Comprei esta tarde, e acabei há pouco de ler, as "Memórias de dois regimes", uma entrevista de mais de 400 páginas, através da qual Rui Vilar nos descreve o seu trajeto pessoal e político. Com questões colocadas por António Araújo, Pedro Magalhães e Maria Inácia Rezola, que se nota terem feito um rigoroso "trabalho de casa", o livro constitui um interessante fresco do tempo de transição de um Estado Novo já em evidente declínio para dentro de um período revolucionário no qual Rui Vilar, com pouco mais de 30 anos, acabou por ser cooptado, quiçá inesperadamente, para lugares governativos de forte responsabilidade política e institucional. Para quem, como eu, acompanhou de perto esses tempos, se bem que situado em quadrantes à época nem sempre coincidentes com os do entrevistado, é muito curioso poder ser hoje "voyeur" retrospetivo das tensões existentes dentro do conselhos de ministros, das peculiaridades do caótico processo decisório da época, anotando de caminho a perspetiva de Rui Vilar, enquanto destacado observador-participante, sobre a dialética político-militar naquela volátil conjuntura. Para além disso, o livro traz-nos apontamentos curiosos sobre o nosso panorama bancário e económico-financeiro no período pré e pós - 25 de Abril, sobre a génese e natureza da Sedes, bem como comentários interrogativos em torno da atitude de algumas conhecidas personalidades, na diacronia dos dias convulsos da Revolução. O saldo deste exercício é o retrato de um social- democrata sereno, sem angústias ideológicas, de um tecnocrata com preocupações sociais, sempre teimosamente moderado no exercício de um obsessivo bom senso, que visivelmente não se deixou empolgar pelo sentido festivo da Revolução, no seio de um Estado em acelerada reconstrução, que acabou por servir com forte sentido cívico e democrático, marcado por alguma disfarçada mas legítima ambição. Deixo ao Rui e aos três condutores deste exercício de História oral um abraço de felicitações por este valioso contributo, bem oportuno neste ano de lembrar Abril.
6 comentários:
Muito obrigada pela informação sobre este livro.
Emílio Rui Vilar: a man for all seasons.
A "maltinha da CGD", chamava-lhe "REI VILAR", enquanto administrador-geral (1989/1995). Grande homem e com grande Curriculum: Gestor do BP de 1975/1985; co-fundador da Sedes, etc. Nos magníficos e gloriosos tempos, após o 25 de Abril de 1974, via-o com frequência, e solitariamente, com uma bandeirinha, nas manifestações democráticas. Só não gostei, duma coisa: Após ter sido nomeado por Artur Santos Silva, administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian, desde 1996 e Presidente do seu Conselho de Administração (2002/2012), ter acabado com o magnifico grupo de Bailado do qual, eu e a minha família, eramos fieis assinantes, durante muitos anos. Mas tenho por ele, grande admiração. Este sim. Um grande e bom homem do Norte!.
Procuro o seu blog quando preciso de alinhar uns chakras. Obg. Angela C
, a Transmontana.
Procuro o seu blog quando preciso de alinhar uns chakras. Obg. Angela C
, a Transmontana.
12:29 rei vilar, ou muito desconhecimento.
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