Há já uns largos anos, um (bom) restaurante de Vila Real anunciou na sua lista “posta mirandesa”. Desconfiei, mas mandei vir. Quando o prato chegou à mesa, constatei que se tratava de um bom bife, mas nada parecido com uma posta. Devolvi à procedência, dizendo ter pedido uma posta mirandesa e que aquilo não era nada disso. E, algum tempo depois, voltou outro bife, agora com ar de naco de vitela. Chamei quem de direito e expliquei que aquilo também não era uma posta mirandesa. Simpático, o proprietário, que ainda hoje continua a ser meu amigo, lá me foi dizendo que era tudo o que tinham. A “posta mirandesa” desapareceu da lista daquele restaurante. Quanto mais não seja, talvez tenha sido para não me ouvirem...
A posta é um pedaço de carne muito especial, de uma parte específica do animal, com uma textura muito própria. Os entendidos dizem que, à mesa, se deve poder cortar com “o outro lado da faca”. Não exijo tanto, mas exijo a macieza que só pode ser dada pela genuinidade absoluta do produto e por um tempo de ida ao lume que não “mate” a carne, a qual, para o meu gosto, deve estar num ponto médio/mal passada, dela saindo um molho suficiente para o produto poder sobreviver por si próprio como prato, venha ou não com as batatas a murro clássicas.
Comi, na minha vida, postas memoráveis. Desde logo, nesse santuário que foi a “Gabriela”, em Sendim, ainda com a dita senhora pela sala. Também no “Artur”, em Carviçais, com o mudo a servir-nos o vinho. Em Mogadouro, na “Lareira”, tenho nota de boas postas. O mesmo aconteceu, embora sem nunca deslumbrar, na “Balbina”, na própria Miranda. No Peredo, perto de Macedo, o João Saldanha tinha a sua bem apreciável “posta à Saldanha”. Perto de Bragança, em Gimonde, o “Dom Roberto”, apresentava, em tempos, uma posta soberba. Podendo espantar, uma das melhores postas mirandesas que comi na vida foi em Braga, num restaurante já desaparecido, chamado “Abade de Priscos”. Ah! claro, também comi muitas postas “assim-assim”, quando caí na asneira de me não informar antes se a casa era de confiança no que toca à genuinidade desse prato.
A que propósito vem esta conversa? Apenas para informar que agora, em Bragança, no sempre excelente “Geadas”, comi aquela que considero ser a melhor posta de que tenho memória. A mão da dona Iracema continua infalível, dando plena confiança a quem por ali vai - e eu já não ia há uns tempos, para alimento culposo de um dos meus pecados carnais.
4 comentários:
A razão porque FSC não é do Bloco é porque caviar, só, não lhe chega.
E o Abel de Gimonde, não lhe diz nada? Pode ter a certeza que a posta é bem superior à do D. Roberto ou do Geadas...não tem é a finura!!!!
Ó "doida", quando se trata de posta, ninguém quer finura.
Claro! Daí o meu comentário!!!
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