terça-feira, julho 24, 2018

“Cinco carates e meio depois...”


Há cerca de um ano, numa noite que recordo menos magnífica do que a de hoje, em temperatura e serenidade, neste país do nordeste da Europa, eu e alguns amigos demo-nos conta de que um dos nossos colegas, um conceituado gestor estrangeiro, parecia ter necessidade de desabafar qualquer coisa. O jantar tinha sido muito simpático mas, quando já grande parte do grupo regressava aos quartos, esse amigo fez questão de anunciar que ia fumar um charuto e beber “qualquer coisa”, convidando quem quisesse a acompanhá-lo. Estou certo que os leitores deste espaço não se admirarão se lhes disser que fui um dos “voluntários” para um “último copo” - eufemismo que, em regra, significa o primeiro de vários copos, os quais, aliás, só não são mais porque, nestas viagens, o dia seguinte é sempre de trabalho intenso e a meia-noite é a “Cinderella time” respeitada.

Esse colega, mais prolixo na conversa pelo fim da noite do que era habitual, explicou-nos então a sua “agitação”: acabara de regular, pelo telefone, os detalhes práticos da sua separação ou divórcio. Teria sido uma coisa complicada mas que, afinal, já não era a primeira, nem sequer a segunda! Assim, dizer que o “consolámos” funciona como um exagero. Mas lá estivemos à conversa com ele, acompanhados de várias cervejas, durante uma boa hora, ouvindo-o mais do que falando. E o assunto morreu, depois desses bons copos. Quase dele nos tínhamos esquecido.

Passou mais de um ano. Há minutos, depois de um dia de trabalho, seguido de um jantar da mesma natureza, regressámos ao hotel. “Would you care for a drink?”, lançou ele a três de nós, travando-nos no caminho para o elevador. E lá fomos para a esplanada do hotel, aproveitando a amenidade conjuntural do clima. Ele fumava outro charuto. Não era preciso ser vidente para presumir uma nova história no ar. E ela, claro, emergiu: o nosso amigo havia-se casado de novo! E a história, contada por ele, foi deliciosa, deixando-nos notas pitorescas do momento em que pediu em casamento a sua nova mulher (“casar várias vezes é magnífico, mas sai muito caro, acreditem!”), numa localização belíssima do Magrebe. Com muita graça, com detalhes de bom contador de histórias, descreveu-nos as cenas do ambiente das “mil-e-uma-noites” da proposta de matrimónio. E terminou com esta pérola: “E foi assim: cinco carates e meio depois, ficou convidada para minha mulher. E aceitou!”

Eu já tinha acabado as minha duas doses de “Belvedere”, um magífico vodka que por aqui se serve. Mas ainda deu para as juntar aos “Justierini & Brooks” (nome por extenso do JB, para quem não saiba) com que os meus amigos brindaram esta nova etapa do nosso parceiro desta noite e dos restantes dias empresariais. No final, cada um de nós regressou ao seu quarto, “dormindo sobre o assunto”, que é uma fórmula que os nossos diplomatas usam quando decidem atrasar o envio de qualquer coisa “a Lisboa”, para pensarem melhor no modo como vão reportar o que julgam saber. No meu caso, que já não tenho esses deveres nem cuidados, escrevinhei o que estão a ler, para agora ir dormir um sono dos justos que não aceito que não acreditem que sempre tenho.

6 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

Oh, Senhor Embaixador, permita que lhe diga que tenho uma admiração imensa pela sua « capacidade » de encaixe dos Belvederes e outros JB’s, e “vodkas” dos bons que “ por ai se encontram”…

E que durma do sono dos justos, não me admira também, não porque pense que basta “encharcar” bem para ser justo, mas porque tudo depende das necessidades de “reparação” de cada um. Porque eu não sei se poderia levantar-me no dia seguinte…

Longe de mim pretender comparar a minha vida durante 35 anos pelo vasto mundo dos negócios, com a sua vida diplomática. Eu vendia outra coisa. Mas agora que também circula no meu mundo profissional, admiro ainda mais essa capacidade “for the last drink”.

