domingo, junho 05, 2022

… e a Ucrânia aqui tão perto!


Tudo indica que a Rússia, para travar o reforço de material militar do ocidente à Ucrânia, vá aumentar os ataques de mísseis a linhas ferroviárias e às instalações, cada vez mais civis e situadas em áreas civis, que são utilizadas para esconder esse armamento. A probabilidade desses ataques, oriundos de longa distância, poderem ser menos precisos, tendo civis como “colateral casualties”, é assim cada vez maior.

Relembra-se que a Ucrânia quer aderir à NATO, mas já terá percebido que isso é difícil. Desde o primeiro momento, foi objetivo nunca escondido por Kiev tentar envolver a NATO no conflito. Isso sucedeu, como se recordará, quando pediu que a organização impusesse uma zona de exclusão aérea sobre o seu território, o que foi negado pelos EUA e por alguns aliados sensatos, porque isso poderia conduzir à guerra Rússia-NATO, com todas as consequências daí decorrentes, que só alguns inconscientes desprezam.

Atenta a evolução da guerra, e não querendo estar a chamar os demónios, arrisco dizer que pode estar a aproximar-se um momento em que a Ucrânia (com os seus amigos NATO do Leste, que, como se sabe, são mais papistas do que o papa e têm, dentro da organização, uma linha discretamente favorável a um envolvimento militar mais ousado) arrisque produzir um incidente grave, para poder justificar um maior envolvimento da NATO. O pior é que pode dar-se o caso de isso também convir à Rússia, na lógica do quanto pior melhor. Nessa altura, será tempo de alguns, por cá, decidirem ir a Fátima. E por lá procurarem o segredo da conversão da Rússia…

14 comentários:

Miguel disse...

É preciso estabelecer um cordão de segurança em torno da Ucrânia, e em mais do que um sentido. Não deixar os loucos aproximarem-se. Para bem da civilização no seu todo.

Jaime Santos disse...

Sem dúvida que é Macron (e Scholz de forma mais discreta) que tem razão ao chamar a atenção para a necessidade de não se humilhar a Rússia. Ela não vai para lado nenhum e uma substituição de presente liderança pode levar ao poder um nacionalista ainda pior que Putin (como Patrushev). Pior, uma derrota da Rússia que desestabilize o País pode ter consequências difíceis de imaginar. Quem é que quer 4 ou 5 Kadyrovs com armas nucleares?

Aliás, cabe notar que Biden disse de forma límpida o que faria, mas também o que não faria na Ucrânia, traçando linhas vermelhas que russos e ucranianos devem procurar não ultrapassar...

O problema, Sr. Embaixador, é que a forma como a Rússia prossegue esta guerra, com pouco ou nenhum cuidado pelas perdas civis, e com a prática provável de crimes de guerra, destruiu qualquer espécie de boa vontade em relação ao País, que já não existia, de qualquer maneira, em Países como a Polónia ou as Repúblicas Bálticas... Quando se queimam as pontes, o resultado é que não se pode voltar para trás...

Corsil disse...

A estratégia Facebook> Blog continua sem dar frutos...!
Melhor consultar a Arte da Guerra de Sun Tzu !

Joaquim de Freitas disse...

De qualquer maneira, o resultado da guerra é conhecido. E Macron deve pensar nos 50 oficiais franceses que foram feitos prisioneiros em Mariupol.

Com ou sem incidente grave, para poder justificar um maior envolvimento da NATO, a Rússia já não tem um interesse vital em alcançar uma paz rápida.

No nível económico, certamente paga um certo preço, mas no nível estratégico, torna-se o ponto de referência mundial para uma “vingança” dessa parte majoritária do mundo que há décadas se sente submetida pela hegemonia americana.

Essa vitória estratégica permite que a Rússia cultive uma aliança essencial com a China, uma aliança absolutamente invencível e inabalável sob qualquer ponto de vista: territorial, demográfico, económico e militar.

Por outro lado, a Europa cavou a sua cova. Se os governos europeus falharem de alguma forma (e, neste momento, terá um custo significativo de qualquer maneira) em restabelecer as relações com o resto da Eurásia, o seu destino
está selado.

