Nestes dias da Festa do Avante!, veio-me à memória o exercício que, há dias, teve lugar na Biblioteca Nacional, no qual se cruzaram experiências associativas universitárias de 1969, há precisamente 50 anos.
Éramos seis pessoas na mesa, cada uma oriunda de uma área universitária diferente. A esmagadora maioria dessas pessoas, sem minimamente renegar a sua herança de memória, pareceu-me estar já distante das perspetivas ideológicas em que, há meio século, assentara essa sua atividade associativa. A leitura por cada um dessa sua experiência foi assim feita numa linguagem solta, sem grande preocupação de respeito formal pela terminologia da época, ou usando-a, às vezes, para melhor caricaturar aquilo que o tempo entretanto nos ensinou. E assim o PCP foi tratado como “revisionista”, o MRPP como os “pinta paredes” e coisas assim. Todos parecíamos confortáveis com os diferentes estilos adotados por cada um.
Todos? Todos, não. Um cavalheiro (que a imagem não mostra), de barba branca, entendeu que o modo como o PCP fora mencionado por alguém tinha sido “desrespeitoso” para o (imagino que seu) partido, cujos méritos relevou em tom apologético, daí partindo para uma infindável diatribe contra a mesa (ou alguém nela).
Confesso que já não tenho a menor paciência para aturar estas doentias sensibilidades, para me vergar perante “vacas sagradas” partidárias. E pareceu-me que grande parte da sala comungava desse meu sentimento, embora seja difícil ler silêncios. Finalmente, ao final de uns minutos que foram demasiados, lá foi possível conseguir que o “grave” e sentencioso interveniente se calasse.
O PCP é um grande partido, com uma história muito respeitável na luta contra a ditadura. Mas, tal como há 50 anos foi diabolizado pelos maoístas militantes, tem de habituar-se a que hoje outros, embora dentro da sua lateralização ideológica, olhem para esse passado com os olhos que muito bem quiserem utilizar, por muito heterodoxos e provocatórios que sejam, sem serem obrigados a usar um discurso hagiográfico sobre a sua história.
Isto não significa que não deseje ao PCP e a quem o segue, com grande sinceridade, uma bela Festa do Avante!.
4 comentários:
Na BNL também designaram o "o partido que meteu o socialismo na gaveta" ou houve respeitinho?
ao final de uns minutos que foram demasiados, lá foi possível conseguir que o “grave” e sentencioso interveniente se calasse
Em geral, é extremamente difícil fazer calar um português que, da plateia, assiste a um debate e nele decide tomar parte na sessão de "perguntas" à mesa.
Na quase totalidade dos casos, o interveniente aproveita esse espaço para se pôr a falar interminavelmente, sem formular nenhuma pergunta e nunca mais se calando.
Pôr uma rolha na boca desses indivíduos é invariavelmente extremamente difícil.
Lido
Despacho
Ainda não percebi porque se fazem tantos eventos sobre a época do PREC com os participantes que influenciaram esses acontecimentos. É que se houvessem outros que não tivessem participado e abordassem o assunto de uma forma científica.......
Será uma espécie de catarse justificando o sucedido ou será propaganda pura.
Não deferido
Pois é, Sr. Embaixador… Os comunistas são uns incorrigiveis. Não lhes chegou estarem 48 anos silenciados, às vezes até pela imposição letal do silêncio, antes do 25 de Abril, como até mais 43 anos depois do 25 de Abril. Debates, sim, mas com a lei da rolha para essa corja…
Não havia necessidade, Sr. Embaixador. Contenha, diplomata que continua a ser, esse anticomunismo sempre à flor da pele. Se não o conseguir, olhe, ponha em si a rolha que parece querer oferecer a outros…
Diplomaticamente,
João Pedro
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