segunda-feira, setembro 11, 2023

Memória de onzes de setembro


11 de setembro de 2001. Nova Iorque. A voz, pelo telefone, era de José Rodrigues dos Santos. Era o jornal da 13 horas da RTP, para o qual eu entrava em direto, sem imagem. Era embaixador português nas Nações Unidas, nesse dia trágico em que as Torres Gémeas tinham acabado de cair, por ação da barbárie. Dei conta, nessa curta intervenção, do trauma em que todos estávamos, na missão portuguesa, naquela cidade em compreensível estado de sítio, depois de uma louca manhã.

A certa altura, quase a concluir a conversa (logo depois, as ligações telefónicas com Lisboa iriam ficar interrompidas, por cerca de dois dias), Rodrigues dos Santos perguntou-me qualquer coisa como isto: "Embaixador, imagino que a data de 11 de setembro, a partir de hoje, vá ficar marcada na sua vida". Saiu-me algo assim: "Já estava. O 11 de setembro de 1973, data do golpe fascista de Pinochet no Chile, já fazia parte das minhas memórias trágicas". Pela troca de olhares, percebi que as duas pessoas que, no meu gabinete, assistiam à conversa, não pareciam muito concordantes com a oportunidade desta minha evocação. Dias depois, ouvidos de Lisboa, outros amigos também foram da mesma opinião. Eu, contudo, nunca me arrependi.

Passou, entretanto, uma semana. Entre as estantes da Barnes & Nobel da 3rd Avenue, dei de frente com Jose Miguel Insulza, ministro do Interior do Chile. Em 1998, ao tempo em que ele era ministro das Relações Exteriores, eu tinha sido o membro do nosso governo escolhido para o acolher em Lisboa, à frente da delegação do seu país à Expo 98. Dois anos depois, em Santiago, numa visita oficial que fiz ao Chile, ele tinha-me recebido calorosamente no Palácio de La Moneda, como presidente da República interino que então era. Nessa ocasião, que ocorreu logo depois de eu ter ido colocar cravos vermelhos no mausoléu de Allende, ele tinha notado que eu estava bastante emocionado, ao caminhar pelos corredores daquele palácio. No encontro na livraria em Nova Iorque, Insulza disse-me: "Os americanos acabam de ter o seu trágico 11 de setembro. Mas nós já tínhamos tido o nosso".

11 de setembro de 1973, faz hoje 50 anos. Lisboa, Lumiar, Escola Prática de Administração Militar. Ao final da tarde, um pequeno grupo de soldados-cadetes, de "Ação Psicológica" e "Licenciados em Direito", fazia formatura para sair da unidade. Um desses cadetes disse: "Já sabem as novidades do Chile? Ouvi na rádio que o regime de Allende está a ser derrubado por um golpe de estado militar. Convido todos a virem beber uma taça de champanhe a minha casa. Temos de comemorar!" Era a brincar, mas mesmo assim...

A maioria daquele grupo era bastante conservadora e, se bem me lembro, havia por ali algum regozijo com a notícia. O António Franco, o Miguel Lobo Antunes e eu (não sei se mais alguém) rugimos algumas imprecações. O António foi mais longe e disse, irónico, em voz alta: "Vocês, seus "fachos", estão com muita sorte. É que já entreguei no armeiro a minha G3..." Recordo que o 25 de Abril só chegaria no ano seguinte.

Mistérios

Um dos mistérios da atividade russa nos territórios que "nacionalizou" na Ucrânia é a sua persistência na realização de referendos e eleições. Moscovo deve saber que ninguém, em nenhum lado, aceita esses exercícios como minimamente credíveis e, no entanto, persiste em fazê-los, vá-se lá saber para quê.

domingo, setembro 10, 2023

Teodora Cardoso

Teodora Cardoso não era uma voz cómoda. Nem se importava de o não ser. Economista de créditos firmados, tinha ideias muito próprias e fazia questão de as afirmar. Algumas vezes, assisti à irritação de certas pessoas, com elevadas responsabilidades, por virtude das suas tomadas de posição. Mas nunca vi ninguém contestar a sua seriedade ou acusá-la de ter uma "agenda" que ultrapassasse o seu interesse em colocar os seus argumentos. Recordo um debate que fiz com ela, há 25 anos, na Ordem dos Economistas. E a sua gentileza no modo como expôs as suas divergências comigo. Tinha um grande respeito por Teodora Cardoso, que acaba de nos deixar.

quinta-feira, setembro 07, 2023

"A Arte da Guerra"


Em "A Arte da Guerra", o podcast semanal do "Jornal Económico" sobre temas internacionais, uma conversa minha com o jornalista António Freitas de Sousa, é abordada a situação na Ucrânia (a evolução da guerra no terreno e a demissão do ministro da Defesa), o estado da arte das movimentações pré-presidenciais nos EUA (desde as atribulações de Trump às fragilidades de Biden) e o declínio crescente do papel da França em África. 

