segunda-feira, agosto 19, 2019

A greve

A greve dos transportadores de combustíveis acabou. Pelo menos, por agora. Algumas pessoas encontraram na antipatia que lhes despertava o tom pomposo do (bem estranho) representante dos trabalhadores uma subliminar e oportuna justificação para disfarçarem o óbvio: o incómodo que a possibilidade de falta continuada dos combustíveis iria implicar para o seu conforto. Confesso, sem o menor pejo, que foi o que aconteceu comigo. O que eu não queria era a greve e, quando ela começou, desejava que ela acabasse rapidamente. Como, em especial em férias, raramente vejo um noticiário televisivo com som (alimento-me de rodapés), tinham-me escapado as razões salariais dos motoristas. Quando li qualquer coisa sobre elas, devo dizer que passei a ver a sua posição com mais compreensão. Isso também foi ajudado por ter ouvido uma declaração do representante das empresas, uma emproada personagem com ar grave, cujo nome agora me escapa e que logo achei, em termos de antipatia competitiva, ser um digno émulo do tal Pardal. Quem é que, afinal, tinha (a principal) razão? Não sei, tanto mais que não acho que um cidadão comum tenha de ter opinião sobre tudo o que mexe no país. Nesta crise, o que eu queria, muito simplesmente, é que a greve acabasse. Como ela acabou, estou satisfeito. Ponto.

6 comentários:

Paulo Guerra disse...

Afinal de quem é o frete destes motoristas? Das petrolíferas! E o mesmo para as gasolineiras, onde actualmente ainda pagamos para sujar as mãos. Alguém as ouviu falar? Claro que não. Mas deviam. Ainda há pouco tempo os motoristas trabalhavam para as GALPs. Com ordenados, que ao dia de hoje, daria qualquer coisa como 1 500 €/Mensais. Com um profissão com contrato colectivo e devidamente regulada como devia ser sempre. Entretanto o neoliberalismo vulgarizou completamente o outsourcing. Muitas vezes no público inclusive. Com diferenças de rendimentos muitos díspares inclusive nos hospitais públicos. Onde a lei devia ser muito clara. Deviam estar nos quadros todos os profissionais necessários ao objectivo da empresa. Voltando à greve, se as petrolíferas contratualizaram o outsourcing por cerca de metade dos custos da sua frota própria, valor completamente cartelizado entre as grandes petrolíferas, estávamos à espera de quê? Alguns ganham tudo, outros pagam tudo - no caso nós - e outros não ganham nada como é o caso de quem anda com uma bomba às costas todos os dias!Independentemente dos charlatões todos que também aparecem sempre nestas alturas. É mais que tempo das petrolíferas voltarem a ter frotas próprias!

António disse...

Pois eu não cheguei a perceber a greve, ninguém se dignou informar, muitos dedicaram-se a manipular informação. Não basta fazer resumos maniqueístas, e pouco mais. Entretanto houve outra greve que, a seu modo, foi tão disruptiva como esta - a dos funcionários do Registo - e ninguém falou dela.
Pedi neste e noutros blogues informação sobre a greve. Em vão, apesar de tantos terem opiniões bastante assertivas sobre o assunto - provavelmente tão informados como eu. Tenho francas saudades dum tempo em que a internet era quase sinónimo de ajuda, o que aprendi sobre internet e computadores foi em grande parte na internet. Hoje há blogues e twitter e Facebook e Instagram e cada vez mais é cada um por si e Zuckerberg por todos. Já desisti da televisão e já faltou mais para desistir disto.

josé ricardo disse...

Chama-se a isto que acabou de escrever, caro embaixador, diplomacia... Mas também poderia ser a política no seu estado mais (ou menos?!...) puro, a roçar, obviamente, o cinismo político.

Pedro Sousa Ribeiro disse...

Nunca percebi se o senhor Pedro Pardal era o advogado do sindicato ou seu vice-presidente pois apareceu na comunicação social, quer uma quer outra das designações. Se é vice-presidente não entendo como um não profissional da área pode ser membro de um sindicato. Será que qualquer escriba pode ser membro do sindicato dos jornalista ? Sobre a greve, claro que como o Embaixador também me preocupei com a eventual falta de combustível e tomei a medida de encher previamente o depósito. Não creio que as petrolíferas disporem da sua própria frota seja solução. Trabalhei numa petrolífera, sem frota própria, e havia acordos com vários operadores de transportes que funcionavam bastante bem. Não opino sobre a razão dos motoristas ou da Antram pois não conheço suficientemente o problema para ter uma opinião devidamente fundamentada.

Anónimo disse...

O Leitor Paulo Guerra deu aqui um excelente contributo explicativo e histórico de como tudo começa. Era para dizer do mesmo, mas, PG já o disse, e bem. É certo que se poderia ir mais longe, com mais detalhes, mas, no essencial, já PG o disse.
Quanto a Pardal Henriques, concedo que o "rapaz" Costa mais o seu PS se tenham sentido zangados, pois é o tipo de greve que lhe escapa. O PM está habituado às "confusões" que a CGTP e aquele movimento sindical, com ligações umbilicais ao PS (e PSD), a UGT "organizam" depois de tudo devidamente "acertado" com o Poder político...do PS (e de outros - PAF). Saí-lhes o Pardal e ficaram sem saber como agir. Toca de meter a GNR, PSP, Forças Armadas ao barulho. A título de fura-greves por iniciativa do Governo. Deste Governo. Espantoso! Costa no seu pior. Oxalá lhe saia o tiro pela culatra e se fique pelos tais 35% que as duas últimas sondagens lhe deram. Quanto ao PSD vem agora procurar retirar dividendos dquilo que se limitou a presenciar, sem se pronunciar e sobretudo definir. Pardal Henriques fez o seu trabalho, e bem. Goste-se ou não. Por mim, se já tinha dúvidas em votar Costa/PS, hoje já não tenho. Votar Costa e dar-lhe uma maioria absoluta é termos uma versão recauchutada, para pior, do Socratismo. Longe, bem longe!
a) Gustavo Ribeiro

Anónimo disse...

Apresentado este precedente aguardamos a viril resposta de este governo às greves, quer do sector público e quer do privado.
Afinal combóios, barcos, aviões, hospitais, escolas em desatino (Polícias, GNRs ?), por causa de greves, equivalem-se nos danos que provocam à sociedade.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...