segunda-feira, junho 27, 2022

Uma estratégia russa


The recognition of the Donetsk People’s Republic (DPR) by other countries is just an interim stage while it is more important for the Donbass republics to get integrated into Russia, Chairman of the DPR Public Chamber Alexander Kofman told TASS on Sunday.” (O reconhecimento da República Popular de Donetsk (RPD) por outros países é apenas um estádio intermédio, dado que o mais importante para as repúblicas do Donbass é serem integradas na Rússia, disse à Tass, neste domingo, o presidente da Assembleia Pública da RPD, Alexander Kofman).

Em fevereiro último, ainda antes da invasão da Ucrânia, durante uma reunião do Conselho de Segurança da Federação Russa, transmitida pelas televisões, o mundo teve oportunidade de assistir a uma intervenção de um dignitário do regime que, num evidente lapso, disse estar de acordo com a integração das repúblicas de Donetsk e Luhansk na Federação Russa. Putin, com humilhante veemência, interrompeu-o, dizendo que essa não era a questão que ali estava a ser discutida. E não era: na ocasião, tratava-se apenas de decidir se a Rússia iria reconhecer essas repúblicas, aproveitando a luz verde para tal, que antes fora dada pela Duma (parlamento). A personalidade que interveio tinha-se precipitado, mas o que disse era revelador.

A questão tem algum tempo e Moscovo não tem seguido um percurso linear para atingir o que lhe importa. 

Em 2008, na sequência da tentativa do governo da Geórgia de retomar a soberania sobre as regiões secessionistas da Abcásia (separada desde 1993) e da Ossétia do Sul (separada desde 1991), a Federação Russa interveio militarmente em favor do poder “de facto” existente em ambas e decidiu reconhecê-las,  no seu aut-atribuído estatuto de Estados independentes. O argumento foi o de que as populações russas, que, maioritariamente, vivem nesses territórios, estavam a ser atacadas ou ameaçadas. Desde então, a Ossétia do Sul, que só a Rússia e um número infimo de países reconhece como independente, tem vindo a adiar a convocação de um referendo interno para a integração plena na Federação Russa. Não há ainda nota de idêntica intenção por parte da Abcásia, que vive sob um reconhecimento internacional análogo, mas a forte tutela russa sobre esse “Estado” é muito evidente e há a convicção de que, acaso a Ossétia do Sul faça o esperado pedido integrador na Rússia, os abcazes procederão de forma idêntica.

Em 2014, duas regiões no Donbass, no Leste da Ucrânia, Donetsk e Luhansk, autodeclaram-se autónomas do controlo do governo central. O presidente do país, oriundo dessa área, havia sidi afastado por um golpe político que colocou no poder, em Kiev, um regime abertamente pró-ocidental e considerado  discriminatório face às populações russófonas do país. De forma mais ou menos discreta, o governo russo apoiou (e, muito provavelmente, estimulou), com recursos materiais e humanos, essa revolta regional. Moscovo, quiçá por razões táticas, não reconheceu então essas duas “repúblicas populares”, mas deu-lhes constante apoio, a partir de então, para a guerra de baixa intensidade que mantiveram com o regime de Kiev. 

Simultaneamente, a Rússia operou, nessa altura, na península da Crimeia, um “golpe de mão”, ocupando rapidamente a região, sob a impotência militar da Ucrânia, organizando um apressado referendo para a “independência” do território, logo integrado na Federação Russa.

Já neste ano de 2022, pretextando não ter sido concluída a autodeterminação regional prevista no Acordo de Minsk (para a regulação político-constitucional entre Luhansk e Donetsk e o poder central em Kiev, negociado sob mediação franco-alemã) e tendo-se agravado, na perspetiva de Moscovo, as ameaças às populações russas no Donbass, que correriam o risco “genocídio”, a Rússia invadiu militarmente a Ucrânia, a “convite” desses dois “Estados”, que entretanto, rapidamente reconheceu como ”Estados independentes”.

Agora, olhando o decurso da guerra e modo como ela está a decorrer, pode prever-se que um processo similar venha a suceder futuramente à região de Kherson (uma das primeiras a serem ocupadas em fevereiro, o que pode justificar-se pela importância de assegurar o abastecimento de água à Crimeia e facilitar o respetivo acesso por terra, garantido com a tomada de Mariupol). As medidas de russificação em curso, desde o uso do rublo à internet e media russos, apontam nesse sentido.

Numa perspetiva maximalista, se o avanço russo no sul da Ucrânia, para ocidente, conseguir chegar à fronteira moldava, é mais do que provável que a comunidade russa na Transnístria (zona separatista da Moldova, que dá regulares sinais no sentido de querer ligar-se institucionalmente a Moscovo) venha a pedir à Duma russa o seu reconhecimento (como sucedeu com as repúblicas do Donbass) e assim se inicie o processo para a respetiva integração na Federação Russa.

A declaração com que iniciei este texto vem dar corpo, em absoluto, àquilo que se tem ouvido de Vladimir  Putin, desde as semanas que antecederam esta guerra. A doutrina parece cristalina: as áreas da antiga União Soviética onde vivam cidadãos russos ou pertencentes a comunidades étnico-linguísticas russas, que tenham dificuldade de afirmação dos seus interesses específicos enquanto comunidade, no contexto dos novos países de que passaram a fazer parte, são vistas pela Rússia como fazendo parte da sua esfera de legítima tutela. A Rússia estimula a expressão “nacional” e a pulsão autonomista dessas comunidades, dá-lhes o rótulo de “repúblicas” e, num derradeiro passo, acabará por integrá-las na Federação Russa, estendendo-lhes depois a proteção, em especial em matéria de segurança, que lhes será conferida pela soberania russa. 

No limite, e no futuro, podemos interrogar-nos sobre se quaisquer atos de natureza militar que venham a ser empreendidos por parte dos governos dos países de que se cindiram (Geórgia, Ucrânia e Moldova), para recuperação da soberania que lhes é reconhecida pela ONU e pelo Direito Internacional, não serão interpretados por Moscovo como ações de agressão militar contra a Rússia e o seu território, com todas as consequências que daí podem derivar, em termos de resposta defensiva.

G7

Talvez com “arrière-pensées” de alguns membros, o G7 decidiu que o apoio à Ucrânia continuará, não pressionando Kiev à negociação, num momento que esta poderia dar vantagem à Rússia. O mundo desenvolvido entende que, por ora, as suas populações aguentarão os efeitos da guerra.

“A Arte da Guerra”


O próximo podcast “A Arte da Guerra”, a minha conversa semanal, de cerca de 30 minutos, com o jornalista António Freitas de Sousa, sobre temas internacionais, integrado nos suportes audiovisuais do “Jornal Económico”, só vai “para o ar” do dia 21 de junho.

Vamos entrar em três semanas de ”mais do merecido gozo de vilegiatura”, para utilizar a expressão que ”O Vilarealense”, folha informativa semanal da minha terra, há muito desaparecida, utilizava para noticiar as idas a banhos dos conterrâneos ilustres e “das suas excelentíssimas Familias”. 

Como me dizia, há pouco, um atento visualizador, a quem transmiti a nova, “está descansado que a guerra espera por ti!” Eu sei!

domingo, junho 26, 2022

Assim, não vale!


