sexta-feira, fevereiro 09, 2024

Idade

Enquanto a juventude excessiva é um "defeito" que se cura com o tempo, é mais do que óbvio - e só não vê quem não quer ou a quem não der jeito ver - que a idade excessiva é um problema sem cura. É claro que é desagradável dizer ou ouvir dizer que Joe Biden está velho. Parece mesmo cruel e ofensivo, e releva de "idadismo", estar a atirar isto à cara do senhor. Mas quando alguém dirige o maior poder mundial e, com impressionante regularidade, mostra um comportamento físico errático e comete clamorosos lapsos, como confundir Macron com Mitterrand ou Scholz com Khol, é óbvio que isso legitima interrogações sobre a sua capacidade, não apenas para continuar a exercer o cargo mas, no caso vertente, de o poder renovar em bom estado físico e psíquico para os próximos quatro anos. Aí, surge de imediato o "whataboutism": mas, então, Trump não tem uma idade que se aproxima da de Biden? É verdade mas, ao dizer-se que Biden está velho e perigosamente decadente, isso não significa estar-se a optar por Trump. Os realistas clamarão logo: mas, se perdermos Biden, é Trump quem nos surge na soleira do poder em Washington! Então, pergunto eu, a opção é apenas entre ter um Biden caquético e "frail", a cair da tripeça, e, do outro lado do espelho, um Trump, quase tão idoso como ele e com ideias perigosas e mostras claras de insanidade política? Se assim tiver de ser, como parece que assim vai ser, só posso desejar a melhor sorte aos americanos e, de caminho, aos que deles dependem, isto é, a todos nós, pelo mundo. É que nem por ser uma inevitabilidade deixa de ser um facto irrecusável que Biden está perigosamente velho, fisicamente (pelo menos) decadente e, na minha opinião (que vale o que vale, até porque a minha idade já não anda muito longe da desses cavalheiros), obviamente sem a capacidade para ser, por muito tempo, um presidente minimamente eficaz dos EUA. Neste ponto desta discussão, aqui há uns tempos, surgiria uma voz sossegante a dizer: espera aí! nos EUA, há um, agora uma, vice-presidente. Ele ou ela podem sempre substituir o presidente. Eu pergunto: então por que é que, neste caso, ninguém fala nisso? Porque, mesmo que isso só seja dito a boca pequena, ninguém confia hoje minimamente nas capacidades de Kamala Harris para ocupar a Casa Branca. Poucos o dizem alto. Porquê? Pelo politicamente correto: porque é uma mulher e porque é de cor. Deixemo-nos de rodeios: é exclusivamente por isto que esta verdade não emerge. Kamala Harris concretizou o sonho "teórico" das feministas. Durante anos, estas diziam que, para haver uma igualdade entre homens e mulheres no acesso a lugares de topo, era preciso que houvesse mulheres incompetentes a chegarem a esses lugares. Porquê? Porque os lugares de topo, como é uma evidência, já estão cheios de homens incompetentes! Ora bem! Com Kamala Harris em vice-presidente, esse "sonho" foi cumprido. Já há uma mulher incompetente num lugar de topo. Mas, espera aí!, estás a dizer assim, com todas as letras, que a senhora é incompetente? Estou, claro. Se ela não fosse incompetente, e vista como tal, por que diabo de razão estariam as hostes democráticas tão empanicadas com a possibilidade de, no caso de Biden ter de se afastar, a senhora vir assumir a função presidencial? O mundo está perigoso, é o que é. Bom fim de semana.

14 comentários:

jorge neves disse...

O Sr.embaixador já viu em que saco de gatos se foi meter? Não há "mulherio"(peço desculpa pelo popularuncho) aguerrido cá pelo sítio?

Nuno Figueiredo disse...

cf VICE e.g. Dick Cheney.

Flor disse...

Um é caquetico e o outro é perigoso. Prefiro o caquetico.