Pode ver aqui.

Honrar Eça de Queiroz


Há uns anos, quando vivia em Paris, levei Luís Santos Ferro, um imenso queirosiano, infelizmente já desaparecido, a passar pela primeira casa que Eça de Queiroz tinha habitado, quando para ali fora como representante consular de Portugal. O Luís tinha-me sugerido essa iniciativa, bem como a necessidade de renovação da memória que assinala o local da última morada de Eça de Queiroz. Explicava-lhe eu as peripécias por que então estava a passar, para conseguir colocar uma placa evocativa nesse primeiro edifício, porque os franceses levam essas iniciativas muito a sério, quando recebi do Luís a seguinte reação: “O Francisco devia tentar promover que, em Portugal, os restos mortais do grande Eça fossem para o Panteão!”

Não era coisa em que eu já não tivesse pensado, mas, confesso, à época, nem sequer conhecia bem os mecanismos necessários para dar honras de Panteão Nacional a uma personalidade. E que podia eu fazer para isso? Limitei-me então a alertar, num texto no meu blogue pessoal, para o interesse que haveria em lançar um movimento nacional de apoio à ideia, que me parecia altamente meritória. O meu sucesso imediato foi escasso, mas aprendi na vida que há coisas que precisam de tempo para maturar o seu caminho.

Vale a pena dizer que, por muitos anos, e ao contrário do que sucede em outros países, não foi muito forte, em Portugal, a consciência da importância de uma figura nacional ter os seus restos mortais depositados no Panteão de Santa Engrácia. O atraso da conclusão das obras do edifício também não ajudou a dignificar a simbologia do local, circunstância que foi pretexto para uma graça que atravessou gerações. Decisões discutíveis, na seleção de personalidades a homenagear, não facilitaram igualmente a consensualização do processo. Mas, com o tempo, o regresso de um maior critério e alguma serenidade no debate, o prestígio do monumento foi-se reforçando.

Eça de Queiroz é a única das grandes e indiscutíveis figuras portuguesas que não está no Panteão Nacional? A resposta é não. De facto, como todos sabemos, há grandes personalidades da nossa História e cultura que não estão depositadas naquele espaço. Mas, se refletirmos um pouco, chegaremos facilmente à conclusão de que, na totalidade dos casos para quem essa glória seria, em geral, incontroversa, os seus túmulos estão hoje em lugares com dimensão arquitetónica e simbólica relevante.

Esse não era, até agora, o caso de Eça de Queiroz. Na vida, fui uma única vez ao cemitério de Santa Cruz do Douro, prestar homenagem àquele que considero o maior escritor de sempre da literatura portuguesa. O cemitério é um local com dignidade, tal como o é a sepultura de família em que o escritor se encontra depositado.

Mas há que convir, e creio que dificilmente isso pode ser contestado, que a projeção de uma figura com a dimensão de Eça de Queiroz ganhará imenso em ser destacada num local como o nosso Panteão. O gesto de proceder à mudança dos seus restos mortais para um lugar com forte destaque nacional é um ato que dignificará a memória do escritor, mas que igualmente honrará a generosidade da terra que foi a sua sepultura por todos estes anos.

Eça nasceu na Póvoa de Varzim e morreu em Neuilly, às portas de Paris. O que dele resta esteve acolhido, ao longo de todos estes anos, numa geografia a que uma parte da sua obra ficou para sempre ligada. Ninguém que aprecie Eça de Queiroz esquecerá alguma vez Tormes! As pessoas continuarão a visitar, cada vez mais, o lugar eterno de “A Cidade e as Serras”. Ali pararão com vontade de comer “umas favas”, como as que “rescendiam” noutros tempos. Alguns, mais curiosos, descerão mesmo à estação, à cata da sombra literária do Silvério. Eu, por mim, continuarei a fazê-lo, sempre que puder!

E a grande maioria dos que ainda não tiverem tido o ensejo de ir por ali - portugueses e estrangeiros, crianças das escolas e simples turistas -, quando o circuito da capital os conduzir ao Panteão Nacional, ir-se-ão lembrar, através da presença do grande escritor naquele monumento, que existe uma belíssima aldeia no Douro onde ele soube desenhar, para sempre, com palavras únicas, uma paisagem que é hoje uma visita obrigatória em Portugal.

Apraz-me registar que a excelente iniciativa de trasladar os restos mortais de Eça de Queiroz para o Panteão Nacional, assumida pelo escritor e familiar de Eça, Afonso dos Reis Cabral, presidente da Fundação Eça de Queiroz, tenha sido proposta na Assembleia da República, com completo acordo parlamentar, por José Luís Carneiro, responsável político, parlamentar, antigo governante e autarca de Baião, a terra que acolhe a Fundação e que, para sempre, se manterá, no país, como o lugar de culto da memória do escritor.

