Há dias, a imprensa deu conta da decisão do governo israelita de promover grandes ações internacionais de "diplomacia pública", com vista a contrariar a imagem, que considerava distorcida, que o país usufruía nos media internacionais.
A este propósito, lembrei-me de uma (vá lá! ousada e pouco disciplinada) atitude que tive, nos anos 90, quando desempenhava funções de encarregado de negócios, na nossa Embaixada em Londres.
Na televisão britânica, tinha passado um filme sobre o trabalho infantil em Portugal, na área do têxtil. Era um retrato infelizmente então muito verdadeiro, espelho de pobreza, de alguma complacência oficial e de falta de empenhamento das estruturas empresariais do setor. Porque os britânicos eram nossos concorrentes no mercado de certos produtos têxteis, havia uma fundada suspeita de que, na origem da promoção do filme, pudessem estar interesses da indústria britânica, o que provavelmente seria verdade.
Do meu Ministério, de Lisboa, recebi uma pergunta: o que é que eu achava que poderíamos ou deveríamos fazer para atenuar o efeito negativo do filme na imagem do nosso país? Que tipo de reação seria mais adequada?
Numa atitude que, por pouco, me não valeu uma reprimenda disciplinar, tive o topete de sugerir, por via oficial, que, sendo irreversível o efeito da imagem entretanto criada, era minha opinião que a melhor forma de evitar, futuramente, a exploração mediática do trabalho infantil em Portugal era... acabar com o trabalho infantil.
A verdade é que, nos dias que correm, com uma ação repressiva e de formação muito eficaz, envolvendo as associações profissionais e o setor educativo, Portugal deu passos gigantes nesta área, diminuindo radicalmente os casos de trabalho de crianças e adolescentes - que eram correntes no têxtil, no calçado e nas obras públicas. Nem tudo está feito, mas imenso se tem conseguido avançar neste domínio, para honra do nosso país, como é internacionalmente reconhecido.
Deixo aqui a nota da "impaciência", quiçá intempestiva, do nosso então diplomata londrino...