Bom fim de semana Sr. Embaixador.

Anónimo disse...

Mas não era um facto assente, aquando da eleição, que a Kamala Harris era, além de mulher de cor, inteligentíssima e competentíssima??!!

hmj disse...

Senhor Embaixador,
com o devido respeito, mas Khol não se escreve assim, mas KOHL, para acentuar o alongamento da vogal. Preciosidades das línguas.

aguerreiro disse...

Mas quer aio de cor tem a Kamala? Nem é branca, nem preta, nem mulata, nem china, quando muito uns traços industânicos, o mais prevalente, misturado com outra raças!

balio disse...

Trump tem, de facto, ideias perigosas para a política interna dos EUA. Mas para a política externa, que é aquilo que nos interessa, ou que é aquilo que nos deveria - exclusivamente - interessar, é Biden quem tem ideias e, muito pior, práticas extremamente perigosas.
É Biden quem promove a guerra na Ucrânia e quem manda a CIA destruir o Nord Stream. Não é Trump.

carlos cardoso disse...

Senhor Embaixador, desta vez concordo plenamente consigo: está mesmo perigoso, por essas razões e por outras… mas por enquanto, bom fim de semana!

Tony disse...

Um Pais, como o USA, e no lado republicano, não haverá, mais ninguém, à altura para candidato(a)? Digo eu: Por exemplo, porque não, o atual Secretário de Estado Antony Blinken!.

Joaquim de Freitas disse...

Mas Biden, nao é so idoso demais para o posto! O pior é que nao tem estratégia para nada porque depende, como os seus predecessores, de "mais altos podedes que o seu".

Estamos longe dum Eisenhower, lucido sobre os poderes nos EUA. No seu adeus disse: “No governo, devemos proteger-nos contra a aquisição de influência injustificada, procurada ou não, pelo complexo militar-industrial. O potencial para um aumento desastroso de poder mal colocado existe e persistirá.

Nunca devemos permitir que o peso desta combinação ponha em perigo as nossas liberdades ou os nossos processos democráticos. Não devemos considerar nada garantido. Só uma cidadania vigilante e bem informada pode obrigar a enorme máquina industrial e militar de defesa a adaptar-se aos nossos métodos e objectivos pacíficos, para que a segurança e a liberdade possam florescer juntas. »

Mesmo Eisenhower não dominou completamente o complexo militar-industrial, particularmente a Agência Central de Inteligência. Nenhum presidente fez isso inteiramente. A CIA foi criada em 1947 com duas funções distintas. A primeira, válida, foi a de uma agência de inteligência. A segunda, desastrosa, foi servir como exército secreto do presidente. Neste último papel, a CIA conduziu um fracasso calamitoso após outro desde os dias de Eisenhower até ao presente, incluindo golpes de estado, assassinatos e encenadas "revoluções coloridas".

Depois de Eisenhower, John F. Kennedy resolveu de forma brilhante a crise dos mísseis cubanos em 1962, para chegar a uma solução pacífica com a União Soviética. Negociou com sucesso o Tratado de Proibição Parcial de Testes Nucleares com a União Soviética.. Muitos acreditam que as iniciativas de paz de Kennedy levaram ao seu assassinato por agentes desonestos da CIA.

Joe Biden junta-se a uma longa lista de presidentes que mantiveram em segredo ou redigiram milhares de documentos que poderiam ter lançado luz sobre o assassinato de Kennedy. Levou montanhas de arquivos para casa! Porquê?

Ao longo da sua longa carreira política, Biden foi apoiado pela CMI e, por sua vez, apoiou entusiasticamente guerras de escolha, vendas massivas de armas, golpes de estado apoiados pela CIA e o alargamento da NATO.

Biden não tem nenhum plano realista para a Ucrânia e até rejeitou um acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia, de Março de 2022, que teria posto fim ao conflito com base na neutralidade ucraniana, ao pôr fim à tentativa fútil da Ucrânia de aderir à NATO (fútil porque a Rússia nunca a aceitará).

