Contudo, a importância do Parlamento Europeu é cada vez maior para a nossa vida colectiva. O Parlamento tem vindo a ganhar força a cada revisão dos Tratados europeus e os seus equilíbrios internos pesam decisivamente na formatação de legislação que, posteriormente, é convertida em leis nacionais. À partida, os 24 deputados portugueses não parecem ser um número capaz de marcar decisivamente o destino do voto de mais de 700 parlamentares. As coisas, porém, não são bem assim: alguns deputados, pelo seu activismo, em especial nas comissões especializadas, conseguem ter um papel de relevo e de influência. Refiro-me, claro, aos que trabalham, não aos que escolhem o destino político de Estrasburgo e Bruxelas apenas como uma rentável e cosmopolita sinecura.
Recordo-me, ao tempo em que andei noutras tarefas, de dois presidentes de comissões especializadas do Parlamento Europeu me terem pedido para que convencesse parlamentares portugueses, membros dessas mesmas comissões, a ... comparecerem às reuniões, com vista a reforçar posições que eles, ainda que doutras nacionalidades, reconheciam como importantes para a defesa de interesses portugueses que estavam em jogo. E, com gosto, também me lembro de ouvir fartos elogios a outros deputados portugueses, pela sua actividade, interesse e eficácia nos trabalhos. Em ambos os casos, a cor política dos deputados era completamente indiferente.
Porque a Europa está cada vez mais exigente, porque é vital para Portugal indicar pessoas qualificadas para as instituições europeias, seria da maior importância que, das próximas eleições para o Parlamento Europeu, viesse a resultar um conjunto motivado e eficaz de deputados, experientes, com capacidade de intervenção e qualificação técnica para influírem nas decisões que irão ser tomadas nos próximos anos. Como cidadão, entendo até que seria interessante se, pela primeira vez, fosse possível garantir, com a necessária visibilidade pública, o seu compromisso individual de prestação regular de contas em Portugal pelo trabalho que irão (ou não) executar. O Parlamento Europeu é uma instituição que não é susceptível de ser dissolvida, os seus deputados - quer trabalhem, quer não - ficam no cargo por um período de cinco anos e quem os elegeu raramente tem a mais leve ideia do que eles andam por lá a fazer. E alguns até fazem muito, acreditem!
Se alguém pudesse dedicar-se, em Portugal, à criação de um "Observatório do Parlamento Europeu", com um painel independente de especialistas que pudesse efectuar um regular escrutínio do trabalho dos nossos deputados, com divulgação assegurada por órgãos de comunicação social, que bom seria! Excepto para alguns, claro, que provavelmente virão com a conversa de que uma iniciativa dessas configuraria um demagógico acto de populismo anti-instituições. Pois...