O que será um grande desperdício ! Em suma, estamos cortando laços com essa parte do mundo com a qual somos economicamente complementares (Rússia para recursos, China para manufactura básica, todos os BRICS como o maior mercado do mundo).

Ao mesmo tempo, voltamos a subordinar-nos, sem alternativas, a um concorrente de primeira linha com o qual concorremos directamente a nível industrial mas que, ao contrário da Europa, é auto-suficiente em termos energéticos.

Se, hoje, olharmos bem para os Draghis, os Macrons, os Scholtzes e seus partidários parlamentares , a única pergunta que resta é: alguém vai pagar?

Quem vai pagar pela operação mais autodestrutiva no continente europeu desde a Segunda Guerra Mundial?

Joaquim de Freitas disse...

Nao sei se ir a Fátima pode ajudar...Mas se houver "incidente" quem ficarçà por cà para fazer a reportagem, Senhor Embaixador.

Leu este documento talvez: De Robert Hunter /American Thinker.


"A OTAN está cortejando o desastre ao considerar uma intervenção militar sob essas condições, sem falar em aumentar as tensões ao despejar armas e dinheiro em uma causa condenada.

Isso não quer dizer que o arsenal da OTAN seja inútil. Só os ucranianos causaram milhares de baixas. No entanto, as autoridades ocidentais devem reconhecer que o inimigo tem direito a voto.

A resposta russa às hostilidades será devastadora. Podemos esperar que eles atinjam a infra-estrutura da OTAN em todo o mundo – quase certamente incluindo a pátria americana – com seu arsenal de mísseis hipersónicos
c
A perda de vidas será imensa. Os danos aos ativos militares aliados e aos centros de tomada de decisão levariam anos para serem reparados."

Isa disse...


Um cordão sanitário, Miguel ?
Em forma de um bloqueio ?
A Rússia aprenderá com os mestres dessas situações ?

Luís Lavoura disse...

Tudo indica que a Rússia vá aumentar os ataques às instalações que são utilizadas para esconder esse armamento.

(1) "Tudo indica" - o que é que indica?

(2) Se a Rússia até agora não atacou tais instalações, é certamente porque não sabe onde elas são, e não porque lhe tenha faltado vontade para as atacar. Se atá agora não sabia onde elas são, é porque tem maus serviços de recolha de informações, e nada nos diz que eles agora vão melhorar.

Luís Lavoura disse...

Jaime Santos

a forma como a Rússia prossegue esta guerra, com pouco ou nenhum cuidado pelas perdas civis

Não creio que seja o caso. Penso que a Rússia tem tido bastante cuidado para evitar perdas civis. A Rússia certamente poderia, se o desejasse, causar muitas mais perdas civis do que as que tem causado.

Se o Jaime Santos pensar bem, verá que o número de perdas civis nesta guerra tem sido muito baixo, quando comparado com a potência dos explosivos que são utilizados. Estamos muito longe das guerras verdadeiramente selvagens, como o foram a Segunda Grande Guerra ou a Guerra do Vietname, por exemplo.

Joaquim de Freitas disse...

Jaime Santos :

O bombardeio na Síria pela coalizão liderada pelos EUA na cidade de Rakka causou um número "colossal" de vítimas civis, disseram investigadores da ONU. Evocando bombardeios "excessivos", eles relataram 300 mortos.

E Fallujah? Resta um crime de guerra impune, perpetrado pelo exército dos EUA, que usou armas químicas e radioactivas. Como na Bósnia..

A equipe de Chris Busby do "Departamento de Biociências Moleculares" da Universidade de Ulster procurou avaliar rigorosa e cientificamente as consequências da guerra para a saúde (estudo disponível on-line).

Os resultados em Fallujah são claros, "piores que Hiroshima": •

Os moradores de Faluja têm 4,22 vezes mais chances de desenvolver câncer do que os egípcios ou jordanianos; •
Existe um risco 12,6 vezes maior de desenvolver câncer para menores de 14 anos;
O risco de leucemia em pessoas de 0 a 34 anos é 38,5 vezes maior; •
A mortalidade infantil foi entre 2006 e 2009 mais de 4 vezes maior do que no Egipto ou na Jordânia e este fenómeno vem aumentando desde 2010; •

A proporção entre os sexos é totalmente anormal na faixa de 0 a 4 anos de Fallujah, onde os pesquisadores contaram apenas 860 meninos para 1.000 meninas... enquanto deveriam haver 1.050 meninos.

