domingo, março 28, 2010

Águias

Os meus correlegionários futebolísticos devem achar que, no fundo, não sou um verdadeiro sportinguista. E isso pelo facto de, não me regozijando pela mais do que provável vitória do Benfica no campeonato português, não poder deixar de considerar que, de certo modo, ela acaba por contribuir para animar o nosso futebol, trazendo este ano à ribalta o clube que mais adeptos parece contar entre nós. 

Essa é a razão que torna este sucesso do Benfica em algo a assinalar: nos tempos que correm, haver alguma coisa que faça com que mais de metade da população portuguesa se sinta feliz é obra! É só por aí, confesso, que me sinto "benfiquista"...  

Em tempo: para que não haja dúvidas, aqui e aqui têm os meus únicos hinos clubísticos. 

sábado, março 27, 2010

Reizinho(s)

Por uma qualquer razão lisboeta de ocasião, apetece-me hoje deixar aqui a imagem - que alguns já não recordarão - do Reizinho, essa figura dos "comics" com que algumas gerações muito se divertiram.

Ora aqui está uma personagem digna dos sonhos dos bobos da inexistente corte que por aí hasteiam, sob a coragem da noite, a sua patética nostalgia.

sexta-feira, março 26, 2010

Egipto

E, uma vez mais, saio do Egipto sem me cruzar com o professor Grossgrabenstein, esse personagem de "O Mistério da Grande Pirâmide" que Edgar P. Jacobs seguramente criou pela memória futura do meu amigo Caetano da Cunha Reis (se procurarem, encontrarão a sua foto na última fila dos seguidores).

Já agora, se tiverem oportunidade, não percam aquela obra prima da escola belga da banda desenhada.

quinta-feira, março 25, 2010

Carminho

Tinha visto um "video-clip" da autoria do cineasta João Botelho (que é feito de ti, João?) que me chamou a atenção para a sua voz.

Há dias, comprei o seu disco, chamado simplesmente Fado. Fiquei "cliente". Carminho é já uma certeza dentro deste grupo de novos intérpretes do fado. Ouçam o seu "Escrevi teu nome no vento".

Ah! soube que a Carminho (também) é cliente do "Procópio", o que, além do mais, prova que tem bom gosto.

Ainda futebol

Nem Figo nem Ronaldo, nem mesmo Deco, de que muitos também falam, conseguem suplantar o prestigio de que disfruta no Egipto a figura do treinador português Manuel José. 

O Al-ahly - clube que, com o Zamalek, divide os adeptos egípcios - deve-lhe uma imensidão de vitórias, incluindo campeonatos africanos. 

Quando por aqui digo que sou português, a reação invariável é: "Manuel José!".

Quem diria?!

quarta-feira, março 24, 2010

Diplomacia pública

Há dias, a imprensa deu conta da decisão do governo israelita de promover grandes ações internacionais de "diplomacia pública", com vista a contrariar a imagem, que considerava distorcida, que o país usufruía nos media internacionais. 

A este propósito, lembrei-me de uma (vá lá! ousada e pouco disciplinada) atitude que tive, nos anos 90, quando desempenhava funções de encarregado de negócios, na nossa Embaixada em Londres.

Na televisão britânica, tinha passado um filme sobre o trabalho infantil em Portugal, na área do têxtil. Era um retrato infelizmente então muito verdadeiro, espelho de pobreza, de alguma complacência oficial e de falta de empenhamento das estruturas empresariais do setor. Porque os britânicos eram nossos concorrentes no mercado de certos produtos têxteis, havia uma fundada suspeita de que, na origem da promoção do filme, pudessem estar interesses da indústria britânica, o que provavelmente seria verdade.

Do meu Ministério, de Lisboa, recebi uma pergunta: o que é que eu achava que poderíamos ou deveríamos fazer para atenuar o efeito negativo do filme na imagem do nosso país? Que tipo de reação seria mais adequada?

Numa atitude que, por pouco, me não valeu uma reprimenda disciplinar, tive o topete de sugerir, por via oficial, que, sendo irreversível o efeito da imagem entretanto criada, era minha opinião que a melhor forma de evitar, futuramente, a exploração mediática do trabalho infantil em Portugal era... acabar com o trabalho infantil.

A verdade é que, nos dias que correm, com uma ação repressiva e de formação muito eficaz, envolvendo as associações profissionais e o setor educativo, Portugal deu passos gigantes nesta área, diminuindo radicalmente os casos de trabalho de crianças e adolescentes - que eram correntes no têxtil, no calçado e nas obras públicas. Nem tudo está feito, mas imenso se tem conseguido avançar neste domínio, para honra do nosso país, como é internacionalmente reconhecido.