Misturar o conceito de salário médio com o valor que um diplomata tem de receber, além do seu salário-base, para poder viver e educar filhos no estrangeiro (às vezes, em cidades com preços milionários, como no Golfo, Japão ou Noruega) é um péssimo trabalho de informação pública.

Tenho absoluta certeza de que o salário médio dos diplomatas portugueses ultrapassará, em muito pouco, um terço do valor aqui anunciado.

sábado, junho 25, 2022

Transferência ou remoção, eis a questão!

Não há qualquer acordo sobre a língua que possa obviar a desentendimentos semânticos. No Brasil, quando um diplomata vai para uma embaixada no exterior, diz-se que foi “lotado” nessa missão diplomática, isto é, que passou a fazer parte do “lote” do pessoal aí em serviço. E quando sai de um posto para outro, ou segue de regresso à sua capital, diz-se que foi “removido” desse posto, no sentido de ter sido “transferido”. Entre nós, dizer-se de alguém que foi “removido”, soaria estranho: remove-se um obstáculo ou um empecilho, não (em regra) um servidor público. Também pode acontecer, só que não se diz…

Ainda na ressaca de dois dias que passei na Fundação Calouste Gulbenkian, a discutir o futuro das relações entre Portugal e o Brasil, no ano em que se comemoram os 200 anos da independência deste último e em que o coração (físico) do primeiro imperador brasileiro surgirá como uma “vedeta” mórbida dos festejos, lembrei-me do que sempre pensei: somos, afinal, dois povos separados por “tanto mar” e por uma língua incomum.

Vem isto a propósito da notícia, hoje conhecida, de que o presidente ucraniano decidiu mudar a sua embaixadora em Lisboa. Há pouco, na CNN, perguntado sobre isto, estive quase para repegar nos dois termos - o usado em Portugal e o usado no Brasil - e especular: a embaixadora foi transferida ou removida? 

Não fui por esse caminho. Disse, com toda a sinceridade, que entendia que a embaixadora tinha tido uma reação extremamente profissional, ao dizer, à comunicação social portuguesa, que se tratou de uma mudança já programada, até porque ela própria tinha tido a indicação de que iria sair, numa comunicação que lhe havia sido feita pelo respetivo ministro. Quando? Há dois dias. 

Há anos, um embaixador português, cujo nome agora me escapa, “removido” também com breve aviso prévio, ao ser-lhe perguntado pela imprensa sobre se tinha algum comentário a fazer ao que lhe tinha ocorrido, optou por responder que não precisava de dizer mais nada: a decisão era tão eloquente que falava por si…

sexta-feira, junho 24, 2022

Recuo

Com a tragédia da guerra a Leste, nos últimos meses, bem como na decisão do Supremo Tribunal dos EUA, que hoje foi anunciada, fica provado que o mundo pula mas, às vezes, em lugar de avançar, recua.

quinta-feira, junho 23, 2022

“A Arte da Guerra”


“A Arte da Guerra”, podcast semanal no “Jornal Económico”, uma conversa com o jornalista António Freitas de Sousa, desta vez sobre a crise em torno de Kalininegrado e a ambição europeia da Moldova, o impasse francês e as eleições presidenciais na Colômbia: 

Pode ver clicando aqui.

A Rússia na Ucrânia


Os mapas da Ucrânia que, em regra, a imprensa nos apresenta, não permitem uma comparação com países com os quais estamos familiarizados.

Este mapa sobre as zonas ocupadas pelas forças russas é, a meu ver, bastante informativo (é necessário clicar no mapa para ele expandir).

quarta-feira, junho 22, 2022

Ai o SNS!

É quase comovente ver o desvelo para com o Serviço Nacional de Saúde por parte de uma importante força política que votou contra a respetiva criação. Percebe-se que possa, entretanto, ter mudado de opinião, mas um discreto ato de contrição histórica não lhe ficaria nada mal.

Eles aí estão!

Na nossa comunicação social, alguns calejados especialistas em Covid terão abandonado, por instantes, Severodonetsk, para, através da alta dos combustíveis, se dirigirem aos serviços de obstetrícia. O cerco, embora sem russos à mistura, fechar-se-á com a chegada dos incêndios.

Que azar!

 Terramoto no Afeganistão. Há países que deviam ir à bruxa!

terça-feira, junho 21, 2022

Um livro


Ontem, entre o final da tarde e o início da madrugada, li um livro, uma autobiografia, de cuja existência me tinham falado, com umas escassas centenas de páginas, de um autor cujo nome que não vem nem virá ao caso. Olha-se para aquilo tudo e perguntamo-nos: que raio de vida terá sido aquela, em que quem se cruzou de forma positiva com o autor, disso justificando alguma nota, terá sido um número muito escasso de gente e, ao invés, dali emerge uma onda de acrimónia em relação a uma montanha de outras pessoas, a maioria chamada pelo nome (vá lá!). Tudo, quase sempre, num registo de baixo ajuste de contas. Se alguém chega aos últimos anos da sua existência e o que tem para apresentar, como saldo do que viveu, foi apenas aquilo que deixou impresso - e imagina-se que, se essa pessoa escreveu aquilo, é porque não tinha outra vida para descrever - podemo-nos perguntar se essa pessoa foi feliz assim. É que, se acaso o foi, se ela acabou por se sentir bem nesse mundo de que foi o ácido protagonista que orgulhosamente se descreve, então é porque não deve ser boa rês. (Alguns se perguntarão: mas por que não revelar o nome do livro e do autor? Porque isso seria dar-lhe importância e cair no mesmo “naming names” agressivo em que ele incorreu. E nada tenho a ver com essa pessoa.)

segunda-feira, junho 20, 2022

Voltar a Königsberg?


Veremos se as medidas anunciadas pela Lituânia para dificultar o habitual acesso da Rússia ao seu território isolado em Kalininegrado não acabarão por se transformar numa imensa sarilhada. “Fishing for trouble” pode ser a expressão exata para qualificar este gesto de Vilnius.

América do Sul



A vermelho, os países com governos de esquerda (embora considerar a Venezuela de Maduro de esquerda seja uma palermice). A azul, estão o Brasil (logo veremos em novembro) e o Equador. A cinza está a Guiana Francesa, que tem as cores de Macron…

Vencedores derrotados

”Vencedores” relativos nas legislativas francesas foram os dois parceiros de Macron na coligação eleitoral: Édouard Philippe (primeiro PM de Macron, líder do Horizons e potencial candidato em 2027) e François Bayrou (líder do MoDem) que ganham margem negocial na antiga maioria.

domingo, junho 19, 2022

França

1. Há derrotas que têm uma dimensão única: ver o presidente da Assembleia Nacional e o seu líder parlamentar perderem os lugares de deputado é um bom testemunho da crise que o partido de Emmanuel Macron está a atravessar.

2. A direita clássica francesa, fundadora e usufrutuária maior da V República, passou a quarto partido de França. Olhem-se as caras que a representam: são tudo figuras do “sarkozismo”, que deixou o poder - Eliseu e Assembleia - há uma década. Mas que ainda mantém maioria no Senado.

