segunda-feira, setembro 23, 2019

Vandalismo legal


Aparentemente, a Comissão Nacional de Eleições considera não haver qualquer ilegalidade na execução da pintura que militantes do Bloco de Esquerda efetuaram na parede do Instituto Superior Técnico, como a imagem documenta. 

Deve tratar-se de uma lei antiga, remanescente dos tempos da Revolução, que ninguém ousa propor que seja revogada, para não ser acusado de reacionário.

Na democracia madura em que vivemos, é perfeitamente incongruente que uma propriedade, pública ou privada, possa ser sujeita a este tipo de práticas, feitas sem autorização dos proprietários, que podiam ser simpáticas e até politicamente admissíveis em 1974/76, mas que já não se justificam nos dias de hoje. 

E se a todos os partidos desse na real gana desatar a colocar pinturas em todas as paredes e prédios “apetecíveis” deste país? Pelos vistos, até seria legal! Imagina-se o espetáculo...

Neste caso, será o orçamento do IST, pago por todos os contribuintes, a ter de arcar com os custos da restauração da parede.

Num sistema político moderno, a propaganda eleitoral tem lugares próprios, com tempo de exposição limitado, distribuídos por forma a não agredir a paisagem urbana, evitando tornar-se numa constante poluição visual. 

Por exemplo, o que, desde há vários meses, se passa em locais de Lisboa como o Marquês ou a praça de Espanha, é uma vergonha para a cidade e para a imagem do país.

Salvo em ditaduras e regimes autoritários, bem como em algumas democracias subdesenvolvidas, não conheço país onde este exagero de agressão propagandística, por parte das máquinas e agentes políticos, seja tão ostensivo como em Portugal. 

Sei que falar nisto não dá votos a ninguém, mas seria um ato de grande responsabilidade cívica ver alguém propor a revisão da legislação que, pelos vistos, ainda permite este tipo de coisas.

Repito: o ato levado a cabo pelo Bloco de Esquerda pode ter sido legal. Porém, um partido como o Bloco de Esquerda, que afirma pretensões de acesso ao poder, deveria, como prova de maturidade, abster-se de levar à prática ações desta natureza. Só lhe ficaria bem e daria razões aos portugueses, cujos votos pretende conquistar, de que são um partido responsável. Assim, continuam a dar a ideia de serem apenas os netos dos “pinta-paredes”...

14 comentários:

António disse...

Não creio que o público-alvo do Bloco seja muito responsável. Afinal, votam no Bloco...

Anónimo disse...

Se o Bloco pode, todos os portugueses podem pintar seja o que for.
Anarquia total é o que se deduz.

Anónimo disse...

Meu caro Francisco,

Tem toda a razão.

Também há que falar na praga dos graffitis nos bairros históricos de Lisboa, uma praga à qual a Câmara não consegue pôr cobro.

Um abraço

JPGarcia

AV disse...

Inteiramente de acordo, Salta à vista e é gritante a quantidade de graffitis que se pode ver pelo País (ou por certas zonas do País).

aamgvieira disse...

Concordo em absoluto com o seu texto.

Luís Lavoura disse...

Excelente post, concordo 100%.
Um grande problema de Portugal, talvez a razão principal pela qual o país fica atrás de outros (por exemplo, os países bálticos) em crescimento económico, é ter um Estado muito fraco, que não é capaz de impôr e fazer aplicar leis claras e que se apliquem a todos sem distinção.

Luís Lavoura disse...

Particularmente desprezível e nojento é o ar sério e agressivo da Mariana Mortágua, a olhar com obstinação para o que os seus cúmplices estão a fazer.

Anónimo disse...


Senhor embaixador, se se desse ao trabalho de pesquisar dois minutos, sem esse tom displicente, veria que a lei não é do tempo da revolução e veria também que existem restrições legais a pinturas murais, em determinado tipo de edifícios e equipamentos, o que, no caso, não foi violado. Portanto, não é à balda. Já agora, sempre se distinguiu a propaganda comercial, ou o mero sujar de paredes, da propaganda politica (faz parte do nosso património cultural comum, essa distinção) e não terá dificuldades em encontrar por essa Europa fora murais de propaganda politica, de forma pacífica, basicamente com o mesmo tipo de restrições que existem por aqui. Mas convém retratar o BE como um grupinho de miúdos vândalos...
Dispenso-me de qualificar as palavras do Luis Lavoura dirigidas à Mariana Mortágua. Competirá a si fazê-lo, se quiser.

