segunda-feira, agosto 22, 2022

Arrumem a cabeça!

Depois da visível fúria de Putin, pelo atentado contra a filha do ideólogo russo de extrema-direita, deve ir uma grande confusão na cabeça de muitos: Putin é “comuna” e da extrema-esquerda ou é “facho” e de extrema-direita? Próximo do PCP e do Chega ao mesmo tempo? Decidam-se!

12 comentários:

Luís Lavoura disse...

Não foi um "atentado", foi um assassínio.

manuel campos disse...


A cabeça arrumada pressupõe que a pessoa saiba que entre o preto e o branco há uma infinidade de tons de cinzento e portanto localizar-se na faixa intermédia que considera a mais correcta face aos conhecimentos que tem e às análises que faz, com a "margem de segurança" para manter a procura da verdade que seja possível.

Sem conhecimentos e sem análise, a que se junta uma verticalidade duvidosa, é tudo ou preto ou branco pois é o caminho óbvio para não se ter como única argumentação "não sei".
A juntar a isso outros vão pelo branco e outros vão pelo preto "levados, levados sim pela voz de (algum) som tremendo", em resumo pelo que lhes dizem ser o caminho certo que devem seguir.

O problema é que surgem situações como a que estamos a viver e é uma chatice pois de vez em quando tudo se baralha sem pré-aviso (e vai continuar a baralhar).
Nada de grave pois cada vez mais a enorme maioria das pessoas sabe que "tout passe, tout casse, tout lasse".

João Cabral disse...

Grande novidade haver uma figura que congrega ambos os extremos, senhor embaixador. Depende do ponto de vista.

carlos cardoso disse...

Quaisquer que sejam as definições de esquerda e de direita, é evidente que Putin é de extrema direita, o que deve efectivamente gerar confusão em muitas cabeças que por aí cogitam… O facto de estar em guerra contra outro indivíduo que também pode ser considerado de extrema direita aumenta essa confusão.

Lúcio Ferro disse...

Parece que realmente foi um assassinato. Enganaram-se foi no alvo, iam por um homem e mataram-lhe a filha. Que esperar das baratas tontas da CIA e do amigo zelérias que anda a despejar obuses em cima da maior central nuclear do mundo? Enfim, parem isto, entre pandemias e a crise climática mais terrível desde que o homem é homem, já chega, cedam, parem, entreguem a merda do território, salvem a face, façam um "deal" com os russos e entendam-se; isto não interessa a ninguém e tem de parar.

Reaça disse...

Quantas vítimas inocentes, meu-deus!

Só que esta parece que não era assim tão inocentinha, teve bom professor, pelo que consta, sabia o que dizia.

Francisco disse...

Ao longo das últimas décadas (particularmente desde o final dos anos setenta do século XX, mas com incremento exponencial a partir da derrocada do chamado Bloco de Leste), uma das ideias capitulares inscrita na matriz desenvolvimentista do sistema capitalista internacional, albergou-se, segundo um designativo que, qual Cavalo de Tróia, atravessou o mundo académico e jornalístico, até viver beber copos com o povo em qualquer tasca da esquina: em vez de impérios, tínhamos agora o mundo novo da globalização. Naturalmente que como muitos sabiam e alguns outros suspeitaram, as relações decorrentes desse mundo globalizado não poderiam ser nem seriam, relações simétricas nem equitativas. As ideias de patriotismo, nacionalismo e quejandas, foram por isso necessariamente cunhadas com o opróbrio e o anátema da sua vergonhosa condição: retrógradas, impeditivas do caminhar da Humanidade para o seu destino comum, que seria feliz e de progresso e bem-estar partilhados. No caso da União Soviética e da Rússia que lhe sucederia em larga medida, qualquer História breve nos dá conta de quem foram os principais agentes operacionais quer da insuflada e exitosa mudança histórica (onde andará Gorbachev, por estes dias), quer da gestão do caos que se lhe seguiu com o defunto Ieltsin a ombrear, lamentavelmente, com os mais risíveis e caricatos personagens, ao mesmo tempo que, com a cumplicidade silente e conivente do "mundo ocidental", nasciam, para benefício de uns e outros, sobre os escombros da derrocada, todos os agora invectivados oligarcas. O desenvolvimento das sociedades humanas é sempre o fruto das grandes dinâmicas colectivas; mas só por ingenuidade se pode desprezar o papel que nelas cabe a personagens individuais que, pelas suas circunstâncias particulares, contribuem, de modo insofismável, para o estabelecimento de uma certa linha de rumo. Putin, segundo tudo o que nos é dado saber de modo público e objectivo, é um nacionalista convicto, que hoje dirige uma das maiores potências mundiais, convertida inequivocamente numa economia capitalista desde os anos 90. Aquilo que a globalização ocidental não perdoa nem pode perdoar, ao poder político Russo e aqueles que lhe dão rosto, não é pois a sua fidelidade à economia de mercado e aos seus princípios, mas tão somente a insubmissão e o desaforo, de uma nação e de um regime, que tendo (re)nascido com a sina de se curvarem à passagem do Suserano, agora insistem em querer estar de pé.

Carlos Antunes disse...