Deixo aqui a nota da "impaciência", quiçá intempestiva, do nosso então diplomata londrino...

Ode Marítima

É excelente e de grande elegância gráfica a edição francesa da "Ode Marítima", de Fernando Pessoa, apresentada pelas Editions La Différence, que agora nos chegou.

Falámos aqui, há dias, da "Vie et Oeuvre d'Eça de Queiroz", de A. Campos Matos, também das Editions La Différence. Devemos a esta editora, sob a atenta direção de Joaquim Vital, o surgimento em França de algumas obras essenciais da literatura portuguesa.

E, já agora, vale a pena notar o fantástico sucesso que teve, este mês, em Paris, a apresentação da "Ode Marítima", no Theâtre de la Ville, uma casa sob a direção do franco-português Emmanuel Demarcy-Mota.

terça-feira, março 23, 2010

Palavras

No bar do "Marriot" do Cairo, ontem, um companheiro de viagem estranhou o meu interesse ao ver-me debruçado sobre as páginas do classico "Al-ahram", comentando:

- Nao me tinhas dito que sabias arabe !?"

Não resisti e respondi, com modestia: "Sei muito pouco de arabe. Estava apenas a tentar fazer as palavras cruzadas..."

ps - Nao, nao e o Acordo Ortografico. E apenas a falta de acentos por aqui.

segunda-feira, março 22, 2010

Craques

Aí duas vezes por ano, os telejornais da hora do almoço das televisões portuguesas enchem-se de imagens da chegada ao aeroporto da Portela de novos reforços para os "grandes" clubes. Normalmente, são futebolistas brasileiros, descobertos pelos seus "olheiros". Nas peças, seguramente com base em informações fornecidas pelos clubes, esclarece-se, por exemplo, que se trata de "um excelente médio-ala, com muita rapidez na progressão no terreno" ou "um jogador de área, forte no choque e com um bom pé direito", que marcou, no último ano, x golos no Cruzeiro do Piauí ou coisa assim.

Na entrevista, o "craque", empurrando o carrinho de bagagens, quase sempre de óculos escuros na testa, por vezes já com um cachecol do clube, com um atento "responsável" à ilharga, este por definição agarrado ao telemóvel, diz que o o seu "sonho foi sempre representar o  grande clube que é o Porto (ou o Sporting, ou o Benfica - é indiferente)" e que espera "dar grandes alegrias à massa associativa".

Embora siga com alguma atenção o futebol português, verifico que, não raras vezes, essa é, praticamente, a última vez em que ouvimos falar desse "craque", cuja "adaptação" não terá sido "a mais feliz" e que, meses depois, é cedido a clubes de menores ambições.

Teria imensa graça - mas exigiria uma também imensa e não plausível coragem! - se alguém se dispusesse a fazer uma reportagem sobre o posterior percurso dessa multidão de "craques" que arriba a solo português, confrontando os discursos elaborados sobre eles à chegada - feitos com o apoio "teórico" de "A Bola, do "Record" ou de "O Jogo" - com a avaliação da sua "prestação" efetiva nos clubes de primeiro destino. Mas não deve haver tempo: estão quase a chegar por aí os novos "craques" para a temporada 2010/2011...

domingo, março 21, 2010

Espanha

O período da transição da ditadura para a democracia, no final do século passado, é um dos mais interessantes na história contemporânea de um país com tanta História como é Espanha. 

Muitas personalidades contribuiram, durante essa época, para ajudar a colocar um ponto final às "dos Españas", que se haviam confrontado nos anos 30 e que a violência da repressão franquista prolongou algumas por décadas mais, à sombra da absolvição prática de ditaduras na península ibérica pelo "mundo livre", no oportunismo da realpolitik da Guerra Fria . 

Mas houve, claramente, dois homens a quem, nesse contexto, a Espanha ficou a dever um serviço maior: o rei Juan Carlos e Adolfo Suarez.

Desde há muito, tenho lido tudo quanto posso sobre esse período, sobre o estertor do franquismo, sobre as tensões militares que o procuraram prolongar, sobre os difíceis passos para a reconstituição de um sistema político democrático - passos difíceis, até porque dados sob o cenário de fundo das pulsões autonómicas e da ameaça do terrorismo.