3. A coligação eleitoral NUPES não terá um grupo parlamentar conjunto na futura Assembleia Nacional francesa. O France Insoumise, os ecologistas e os socialistas terão grupos próprios. Consequência: o Rassemblement National, de Le Pen, passa a ser o principal partido da oposição.

4. Macron fez carreira com a tese de ser “ni droite, ni gauche”. Hoje, o lema mantém-se: não consegue fazer alianças… nem à direita, nem à esquerda!

Mortos & mortos

Na tragédia ucraniana, para a nossa comunicação social, há mortos civis ”bons” e “maus”. Se o ataque é feito pelos russos, as vítimas são tratadas com imenso carinho mediático. Se se trata de uma ação militar ucraniana, os civis são “casualties” que estavam no sítio errado.

Guerra é guerra?


Há muitos anos, nos 90 do século passado, o meu pai, que me tinha ido visitar a Londres, perguntou-me se não podíamos “dar um salto” a Coventry. Claro que era possível! Lá fomos e, pelo caminho, foi-me explicando, com pormenores, que aquela cidade fora atacada pela Luftwaffe, durante a Segunda Guerra mundial. Eu conhecia vagamente a história e sabia que, como retaliação, Churchill tinha determinado bombardear Dresden. 

Em Coventry, havia uma catedral destruída, cujas ruínas tinham sido recompostas com outra construção, para que a memória se não apagasse (na foto). O meu pai, “aliadófilo” ferrenho, tinha na sua recordação afetiva a barbaridade de Hitler, mas não o que Dresden tinha sofrido. Os “nossos” mortos são sempre o que conta.

Eu tinha ido a Dresden, na então RDA, mais de uma década antes. Lembrava-me de uma cidade triste (hoje, dizem-me, tem uma pujança cultural notável), mas tristes e sem cor eram todas - repito, todas, por muito que isso irrite alguns amigos meus - as cidades da RDA, e eu visitei muito daquela que era então a montra do “socialismo real”. Curiosamente, não me recordo de ter visto em Dresden memoriais da guerra, mas admito ter estado distraído.

O ataque a Coventry tinha provocado 176 mortos e o bombardeamento de Dresden matou 25 mil pessoas, leio agora no Google. “Guerra é guerra”, dirão alguns. 

Por que é que me lembrei disto? Porque acabo de ler um artigo de Pacheco Pereira, no “Público” em que sublinha uma coisa evidente: por maiores que tivessem sido os agravos (e foram muitos, como se sabe) que os ucranianos tivessem feito às populações russófilas e russófonas no leste do país, desde 2014, é absurdamente desproporcionado o nível de agressão cruel que a Rússia está, por estes tempos, a utilizar nos vários territórios da Ucrânia em que atua militarmente.

“Guerra é guerra”? Tenho dúvidas que as coisas possam ser vistas assim.

Paul McCartney


Este texto não é para toda a gente. É apenas para quem percebe o que quero dizer com ele. Li que Paul McCartney fez 80 anos. Faço parte da geração dos Beatles. E não sou da dos Rolling Stones (embora tenha quase toda a sua discografia, claro). A geração dos Beatles é a minha geração. E é por sê-lo que quero dizer, com imensa sinceridade, que ter sabido que Paul McCartney tem 80 anos me fez alguma impressão. E que me estou borrifando para a idade do Mick Jagger. Era só isto que queria dizer.

Rock in Guincho

 


Ontem.

sábado, junho 18, 2022

Serenidade e bom senso


Bela lição dada hoje pelo comandante Correia Guedes, a propósito do incidente com o avião, no aeroporto de Lisboa. Em dois tempos. Desde logo, a aconselhar que nunca devamos dramatizar estes episódios: em regra, tudo corre bem. Depois: que é mais do que urgente um segundo aeroporto para Lisboa. Ouçam-no!

Rússia, Ucrânia


Depois de ler tanta coisa sobre a questão ucraniana, concluí que este livro, com todas as limitações que possa ter, foi, a grande distância, a obra mais equilibrada que encontrei. Mas também sei que, sobre o tema, há quem só goste de ler coisas “desequilibradas”…

Por sugestão de um comentador - para quem tenha alguns minutos e compreenda o espanhol -, aqui deixo um link do YouTube

sexta-feira, junho 17, 2022

Trintignant


Há precisamente dez anos, numas férias por França, estacionei o carro no largo de uma pequena cidade, Piolanc, a norte de Avignon. Entrei num café e, numa parede, vi um foto, bem antiga e assinada, de Jean-Louis Trintignant. Para fazer conversa, perguntei à senhora que me serviu se conhecia o ator. Olhou para mim, com um sorriso simpático e desculpavelmente sobranceiro, deixando cair: “Ele é de cá. E é nosso cliente”.

Não fazia a menor ideia de que por ali tinha nascido um dos atores franceses que, desde há muito, tanto admirava. Uma extraordinária figura do cinema, de quem vi imensos filmes. Quero lembrar três e, de certo modo, esquecer um. O primeiro, dirigido por Dino Risi, muito antigo, com Vittorio Gassman, “Il Sorpasso”, que muito marcou a minha adolescência. Outro, já na idade adulta, que me levou a ler Pascal, o “Ma Nuit Chez Maud”, de Rohmer, e que, um dia, me fez, por horas, procurar paisagens de memória nas ruas e arredores de Clermont-Ferrand. Finalmente, um último filme que me tocou imenso, mais recente, sobre um casal idoso, em que o Alzheimer intervem, película cujo nome não recordo. Qual é o filme que lembro que quero esquecer? O delicidoce “Un Homme et une Femme”, de Lelouch, de longe o seu maior êxito de bilheteira. 

Recordo-me ainda de Trintignant ter atravessado, há duas décadas, uma tragédia familiar, com uma filha brutalmente agredida pelo namorado, num país báltico, vindo a morrer em França, dias depois. A cara do ator, muito dada ao rictus angustiado, estava, dessa vez, a transmitir as dores da vida real. 

Leio que Trintignant morreu hoje.

Rússia


A cobertura televisiva do discurso de Vladimir Putin no Fórum Económico de São Petersburgo foi muito hábil, focando caras da diversidade étnica mundial, para tentar sublinhar o caráter global do evento. Mas também revelou rostos de cidadãos russos comuns.

Pedrógão

Pedrógão foi uma imensa tragédia. Escavar raivosamente em torno das culpas não dolosas do que então sucedeu é “chover no molhado”. Mas ter a máxima exigência e responsabilizar pelo que, desde então, não foi feito e deveria tê-lo sido, isso sim!, é uma exigência democrática mínima.

Notícias do arraial

Carmo Afonso escreve hoje (bem) no “Público” sobre a Alt-Right portuguesa, a ideologia a-social que, fingindo cultivar a liberdade, cavalga o egoísmo geracional e tenta queimar etapas para chegar mais depressa aos SUV e à Comporta.

A cadeira


O diretório que tenta prevalecer no Conselho da União foi ontem dizer a Kiev que ia estar de acordo com o que já sabia que a Comissão ia dizer hoje. Afinal, a luta pelas cadeiras não se fez só em Ancara.

Lugar aos novos!

O “novo“ PSD diz que não se quer comprometer com qualquer opção sobre o novo aeroporto de Lisboa. Claro que não: vai esperar pela escolha que o governo fizer para, depois, se lhe opor. Alguém esperava outra coisa?