A Ucrânia é um grande negócio para o CMI - dezenas e potencialmente centenas de milhares de milhões de dólares em contractos de armas, fábricas nos Estados Unidos, a capacidade de desenvolver e testar novos sistemas de armas - por isso Biden continua a guerra apesar da destruição da Ucrânia em o campo de batalha e as mortes trágicas e desnecessárias de centenas de milhares de ucranianos. A CMI, e portanto Biden, continua a evitar negociações, embora negociações directas entre os Estados Unidos e a Rússia sobre a NATO e outras questões de segurança (como a colocação de mísseis americanos na Europa Ocidental Leste) possam pôr fim à guerra.

Biden é um fracasso. E quanto a Israel, nem se fala! Completo desastre!

No entanto, Israel é governado por fanáticos violentos que afirmam que Deus deu a Israel todas as terras da actual Palestina, incluindo a Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental. Estes fanáticos insistem, portanto, no domínio político dos milhões de palestinianos que vivem entre eles, ou na sua aniquilação ou expulsão. Netanyahu e seus colegas nem sequer escondem as suas intenções genocidas. E Biden dorme!

manuel campos disse...


Sabendo que tinha falado aqui no senhor, mas não me lembrando do nome e não tendo ideia da data, tive que ir de volta e encontrá-lo de qualquer maneira.
Fui portanto pesquisar “Former Ambassadors” no sítio da embaixada dos EUA em Portugal e lá encontrei o Sr. Allan J. Katz.
Depois foi só vir aqui pô-lo na pesquisa (sem o “J.”) e reler o texto “Bye bye Biden?” (quinta-feira, 30 junho 2022).

Um texto premonitório, ainda que dentro do Partido Democrata e nos eleitores americanos em geral já houvesse algum consenso sobre o assunto quando ainda só estavam em causa as intercalares (a que ele não reduziu a sua opinião, estendendo-a também às presidenciais deste ano como uma notável antecipação daquilo a que assistimos).
De facto as intercalares acabaram por não ser o descalabro “democrata” que muitos previam, mas acontece que desde lá muita volta deu o mundo (dá sempre, por isso quem se agarra a certezas acaba a fazer figuras tristes).

O único comentário que lá está até é meu.
E enganei-me aqui “… espremido o artigo nem sempre se percebe qual é a ideia dele.”
Penitencio-me mas não demasiado desse meu erro, estava a ler o artigo à luz das intercalares de 2022 (como quase toda a gente) e muito longe de imaginar(mos) onde estaria tudo agora.
Hoje percebo perfeitamente “qual é a ideia dele”, mas hoje é fácil, basta parar, escutar e olhar.
Ter visto aquilo tudo naquela altura é que não foi para todos.
No resto não me enganei porque eram os factos à data, bastava consultar os sítios da especialidade locais.

Nuno Figueiredo disse...

01:44 em tempo: Biden tem o seu Dick Cheney.

manuel campos disse...


Hillary Clinton a dizer "estou aqui e dou uma vice mesmo a calhar"?

Se fôr possível é uma ideia não de todo descabida, é talvez tarde para mexer na candidatura, mas ainda vão a tempo de ter alguém na vice-presidência que garanta uma continuidade competente em caso de "abandono forçado" de Biden.

Acho que Kamala Harris já deve estar numa de "tirem-me daqui ou saio sózinha".

manuel campos disse...


No comentário de há 10 minutos leia-se "experiente" e não "competente".

Experiência das lides governamentais tem muita, directa e por interposta pessoa.
Competência para o lugar logo se vê, ainda que eu admita que terá mais alguma que outras pessoas (excepto talvez Antony Blinken, talvez a pessoa certa nesta altura do mundo, parece-me que mais "pombo" pois Hillary Clinton deu algumas vezes sinais de "falcão").

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