Na quinta-feira passada, no jardim de uma embaixada em Lisboa, onde o pretexto da reunião era a homenagem a um político poeta - ou vice-versa -, eu referi a “Balada da Neve”, do Augusto Gil, já nem sei bem a que propósito.
Nesse instante, passou por nós aquele que é, indubitavelmente, um dos maiores poetas portugueses contemporâneos, Nuno Júdice, a quem eu comentei: “Estou a falar de um ‘colega’ teu, o Augusto Gil!”
Para minha surpresa, o Nuno retorquiu: “Bem me enganou, esse Augusto Gil!” Não tendo sido contemporâneos (o Nuno nasceu precisamente vinte anos após a morte de Gil), ficámos à espera da explicação.
E ela veio: “Eu nasci no Algarve, onde não nevava. Pela “Balada da Neve” aprendi que a neve “bate leve, levemente”, fazendo barulho. Até que um dia, já adulto, assisti à neve a cair e, como toda a gente, constatei que não há nada de mais silencioso do que um nevão”.
Afinal, os poetas também se enganam uns aos outros...
3 comentários:
a batida da neve era leve, levemente. Só ao alcance dos sensíveis a percepção da sua chegada. Não é poeta quem quer.
"O poeta é um fingidor"
bate leve, levemente, não quer dizer que fizesse barulho !
bate porque choca contra, existe um obstáculo que para a viagem dos flocos brancos,
efetivamente bate à janela, sem ruido, mas que bate, bate :)
Enviar um comentário