Início de Novembro de 2016. Na véspera, Trump tinha acabado de ganhar as eleições presidenciais americanas. Eu estava em Berlim, numa iniciativa organizada pela Fundação Calouste Gukbenkian com contrapartes alemães. Os membros do governo alemão com que falávamos estavam visivelmente traumatizados com o que acabara de suceder nos Estados Unidos.
Eu estava um tanto surpreendido com esse estado de espírito, que abeirava o desespero. Afinal, pronto!, as coisas eram o que eram, mas, com toda a certeza, o bom senso da máquina republicana acabaria por se impor em Washington, em particular nas relações transatlânticas, que eram a principal preocupação alemã. Vistas as coisas hoje, eles é que tinham razão, eu é que estava a ser ingénuo.
A reunião acabou e eu decidi ficar uns dias mais por Berlim, no mesmo hotel onde fora a conferência e nos alojáramos. No fim do encontro, um amigo alemão, que me conhecia bem e vivera muitos anos em Lisboa, disse-me: “Não deixe de visitar o museu quase em frente ao hotel. Tem poucos visitantes, mas tenho a certeza de que vai apreciar”.
Fui lá no dia seguinte. Era um discreto museu da resistência ao nazismo, instalado numa caserna militar, ainda operacional. O lugar era histórico. O pátio tinha uma placa a assinalar o local onde foi fuzilado o oficial alemão Claus von Stauffenberg, responsável pela “Operação Valquíria”, o gorado atentado contra Hitler.
Neste tempo em que alguma Alemanha parece querer esquecer ou reinterpretar os anos negros do seu passado, estimulada pela extrema-direita trumpista, é reconfortante ver Angela Merkel associar-se, naquele lugar, à celebração do 75° aniversário desse atentado. Procurar liquidar um ditador é um ato de heroísmo patriótico, como a chanceler alemã sublinhou.
4 comentários:
“ liquidar um ditador “ , em que sentido ? Esse ditador já foi liquidado e a História não se faz de vinganças ... há factos que actos que se passaram e é deles que se faz a História . Incutir o ódio não é um bem que faz à humanidade . Deve-se observar o passado com a distância suficiente para não se dividir o mundo em bons e maus . Porque os que parecem bons também foram maus a certa altura . Qual o povo que não matou , esfolou , trucidou , em nome da defesa e liberdade do seu povo ? A História é feita desses episódios ... e é assim que é ensinada às crianças na escola . Deve ser vista como uma realidade que aconteceu , mas não deve ser incutido o ódio ...
Bem Lembrado
Entre nós também está a fazer falta um museu para os mártires da república que por acaso eram republicanos e um deles o maior responsável pelo derrube da monarquia. Estou a falar de Machado dos Santos, António Granjo, comandante Maia, coronel Vasconcelos, Sidónio Pais e outros, por que raio não os homenageiam? Afinal o salazarismo não matou tantos assim duma só vez e há pelo menos três "museus" a recorda-lo.
E pensar que ainda recentemente a Sra. Merkel era “nazi”. Ainda deve ser possível encontrar na net cartazes do BE com ela de bigode à escovinha. Não sei porquê recordei-me dum filme de Clint Eastwood, talvez pelo título, Absolute Power, que é uma citação.
Se o atentado tivesse sido bem sucedido não teríamos de novo a conversa da "facada nas costas", e o Hitler passado à história como um herói para muitos?
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