sexta-feira, março 19, 2010

Futebóis

O futebol, para mim, é uma simples modalidade desportiva. Isto é, um jogo de que gosto muito e sobre o qual julgo até saber alguma coisa. Porém, a gravidade assumida nos discursos de adeptos, dirigentes ou comentadores, o tom pesado com que se analisam, em horas televisivas ou páginas de imprensa, confrontos de emblema ao peito entre o pé-de-obra de empresas nacionais falidas, algumas de dissolução adiada por complacência bancária e cobardia pública, dá-me imensa vontade de rir. 

Como a generalidade dos portugueses, tenho a minha preferência clubística, desagrada-me quando o meu clube perde, fico feliz quando ele ganha. E até me diverte, num estádio, exteriorizar sentimentos, protestar com o árbitro, fazer de "treinador de bancada". Mas distingo sempre, sem a menor dificuldade, a vida do jogo, as coisas sérias de um mero espetáculo, por mais motivante que ele possa ser. Por isso, e de há muito, recuso-me a transformar as derrotas em tragédias ou as vitórias em exaltações. Em toda a vida, nunca perdi um minuto de sono por qualquer delas.

Sei que nem toda a gente pensa como eu, que muitos levam a sério o seu sentimento clubista, que nele encontram um conforto grupal essencial ao seu quotidiano e talvez ao equilíbrio pessoal de afetos. Cada um é como é.
  
Talvez porque penso desta forma, chocou-me muito ouvir ontem a declaração de um energúmeno (assumo a plena responsabilidade pelo qualificativo) adepto do meu clube, um irresponsável de uma seita de apoiantes arruaceiros a merecer cadeia, que sintetizou na televisão, num discurso de anti-espanholismo primário a que já me tinha desabituado, tudo o que de nefasto o futebol pode trazer à sociedade. E pergunto-me se os órgãos de comunicação social portugueses não estão obrigados a não serem veículos neutros de sentimentos de xenofobia e agressividade criminosa.

11 comentários:

Anónimo disse...

OH Senhor Embaixador. Que coragem! Desafiar quem manda em Portugal!

ALBUQUERQUE

Anónimo disse...

Subscrevo Tudo.
Hoje alguém me deu as condolências, agradeci... Só quando vi o tipo de sorriso percebi...
Pois eu fiquei bem contente pelo Benfica.
Isabel Seixas

Helena Sacadura Cabral disse...

Há quem não distinga a vida do jogo, do jogo da vida!
Mas sofro com o Sporting. Aqui em casa, como não podia deixar de ser, um é do Benfica e o outro do Sporting. Todavia, aqui fiz escolha oficial. Dizem-me os dois que, para manter a equidade, devia ser do FCP...

Santiago Macias disse...

Também ouvi essas espantosas declarações. Sendo um benfiquista da ala moderada não percebo é como é que os responsáveis dos clubes - do seu, do meu e de todos os outros - apoiam / fomentam / toleram tais barbaridades.
O "hooliganismo" tem mais de 40 anos. Nós, embalados nos brandos costumes, pensámos estar à margem de fenómeno. Vê-se...

Helena Oneto disse...

As fotografias que ilustram os posts deste blog são sempre excelentes!
A de hoje é um bom exemplo...

Anónimo disse...

Senhor Embaixador.hoje,finalmente, venci a inercia e decidi expressar o enorme prazer que constitui a leitura do seu blogue da qual me tornei um "dependente".As suas analises dos mais diversos acontecimentos,a descrição de episodios-as vezes bem divertidos-de foi protagonista,são fontes de enriquecimento para quem goste de perceber melhor o nosso país e o mundo.Inteiramente de acordo quanto aos futebois e obrigado pelo que me tem permito aprender.

Anónimo disse...

Caro Francisco,
O futebol é assim mesmo, uma alarvidade quase sempre. Os adeptos continuam a beneficiar de lugares para estacionar onde é proibído nos outros dias; “Nós” a pagar a polícia que para ali é deslocada para pôr ordem na turba, os Clubes continuam a beneficiar de facilidades fiscais para pagarem as suas obrigações, têm direito de antena como ninguém mais tem, “abrem” telejornais...por longos minutos (!) e, pior ainda, envolvem-se em pancadaria quase sempre que há encontros com outros clubes. Aquilo é revelador, de algum modo, da forma como temos vindo a evoluir em termos de comportamento social. Enfim, não há nada a fazer. O povo é assim mesmo. Triste, mas é a mais pura as verdades. E o futebol, ou o que por ali se passa e acontece, é uma das prioridades desta rapaziada. Publique o comentário que não tenho receio das eventuais críticas. E aquilo que assistimos por ocasião daquele encontro por cá entre o Sporting e o Atlético de Madrid é inqualificável. Mas é assim. Acontece em vários jogos, em diversas “divisões” (ou Liga, como agora se diz). Patético! Dá-me nauseas, mas nada a fazer!
P.Rufino

Nuno Sotto Mayor Ferrao disse...

Como muito bem diz, caro Senhor Embaixador Francisco Seixas da Costa, temos de nos afastarmos do fanatismo dos Hooligans que não sabem assumir uma atitude de "fair-play" que nos permita respeitarmos os outros. Foram lamentáveis os episódios que ocorreram com a Selecção Portuguesa em solo Bósnio no apuramento para o Mundial 2010. Os portugueses têm a obrigação moral de dar o exemplo, uma vez que do nosso quadro genético da identidade cultural faz parte o espírito universalista de comunhão e de interdependência com outros povos.

Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

Anónimo disse...

Uma questão freudiana: por que razão estes comentários ditos racionais coincidem sempre com as derrotas do Sporting?

FT17 disse...

Senhor Embaixador
Abusando desta Santa Liberdade da Blogosfera, faco minhas as suas palavras -ou melhor dito as suas letras- Tampouco perdi o sono por vitórias ou derrotas. Boas férias e Viva o Sporting.

Julia Macias-Valet disse...

Nao ouvi as declaraçoes e ainda bem...Pois o Atlético de Madrid é o clube espanhol do meu pai. Nem todos têm a sorte de ter dois paises. Ter uma familia europeia abre os horizontes e facilita a aceitaçao dos outros.

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