As consequências genéticas dessas armas americanas (fósforo branco, urânio) deviam-nos fazer meditar sobre o poder do "eixo do bem" quando combate o "eixo do mal".

Que aquele que pedem uma acção militar contra a Rússia, ba Ucrânia, (eixo do mal) observem cuidadosamente e ponderem sobre a beleza da guerra.

Os russos podiam já ter acabado com a guerra na Ucrânia, se quisessem utilizar os mesmos métodos de bombardeamento “terrorista” dos americanos…

Os russos não podiam copiar esses métodos contra os seus compatriotas e numa cidade como Kiev. Algo os impede. Um pouco como os judeus americanos se recusavam a participar em missões contra a pátria de Nabucodonosor…




Jaime Santos disse...

Luís Lavoura, a Segunda Guerra Mundial ou a Guerra do Vietname são péssimos termos de comparação... Até eu espero que a tecnologia russa tenha evoluído um pouco em relação a esse tempo. A tecnologia e o respeito pelas vidas humanas...

Mas convém lembrar que Grozny era a cidade mais destruída da terra quando Putin acabou com ela... Ainda temos muito por onde descer...

Ó Joaquim de Freitas, espero que seja sobretudo a Rússia a pagá-la, já que foi ela que a começou, cabe lembrá-lo... Putin poderia sempre ter decidido não iniciar uma guerra de agressão a 24/2...

O conceito da Eurásia é uma treta promovida por fascistas russos, não precisamos dele para nada e é aliás significativo que o invoque.

E a China só fará o que fez sempre, proteger os seus interesses. Uma Rússia enfraquecida e dependente da China e a fornecer-lhe a sua tecnologia militar não interessa certamente ao Ocidente, EUA incluídos, mas se for esse o preço a pagar por evitar que depois disto a Rússia se torna incapaz de atacar outros alvos próximos, como os Estados Bálticos, a Polónia ou a Finlândia, pois paciência...

Miguel disse...

Isa, "cordão sanitário" numa forma que permita evitar a difusão da guerra para fora das fronteiras da Ucrânia. Não ir em nenhum canto de sereia. Seja o "a seguir é a vossa vez" dos ucranianos, o "até deixar os russos de rastos" dos americanos, ou o "a legítima defesa e são os nossos interesses vitais que estão em jogo" do Putin.

Joaquim de Freitas disse...

Jaime Santos: Tenho outra opinião Numa mistura de irrealismo geopolítico, diplomacia espectacular e atlanticismo cego, a União Europeia sacou a arma económica para combater a invasão russa da Ucrânia. Estas sanções provaram ser prejudiciais para os europeus.

A série de sanções económicas aplicadas pela União Europeia desde a intervenção russa na Ucrânia em Fevereiro passado pretendia enfraquecer a Rússia para forçá-la a cessar as hostilidades.

No entanto, esta verdadeira guerra económica desencadeada por Bruxelas contra Moscovo muito rapidamente, como já em 2014 com as sanções contra a Rússia após o caso da Crimeia, também penalizou os países europeus.

E não é a Russia que vai pagar a nota da incapacidade dos lideres da UE, particularmente da sua amiga Ursula...a tal que vai pedir dinheiro emprestado para pagar armas ao seu amigo Zelensky.

Ela tem uma circunstância atenuante: o Chefe de Washington mandou. E quando finalmente pede para não reduzir demasiado as compras de petroleo russo, senao Putin vai vendê-lo mais caro algures, e vai ganhar ainda mais dinheiro para a guerra, dà-nos uma idea do que nos saiu na lotaria para governar a UE.

Francisco disse...