(Texto que elaborei em 2021, com destino ao boletim da Fundação Eça de Queiroz, de cujo Conselho Cultural faço parte. Agora que a data da trasladação se aproxima, não sem que uma polemicazita se tenha gerado, como é de bom tom na nossa paróquia político-literária, resolvi deixá-lo transcrito aqui. Leio entretanto que o Círculo Eça de Queiroz se manifestou contra a trasladação (não se escreva transladação, por favor!). Que fique bem claro que este sócio de categoria A desse mesmo Círculo Eça de Queiroz, que o é também do não menos queirosiano Grémio Literário, não acompanha minimamente esta posição institucional do seu clube.)

quarta-feira, setembro 06, 2023

Conselhos

"O Conselho de Estado é o órgão político de consulta do Presidente". Além da dissolução da AR, demissão do governo e coisas de guerra e paz, cabe-lhe "aconselhar o Presidente da República no exercício das suas funções, quando este lho solicitar". E só. "For the record".

Outra gente


Há dias em que percebemos que as coisas têm sempre um outro lado. E que nesse lado, acredite-se ou não, vive gente.

Separações

Nunca tive a menor simpatia pelas causas separatistas em Espanha, mas detesto o discurso radical, com adjetivação indignada e quase insultuosa, utilizado por alguma direita portuguesa sobre Puigdemont e similares. "Mind your own business!"

Ele não vai lá estar

Pelas minhas contas, foi há cerca de 15 anos. Eu ia a um médico, ao Estoril, ao final da tarde. A consulta estava atrasada, pelo fui beber um chá à Garrett, que ficava perto. A certa altura, vejo entrar na sala o meu amigo Caetano da Cunha Reis. Estava de passagem por ali, por qualquer razão. Abraços e tomámos chá juntos. 

O leitor perguntar-se-á: e que é que temos nós a ver com isso? Logo verão. Anoto apenas que o Caetano morava então perto da avenida Álvares Cabral, em Lisboa. 

Passaram mais seis ou sete anos. Marquei consulta no mesmo médico. Ao fixar a hora, que então era de manhã cedo, a senhora do consultório disse-me: "Sabe que a nossa morada mudou?". Não sabia. Estavam então em Lisboa, numas torres longe do centro. Tomei nota. 

No dia da consulta, porque conhecia mal a nova zona, fui com algum tempo, cheguei cedo, estacionei o carro e procurei um café próximo. Era muito pequeno, com poucas mesas. Entrei e, numa delas, quem é que estava? Não me digam que acham normal que o Caetano estivesse, precisamente, àquela hora, naquele esconso café, a dezenas de quilómetros do outro local? A beber um chá. Mas estava.

Daqui a horas, regresso ao mesmo médico. O sítio do consultório, de novo no Estoril, informaram-me, é agora outro. Vou cedo, para descobrir a morada certa. 

Palavra de honra que não vou resistir a entrar no café que estiver mais próximo do consultório. Embora não saiba bem para quê. É que tenho a certeza de que não vou encontrar por lá o meu amigo Caetano da Cunha Reis - com o seu sorriso, a sua barba e a sua amizade. O Caetano deixou-nos, a todos, vai para dois anos. E, podendo haver coincidências, infelizmente milagres não há.

terça-feira, setembro 05, 2023

Exegese de um comunicado


A reunião de hoje do Conselho de Estado - órgão de aconselhamento do presidente da República, relembre-se - acabou emitindo um texto sobre a Ucrânia:

"Quanto ao tema Ucrânia, foi reafirmada a solidariedade e a admiração pela resistência do povo ucraniano e reconhecido todo o apoio que Portugal – com plena concordância entre os órgãos políticos de soberania - tem prestado, nas suas múltiplas dimensões, nomeadamente política, diplomática, militar e humanitária. Foi, ainda, assinalado o compromisso de Portugal no processo de integração da Ucrânia na União Europeia e na NATO."

Interessante texto. Vale a pena relê-lo, nas suas três dimensões.

1. "... foi reafirmada a solidariedade e a admiração pela resistência do povo ucraniano". Uma afirmação "crystal clear", que exprime um sentimento que se sabe amplamente maioritário no país. Nota-se, contudo, a ausência de qualquer referência aos órgãos de Estado e governo de Kiev, frequentemente destacados e mesmo personalizados nas manifestações de apoio político internacional.

