terça-feira, junho 09, 2020

Estátuas

A questão da destruição de estátuas de figuras do passado, representativas de realidades que, na sua época, eram lidas de forma diferente pela sociedade, levanta uma questão de base: será que a atual geração assume a arrogância de ser ela a avaliar toda a História?

16 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Bom dia:- Infelizmente as pessoas esquecem tudo, sendo que, basta um ou dois dar um grito entre várias pessoas, e - como carneiros - todos seguem o pseudo "lider".
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Um feriado feliz (portugueses)
Um dia feliz para todo o mundo
Cumprimentos

Anónimo disse...

Em Bruxelas, no Parc du Cinquentenaire, a poucos metros da mesquita, há uma conjunto escultórico que assinala os "feitos" militares dos belgas em África. Uma das legendas gravadas, que dizia algo do tipo "terminámos com o tráfico de escravos praticado pelos muçulmanos", foi cuidadosamente "alterada" e o pedaço de pedra onde estava escrito "muçulmanos" foi retirado. Agora, lá está aquilo ali: um buraco.

Luís Lavoura disse...

será que a atual geração assume a arrogância de ser ela a avaliar toda a História?

Todas as gerações assumem essa arrogância. Quem erigiu as estátuas também esteve a avaliar a História.

O Francisco discorda da destruição das estátuas de Lenine que foi levada a cabo não há muitos anos?

Jaime Santos disse...

Uma estátua não serve sobretudo para celebrar a História, serve para honrar a memória de quem ela representa ou a quem ela foi dedicada. Se nos apercebemos que estamos a honrar a memória de quem praticou atos que hoje consideramos desprezíveis e que ferem a dignidade dos descendentes das vítimas desses atos, cujos nomes se perderam, não é má ideia livrarmo-nos dessas representações.

Por isso é que, e bem, os povos do Leste da Europa se livraram das estátuas a Lenine, os espanhóis das de Franco, a Ponte Salazar passou a 25 de Abril (já estou a ouvir os urros dos anónimos que se vão apressar a responder a esta em particular) e nós agora nos deveremos livrar das dos traficantes de escravos, que pertencem aos museus e não aos plintos das nossas praças.

Não tencionamos apagar estas figuras dos livros de História.

E para quem vier dizer que não deveremos julgá-las à luz dos nossos valores e sim dos da sua época, a resposta deve ser que a escolha do que decidimos honrar e celebrar é justamente feita à luz dos nossos valores, nem poderia ser de outra maneira.

Todas as gerações assumem afinal a arrogância de julgar a História à luz dos seus valores, de outro modo essas estátuas nunca teriam sido erguidas...

E não se pode escolher dela só o que é bom e ignorar o mau, ou vice-versa.

De outro modo, está-se a fazer propaganda, que é o que continua a ser infelizmente feito por muita gente insuspeita em Portugal relativamente aos Descobrimentos, que serve para propagar o mito da colonização benevolente e do lusotropicalismo (esta deve provocar ainda mais urros)...

Anónimo disse...

É no que dá plantarmos estátuas aos nossos contemporâneos! Se passados 100 ou 200 anos ainda houver a vontade de erigir uma estátua a alguém pois muito bem faça-se lá a estátua, antes é que não!
E quantas das que estão por aí espalhadas não terão sido promovidas pelos próprios "homenageados" ?

Joaquim de Freitas disse...

Bom ponto de Luís Lavoura , quando escreve: “Quem erigiu as estátuas também esteve a avaliar a História” . Eu acrescentaria : “no momento ou na época em que as estátuas foram erigidas”. .


Anos mais tarde, quando são demolidas, é uma outra História. As estátuas de Lenine derrubadas na Ucrânia, e a de Saddam , no Iraque, já são outra História.

Da mesma maneira que estátuas de líderes confederados foram derrubadas de madrugada nos EUA, estátuas de mercadores de escravos foram demolidas recentemente em Bristol, em Nantes e na Martinica.

Joaquim de Freitas disse...