Lá no fundo, eles são assim!

Vargas Llosa, entre Bolsonaro e Lula, diz que prefere Bolsonaro. Alguém se recorda que, no fim da vida, Soljenítsin (esse mesmo, o do Gulag), depois de ter adorado Franco e Pinochet, acabou num fã devoto de Putin? Quantos esquerdistas não andam por aí a suspirar por Trump…

Brincar aos castelos


O castelo de S. Jorge estava mesmo assim, no início dos anos 40. Depois, puseram-no à medida daquilo que o imaginário histórico requeria. E foi então que chegaram os turistas…

Já agora!

Parece que o governo vai ter um novo responsável pela comunicação. Pena foi que só o tenham contratado para depois dos feriados...

Divisões

A frase do SG da NATO, Stoltenberg, criticando as declarações do papa Francisco sobre a tragédia ucraniana, faz recordar o que Stalin perguntou, quando Pio XI criticou as perseguições de cristãos na URSS: “E quantas divisões é que tem o papa?”

Mélenchon

Nos casos em que a alternativa, na segunda volta das eleições legislativas francesas, se fará entre um candidato da extrema-direita e outro da coligação que apoia Emmanuel Macron, Jean-Luc Mélenchon - tal como já fez no passado - decidiu não recomendar qualquer voto. É uma posição de imensa irresponsabilidade, indigna das tradições republicanas da França. Não consigo deixar de tomar partido e dizer: desejo que Mélenchon tenha o futuro que merece.

quinta-feira, junho 16, 2022

“A Arte da Guerra”


Em “Arte da Guerra”, o podcast semanal do “Jornal Económico”, falo com o jornalista António Freitas de Sousa sobre a guerra na Ucrânia, as eleições legislativas em França e as relações luso-britânicas no pós-Brexit.

Pode ver aqui

Lembrar Minsk

Estamos muito longe de conhecer os contornos do compromisso com que terminará a guerra na Ucrânia. Mas tenho quase a certeza de que se acaso Kiev tivesse dado os passos a que se tinha comprometido no Acordo de Minsk de 2015, o saldo político final ser-lhe-ia bem mais favorável. Pelo menos, teria retirado à Rússia um importante pretexto que usou para justificar a invasão.

França

Posso estar enganado - em política, engano-me algumas vezes, não o escondo -, mas a frente eleitoral de Mélenchon, não obstante ir obter um bom resultado no domingo, vai deixar os seus “enragés” apenas com uma capacidade parlamentar para infernizar o quinquénio de Macron.

China

O facto de ter sido a agência noticiosa chinesa a divulgar a troca de mensagens entre Putin e Xi Ji Ping, em que referem “willing to continue mutual support with Russia on issues related to sovereignty, security and issues of major concern” deve ser lido como um sinal revelador.

Eixinho

Em Brasília, há uma via rodoviária a que toda a gente chama o Eixinho. Lembrei-me do nome, ao ver o grupo de chefes europeus que se prepara para ir à Ucrânia. Este “Eixinho” europeu (desculpem o trocadilho histórico irresistível), com um Scholz líder de uma coligação que claramente não domina, um Macron debilitado e “à bout de souffle”, entre sufrágios, somados a um Draghi que tem mais prestígio pessoal do que gás para apoiar a sua economia, com juros já a disparar, não constitui um ”diretório” europeu muito forte. E Zelensky, que atravessa um momento muito sério no seu tempo de guerra, e que deve estar com um estado de espírito longe de facilitar qualquer flexibilidade, sabe bem isso. E só ouvirá Biden. Não sei mesmo se a ida desta “troika” a Kiev, neste momento, é uma boa ideia.

Medvedev

Num regime ditatorial, a emergência pública de personalidades nunca acontece por acaso. Não sou “kremlinólogo”, mas acho interessante este súbito surgimento de Medvedev, que, em tempos, alternou com Putin de lugares, por imperativos constitucionais entretanto ultrapassados.

Sócrates

Percebe-se bem que José Sócrates aproveite todas as oportunidades, que mediaticamente lhe são oferecidas, para procurar reiterar a leitura que faz do processo que o envolve. Mesmo sem discutir o fundo da questão, fica a sensação de que a forma do seu discurso e o tom que regularmente utiliza dificilmente recuperarão, para o seu lado, qualquer pessoa que antes já não acreditasse nele.

quarta-feira, junho 15, 2022

Pois é!


Kai Ziehl

Então é assim: há as pessoas como eu e há quem saiba fotografar. Se a inveja fosse “uma cena que me assistisse”, estava furioso. Não sendo, estou apenas deliciado.

Popularidade e demagogia


Um dia de 1997, em Lisboa, durante uma reunião do conselho de ministros, António Guterres deu conta da surpresa que tinha tido, numa sua recente visita à Polónia, ao constatar que todos os seus interlocutores locais estavam convencidos de que Portugal iria ser o país que mais dificuldades iria criar aos futuros alargamentos da União Europeia. E, voltando-se para o secretário de Estado dos Assuntos Europeus que eu então era, e que ali estava ocasionalmente por qualquer razão de agenda, alertou: “Espero que, em Bruxelas, os nossos funcionários clarifiquem bem a nossa posição”. Aquela perceção não era apenas polaca: muitos dos países do centro e do leste europeu estavam sinceramente convencidos que iriam encontrar em nós um grande obstáculo à sua pretensão de se juntarem à União.

A lógica dos interesses apontava, de facto, para que Portugal tivesse uma posição muito defensiva no tocante ao efeito, quer em matéria de fundos, quem em termos de vantagens competitivas, que a presença de um elevado número de novos parceiros iria implicar. Mas António Guterres via um pouco mais longe: o alargamento era um irrecusável objetivo estratégico da Europa “deste lado”, o qual, desde o final da Guerra Fria, entendia como imperativo conseguir dar resposta ao anseio de muitos Estados “do outro lado”, recém-libertos da tutela soviética, que pretendiam ancorar a sua liberdade e o seu desenvolvimento no quadro de um projeto que, durante décadas, lhes fora mostrado como paradigma de modelo exemplar de cooperação e de integração económica e, cada vez mais, de cidadania e de valores comuns, que os “critérios de Copenhague” haviam entretanto consensualizado.

O pragmatismo não é contraditório com a ética. Portugal não poderia recusar a outros aquilo que funcionara como reforço essencial do seu próprio projeto democrático e de prosperidade, para além de que a pressão para a inclusão dos novos Estados iria, com toda a evidência, tornar-se crescente. A política europeia de Portugal, com Guterres, tendo os interesses portugueses no seu centro, tinha como filosofia essencial a partilha sincera dos interesses europeus. No tocante ao alargamento, até ao termo do processo, o nosso comportamento iria ser exemplar - e os então candidatos são hoje, estou certo, as nossas melhores testemunhas.