Anónimo disse...

Sujar paredes é vandalismo puro , característico da selvajaria de certos grupos . No entanto é preciso não esquecer certa arte de rua , que aproveitando certas paredes inóspitas consegue transformá-las em obras de arte . Em Portugal temos um exemplo disso com um artista já muito conhecido chamado Vilhs , que pinta uns murais fantásticos ( graffitis ) e embeleza o que é feio . A isso chama-se Arte e não vandalismo . E há outro , estrangeiro , chamado Bansky , que há pouco tempo pintou uma parede em Veneza junto dum canal e que foi noticiado e elogiado por toda a gente . Mas isso são artistas e não fazem as coisas à revelia ... Não tem nada a ver com a sujeira do Bloco de Esquerda , que devia ser multada pela Câmara ...
Coisas diferentes .
Cumprimentos .

Anónimo disse...

Como tenho andado por este país fora por razões profissionais, tenho visto exemplos idênticos do que escreve praticados por militantes de outros Partidos, sobretudo do PSD, Iniciativa Liberal, MRPP, mas até da CDU e CDS, embora estes dois menos. E claro do BE, mas muito menos. E lá por fora vai acontecendo do mais o menos. Numa casa de família que possuo no Norte (vivo em Lisboa) ainda hoje se podem ver os graffitis da antiga AD, no longo muro que cerca a nossa propriedade. Lá estão tão presentes hoje como ontem.
Relevar isto para criticar o BE é que me parece descabido. Mais valia ter tido o cuidado de fotografar outros locais com graffitis de outros Partidos igualmente.
Quanto ao comentário de Luís Lavoura sobre a Mariana Mortágua faz-me lembrar aqueles que se podem ler relativamente a artigos sobre a Esquerda, no Sol e no CM. O CHEGA de Ventura também possuiu esse mesmo ódio de estimação ao BE e Mortágua. Nada que nos deva impressionar.
a)Francisco Avelar

José Silva disse...

Exmo Sr Embaixador,

Para além desse há outro aspecto, talvez ainda mais retrógrado: o colar cartazes.
Refiro-me à colagem de cartazes, como vejo aqui pelo Município onde vivo, de campanhas de partidos políticos em paredes de edifícios privados e em equipamentos públicos tais como a CDU muito gosta de fazer nos "armários de distribuição de electricidade em BT" existentes pelas nossas urbanizações. Aparentemente possuem a dimensão ideal.
Aquando do final de campanha os partidos são responsáveis pela retirada da publicidade que colocaram ( p. ex. os outdoors), e fazem-no, mas, e limpar estes cartazes colados?
Julgo que é um comportamento de absoluta falta de respeito pelos outros e pela propriedade quer pública quer privada.

José Figueiredo disse...

Eu concordo inteiramente com o que o Embaixador diz. E não aceito as desculpas que aqui foram postas. É evidente que há arte de rua (e não é só dos nossos dias) e que ficaram coisas de outros tempos com que até ainda simpatizamos. Indepenentemente de que partido for, não considero património cultural algum que esta prática seja permitida - é muito mais próxima de um certo subdesenvolvimento Se há lei que a cubra revogue-se a lei.
José Figueiredo

José Figueiredo disse...

Eu concordo inteiramente com o que o Embaixador diz. E não aceito as desculpas que aqui foram postas. É evidente que há arte de rua (e não é só dos nossos dias) e que ficaram coisas de outros tempos com que até ainda simpatizamos. Indepenentemente de que partido for, não considero património cultural algum que esta prática seja permitida - é muito mais próxima de um certo subdesenvolvimento Se há lei que a cubra revogue-se a lei.
José Figueiredo

Lúcio Ferro disse...

O PNR foi lá lavar a "coisa"....

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...