Ao Sr. Jaime Santos: « E não se pode escolher dela só o que é bom e ignorar o mau, ou vice-versa.” Frase curta do Sr. Jaime Santos que vale a pena analisar”

Primeiro exemplo: A estatua do General Robert E. Lee, comandante das forças confederadas durante a Guerra Civil Americana, derrubada em Cherlotteville semanas atrás.

Activistas da direita política protestaram contra a demolição e activistas da esquerda política manifestaram-se contra a manifestação de direita.

Em 2003, um tanque americano demoliu a estátua de Saddam Hussein na Praça Firdos, em Bagdad. Uma imagem bem emoldurada da televisão sugeriu que eram os iraquianos que estavam a derrubar a estátua. Mas eram meros actores num programa de propaganda americano.

Os nazis da direita ucraniana que, sob a liderança dos Estados Unidos, derrubaram pela força o governo legítimo da Ucrânia, abateram as centenas de estátuas de Lenine que ainda estavam no país.

Robert Lee foi um homem brutal que lutou para manter o racismo e a escravatura. Como ele, há poucas figuras históricas impecáveis. George Washington "possuiu" escravos. O Lyndon B. Johnson não mentiu sobre o incidente no Golfo de Tonkin e lançou uma gigantesca guerra injusta contra os não-brancos sob falsos pretextos.

O significado de um monumento muda à medida que o tempo passa. Embora possa ter sido construído como parte de uma determinada ideologia ou conceito.

Lee foi celebrado como um herói que encarnava "a grandeza moral do Velho Sul" e como um dos arquitectos da reconciliação entre os dois lados. A guerra em si foi descrita pelos mesmos como um conflito entre duas "interpretações da Constituição" e entre duas "visões ideais da democracia".

Os racistas brancos que vieram "proteger" a estátua em Charlottesville certamente não o fizeram em nome da reconciliação. Nem aqueles que vieram a opor-se violentamente. O Lee era racista. Aqueles que vieram para "defender" a estátua eram principalmente racistas "supremacistas brancos". Claro que se deve opor a eles. São os assassinos de George FLOYD.

Anónimo disse...

A minha pergunta é: quando é que começamos a esvaziar os túmulos do Panteão?


Anónimo disse...

Trazer à baila o derrube de estátuas dos pilantras que construiram o comunismo é desonesto mas... que esperar?

As estátuas de facínoras como o Estaline, Lenine e outros não foram derrubadas passadas gerações mas sim ainda a quente, quando os povos finalmente se libertaram do controlo macabro dessa gente. Os derrubes das estátuas comunistas - tal como das do Saddam -, foram feitos por gente que ainda sentia na pele os crimes por eles cometidos direta ou indiretamente. Derrubar o comunismo só podia ter como consequência derrubar os seus símbolos mais óbvios. Dificilmente as pessoas saídas das prisões ou cuja memória ainda sangrasse dos crimes de regimes ditatoriais poderia continua a passear-se nas ruas sendo obrigada a olhar nos olhos monstrengos homenageando os algozes do seu povo e das suas famílias.

Ora, derrubar estátuas referentes a gente de eras passadas, cujas ações em nada nos afetaram ou que - como é o caso do Churchill -, permitiram que vivêssemos hoje num mundo livre, é uma coisa que já raia o insano. Mas, como todas as insanidades, este movimento tem os seus defensores, geralmente gente que tem contas a ajustar com a História e que, ainda lambendo as feridas de derrotas passadas, pretende a vingança através da destruição daquilo que não conseguiu mudar.

Enquanto as nações livres e democráticas não encararem estes movimentos como aquilo que eles são - subversão equivalente à agitprop da Guerra Fria -, não vamos lá. Os touros pegam-se de caras!

PS: continuamos sem saber quem é o Jaime Santos. Que importância tem isto? Nenhuma, se não se desse o caso de o homem continuar a martelar na história dos "anónimos". Deve ser uma coisa que lhe dá mais sabor à insonsa comida, sei lá.

Anónimo disse...