Vem isto a propósito da Ucrânia. Na sequência da agressão russa, Portugal, em uníssono, manifestou uma reação de repúdio a esse inaceitável atentado à soberania de um Estado independente e com fronteiras reconhecidas, dando provas concretas de solidariedade e de empenhamento, em todas as instâncias e por todos os meios que pôde colocar à disposição, desde logo na oferta de grande apoio aos refugiados. Mas, igualmente, demonstrou-o na partilha plena das decisões no seio da NATO, da União Europeia ou nas Nações Unidas. Bem como na disponibilidade de meios materiais de diversa muito natureza. Sempre achei ridículo entrarmos no “campeonato” do grau de retórica adjetivada para denunciar a invasão e criticar Moscovo, mas, até aí, o governo português, ao que me lembro, não ficou mal “classificado”.

Surgiu, entretanto, a questão de uma possível adesão da Ucrânia à União Europeia. Relevando de um lamentável desconhecimento da realidade, logo apareceram, em algumas capitais europeias, os defensores de um “fast-track”, de uma espécie de “via verde”, que permitisse que Kiev, saltando etapas, passasse, a breve prazo, a membro pleno da União. Entre nós, no comentário impressionista, emergiram também, por mimetismo, os promotores zelosos da ideia. Estar com o “l’air du temps” faz parte de um certo estilo de “informação”.

António Costa, desde o primeiro momento, teve a coragem de “deitar água na fervura” neste voluntarismo insensato, não se intimidando em dizer a verdade. Disse-a mesmo em Kiev, em face do presidente ucraniano, para óbvio desgosto deste. Ora um processo de adesão desta natureza não é equivalente à emissão de uma cartão de sócio de um clube, em que os membros decidem dispensar de jóia e de alguns requisitos um novo candidato que se considera desejável que possa partilhar, com rapidez, o nosso convívio. Ser parte da União Europeia é ter não apenas a vontade, mas também as plenas condições, para poder cumprir com o cada vez mais exigente acervo legislativo, até para proteção do país candidato face à feroz competição que a exposição ao mercado interno comunitário implicará.

Além disso, que já não é pouco, alguma experiência mais recente, com as derivas negativas de alguns Estados, prova que é imperativo reforçar as exigências no tocante à observância estrita das regras democráticas e do pluripartidarismo, da separação de poderes e do respeito pela independência da justiça, das regras gerais do Estado de direito, da proteção da comunicação social independente e do respeito pelos direitos das minorias. Alguém que surja a afirmar que a Ucrânia, mesmo antes de ter entrado no atual estado de guerra, cumpria um mínimo destes critérios, não pode ser levado a sério. Vou dizer isto, medindo bem as palavras: a Ucrânia está ainda muito longe de poder vir a ser um membro da União Europeia e, mais do que isso, não é ainda claro que tenha condições para o poder vir a ser algum dia. É impopular dizer isto? Talvez, mas eu digo. E é preciso que isto seja dito.

Mas não tem a Ucrânia o direito de entrar num caminho de aproximação às instituições comunitárias? Claro que sim e tem, exatamente por isso, o direito de apresentar o seu caso e de vê-lo devidamente apreciado. E, por essa razão, por simpatia com esse seu legítimo desejo, devem ser dados todos os passos que sejam possíveis nesse sentido. Mas sem quaisquer pressas, que possam ser lidas como podendo estar a “queimar etapas”, porque o ambiente emocional, que o horror da guerra nos possa e deva motivar, não nos deve fazer esquecer que há outros Estados que, desde há vários anos, com grandes esforços de adaptação interna das suas estruturas, iniciaram um caminho de aproximação às instituições comunitárias que está muito mais adiantado, o que pode e deve justificar a sua entrada mais rápida.

Imagino que por essa razão, na declaração que hoje fez ao “Financial Times”, António Costa deixou o que pode ser lido uma crítica implícita à atitude da presidente da Comissão Europeia, Ursula van der Leyen, que tem vindo a dar mostras de procurar um protagonismo institucional que, lamento ter de dizê-lo, não está a respeitar o equilíbrio dos tratados europeus. Tal como, aliás, acontece com a sua colega presidente do Parlamento europeu, a presidente da Comissão parece deliberadamente querer esquecer que quem decide sobre as adesões à União é o Conselho de Ministros e os parlamentos nacionais da totalidade dos atuais Estados membros. A Comissão faz as suas avaliações e análises, mas são os chefes de Estado e de governo quem tem a última palavra. Ao proceder como procede, ao “pôr o carro à frente dos bois”, a Van der Leyen deve ser dito que deve ter consciência de que está a acicatar a potencial conflitualidade entre os Estados mais vocais e entusiastas, por razões de proximidade estratégica, com as ambições maximalistas de Kiev, e outros, nos quais Portugal se insere, que têm uma leitura mais serena e equilibrada do problema, sem que, nem por isso, se considerem menos empenhados na defesa do caso ucraniano. Até por uma razão simples, embora quiçá menos popular: defender o interesse da Ucrânia é, também, dizer-lhe a verdade.

Mas António Costa disse mais. Deixou implícito, como já antes o tinha feito, o interesse em se estudar, como Emmanuel Macron havia sugerido e o bom senso parece recomendar, a instituição futura de um espaço institucional intermédio, entre o estatuto de Estado terceiro e o de membro de pleno direito, por forma a criar um tempo de aculturação e de transição que, precisamente, possa aferir, à medida dos progressos alcançados, da possibilidade de de Estado candidato vir a obter uma integração plena, antes da conclusão da negociação dos 35 exigentes capítulos temáticos para uma adesão plena. E o primeiro-ministro português disse, além disso, algo também da maior sensatez, o facto de ser importante que a União Europeia se concentre, por ora e essencialmente, naquele que é um desiderato comum, sem a menor sombra de dúvida, sem incorrer em riscos de divisão, entre todos os parceiros comunitários: promover uma forte e empenhada ação de ajuda económica à reconstrução do país, à reforma das suas infra-estruturas, afetadas pela guerra. Essa, além da paz, que não é chamada para aqui, é a prioridade.

Volto ao ponto por onde comecei. Portugal, ao longo da sua história de presença na vida política da construção europeia, sempre revelou o maior interesse em ver as fronteiras da Europa comunitária abertas a todos os Estados que, exclusivamente à luz dos seus próprios méritos, revelem condições para poderem constituir como um valor acrescentado à expansão do projeto de liberdade, paz e desenvolvimento que subscrevemos, em boa hora, fez precisamente ontem 37 anos.

Não fazemos nenhum favor a ninguém ao proceder assim. Estamos apenas a atuar como um país que, ao longo do seu tempo democrático e com escassos sobressaltos nos vários ciclos políticos, tem do seu papel no mundo uma perspetiva solidária, o que já é uma marca e um orgulho da sua política externa. E que, nesse domínio, não recebe lições de ninguém. Nem lições, nem pressões.

terça-feira, junho 14, 2022

Vergonha

Provavelmente, não deveria sugerir isto. Mas tenho a certeza que o país ficaria muito grato ao presidente da República se ele pudesse chamar a si, em articulação com o primeiro-ministro e com o líder da oposição, a questão do novo aeroporto. O que se está a passar na Portela é uma vergonha nacional, com um efeito na imagem do país e da "galinha dos ovos de ouro" que é o nosso turismo.

