Comprei o "Cartas a um jovem decente" com alguma curiosidade. Sabia que Mafalda Anjos era mãe de família e interessava-me perceber o que ela quis dizer a uma geração com a qual tenho muito pouco contacto e que, já não "indo para novo", cada vez mais sinto dificuldade de interação, porque crescentemente se diluem os meus códigos da relação intergeracional.
Li o livro, menos de 200 páginas, no dia em que o comprei. O que é? É difícil de definir. Correndo o risco de todas as caricaturas, diria que estamos perante um manual de bom senso para uso das novas gerações, de onde transparecem algumas evidências que o ruído dos dias às vezes obscurece, somado ao fruto de outras experiências que só se ganham na interação com os jovens.
Mafalda Anjos assume abertamente, no texto, uma "ideologia", de que faz descarado proselitismo: a da decência. Esse é o pano ético de fundo onde projeta as reflexões que faz sobre múltiplos aspetos da vida contemporânea de quantos se aproximam ou já acederam à fase adulta da existência. Sem ser "maternalista", a autora arrisca por vezes, embora numa linguagem esforçadamente simples, um trilho cultural que, posso imaginar, deve afastar-se, aqui ou ali, daquele que constitui o núcleo de informação de muitos dos destinatários potenciais do seu texto. Mas, com esse desafio feito, fica pelo menos a consolação de que estes recebem, através das páginas que ela escreveu, uma "biblioteca" que muito os pode ajudar no futuro.
Através deste livro, escrito por uma mãe jovem, fica a saber-se bastante sobre o que pode ser a relação pais-filhos no mundo de hoje, titulada por alguém que mostra uma imensa tolerância e respeito pela liberdade dos jovens, nas escolhas que eles têm que fazer, ao chegarem às esquinas e às rotundas da vida. Deve ser bom ser filho de Mafalda Anjos.
Recomendo bastante estas "Cartas". Aprendi bastante com elas.
Sem comentários:
Enviar um comentário