Tenho seguido com atenção a guerra e o seu decurso, como também, em sentido paralelo, a narrativa dos mass media do regime. É espantoso verificar que em matéria de comentário e por longas horas de horário nobre dos canais formativos, as apreciações vão oscilando entre um maniqueísmo da luta do bem e do mal que faria fulgor em alguns momentos de celebração evangélica e a também sempre apetecível e dinâmica opinião de um gajo de Alfama (com um natural obrigado ao Ricardo Araújo Pereira). Saber do porquê de assim se passar neste sistema mundo (ao estilo de Wallerstein) e das causas e consequências que um sistema hegemónico hoje projecta sobre nós, nem um pio. Notável, efectivamente.

Joaquim de Freitas disse...

Jaime Santos escreve : « O conceito da Eurásia é uma treta promovida por fascistas russos, não precisamos dele para nada e é aliás significativo que o invoque.” Pobre argumento, sem um minimo de reflexao.

Jaime Santos vê fascistas por todo o lado. Quando se viveu uma vida num “cul-de-sac” europeu, chamado EU, é normal que não veja se "enxergue"muito longe.

“Acho que as nossas relações têm um futuro brilhante, acho que encarna a ideia que tenho da Europa, e que representa um aspecto da história da França, acho que a Europa se estende do Atlântico aos Urais.» Emmanuel Macron.

Mais ou menos as mesmas palavras que de Gaulle. Seriam estes dois chefes de estado “fascistas”?

“Esperávamos que o fim da guerra-fria significasse a vitória de toda a Europa. Em pouco tempo, ao que parece, o sonho de Charles de Gaulle de um continente unido se tornará uma realidade, não tanto geograficamente, do Atlântico aos Urais, quanto cultural e civilizacionalmente., de Lisboa a Vladivostok.» Vladimir Putine.

Fascista?

Eu penso antes “que a divisão “artificial e estéril” da Europa é “o pior mal do nosso tempo”. Como dizia De Gaulle.

Infelizmente, a Europa, como o fim da URSS, não passa de uma quimera que se choca com a realidade do capitalismo, uma tragédia permanente e criminosa, que, apesar das suas fantasias pequeno-burguesas, não cessa de cavar abismos e de acumular exércitos.

NATO=EUA… Essa horda tem um custo e essa gente nem mede os cadáveres, os rastros de sangue que ela deixa, de Belgrado a Saigão, e o drama para o qual nos convida a avançar, a hostilidade das massas que desprezam, o custo real mesmo que apenas no Cemitério mediterrâneo e os fluxos migratórios que correm para o Belarus, inclusive de uma Ucrânia cuja população está se tornando escassa e onde os nazistas desfilam, cujos oligarcas histriões no poder não vêem saída excepto na continuação do conflito...

Eles sonham de ver os russos a aceitar a NATO às suas portas, que nada mais é do que a sua própria vassalagem ao Império dos EUA, mesmo quando os povos soviéticos depois dos do Terceiro Mundo experimentaram o que poderiam esperar de tais sonhos…

As bases da NATO com soldados americanos e os elementos do escudo antimísseis estão instalados nas fronteiras da Rússia, enquanto os soldados russos permanecem confinados ao território da Rússia. Essa assimetria territorial é a base da percepção russa de cerco.

A posição de princípio dos membros da NATO sobre a livre escolha de alianças em nada contribui para a segurança europeia, uma vez que a adesão à NATON, em particular da Ucrânia e da Geórgia, serviria precisamente para continuar o território de repressão da Rússia e completar o seu cerco progressivo.

Se os Estados Unidos não querem um tratado vinculativo sobre esta questão, é a prova de que acreditam que este alargamento poderá ocorrer no futuro em circunstâncias mais favoráveis, idealmente após uma mudança de regime na Rússia, por exemplo.

Sonhando, talvez, mas nesta crise na Ucrânia, há uma tremenda oportunidade a ser aproveitada para retomar as negociações com a Rússia sobre uma nova arquitectura de segurança europeia, questão essencial para os interesses dos europeus, na extensão da visão gaullista de uma Europa continental. A Alemanha e a França e seus parceiros europeus serão capazes de compreender o significado da história no futuro?

Sair do “cul-de-sac” custe o que custar, que Biden aprecie ou não…

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