França - a instabilidade como cenário


Emmanuel Macron vai ter um segundo quinquenato muito difícil. O reinado solitário do seu partido quase unipessoal, La République en Marche (que passará a chamar-se Renaissance), acabou ontem. Tudo será muito diferente, no futuro. É claro que, entre as duas voltas - a primeira que ocorreu a 12 de junho e a segunda a 19 - podem acontecer várias coisas, num cenário político sempre muito dependente das perceções locais, onde a liberdade dos eleitores não se deixa condicionar pelos conselhos dos líderes partidários. O voto útil ou a “lógica republicana” podem, ou não, funcionar nesse próximo escrutínio.

Ainda não pode ser descartado, em definitivo, que venha a conseguir, apenas com os dois grupos seus aliados no seio da frente eleitoral Ensemble, uma maioria absoluta no parlamento. Este é, contudo, o cenário menos provável. Porém, ainda que tal ocorresse, seria sempre por uma ínfima diferença, pelo que o peso dos dois parceiros, o Horizonts (de Edouard Phillipe, o seu primeiro PM, nome a recordar para o período pós-Macron) e do MoDem (de François Bayrou, uma “velha raposa” do centrismo de direita) iria obrigatoriamente subir e, provavelmente, obrigar a uma nova remodelação governamental.

Se não vier a conseguir uma maioria absoluta, que é a perspetiva mais plausível, o presidente irá ter de pagar um ainda mais duro (e, por ora, imponderável) preço para conseguir que o seu governo possa vir a ter o apoio parlamentar do Les Républicans. Esta direita clássica nunca perdoará a Macron ele ser uma das razões do seu declínio (a outra razão é a “normalização” de Marine Le Pen). E, por isso, irá pedir um preço altíssimo para o apoiar, ainda que criticamente.

Com as mãos atadas no parlamento, os próximos cinco anos de Emmanuel Macron prometem ir ser um calvário, em termos de condições políticas para conseguir introduzir algumas reformas que a sobrevivência do sistema torna imperativas. Acresce que a “rua” não promete abrandar: os “gillets jaunes” podem regressar, porque a degradação económica das classes médias será acelerada pelos efeitos da inflação, da subida das taxas de juro e dos combustíveis, e as forças sindicais prometem já colocar a ferro e fogo o imenso setor público. E muitos trarão, de novo, a jogo a insegurança, as fronteiras, a precariedade, o aumento do custo geral de vida, o salário mínimo, a idade da reforma, etc.

Jean-Luc Mélenchon, o tribuno da esquerda, não vai conseguir ser primeiro-ministro. Mas há que reconhecer que soube bem cavalgar o descontentamento daqueles “enragés” que nada querem com a extrema-direita. Conseguiu assim federar, quiçá episodicamente, toda a esquerda relevante, sob a sigla NUPES (Nouvelle Union Populaire Écologique et Sociale), com vista a estas eleições legislativas. Por lá estão o La France Insoumise, do próprio Mélenchon, os ecologistas, os socialistas e os comunistas. Mas, nessa NUPES está também tudo e o seu contrário: quem é pelo projeto europeu e quem lhe contesta as regras financeiras e a preeminência do seu direito; quem aceita a pertença à NATO e quem é favorável à saída da França da organização, que acha ser uma mera arma do imperialismo americano; quem aceita a energia nuclear e quem se lhe opõe; e assim por diante.

Para o que importa, Mélenchon conseguiu titular um resultado que, não sendo inesperado face às sondagens, representa um importante salto face à soma daquilo que foi o peso relativo dessas formações nas anteriores eleições legislativas, há cinco anos. Esse crescimento pode ter como origem setores que então terão votado no partido de Macron, tendo-se entretanto desiludido, e, eventualmente, colhido mesmo alguns votos que a extrema-direita tinha captado. Mas tudo indica que terão sido os votantes de gerações mais novas que terão engrossado esta notável votação na NUPES. Os deputados que a NUPES vier a conseguir, no segundo turno a 19 de junho, serão a principal oposição na futura Assembleia Nacional, mas há que pensar que a natureza das suas diferentes componentes não garante que aí venham a ter um comportamento uniforme. Em todo o caso, a Assembleia Nacional vai ser uma tribuna onde a esquerda (mais ou menos radical) estará em força, como há muito não acontecia.

O Rassemblement National, de Marine Le Pen, perdeu muito eleitorado, em face daquele que ela própria havia obtido nas presidenciais. O seu resultado é um óbvio fracasso político, embora tudo indique que, pela primeira vez, possa vir a ter um grupo parlamentar com uma expressão razoável, num sistema eleitoral que, como é sabido, a não favorece. Pelo caminho, com um resultado muito medíocre, ficou o Reconquête, do seu “challenger” na extrema-direita, Éric Zemmour. O próprio líder não foi eleito e a única conquista do novo partido terá sido o ter montado uma rede de dimensão nacional, muito graças à expressão mediática do seu líder. Mas, para sobreviver, vai fazer uma travessia do deserto.

Bastante fraco foi o resultado do Les Républicans, um partido com vocação tradicional de poder, de origem gaullista, e que, não obstante manter ainda uma maioria e a presidência do Senado, e também uma forte expressão municipal e regional, revela uma imensa dificuldade em assumir-se como alternativa de governo à escala nacional. Há dez anos afastado do Eliseu e de uma maioria na câmara de deputados, o Les Républicans, em face da “moderação” de Le Pen, tem vindo a ficar num limbo político que não seduz o eleitorado. As suas caras são ainda as da velha política, todas, sem exceção, tributárias do tempo de um Sarkozy que já não conta para o seu futuro. O catastrófico resultado da sua candidata às últimas eleições presidenciais, Valérie Pécresse, marcou um ponto muito baixo na história recente do partido.

A V República francesa estará a chegar ao fim? O modelo constitucional em que assentava - um presidente legitimado pelo voto popular, apoiado por uma maioria parlamentar - está, mais do que nunca, em crise. É verdade que, no passado, já se tinham verificado ocasiões em que o ocupante do Eliseu teve, no Palais Bourbon, maiorias que o contrariavam. Porém, essa oposição processava-se em termos de contraste ideológico não radical, pelo que foi sempre possível à França política encontrar um meio termo institucional que, provocando algumas fricções internas, conseguia não afetar, por exemplo, a sua postura europeia e internacional. Ora uma coabitação entre Macron e Mélenchon é hoje impensável. Nem o próprio Mélenchon deve acreditar nela. Por isso, a pergunta é legítima: o que sairá daqui?

Com mais de metade do eleitorado a abster-se, com o partido que apoia o presidente esmagado entre dois radicalismos sem a menor ponte entre si - ou melhor, convergindo apenas na oposição a tudo quanto Macron representa e apresenta -, o futuro da França aponta para um inevitável longo período de instabilidade. Não são boas notícias para a Europa.

Os pés


Descobri isto, por acaso, numa revista, "Magazine Ilustrado", de 1941. Acho deliciosa, na sua ingenuidade, a linguagem utilizada.

domingo, junho 12, 2022

Rússias

Putin parece considerar que as áreas da antiga URSS em que, historicamente, vivem comunidades russas cuja identidade é ameaçada pelo modo como se processa a sua inserção local passam a poder autodeterminar o seu futuro, nomeadamente integrando a Federação Russa.