Será nova moda, bater nos mortos passados tantos séculos?
talvez assim evitem de se preocupar com os vivos
(tantos de várias cores a precisar de ajuda)
ou ainda vão deitar abaixo o Marquês de Pombal por não lhe seguirem a doutrina

Anónimo disse...

Caro comentador das 17:11, a que propósito vem o Churchill? Foi derrubada a estátua de um tipo em Bristol que vivia da escravatura e a fomentou. Sofreram e morreram milhões de pessoas por causa dele e de outros como ele. Qual a diferença entre ele e o Estaline? Foi porque as suas vítimas morreram antes das do Estaline? Qual é a lógica disso? Na Bélgica foi retirada a estátua de um sacana de um rei que condenou milhões à miséria e escravatura em África, nas suas vastas possessões pessoais. Vem algum mal ao mundo por a retirarem? O Robert Lee representava simbolicamente a defesa da manutenção da escravatura. Vai abaixo, obviamente.
As estátuas erguem-se e derrubam-se há milhares de anos. Não são mais do que homenagens a pessoas, não são obras de arte, como muitos agora querem fazer querer, e não são a História. A História aprende-se nos livros, não é a olhar para estátuas. Sempre se passou o mesmo com homenagens de pessoas com o nome em ruas e praças, a mesma coisa, sem tirar nem pôr. E alguém chora hoje o facto de terem alterado o nome de Avenida Rainha Dona Amélia para Avenida Almirante Reis?
A atual geração tem todo o direito a retirar estátuas, como outros tiveram o direito de as erguer. Aliás, que me desculpem os das gerações anteriores, mas esta é, em média, a geração mais consciente e educada de sempre. Os mais velhos, ainda que o não admitam, têm muito a aprender com eles e tiro-lhes o chapéu pela coragem de derrubar estátuas de santinhos de pau carunchoso.

Anónimo disse...

Só um esclarecimento, senhor Embaixador, quanto a "realidades que, na sua época, eram lidas de forma diferente pela sociedade,". Não sei bem a que se refere por "sociedade". Mas quando ergueram a estátua do Rei Leopoldo, por exemplo, já muitos na sociedade o consideravam um déspota e assassino. A começar nas suas vitimas, obviamente, e acabar em tantos europeus. É ler as denuncias e relatos históricos.

Anónimo disse...

Confesso que esta revisão da história me incomoda.

Alguns hoje em dia pretendem culpabilizar-nos colectivamente pelo que sucedeu em momentos do nosso passado e pretendem desconstruir, desunir e destruir.

Não posso aceitar em caso algum que alguns imbecis, que provalmente nuca leram o Padre António Vieira, dos maiores escritores da língua portuguesa, insigne conselheiro de D. João IV nas campanhas diplomáticas para o reconhecimento da restauração da independência de Portugal seja agora vandalizada.

O passado deve ser respeitado.

Anónimo disse...

"11 de junho de 2020 às 00:59", a referência ao Churchill vem na sequência de ataques - ou intenção de os fazer -, à estátua existente em Londres.

Eventualmente, esteve em Marte (planeta vermelho), e falhou as notícias...

Calculo que também esteja apto a explicar-nos o caso com a estátua do Baden-Powell ou do padre António Vieira (que já tinha sido alvo de uma ação Mamaduesca, certo?).

Anónimo disse...

Acho inaceitável esta arrogância vasconça de querer anular a história, o nosso passado com erros e virtudes. Acho absolutamente inaceitável e não consigo perceber como há políticos ditos democráticos que vão a correr retirar vestígios da nossa memória porque alguém se lembrou de forma abusiva de contestar. O que é isto afinal, onde reside afinal a tolerância e o respeito...? Por favor haja bom senso ou vamos terminar todos em guerra uns com os outros, sem qualquer motivo válido mas porque sim...!

Anónimo disse...

Caro comentador das 12 de junho de 2020 às 10:40, sequência de ataques - ou intenção de os fazer? Decida-se.
No resto, não sacralizem as estátuas.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...