sexta-feira, agosto 26, 2022

Angola

Em Angola, diz-se que quem beber água do Bengo, o rio da periferia de Luanda, fica ligado àquela terra e nunca mais a esquece. Eu terei “bebido” água do Bengo, sem, de facto, nunca o ter feito, nem sequer me lembrar de por onde exatamente passa o rio.

Gosto muito de Angola, gosto daquela gente, com sorrisos de alegria, mesmo quando não têm razão para a terem. Desde os anos em que por lá vivi, sempre senti, com os angolanos, em qualquer parte do mundo onde os encontre, uma cumplicidade natural. Guardo, para sempre, muito bons amigos angolanos.

Entre 1961 e 1974, o povo angolano viveu sob guerra colonial. Entre 1975 e 2002, atravessou uma guerra civil, como quase meio milhão de mortos. Angola está em paz nas últimas duas décadas, transitando de uma ditadura para um sistema político de democracia reconhecidamente imperfeita. É um país que, sendo embora muito rico, está cheio de gente pobre, sob um modelo de distribuição de riqueza que vai ter de alterar-se.

Ontem, houve eleições em Angola. Tal como acontece desde a independência, o MPLA vai continuar no poder. Mas a Unita está a aproximar-se, a passos largos. Assim, ou o MPLA consegue corresponder, com mais rapidez e eficácia, aos anseios da população, em especial da mais jovem, ou a alternância acabará por processar-se, já num próximo ciclo. Em paz, como os angolanos merecem e como esperam os amigos de Angola. Como eu serei, sempre.

4 comentários:

Retornado disse...

A água da barragem do Bengo era a água que abastecia Luanda, penso que a barragem continua a fornecer água a Luanda.

Esse ditado era no tempo da "paz colonial", quando os estudantes do império pensavam que aquilo nas mãos deles faziam de Luanda uma nova "novayork", não aquela Luanda coitadinha.

Unknown disse...

Eu diria que a situação ainda não está consolidada. Será que a Unita vai aceitar, sem estrebuchar, uma maioria absoluta por margem tão pequena?
Lamento é que quase 50 anos depois de termos "legado" um país autocrático só agora se comece a "esboçar", nesse país, uma verdadeira democracia. É pena que não tenha sido já agora para bem dos angolanos e dos jovens portugueses que vivem (ainda) no nosso país e que podiam ter em Angola uma oportunidade de futuro.

Carlos Antunes disse...

Caro Embaixador
Com todo o respeito, e não querendo contradizê-lo, o Índice de Democracia, elaborado pelo Economist Intelligence Unit e que retrata a situação da democracia em 2021 em 165 Estados independentes, classifica Angola não como uma “democracia imperfeita”, mas sim como um “regime autoritário” – 122º lugar no “ranking” global e 26º no “ranking” regional da África subsaariana, que integra 44 países, tendo mesmo obtido a pontuação mais baixa desde 2015, com 3,37 pontos.
Quanto às eleições em Angola, o vencedor foi, é e será sempre o MPLA, com recurso à fraude eleitoral, o que de resto sucede em outros países africanos (Frelimo em Moçambique, Zanu-PF no Zimbawe, etc.).
Cordiais saudações

Retornado disse...

Quem provisoriamente atingiu 1% nas eleições 22 foi a FNLA, a velha UPA...ainda atingiu um bom resultado.

RTP

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