França

A coligação de esquerda criada por Jean-Luc Mélenchon tem propostas absolutamente inaceitáveis para quem acredita no projeto europeu. Custa ter de admitir que a sua vitória seria uma catástrofe para a Europa. É, assim, uma coisa boa não ter de votar em França.

Mortos & mortos

Na tragédia ucraniana, para a nossa comunicação social, há mortos civis ”bons” e “maus”. Se o ataque é feito pelos russos, as vítimas são tratadas com imenso carinho mediático. Se se trata de uma ação militar ucraniana, os civis são “casualties” que estavam no sítio errado.

sábado, junho 11, 2022

O sol na ponte


É minha impressão ou a maioria das pessoas que, numa reação demagógica, culpou a ministra da Saúde pelas carências de pessoal especializado, em certas unidades hospitalares, se “esqueceu” de perguntar o que a “ponte” teve a ver com as falhas?

A verdade não tem cor


A comunicação social portuguesa continua, alegremente, a dar notícias sobre a invasão da Ucrânia sem cuidar em escrutinar a fiabilidade das fontes. A regra - deontológica e de bom senso - é sempre a mesma: desconfiar das notícias que favorecem o interesse de quem as divulga.

Ciclomania


Na lógica da inevitável tendência para a descarbonização, pode entender-se o estímulo ao uso de bicicletas no centro de Lisboa. (Já agora, podia ser acompanhado por uma devida fiscalização da observância das regras de tráfico, desde o uso de capacete à não utilização dos passeios e passadeiras). Porém, atendendo ao facto (incontestável) da maioria da população que vive nessa zona da cidade já não ter idade para usar bicicleta, o “jeunisme” dominante, nessa como em outras políticas públicas agora em voga, acaba por ser claramente discriminatório e antidemocrático.

Nova Rússia


A emissão de passaportes russos a habitantes de algumas regiões da Ucrânia, depois da invasão, prenuncia aí a realização de novos referendos, para aferir sobre a sua “auto-determinação”. O sentido final desses referendos é óbvio: delas emergirão “repúblicas”, logo reconhecidas por Moscovo e que, depois, irão pedir a sua integração na Federação Russa. Passarão, dessa forma e de imediato, a ser parte do território e da soberania russa. E depois? Depois, se alguém (por exemplo, a Ucrânia) ameaçar essas zonas militarmente, isso constituirá um ataque à Rússia. E se esse ataque for feito com meios ofensivos fornecidos pelo ocidente ao governo de Kiev, isso agravará tudo. Estão a ficar criadas as condições para uma boa sarilhada, lá isso estão!

Se quer ser rei…


O príncipe Carlos disse uma coisa bem sensata: a política do governo britânico de deslocar à força imigrantes para campos no Ruanda é miserável (ele só disse “appaling”). Ao fazê-lo, contudo, pisou uma linha institucional: a corte nunca pode opinar em público em temas políticos. Dir-se-á: mas o honem tem toda a razão! É verdade, mas as regras são o que são e um (futuro) rei não pode pronunciar-se sobre políticas públicas.

Ai América!


Biden lembrou a Bolsonaro a necessidade de respeito pelo sistema eleitoral. É bom que o presidente do Brasil receba este tipo de pressões, a caminho das eleições que ali terão lugar, no fim do ano. Mas, depois da vergonha em casa, em 2021, a moralidade dos EUA para dar lições de democracia ao mundo começa a reduzir-se fortemente.

sexta-feira, junho 10, 2022

10 de Junho


Detesto proclamações patrioteiras, mas gosto ainda menos (muito menos) dos ditos catastrofistas, dos bota-abaixo de sempre. Somos o que fomos e o que somos, houve coisas que correram bem, outras mal. A principal graça de tudo isto é andarmos por aqui, há tanto tempo, a falar a mesma língua. O resto…

Portugal


Desde há anos que, no dia 10 de junho, celebrávamos o aniversário de uma grande amiga brasileira, que também tinha nacionalidade portuguesa. Notávamos a coincidência do seu nome de família ser Portugal. Morreu hoje. No Dia de Portugal.

quinta-feira, junho 09, 2022

Irão


A conflitualidade decisória no seio do poder no Irão está a conduzir ao termo do mínimo de garantias quanto à sua vontade de contenção nuclear. Quando, daqui a tempos, bombas vierem a cair sobre os laboratórios iranianos, lá os veremos a protestar. “Too late”! Nessa altura, dir-se-á: se tivessem tido juízo…

Um fim de tarde…

… em casa pode ser uma coisa muito boa!

“A Arte da Guerra”


Todas as semanas, desde há bem mais de um ano, converso, durante meia hora, com o jornalista António Freitas de Sousa sobre três temas da atualidade internacional, num podcast editado pelo “Jornal Económico”. 

Esta semana, inevitavelmente, falamos da Ucrânia - e, admito, posso ser “politicamente incorreto”, no que digo nesta edição, face aos ventos opinativos dominantes -, das primeiras expetativas sobre as eleições legislativas francesas (que terão a sua primeira volta, no território metropolitano da França, no próximo domingo) e do futuro da liderança de Boris Johnson, depois de ter superado uma moção de desconfiança no seu próprio partido.

Pode ver clicando aqui.

quarta-feira, junho 08, 2022

Paula Rego (1935 - 2022)


Morreu Paula Rego.

Recordo um episódio ocorrido aquando da visita de Estado de Mário Soares a Londres, em 1993. 

Um dos pontos do programa foi uma deslocação à Sainsbury Wing, da National Gallery, em cuja cafetaria Paula Rego havia acabado de pintar um mural que era, em especial à época, uma das grandes curiosidades do local (recomendo a visita a essa obra). Paula Rego, amiga de Mário Soares e de Maria Barroso, quis ser ela a apresentar pessoalmente aquele trabalho, descrevendo-o nos seus principais pormenores.

Algumas das figuras que a pintora integrou no mural tinham nome. Recordo-me da cara do escritor Alberto de Lacerda, que ela colocou, na sua forma criativa, numa das personagens. A certo passo da descrição, Mário Soares perguntou em quem se tinha inspirado Paula Rego para o desenho de uma figura hierática de mulher, que tem um lugar proeminente do grande painel. Nenhum de nós tinha a menor ideia de quem poderia ser essa face feminina escalvada, hirta e seráfica. Paula Rego correu com o dedo as figuras até coincidir com a que Soares referira, para, finalmente, concluir: "Ah! Aquela? É uma senhora da limpeza que eu vi um dia quando ia a entrar lá em baixo. Pedi-lhe e ela deixou-se pintar. Ficou bem não ficou?"...

terça-feira, junho 07, 2022

… e Gaia aqui tão perto!

 


A verdade


Sei que não dá muito jeito para o comentário "holístico", mas gostava de lembrar que a inflação, com a subida das taxas de juro, a desregulação das cadeias de transporte e a consequente escassez de muitos produtos - eram coisas sentidas já antes da guerra. Que agravou tudo, claro.