Há uns meses, numa livraria espanhola, comprei um livro de que já ouvira falar, do qual haviam sido publicadas já diversas edições: "Suárez y el Rey", uma obra de Abel Hernández, que foi prémio Espasa/Ensayo em 2009. Acabei de lê-lo há dias.

Trata-se de um relato interessantíssimo da relação entre aqueles dois homens a quem a Espanha muito deve, cujo entendimento permitiu garantir a fixação de um quadro institucional de vivência democrática em Espanha. O livro não é uma hagiografia de nenhuma daquelas personagens, deixa entrever a mutação de algumas circunstâncias, que não deixou de pesar nas relações entre ambos, na talvez inevitável contradição entre quem tem por ambição representar a continuidade do Estado e quem titulou um projeto específico para a sua gestão temporal, que as urnas viriam a rejeitar. Trata-se de um trabalho de grande seriedade, no delicado domínio da história contemporânea. Como disse, li muito sobre esse período, mas as pouco mais de 200 páginas deste livro deram-me chaves de compreensão que ainda não tinha.

A fotografia deste post, de 2008, que figura na capa de algumas das edições do livro, onde se vê o rei espanhol a acompanhar um Suárez já afetado pela doença neurológica que o debilitou sem remissão, é, a meu ver, uma imagem muito comovente. No fundo, é o retrato afetivo de uma cumplicidade patriótica que salvou a Espanha de uma tragédia.

sábado, março 20, 2010

Diabo na cruz


Concedo que este tipo de música portuguesa pode não ser do agrado de todos. Mas devo confessar (esta expressão não condiz, de facto, com o título do grupo...) que acho interessante este esforço de criação em torno de um certo tipo de música popular portuguesa, que procura dar um tratamento urbano a certas expressões mais próximas de culturas rurais.

Experimentem esta Dona Ligeirinha pelos Diabo na Cruz.

Pirâmides

Permitam-me que, esta noite, vá dormir junto das verdadeiras e já não desta bela réplica que está junto ao Louvre.

sexta-feira, março 19, 2010

Férias

Este blogue passa, por algum tempo, a um registo de serviços mínimos, o qual se sentirá, em especial, no atraso com que aparecerão os comentários nele inseridos.

Futebóis

O futebol, para mim, é uma simples modalidade desportiva. Isto é, um jogo de que gosto muito e sobre o qual julgo até saber alguma coisa. Porém, a gravidade assumida nos discursos de adeptos, dirigentes ou comentadores, o tom pesado com que se analisam, em horas televisivas ou páginas de imprensa, confrontos de emblema ao peito entre o pé-de-obra de empresas nacionais falidas, algumas de dissolução adiada por complacência bancária e cobardia pública, dá-me imensa vontade de rir. 

Como a generalidade dos portugueses, tenho a minha preferência clubística, desagrada-me quando o meu clube perde, fico feliz quando ele ganha. E até me diverte, num estádio, exteriorizar sentimentos, protestar com o árbitro, fazer de "treinador de bancada". Mas distingo sempre, sem a menor dificuldade, a vida do jogo, as coisas sérias de um mero espetáculo, por mais motivante que ele possa ser. Por isso, e de há muito, recuso-me a transformar as derrotas em tragédias ou as vitórias em exaltações. Em toda a vida, nunca perdi um minuto de sono por qualquer delas.

Sei que nem toda a gente pensa como eu, que muitos levam a sério o seu sentimento clubista, que nele encontram um conforto grupal essencial ao seu quotidiano e talvez ao equilíbrio pessoal de afetos. Cada um é como é.
  
Talvez porque penso desta forma, chocou-me muito ouvir ontem a declaração de um energúmeno (assumo a plena responsabilidade pelo qualificativo) adepto do meu clube, um irresponsável de uma seita de apoiantes arruaceiros a merecer cadeia, que sintetizou na televisão, num discurso de anti-espanholismo primário a que já me tinha desabituado, tudo o que de nefasto o futebol pode trazer à sociedade. E pergunto-me se os órgãos de comunicação social portugueses não estão obrigados a não serem veículos neutros de sentimentos de xenofobia e agressividade criminosa.

quinta-feira, março 18, 2010

Turismo

Bela e digna presença portuguesa no Salon du Tourisme 2010, ontem inaugurado em Paris.  Pedro Pauleta, um excelente "embaixador dos Açores", que tem em França uma imagem pública do tamanho da sua simpatia, contribuiu para chamar ainda mais a atenção para o nosso stand.

Os fluxos de turismo francês em direção a Portugal aumentaram em contra-ciclo com a crise. Mas esta é uma área onde há muito a fazer, aqui por França. Que tal se cada português ou luso-descendente convencesse um amigo francês a visitar Portugal ?

