera gravitacional de 3 clubes, os nossos grandes. Até morrer!...
Aliás, o futebol é a atividade menos democrática que conheço em Portugal e que resume muito bem o que somos: um país desigual e centralista. E viva o Sporting... não... o Benfica... não... o Porto.
Nota: em que outro país europeu isto se passa?

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Exatamente, Luís Lavoura!

A única modalidade que me entreter são os Saltos para a Água / Diving, adoro dar as avaliações aos saltos, que normalmente são bastante sincrónicas com as dos juízes.

E venha a bola que este ano o campeonato parece que será animado.

Nuno Figueiredo disse...

remember the golden rule...

Luís Lavoura disse...

Zeca
Sempre me impressionou muito o facto de os atletas, quando ganham, se embrulharem numa bandeira enorme do respectivo país. Sempre me causou mal estar ver isso.
Concordo!

Luís Lavoura disse...

josé ricardo

o futebol é a atividade menos democrática que conheço

Será pouco democrática, mas é muito liberal.

No futebol a migração entre países é muito livre.

No futebol ascende-se pelo mérito, e não por se ser filho de quem se é, ter-se a nacionalidade que se tem, ser-se de uma raça qualquer, ou mesmo ter-se a sexualidade que se tenha.

No futebol os atletas podem vestir-se de todas as cores. Um homem pode andar de cor-de-rosa sem problemas.

Tomara que o mundo todo fosse tão liberal quanto o futebol é. Eu diria mesmo que, em muitas áreas da política, os Governos deveriam agir como agem para com o futebol.

Luís Lavoura disse...

Anónimo

As medalhas e boas classificações sempre (!) foram casos singulares

Exatamente. O sucesso desportivo depende muito mais da predisposição genética da pessoa do que do seu trabalho. E a genética é uma lotaria: uns saem muito dotados, a maioria sai sem dote nenhum.

Carlos Antunes disse...

O futebol ainda é desporto?
Julgo que o futebol deixou de ser desporto. Mais que desporto, o futebol transformou-se num grande negócio, aquilo que muitos já designam como a “indústria do futebol”. Cientes do filão comercial que se encontrava por detrás da paixão dos adeptos dos clubes (para quem o futebol se transformou em competição, cujo único objectivo é vencer, em que ninguém festeja por participar, só por vencer!) empresas, empresários, investidores, além dos “media” (vd. negócio das transmissões televisivas) iniciaram um processo, que se tornou global e irreversível, de mercantilização do futebol.
Curiosamente, um negócio em que os diferentes agentes ficam cada vez mais ricos e os clubes cada vez mais pobres!

Nuno Figueiredo disse...

em tempo: eu é mais rugby...

Não há coincidências, claro!

Ouviram falar de José Emílio da Silva?  A muitos leitores deste blogue o nome deve dizer pouco ou nada. Outros, com alguma idade e memória p...