Conversa


É absolutamente insensata a ideia de que, na fase da guerra a Ucrânia que se vive, um encontro entre os dois presidentes teria o menor efeito. Os contactos a nível elevado consagram sempre um entendimento prévio que ambos, embora cada um a seu modo, podem anunciar.

segunda-feira, junho 06, 2022

Boris


Posso estar a ver mal as coisas, mas Boris Johnson vai hoje obter, com mais facilidade do que se espera, o voto de confiança dos seus pares. Só daqui a um ano a sua liderança poderá ser de novo contestada. Deve agradecer a Putin. Mas não é impunemente que alguém se chama Boris!

domingo, junho 05, 2022

… e a Ucrânia aqui tão perto!


Tudo indica que a Rússia, para travar o reforço de material militar do ocidente à Ucrânia, vá aumentar os ataques de mísseis a linhas ferroviárias e às instalações, cada vez mais civis e situadas em áreas civis, que são utilizadas para esconder esse armamento. A probabilidade desses ataques, oriundos de longa distância, poderem ser menos precisos, tendo civis como “colateral casualties”, é assim cada vez maior.

Relembra-se que a Ucrânia quer aderir à NATO, mas já terá percebido que isso é difícil. Desde o primeiro momento, foi objetivo nunca escondido por Kiev tentar envolver a NATO no conflito. Isso sucedeu, como se recordará, quando pediu que a organização impusesse uma zona de exclusão aérea sobre o seu território, o que foi negado pelos EUA e por alguns aliados sensatos, porque isso poderia conduzir à guerra Rússia-NATO, com todas as consequências daí decorrentes, que só alguns inconscientes desprezam.

Atenta a evolução da guerra, e não querendo estar a chamar os demónios, arrisco dizer que pode estar a aproximar-se um momento em que a Ucrânia (com os seus amigos NATO do Leste, que, como se sabe, são mais papistas do que o papa e têm, dentro da organização, uma linha discretamente favorável a um envolvimento militar mais ousado) arrisque produzir um incidente grave, para poder justificar um maior envolvimento da NATO. O pior é que pode dar-se o caso de isso também convir à Rússia, na lógica do quanto pior melhor. Nessa altura, será tempo de alguns, por cá, decidirem ir a Fátima. E por lá procurarem o segredo da conversão da Rússia…

sábado, junho 04, 2022

Cavaco


Cavaco Silva é o político mais óbvio de Portugal. 

Porque raramente alguém surge a defender o seu legado governativo, ele promove-o despudoradamente, sempre que pode, metendo debaixo do tapete o medíocre segundo mandato, que o país, em 1995, puniu com a derrota do PSD que levou o PS ao poder e, em 1996, com a derrota do próprio Cavaco Silva, infligida por Jorge Sampaio. 

Com as suas cíclicas e cirúrgicas aparições, procura tentar ser recordado como referência histórica de um partido que vive esmagado entre o mito Sá Carneiro e o saudosismo sebastiânico em torno de Passos Coelho. 

Cavaco Silva pressente que não deixou uma marca afetiva forte e, por isso, fala muito do partido, para que este o não esqueça. Não parece que vá ter muita sorte.

sexta-feira, junho 03, 2022

Confluência


Há muitos anos, referindo-se a zonas do globo onde potências disputavam influência, Adriano Moreira utilizava o conceito de "zonas de confluência de poderes". A Ucrânia é isso mesmo, embora muitos pareçam não entender isso ou finjam que não entendem.

Mourinho


Alguns não gostarão de lembrar, pelo “azar” que têm à personagem, mas eu recordo que José Mourinho ganhou campeonatos em Portugal, Espanha, Inglaterra e Itália e todas as grandes taças europeias: Liga dos Campeões (duas), Taça UEFA, Liga Europa e agora a Conference League. Só.

Desafio

Dois desafios ao meu amigo Carlos Moedas: instituir um regulamento urbano para acabar com a “fialhada” das comunicações nas paredes exteriores dos prédios (basta copiar o que existe em outros países) e fazer desaparecer os outdoors da política fora do período eleitoral.

Pués!

Empatámos com a Espanha sem o merecer, atento o “jogo jogado”, como antes se dizia. Fica por conta das vezes que a nossa seleção teve resultados que, por razões opostas, não merecia ter tido.

Recavaco

Cavaco no “Observador”. Cavaco na CNN. Começa mal a vida de Luís Montenegro.

Pra não dizer que não falei das flores

Sente-se por aí um ambiente ligeiramente pidesco sempre que alguém ousa colocar em causa o vento dominante. É ou não é?

Turkey

Num tempo em que a Turquia faz “voz grossa”, tentando impedir dois Estados europeus de entrar para a NATO, Erdogan entende lançar para a mesa internacional essa magna questão que é a mudança do nome do país, pelo facto de, em inglês, o atual significar “peru”. Imagino a caçoada que irá pela imprensa da Finlândia e da Suécia com esta ridicularia do autocrata de Ancara. Já para não falar na imprensa de Lima, claro.

quinta-feira, junho 02, 2022

Cavaco

Em artigo no “Observador” (lugar adequado, reconheço), Cavaco Silva escreve a António Costa uma “carta” que se pretende irónica, mas é apenas a enésima listagem auto-laudatória dos feitos de uma governação que, recordemos, acabou há quase três décadas. Ninguém diz nada ao senhor?

Biden

“So long as the United States or our allies are not attacked, we will not be directly engaged in this conflict, either by sending American troops to fight in Ukraine or by attacking Russian forces. We are not encouraging or enabling Ukraine to strike beyond its borders.”

Fenerbahçe

Estou ansioso para ouvir Jorge Jesus a pronunciar o nome do próximo clube que vai treinar.

Ucrânia

Os EUA vão enviar para a Ucrânia armas que o governo de Kiev promete não utilizar contra território russo.

A Ucrânia, que não reconheceu a ocupação ilegal da Crimeia por parte da Federação Russa, em 2014, tal como os EUA e a maioria da comunidade internacional, não considera, naturalmente, a Crimeia como território russo.

A menos que haja algum “small print”, que se desconhece, a Ucrânia deve entender que o compromisso que tem com os EUA não se aplica ao território da Crimeia, pelo que tem pleno direito de aí ir defender militarmente a sua soberania.

Se, com as novas armas recebidas dos EUA, a Ucrânia atacar a Crimeia - território que, sublinho, os russos consideram ser seu - esse ato será aceite pelos americanos como cumprindo as condições da cedência daquele material?

Atores

O facto de dois atores americanos terem andado a dizer mal um do outro alimenta montes de comentários nas redes sociais. Quando isto surge como um tema perante o qual parece ser obrigatório qualquer pessoa ter opinião, está tudo dito.

Tráfico

Por toda a cidade de Lisboa vive-se um imenso laxismo no cumprimento das regras de trânsito: são automóveis a passar no vermelho, trotinetes e bicicletas em sentido contrário ao trânsito, peões fora das passadeiras, etc. Ah! E não vejo polícias! É o novo normal? Que estranho!

quarta-feira, junho 01, 2022

Olhar para o Mundo


Conversa com Ricardo Alexandre sobre a situação internacional, na Conferência da Coface https://youtu.be/4Dg0J4O_u7Q.

Assim começava…

 


… uma candidatura presidencial. E Mário Mesquita, que agora nos deixou, lá estava.

"Quem quer regueifas?"

Sou de um tempo em que, à beira da estrada antiga entre o Porto e Vila Real, havia umas senhoras a vender regueifas. Aquele pão também era p...