Revoluções silenciosas

Não creio ser necessário dizer muito, mas gostava de chamar a atenção para duas "revoluções silenciosas" que ocorreram, nos últimos dias, e que vão afetar alguns  importantes equilíbrios  internacionais. Como todas as ruturas históricas, elas podem vir a ter recuos, mas o seu sentido passou a ser iniludível.

A primeira é a crise nas relações entre Jerusalém e Washington, que dá razão a quantos pensam que, agora, o importante passa a ser ajudar Israel a defender-se de si próprio.

A segunda são as declarações da chanceler Angela Merkel, ontem, no Bundestag. Por elas se aprecia melhor a notável presciência de Helmut Kohl.

Abril

É uma sensação reconfortante ver algumas dezenas de adolescentes portugueses, alunos do Collège Lycée Honoré de Balzac, interessados em discutir o Portugal de Abril, sem dogmas ideológicos, sem partidarites, apenas com vontade de perceberem o que mudou nessa data de que os pais e os livros lhes falam.

E não deixa de ser igualmente curioso notar uma emoção verdadeira nas palavras do "proviseur" Jean Louis Tretel, um "soixant-huitard" à beira da reforma, ao recordar os dias em que a França de então olhou, com um espanto simpático, para a "Révolution des oeillets", nesse "país que parecia condenado ao silêncio".

quarta-feira, março 17, 2010

Eça em Paris

Luis dos Santos Ferro é um "queirosiano" sem par. Ontem, numa visita à casa em que Eça de Queiroz viveu em Neuilly, ciceroneou-me como se tivesse passeado pelas salas ao tempo em que o meu antigo colega por aqui foi cônsul-geral de Portugal. Paris foi o último posto do escritor-diplomata e esta foi a cidade onde morreu.

A antiga residência de Eça de Queiroz é hoje propriedade de Philippe Mayer, alguém que "adotou" Eça como um dos seus e que se habituou a conviver com a sua presença nesta casa que tanto comove quem, como eu, sente de muito perto a memória que o escritor deixou por Paris.

"Língua não tem futuro"...

"A língua portuguesa é muito traiçoeira", dizia Herman José, nos seus bons tempos. A julgar pela forma como algumas coisas que afirmei numa entrevista foram reportadas na imprensa, eu diria que ela é particularmente traiçoeira quando nos referimos à... língua portuguesa.

Ontem, à saída de uma comissão parlamentar, na Assembleia da República, já a caminho de um taxi para o aeroporto, fui "apanhado", num vão de escada, por uma repórter da Lusa. Por uma razão que me escapou, perguntou-me sobre a melhor estratégia para a projeção internacional do Português no mundo. Disse e reiterei várias coisas óbvias e simples, todas de sentido idêntico, aliás corretamente transcritas no "take": "O melhor caminho é a articulação forte entre Portugal e Brasil para a promoção da língua portuguesa nos espaços multilaterais e internacionais"; "o Português tem futuro se for apoiado por todos os espaços, Portugal e Brasil, mas também os países africanos, com a sua influência quer nos países vizinhos, quer no espaço das instituições multilaterais"; "é uma acção conjunta em que todos nós temos que nos empenhar para a projeção do Português".

Num jornal português de hoje o título é "Língua não tem futuro 'sem uma relação frutuosa entre Portugal e Brasil'". O que prevalece, no título, é a suposta falta de futuro para a língua. Estupidez ou desonestidade? Ou as duas? Escolham... E ainda há quem diga que eu me preocupo muito com os títulos.

Português

Há dias que começam bem. Foi o caso de hoje. Foram duas horas de convívio, grande parte do qual dedicado a responder às muitas e curiosas perguntas públicas de quase duas dezenas de simpáticos estudantes, na Secção Internacional Portuguesa do belo Collège Jean Moulin, em Chaville.

Com a honrosa presença do "Maire" de Chaville, Jean Jacques Guillet, e da "Principale" do Collège, Catherine Onillon, além de pais das crianças, este encontro pretendeu ser, pela minha parte, um testemunho do grande interesse com que vejo a atividade das Secções Internacionais.

Ontem respondi às perguntas dos parlamentares, hoje às de estudantes portugueses. A vida de um diplomata tem esta interessante diversidade. 

O outro 25

Se a manifestação dos 50 anos do 25 de Abril foi o que foi, nem quero pensar o que vai ser a enchente na Avenida da Liberdade no 25 de novem...