sábado, setembro 07, 2019

Simancas


Era aqui o Hotel Simancas. Em Badajoz. Foi aqui que, na tarde de 13 de fevereiro de 1965, o “militar” Ernesto Castro e Sousa (aliás, o pide Ernesto Lopes Ramos), veio buscar Humberto Delgado e a sua secretária e companheira brasileira, Arajaryr de Campos. Daqui foram levados para perto de Villanueva del Fresno, onde, supostamente, se iriam encontrar com militares democratas portugueses, no que não passava de uma armadilha montada pela PIDE, através do seu sinistro agente em Itália, Mário de Carvalho. À sua espera, tinham uma brigada da polícia política portuguesa, chefiada por Rosa Casaco (o agente graduado da PIDE que, nas horas vagas, era fotógrafo de Salazar e dos seus derriços com Christine Garnier), com Agostinho Tienza e Casimiro Monteiro, que logo os mataram a sangue frio. Depois, os corpos foram enterrados por ali perto, com cal trazida no carro, de Portugal, o que prova a premeditação. Era chefe do governo, recorde-se para sempre, Oliveira Salazar, o ditador a quem alguns querem agora branquear os crimes de décadas. Badajoz, por virtude destes assassinatos, permanecerá eternamente como uma das cidades da memória da luta contra a ditadura portuguesa.


14 comentários:

alvaro silva disse...

Gosto dessa da tal da secretária.

Anónimo disse...

“ branquear os crimes de décadas ... “
Por crimes refere-se a mortes ? Foram assim tantas , quantas ? 5.000 , 10,000 , 50.000 ? Como não faço a mínima ideia de quantos crimes houve nessas décadas todas , gostaria que alguém , entendido no assunto , me pudesse esclarecer . Afinal trata-se da História de Portugal e eu não me lembro de me dizerem no colégio que tínhamos tido em Portugal um Franco ( guerra civil de Espanha ) , um Hitler , um Mussolini ... Aprendi que na 2a grande guerra Portugal foi um país neutro , não mandaram soldados para a guerra . Aí pouparam-se vidas , acho eu . O que não me disseram nem quantificaram todos os outros crimes/assassinatos .
Mas gostaria de saber , se alguém versado nessa matéria sinistra se dignar elucidar-me .
Cumprimentos

Anónimo disse...

Arrepiante!

Anónimo disse...

O padreco do botas, era católico, apostólico e colega e amigo de Seminário do Cardeal Cerejeira. Como nada se fazia sem o padreca ter o prévio conhecimento, foi óbvio que, desta feita, não foram safanões, mas mortes. Que a terra lhe seja bem pesada. Qual Museu, qual conversa.

Anónimo disse...

Tantos anos depois, esta história continua a parecer-me muito mal contada. Nessa altura já toda a gente consciente, sabia que o General Delgado politicamente valia zero. Qual a vantagem da sua eliminação? Funcionou exatamente ao contrário.Admito que haja gente muito calada.

Francisco Seixas da Costa disse...

É o tipo de comentário do Anónimo da 1:14 que anima as teorias da conspiração (quando lerem a expressão “esta história está mal contada” é uma dessas teorias) que alimentam o salazarismo tardio. Nada de novo!

Carlos Diniz disse...

Livrinho interessante, o de Henrique Cerqueira.

J J R disse...

Não consigo saber o que de concreto se fez em matéria de esclarecer o que, na realidade se passou e parece que só o neto do general se empenhou durante anos em investigar o assunto. O que fizeram o Estado e a Justiça?... Mandaram o processo do tribunal Militar para as profundezas duma cave sem condições?...
Responda quem souber...
Nota - Não sou nem nunca fui salazarista nem simpatizante do Estado Novo.

Francisco Seixas da Costa disse...

O JJR deve estar confundido. Sabe-se hoje exatamente o que se passou: como, por quem e de que forma foi montada a trama, quem fez o quê. As pessoas que foi possível condenar foram-no. O que é que não sabe? Se há assunto bem esclarecido é este

J J R disse...

É natural, Sr. Embaixador... Ouvi e li tanta coisa sobre isso... Não sei onde encontrar uma versão "oficial" sobre "exatamente o que se passou: como, por quem e de que forma foi montada a trama, quem fez o quê" e por quê. E não é por falta de a procurar... Tenho encontrado uns artigos de jornais, tive, há anos, acesso ao livro de Rosa Casaco e pouco mais. Se o Sr. Embaixador quiser ter a maçada de me dar algumas dicas, fico-lhe muito grato.

Francisco Seixas da Costa disse...

Se o comentador da 1:25 leu o livro do Rosa Casaco para se informar, nada que eu possa recomendar-lhe tem o menor interesse. Conversa encerrada, meu caro!

Anónimo disse...

O Rosa Casaco não negou o assassinato, confessou-o com todos os pormenores, mas atribuiu-o aos outros três PIDEs... então já falecidos. A reportagem do J P Castanheira, de 1998, no Expresso:

http://expresso.sapo.pt/dossies/diario/como-matamos-humberto-delgado=f910560

Abraço do
ZB

J J R disse...

Senhor Embaixador:
Julgo ser meu dever informá-lo de que o seu último comentário me deixou profundamente magoado. Senti-me como se me tivesse dado com a porta na cara... E, quando se ronda os 80 anos de idade, isso é particularmente doloroso.
Apresento-lhe as minhas mais humildes desculpas dado que me parece que o ofendi. Não voltará a acontecer.
Continuarei a admirá-lo e a respeitá-lo, como até aqui, e a ler, regular e atentamente, as crónicas com que me honra e que tanto admiro. A partir de hoje, silenciosamente.
Reiterando o meu pedido de desculpas peço-lhe que se digne aceitar os meus mais respeitosos cumprimentos
José João Roseira

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro José João Roseira. Peço desculpa se o ofendi. Não era essa a minha intenção. O que eu quis dizer, admitindo que a forma não tenha sido a mais feliz, foi que o chamado caso Delgado, na minha perspetiva, está mais do que estudado e que os seus principais contornos estão exaustivamente detalhados e são conhecidos. É claro que poderá haver, aqui ou ali, um ou outro ponto obscuro, mas o essencial está hoje estabelecido e é incontroverso. Por isso, estranhei que fosse buscar o livro escrito por quem comandou o grupo de assassinos como podendo aportar alguma clarificação ao assunto (eu também li o livro). É que essa, pela minha experiência, costuma ser a técnica de quem, querendo diluir responsabilidades, sistematicamente diz que “a história está mal contada”, que é uma espécie de teoria da conspiração recorrente, que não deixa fechar nenhum assunto, para ganhos políticos. Se essa não era a sua intenção, aceite as minhas desculpas. FSC

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...