sábado, setembro 14, 2019

York House


Foi sempre uma “ilha” em Lisboa. A York House, durante muitos anos, era um hotel diferente, na rua das Janelas Verdes. Por lá se hospedaram amigos estrangeiros que, na capital portuguesa, pretendiam fugir ao óbvio. Muitos ingleses, claro. Também ali ficaram, por épocas, alguns portugueses “estrangeirados”, retornados a Portugal, seduzidos pelo atipicismo do lugar ou talvez por lhes parecer que ali “cheirava a estrangeiro”. Certa gente do Norte, com dinheiro e gosto, encontrou também ali o seu pouso: foi na York House que Sá Carneiro inicialmente se instalou, quando recém-chegado a Lisboa. Alguns outros governantes embarcados em Campanhã seguiram-lhe o exemplo.

A “minha” York House era outra, era a do pátio da casa principal, ao ar livre, no Verão, para almoço, ou ao final da tarde, para um copo discreto no bar, que se trazia para os bancos exteriores. Foram dezenas as vezes que por ali parei. Nesse tempo, em que a variedade da oferta restaurativa não era o que hoje é, pelo restaurante da York House (que nunca ninguém conheceu pelo seu nome, “A Confraria”) passou meia Lisboa - política, jornalística, artística, social. E diplomática, claro. Se não se cuidava em fazer atempada reserva, a subida daquela penosa escadaria podia muitas vezes acabar por ser debalde, até porque a poucos passava pela cabeça ir comer “lá para dentro”, para a parte interior da casa, uma área onde me recordo que só se jantava, num ambiente pouco apelativo, que nunca deixou de ser algo incaraterístico.

Dizem-me que a York House, há uns anos, foi comprada por franceses. E que muita coisa mudou. Ontem, numa noite soberba de Lisboa, sem vento e de bela temperatura, lembrei-me de lá voltar para jantar, naquele pátio imbatível.

O restaurante parece estar agora voltado “para dentro”, dedicado aos hóspedes que alugam os quartos. Os portugueses, ao que julgo saber, pouco por ali já vão, tanto mais que, ao almoço, a vista para o guindaste e para o que deve ser a incomodativa obra vizinha não deve estimular muito as conversas. Nota-se, aliás, que alguma elegância do passado, que caraterizava o lugar, já se perdeu um pouco: a frequência parece ser hoje a da Lisboa turística, para francês da classe média, em que a cidade se está a converter.

Contudo, feitas as contas, somando o ambiente que continua único, reservado e acolhedor, com a simpatia do pessoal e a apreciável qualidade da comida, com um preço razoável, gostei de regressar à York House.

3 comentários:

Anónimo disse...

A York House dos anos 60 era dirigida por franceses , família civilizada , cujos descendentes por lá andavam e eram amigos de toda a gente em Lisboa . Aliás casaram-se com portugueses . Por lá passaram e viveram vários estudantes , sobretudo do Porto , sempre gente bem educada , todos se conheciam . Da York House muitos de nós assistimos ao programa da televisão em que transmitiam a chegada do 1o homem a pôr um pé na lua . Emocionante .
Já nesta década os Embaixadores do Luxemburgo se mudaram para lá enquanto a Residência esteve em obras . E de lá se assistiu em directo ao casamento de um dos Príncipes do Luxemburgo , a convite dos Embaixadores , seguido dum agradável e informal almoço , para amigos .
Belo lugar a York House ...

Anónimo disse...

A Beatriz Batarda , grande artista portuguesa do nosso cinema e teatro , é neta ( ou bisneta ? ) desses elegantes senhores franceses que à época , anos 60/70 , eram os donos da York House ... Ah , e a Leonor Silveira , musa de Manoel de Oliveira , também é neta desses Senhores ...
Não sabia ?

Anónimo disse...

Leonor Silveira e Beatriz Batarda ( sim , filha de Eduardo Batarda ) sã primas direitas , as mães são irmãs .
Agora uma coisa não percebo : nessa época as pessoas que frequentavam a York House formavam como uma família , em torno dos donos ( franceses) . O Senhor Embaixador ao chamar-lhe “ a minha York House “ referia-se ao restaurante , ponto .

Agostinho Jardim Gonçalves

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