quinta-feira, setembro 05, 2019

Notícias para o Outono


Ontem, numa televisão, António Lobo Xavier disse que, pela primeira vez, desde há muitos anos, os tradicionais apoiantes do PSD e do CDS sabem, de ciência certa, que os votos conjugados dos deputados que vierem a ser eleitos por esses dois partidos, nas próximas eleições, nunca serão suficientes para os levarem ao governo. Assim, quem vier a votar PSD ou CDS já percebeu que vai continuar a ser oposição. 

Por outro lado, o “fond de commerce” tradicional da direita, as “contas certas”, habitual arma de arremesso contra o “despesismo” socialista, deixou de ter a menor validade: o governo socialista fez, nestes quatro anos, nesse domínio, exatamente aquilo que a direita disse que ia fazer - respeitar os compromissos europeus em matéria de objetivos macroeconómicos. E, escorado nesse património, o que o PS anuncia que se propõe fazer no próximo futuro é exatamente o mesmo que a direita pode dizer que também faria. Os socialistas, não apenas “raptaram” o discurso da direita, como deram razões a muita gente desse setor, em face do que fizeram, para confiar neles.

Sente-se, assim, que muitos votantes tradicionais de direita, aqueles que são pragmáticos e não cultores de uma agenda ideológica obsessiva, começam a acolher a teoria da “bondade” de uma maioria absoluta do PS. Porquê? Porque, sendo inevitável que António Costa continuará a ser o primeiro-ministro, então - podem pensar - talvez valha a pena dar-lhe toda a responsabilidade, evitando que, na sua ação futura, ele possa vir a ter algumas derivas “esquerdistas”, que pudessem ser justificadas pela sua dependência dos parceiros da anterior Geringonça.

Mas, neste caso, com uma oposição de direita destroçada, que contra-poder passará a existir no terreno, perguntar-se-ão alguns? O presidente da República. Estando em absoluto excluído - e volto à ideia de Lobo Xavier - que PSD e CDS possam formar governo, a “esperança” no equilíbrio do sistema passa a residir, quase exclusivamente, no chefe do Estado. Sabe-se que, na direita, Marcelo não faz a unanimidade mas, neste caso, perante o inevitável, mesmo para setores que não apreciam a sua ação, ele é o único instrumento disponível para “controlar” um governo socialista. 

É perante este cenário de derrota anunciada que setores desse eleitorado tradicional de PSD e CDS podem sentir-se tentados a dar o seu voto, numa opção “experimentalista” e quase lúdica, a minúsculas formações de direita recentemente emergidas, politicamente oportunistas da crise daqueles partidos tradicionais. Elas vão desde o populismo filofascista, com laivos xenófobos e racistas, até uma espécie de “bonapartismo” tardio, personalizado em figuras em decadência política, passando por uma direita mais radical, tipo “alt right”, por cá travestida de liberal. 

Os socialistas só podem “agradecer” a quem se sinta tentado a ir votar nessas formações residuais: não lhes causa a menor mossa política na sua garantida maioria (absoluta ou não) e retira votos que, normalmente, seriam do PSD e CDS. No caso dos social-democratas, em alguns círculos eleitorais mais pequenos, pode mesmo vir a “oferecer” alguns deputados ao PS, na fronteira da maioria absoluta. António Costa só tem razões para sorrir.

10 comentários:

Anónimo disse...

Sr. Embaixador,
Referir contas certas ou orçamentos rigorosos por parte do PS ou, em particular, do Dr. António Costa, só por bricandeira. E de mau gosto.
O Dr. António Costa irá ganhar, muito provavelmente, as próximas eleições. Não há muitas dúvidas sobre isso.
A única diferença é que desta vez, quem nele vota, já sabe com o que conta. E não terá desculpa para no futuro, não muito distante, alegar que foi enganado. Já sabem com o que contar.
Entretanto há que aproveitar a "onda de bons indicadores" com que diariamente somos bombardeados e começar a preparar os mais próximos para ir lá para fora antes que venha a conta.
Um abraço

Anónimo disse...

Este Senhor, quem o tiver por padrinho, certinho que está garantido p`rá vida! Chiiiii!...

António disse...

Prefiro as derivas esquerdistas a qualquer maioria. Aliás, o exemplo Boris Johnson mostra bem o problema que uma maioria pode ser.

Anónimo disse...

Assim que a geração que tiver hoje mais de 65-70 anos deixar o Mundo dos vivos, estou certo que a política em Portugal vai mudar radicalmente. Para melhor? Não sei, para diferente é mais do que certo. Sempre os mesmos. As mesmas caras, ano após ano. Profissionais da política. Não cativam ninguém com os seus discursos. Não cumprem o que prometem. Depois queixam-se da abstenção.

Mal por Mal disse...

Cristas do CDS disse à Catarina do Bloco: "Façam gente, façam filhos"

A Catarina ficou-se a esta boca.

aamgvieira disse...

O comentário do anónimo das 14:35, acertou na mouche, pobre país de "deixa-andar"que tudo aceita !
Calculem o Costa ??...cópia desbotada do Sócrates,

Votarei em coerência e não por modas-promessas-esburacadas.

Anónimo disse...

Olhe que não; olhe que não, Sr Vieira. A pensar assim, ainda vai parar ao inferno.

dor em baixa disse...

A. Costa tem defendido que a maioria absoluta não é uma boa ideia. Pode ser que seja apenas uma forma cínica de lutar por ela, mas julgo que está a ser genuíno. Basta recordar o que aconteceu à maioria absoluta de Sócrates e à maioria quase absoluta - transformou-se em absoluta com o "queijo limiano" - de Guterres. Isto para não falar no polo concorrente, a maioria absoluta de Cavaco.

José Figueiredo disse...

Senhor Embaixador,
Bem, no curto prazo também eu fico contente, mas penso que a prazo, para o país, a coisa pode não ser assim tão boa. Espero que os tais grupelhos não se transformem em médios ou grandes partidos.
José Figueiredo
Braga

aamgvieira disse...



"The problem with socialism is that you eventually run out of other people's money.

There is no such thing as society: there are individual men and women, and there are families.

Being powerful is like being a lady. If you have to tell people you are, you aren't."


A verdade nua e crua de Margaret Tatcher !

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...