Caro Embaixador
A dificuldade da classificação de Putin como “comuna” ou “facho” resulta da evolução dos conceitos de extrema-direita e extrema-esquerda.
Historicamente a extrema-direita era utilizada para descrever as experiências do nazismo e fascismo. Hoje, dilui-se pelo neofascimo, neonazismo, direita alternativa, supremacia branca e outras ideologias professadas por partidos ou organizações políticas com visões ultranacionalistas e ultraconservadoras.
Por outro lado, a extrema-esquerda era entendida historicamente, por uns como à esquerda da social-democracia (dos partidos socialistas), enquanto outros a estendiam à esquerda dos partidos comunistas, restringindo-a às organizações de que tentavam realizar os seus ideais radicais e provocar mudanças através da violência, à revelia de processos políticos estabelecidos. Actualmente, ao que parece, e em Portugal assim sucede, a extrema-esquerda aparece associada às formações (incluindo o PCP) que defendem o anticapitalismo e a antiglobalização.
Voltando a Putin, é bom recordar que na Rússia continua a existir um Partido Comunista liderado por Guennadi Ziuganov que embora defenda a uma «nova forma de socialismo» que inclui a nacionalização dos recursos naturais, da agricultura e das grandes indústrias, ainda assim apoia Putin, cujo partido “Rússia Unida” contrariamente, prossegue na economia um regime capitalista nas mãos dos oligarcas, e politicamente um regime ultranacionalista e ultraconservador, na defesa dos valores tradicionais e da identidade nacional russa e do retorno da Rússia a superpotência.
Se Putin é de esquerda ou de direita? Para mim, a resposta é bem simples, “é um ditador”!
Cordiais saudações

Anónimo disse...

Nacionalista de extrema direita. Um Bonifácio russo
Fernando Neves

Joaquim de Freitas disse...

E se Putin fosse simplesmente russo, verdadeiramente russo, não fosse Eltsine, não fosse Gorbatchev, e fosse antes o que o Ocidente detesta : um líder forte.

Ele trouxe a Rússia de volta ao nível das grandes potências.

A firmeza da Rússia deu dores de cabeça ao Ocidente. A Síria é um bom exemplo.

Como a situação demonstrou, o Ocidente encontrou-se frente a um muro na sua busca de “mudança de regime” em Damasco; uma guerra contra o Irão é impensável sem o acordo da Rússia (e ela não concordará); a expansão da NATO para o espaço eurasiático, de que esta precisaria para reivindicar o monopólio da manutenção da segurança mundial (e assim perpetuar a hegemonia ocidental sobre a política mundial) esbarra em feroz resistência por parte dos russos. Que sabem bem que a Ucrânia seria a primeira etapa desta marcha para o Leste do continente euro-asiático.

Os americanos sabem bem que para realizar um tal objectivo seriam obrigados de marchar sobre o cadáver de Putine e milhões de russos…Eles recordam-se do Corpo Expedicionário Americano desfilando em Vladivostok nos anos 20…antes de receber uma lição do jovem Exercito Vermelho…

É que Putin compreendeu e não esqueceu a frase de Madeleine Albright, a ex-secretária de Estado dos EUA, quando expressou a sua surpresa de que um país pudesse ter toda essa riqueza inexplorada na Sibéria e no leste da Rússia quando deveria pertencer ao mundo inteiro…

No entanto, é impossível chamar a Rússia de "inimiga". A Rússia não é uma entidade "ideológica", nem pode ser considerada a antítese do Islão ou do capitalismo. Tem fortes ramificações internacionais que atravessam as divisões regionais "China/Japão; Irão/Israel" e possui redes consideráveis que se estendem de Cuba, Brasil e Venezuela à Coreia do Sul, Vietname, Itália, França e Alemanha.

O ideal para os Estados Unidos seria cooptar a Rússia, Washington teria então mais facilidade em administrar a ascensão da China. Infelizmente a Rússia quer permanecer independente e tem os meios porque é também a única potência mundial com capacidade para destruir os Estados Unidos.

É aí que entra Putin. Enquanto ele estiver no comando, a Rússia não fará o compromisso histórico de abandonar a sua resistência aos esforços de 70 anos dos Estados Unidos para estabelecer a superioridade nuclear, que é o único objectivo do seu sistema de defesa anti-missiles.

O enorme orçamento de defesa de " $ 700 bilhões para a próxima década" da Rússia e a revisão geral de sua indústria de defesa significam que Putin pretende manter o equilíbrio estratégico global predominante. Esta é a raiz do problema.

Então Putin é um ditador?

O Ocidente é hipócrita quando condena o deficit democrático de Putin depois de celebrar Yeltsin como o pai da democratização russa.

Na realidade, Yeltsin sufocou a nascente democracia russa, mas como isso serviu aos interesses geopolíticos do Ocidente e encorajou a pilhagem maciça da riqueza nacional da Rússia pelo Ocidente, ele faz parte dos heróis do Ocidente. Ele; que mandou disparar contra o Parlament Russo. Como Trump, outro "democrata" experimentou em 6 de Janeiro...

Mas para o Ocidente, mesmo Zelensky é um democrata...

Reaça disse...

Porque será possível aparecerem comentaristas anti-europeus, e anti-ocidentais num momento histórico como o actual, em que a Europa não pode com uma gata pelo rabo?

A Europa e sua civilização hoje não passa de um museu.

Prestes a ser um museu "morto", assassinado e dependente da Rússia e da china e dos africanos e sírios.

O momento actual a Europa tem que reagir para não submergir.

Anónimo disse...

Realmente, que grande "coragem" e que grande "orgulho" que deve ser para os rapazes da NATO e os seus protegidos em Kiev, terem assassinado uma jovem de 29 anos à bomba, que estava simplesmente a ir para casa após um dia passado num "perigoso" festival de música e literatura com o seu pai. O Ocidente está de parabéns, acabam de mostrar perante o Mundo inteiro aquilo que realmente são...

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