segunda-feira, agosto 05, 2019

A bomba

                                  
No aeroporto de Lisboa, dentro de um avião, pertencente à companhia de um país para o qual ia viajar um ministro português que me cabia acompanhar, demos conta de que o voo tardava bastante em partir, sem que, no entanto, qualquer explicação fosse dada. 

Constatei que uma estranha agitação originava idas e vindas para a cabine de pilotagem, induzindo um raro ar de preocupação na cara dos próprios tripulantes. Argumentando com a presença do ministro, tentei saber o que se passava. Com discrição, informaram-me que havia uma ameaça de bomba. 

Fiquei escandalizado! Exigi que abandonássemos, de imediato, o aparelho, enquanto o assunto não fosse devidamente esclarecido. Em poucos minutos, isso viria a acontecer. A comitiva oficial portuguesa saiu, sendo colocada na sala VIP. Os restantes passageiros, como viemos depois a saber, foram mantidos no avião, enquanto as buscas sobre a possível bomba a bordo prosseguiam...

Não deviam ter decorrido mais de 20 ou 30 minutos quando fomos convidados a regressar ao aparelho. A viagem iniciou-se. Estávamos já a voar há quase uma hora quando o comandante do avião veio esclarecer o ministro português sobre o atraso na partida. Disse que uma chamada telefónica anónima, creio que para o aeroporto, desencadeara o alarme. Todos ligámos o incidente à morte violenta em Portugal, precisamente na véspera, de um opositor do regime do país que íamos visitar. 

O comandante do avião explicou também: “Tentámos que o atraso fosse o menor possível, porque fomos informados de que o senhor ministro tem um programa muito sobrecarregado, logo à chegada à nossa capital. Neste tipo de situações é vulgar as buscas poderem demorar algumas horas, mas recebemos instruções para as apressarmos. Conseguimos, assim, concluí-las em menos de uma hora...”

Os membros da delegação portuguesa, esmagados de “gratidão” pela rapidez da vistoria, olharam uns para os outros, muito perplexos. Detetei sinais de uma impotente inquietação nos olhos de alguns, a começar pelo ministro. No que me toca, devo confessar que me custou bastante a adormecer...

(Para quem aprecia a precisão factual, posso informar que a viagem teve lugar no dia 22 de abril de 1988.)

2 comentários:

Luís Lavoura disse...

Quer dizer: tiraram o ministro e o Francisco do avião, mas deixaram lá ficar os restantes passageiros - eles que fossem pelos ares se a bomba rebentasse. E contra isso o Francisco não protestou.

Anónimo disse...

Evo Fernandes?

Os EUA, a ONU e Gaza

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