Entrámos para o ISCSP (a sigla, à época, tinha um “U” no final), no mesmo dia do segundo semestre de 1968. Ambos nos encontrámos então criticos do governo de Marcelo Caetano, que tinha acabado de ser empossado. Mas havia uma “pequena” diferença: António Marques Bessa entendia que Caetano era um perigoso liberal (quando ser liberal dava bom nome, visto da esquerda), enquanto eu andava pelas águas de outros mares políticos bem distantes. Durante os anos que se seguiram, mantivemos e agravámos as nossas divergências, muitas vezes publicamente, mas preservámos sempre uma grande cordialidade no relacionamento. Por atitude pessoal, mas em especial por virtude do seu radicalismo ideológico, que expressava de forma tonitruante e sem margem para qualquer compromisso, o António permaneceu, nesses anos, nos corredores do ISCSPU, como uma figura quase isolada, salvo a companhia da Ana Maria, a sua namorada de então. Era um homem culto, de leituras extremas, saudoso do salazarismo que o regime ia, apesar de tudo, enterrando. Com naturalidade, vi-o depois fazer carreira académica, publicar livros e, aqui ou ali, artigos em folhas de extrema-direita, com opiniões consonantes com esse seu alinhamento. Perdemo-nos bastante de vista pelas décadas em que andei por fora, mas, das escassas vezes em que nos encontrámos, trocávamos abraços sem reticências. O último, recordo, numa ocasião bem simpática, foi numa universidade brasileira. Acabo de saber que morreu ontem.
2 comentários:
Tem alguma relação com o economista Daniel Bessa?
Um excelente académico, com um profundo conhecimento de geopolitica.
Foi coordenador da minha licenciatura, o que significa que colaboramos na entrega do meu relatorio final de curso.
Tinha e tenho por ele imenso respeito e admiração. Deixa muita saudade.
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