terça-feira, agosto 02, 2022

Ar mesmo condicionado


Numa destas noites de intenso calor, lembrei-me do episódio, passado em inícios de 1986.

O meu colega Paulo Castilho (esse mesmo, o escritor) e eu tínhamos chegado a Bridgetown, para uma determinada reunião internacional. 

Estávamos então a dar os nossos primeiros passos nas instituições europeias. Competia-nos defender as cores nacionais na capital dos Barbados, num encontro dedicado a questões de comércio e desenvolvimento. 

Arribávamos de Londres, na véspera da reunião plenária. Fomos informados de que só fora possível reservar aposentos num hotel "um pouco fora da cidade". 

Jantámos, bem dispostos, com outras pessoas, num grande (e esgotado, claro!) hotel da cidade, antes de rumarmos ao nosso alojamento. No táxi para lá, começámos a preocupar-nos. O tempo passava. Depois de mais de meia hora viagem, por caminhos estreitos e rurais, chegámos ao destino. 

Era um hotel visivelmente medíocre, na soleira de ser uma espelunca. Já tivera os seus dias, há muitos anos! Olhámos um para o outro, na certeza de que esse facto não iria atenuar as invejas que tínhamos deixado para trás, em Lisboa, ao termos tido o privilégio de ser designados para uma reunião nas Caraíbas. 

Nada podíamos fazer: havia que passar ali três noites. E, em especial, teríamos de madrugar e conseguir transporte para estar a tempo nas reuniões. 

Na receção do hotel, em face do calor húmido da noite caribenha, perguntámos se os quartos tinham ar condicionado. A resposta foi críptica: "Sim, mas tem um pormenor que explicaremos quando chegarmos aos quartos". Estranhei o “pormenor”, mas lá fomos. Sem elevador, claro. O quarto estava ao nível das baixas expetativas que já levávamos. Mas, vá lá!, tinha ar condicionado. 

O pormenor? Bom, o pormenor é que, para que o ar condicionado funcionasse era necessário, de duas em duas horas, meter uma moeda, tipo parquímetro. Coisa simples, está bem de ver!, desde logo para quem pretendia dormir, depois de uma imensa jornada, com “jet lag” à mistura. 

É a vida! Há pior, como sabem.

6 comentários:

Luís Lavoura disse...

Era como a água quente em muitas casas inglesas. Tinha que se meter uma moeda num contador para ter dez minutos de água quente. Cada duche custava uma moedinha.

Flor disse...

Recordei quando vivia em Caracas fomos convidados para uma festa de aniversário no El Sombrero, uma zona tórrida. Passámos o dia a tomar cerveja fresquinha. Tinham-nos reservado um hotelzeco para pernoitar e tão contentes que ficámos quando vimos o aparelho de ar acondicionado porém... não funcionava. Resolvemos tomar um duche frio e voltar a tomar outro de madrugada. Nem usámos toalhas de banho!

Tony disse...

E, não havia verde?

António Moreira disse...

O Paulo Castilho, na altura já ligado ao MNE, foi meu colega no curso de Ação Psicológica, no Lumiar, de Outubro a Dezembro de 71.E depois em mais dois meses de "estágio " no Estado Maior do Exército. As aspas justificam-se pelo facto de o Paulo e o Miguel Freitas da Costa passarem as tardes do suposto estágio a ensinar mais uns tantos a jogar bridge. Eu nunca me senti com capacidade para entrar nesse tao exigente jogo. Passava o tempo em outras atividades lúdicas.
António Moreira

Francisco Seixas da Costa disse...

António Moreira. Não me recordo de alguma vez ter comentado com o Paulo Castilho ou com o Miguel Freitas da Costa o facto da Ação (na altura, tinha mais um c) Psicológica ter também sido a minha Especialidade.

Nuno Figueiredo disse...

muito pior.

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