Foi um tempo em que eu, depois do primeiro ou, ao máximo segundo “drink” , procurava conservar o segundo sempre “servido” para que não me ofereçam outro…E se ,“par malheur”, me impunham o terceiro, então começava a manobra de aproximação do maior vaso de flores do bar , para “aliviar” a “tarefa”!

E posso garantir que deixei alguns decalitros dessas bebidas de morrer de pé, nos tapetes, por baixo das mesas. Sempre apreciei a espessura dos tapetes americanos, que tinham, pela sua altura, uma capacidade de “stockage” excepcional…

Era a condição “sine qua non” de estar pronto para o combate no dia seguinte.

Quando penso que a Aquae Flaviae e a ponte de Trajano evocam outro liquido, acho que há evocações que se perdem no tempo…

Anónimo disse...

justerini & brooks

Muito conhecido por Jorginho Borrão!

Bebidas vulgares!

Quem não bebe Vinho do Porto não é culto!

José Correia disse...

Snobeira à parte,a historieta
está bem esgalhada !!!

aamgvieira disse...

Para seu conhecimento:


"NewSpeak Jornalístico em Portugal"

por Ricardo Campelo de Magalhães

O comentador LuckyLucky fez aqui uma pequena lista de manipulações usadas pelos Legacy Media portugueses. Editei e fiz algumas adições para fazer esta lista que se segue.

Extremista – Indivíduo violento de direita
Activista – Indivíduo violento de esquerda

Exilado – Indivíduo refugiado de regime de direita
Dissidente – Indivíduo refugiado de regime de esquerda

Ditadores – Ditadores de regime de direita, como o Ditador Chileno Augusto Pinochet
Líderes – Ditadores de regime de esquerda, como o Líder Cubano Fidel Castro

Populista – Indivíduo ou ideia que o povo gosta e o jornalista não gosta que o povo goste.
Democrático – Indivíduo ou ideia que o povo gosta e o jornalista gosta que o povo goste.

Ataque – Ataque que o jornalismo não apoia
Protesto – Ataque que o jornalismo apoia

Foram Mortos (voz activa) – pessoas mortas em ataques em que interessa ao jornalista designar quem atacou, como em "ataque Israelita mata palestinianos"
Morreram (voz passiva) – pessoas mortas em ataques em que não interessa aos jornalista designar quem atacou, como em "Israelitas morrem em explosão"

Indignação – caracterização dos protestos quando o governo é de direita
Raiva/Extremistas – caracterização dos protestos quando o governo é de esquerda

Coerente – uma pessoa de esquerda é coerente
Inflexível – uma pessoa de direita é inflexível

Gastos – Despesa que o jornalista não apoia (independentemente do retorno)
Investimento – Despesa que o jornalista apoia (independentemente do retorno)

Apaixonada – uma pessoa de esquerda é apaixonada
Controversa/Polémica – uma pessoa de direita é controversa e polémica

Denúncia – Crítica feita por partido ou força de esquerda
Aproveitamento/Incitamento – Crítica feita por partido de direita

Oposição Firme - Oposição feita pela esquerda
Obstrução - Oposição feita pela direita

Convicções e Princípios - A Esquerda tem convicções e princípios
Ideologia - A Direita é ideológica (dica: usar ideologia cega no meio do texto)

Austeridade - Política Orçamental contraccionista implementada pela Direita
Rigor - Política Orçamental contraccionista implementada pela Esquerda

Corte - A direita faz corte no Orçamento da Educação
Redução - A esquerda reduz o Orçamento da Educação (ou então a Economia cresceu)

diogo disse...

eu não sou tão íntimo , nem por sombras me atreveria a tratá-lo por Justierini & Brooks

ahahahahahahahahahah

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Bela história! Hajam posses para ser bom pinga-amor.
Ainda que eu seja mais da linha do Sr. Embaixador, aprecio mais coisas com pernas para durar e durar.

(Qual New Speak Jornalístico? Apre, que à direita trauliteira não basta dominar os média, querem o infinito e mais além)

Confesso os figos

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