Os dois diplomatas chegaram tarde ao restaurante, para o almoço. Algumas mesas começavam a esvaziar-se. Naquela que ficava ao seu lado, um casal conversava animadamente. No balde com gelo entre as duas mesas, surgia uma garrafa de Chablis, "frappé", consumido por esses vizinhos.
Chablis! Ora aí estava uma boa ideia! Pediram ao empregado dois copos de Chablis. O tempo passou, a conversa fluiu, os copos dos diplomatas foram-se esvaziando.
A certo passo, os convivas da mesa ao lado levantaram-se e saíram porta fora. Os diplomatas miraram a quase meia garrafa de Chablis por usar e, depois de um olhar discreto em torno, serviram-se. Sempre era melhor do que o vinho ir "para dentro", levado pelos empregados, conluiaram em voz baixa.
O Chablis estava excelente. Cada um acabou mesmo por se servir de mais do que um copo. A garrafa chegou ao fim, mas já estavam saciados. Iam pedir a sobremesa e, depois, dois cafés.
De súbito, os vizinhos da mesa ao lado regressaram, depois de, aparentemente, terem ido ao exterior fumar um pouco.
Os diplomatas levantaram-se num salto, correram para o balcão, pagaram a conta e desapareceram, antes que a evaporação súbita do Chablis, na garrafa dos vizinhos de mesa, fosse notada.
História verídica. Em Paris. No “L’Esplanade”.
12 comentários:
Hahaha
Até podia ser um nome de um filme " dois diplomatas em apuros".
A diplomacia no seu melhor.
Maria Isabel
Um desses diplomatas não seria um cavalheiro, atualmente "reformado", que mantém diariamente um interessantíssimo blogue? Pura especulação minha...
Por acaso há duas semanas aconteceu-me coisa parecida, num restaurante barato. Um vizinho foi-se embora da mesa deixando nela um jarro de tinto ainda quase cheio. Apeteceu-me servir-me dele. Mas antes de o fazer tive o cuidado de alertar o dono do restaurante, o qual me disse que estava "tudo sob controle". E, efetivamente, o vizinho voltou à mesa passados uns 10 minutos.
Conclusão: sou pouco diplomático.
É preciso ousadia! Eu não o conseguia fazer.
Nunca me passaria pela cabeça “ recuperar “ os restos deixados numa mesa de restaurante ... nem que fosse uma garrafa de Möet et Chandon .
Há que perguntar a quem teve essa “lata”!
Senhor embaixador: claro que a historieta de hoje é pura ficção, mas bem conseguida. porque , na realidade, dois diplomatas nunca fariam isso. Esses comportamentos só são admissíveis aos terráqueos.
Anónimo das 17,02
Mas os diplomatas também são terráqueos ( penso que quer dizer pessoas normais ... ) . Nem são superiores nem inferiores a qualquer ser humano que tenha uma boa educação e que saiba comportar-se em sociedade . O resto são cantigas . Como em qualquer profissão há bons e menos bons , inteligentes ou não , com mais aptidão para política (ou politiquices ) ou para diplomacia pura . O que interessa é que sirvam bem o País , como os militares , os juizes ou qualquer outro funcionário público . Porque a auréola à volta da cabeça é posta por cada um !
Portanto são tão terráqueos como o anónimo das 17,02 ...
O Anónimo das 17.02 tem razão.
Dois diplomatas nunca fariam isso. Um dos dois, não seria diplomata...
O Anónimo das 11.33 ainda não percebeu, que, um diplomata não é um funcionário público qualquer!
"SUA EXCELÊNCIA" quando o menciona.
" VOSSA EXCELÊNCIA" quando fala com ele, ou lhe escreve...V.Exa.
Foram dois diplomatas. Por acaso, mas só por acaso, nenhum era português
SEXA e VEXA só é aplicado a Embaixadores e para chegarem a essa categoria têm de decorrer vários anos , a subir as escadinhas e a passarem por vários postos . Demora mais ou menos 20 anos ... Não é o tratamento que os torna diferentes de um Juiz , um Professor Doutor , um Procurador , todos funcionários públicos ...
Claro , um Embaixador representa o Presidente da República ( ou Rei ) do seu País no País onde está acreditado , mas isso não faz dele uma pessoa diferente . Tem é mais responsabilidade e como tal o seu comportamento deveria ser exemplar . Mas continuam a ser pessoas normais e a tal auréola é posta por cada um ... mas é fictícia !
Senhor Embaixador,
Se nenhum dos diplomatas era português, está explicada a "lata".
V.Exa., sabe muito bem, de tanto observar, que, por cá é sem testemunhas.
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