Conheço esta varanda há tanto tempo quanto me conheço a mim. Lembro-me de correr por ela, quando o soalho era ainda de madeira, preocupando os mais velhos, pelo risco de poder cair pelas escadas de pedra. Ser, então, neto único, sobrinho único e filho único era um privilégio que nem lhes digo! Por ali adubei depois os “blues” da adolescência, tocando (pessimamente) viola, como baladeiro de trazer por casa. Nas décadas seguintes, foram centenas as horas de leitura e conversa, naquelas e noutras cadeiras que por ali foram estando, em verões que tenho por felizes. Na memória, ficou-me para sempre o chiar dos carros de bois que subiam do Fundo de Vila para o Cruzeiro. E, em especial, o quase silêncio das muitas madrugadas em que ali fiquei a pensar “na morte da bezerra” (não, não havia mosquitos!), ouvindo a água que corria pelo rego lateral da rua, no calendário de distribuição da rega pelos terrenos da aldeia. Ah! E lembro-me bem das imprecações íntimas contra as Zundapp, as Famel e as Pachancho que, ao longe, vindas das Pedras ou de Eiriz, me rompiam a quietude. Na imagem, não se vê ninguém? Pois olhem que esta varanda está, para mim, cheia de gente: avós, pais, tios, primos e amigos.
6 comentários:
Pelo que leio são felizes recordações da meninice.
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Um domingo feliz
Saudações poéticas.
Linda foto!
Também eu Sr. Embaixador tenho duas varandas assim.E também ambas carregadas de gente que só eu vejo.
Esta varanda parece-me muito moderna, com materiais muito atuais e muito "cool". Não me parece nada uma varanda antiga, do tempo dos pais e avós do Francisco.
Assim as pessoas continuam vivas nos seus espaços!
bela imagem :)
@Luís Lavoura Eu de materiais não percebo nada, mas sei que uma varanda, assim como uma casa, pode ser alvo de obras e remodelações, não deixando de ser a mesma varanda...
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