2. "... (foi) reconhecido todo o apoio que Portugal tem prestado, nas suas múltiplas dimensões", referindo-se depois a "fórmula" das quatro dimensões que governo e presidentes da República e da AR sempre repetem. É uma constatação em tom positivo, embora o "reconhecido" não vá muito longe em termos de elogio, sobre uma ação da responsabilidade do executivo, o qual sai, mesmo assim, confortado na valia das decisões que tomou, ao afirmar-se que tal foi feito "com plena concordância entre os órgãos políticos de soberania". 

3. "... (foi) assinalado o compromisso de Portugal no processo de integração da Ucrânia na União Europeia e na NATO." . Esta é a expressão para mim mais significativa. Depois da visita do presidente a Kiev, constatou-se que o "compromisso de Portugal" em cada um dos dois processos tinha ficado declinado, em termos de discurso, por Belém e pelo tandem S. Bento/Necessidades, em tons ligeiramente diversos, quer na sua ênfase, quer, em especial, no voluntarismo político e automatismo de etapas que lhes está subjacente. A expressão saída do Conselho de Estado, na sua relativa economia de entusiasmo, fica mais próxima do modo cuidadoso como António Costa tem abordado o problema.

Há dias em que vale a pena ler o que sai de uma reunião do Conselho de Estado, independentemente desse aspeto, neste caso despiciendo, que é saber o que lá realmente se passou.

Espanhas

Em Espanha, Puigdemont estica a corda. Ao colocar condições dificilmente aceitáveis, pode estar a jogar a cartada de novas eleições, em janeiro de 2024. Com toda esta coreografia, assegura maior visibilidade e tenta mostrar-se como detentor de representatividade regional.

Porto sentido

A Porto Editora, ao publicar o novo livro de Cavaco Silva sobre a "arte" de governar, revela estar a regressar à sua histórica missão de editar manuais escolares.

Clássico

As loas a Cavaco Silva nas redes sociais, a propósito do seu novo livro, representam o implícito reconhecimento de que o seu "hemisfério" político (a imagem é de Marcelo Rebelo de Sousa) vive numa tal orfandade que necessita de recorrer aos "clássicos".

segunda-feira, setembro 04, 2023

Sporting

Lá foram mais dois pontos. Depois, no final da época, andamos a contar o "goal average". É assim todos os anos. É mesmo uma sina?

What if ?

Tive agora de explicar a um amigo estrangeiro que Cavaco Silva, com o seu novo livro, não está, de todo, a querer sugerir-se para entrar no vasto pelotão de pré-candidatos da direita, nas presidenciais de 2026. Mas não sei se ele ficou convencido.

domingo, setembro 03, 2023

Chove na Atalaia ?

"O sol brilhará para todos nós" é um velho lema do PCP. Será que a chuva, que agora caiu aqui no bairro da Lapa, também estará, na festa do Avante!, lá pelo Seixal, a molhar os comunistas e os seus "compagnons de fête"? O clima é um grande "equalizer".

Ver os jogos só depois dos 90' já começa a valer a pena!

A decisão de autorizar os árbitros a prolongar o final dos jogos lá para a casa dos 10 minutos, a qual, como é óbvio, terá um efeito irreversível de contágio em todos os apitadores, abrirá caminho a uma imensidão de vigarices, favorecendo os clubes mais fortes e com melhor banco.

... e o lavar dos cestos!

Será a persistência da velha teoria do cesto e dos ovos que faz com que muitos pensem que a área do "centro-direita" ou "não socialista" (como a direita envergonhada se autoqualifica) continua mais próxima de voltar a Belém do que a S. Bento?

Está tudo dito!

Até lá?

Os portugueses já só pensam nas presidenciais? E então?! Ainda dizem que não sabemos preparar o futuro, que não planeamos, que não temos pensamento estratégico. Aqui está o desmentido: olhar em frente, visar o pós 2026, projetar uma visão para o que resta do século XXI. E até lá? Até lá? Até lá, gozem o cafezinho no intervalo.

O Sumol e os meus dias de verde


Há pouco, no Twitter, constatei que o Sumol aparece como o nome da "soft drink" que internacionalmente mais é associada a Portugal. É interessante notar como esta "laranjada" (era assim que se dizia) tem perdurado no tempo e, à sua medida, tem conseguido sobreviver à concorrência das marcas estrangeiras. 

Do mesmo modo, o Sumol pôs de lado muitos refrigerantes locais - de laranjadas a pirolitos e colas - que chegaram a fazer o orgulho bairrista de certas cidades. Recordo-me que, na Vila Real da minha juventude, havia por lá uma certa laranjada Aleo, cuja composição química era um mistério, com a única certeza de a ligação à fruta ser manifestamente bem longínqua. Dizia-se, a gozar, que os chapeiros das oficinas de automóveis usavam a Aleo como decapante, para retirar a tinta...

Tenho uma ternura pelo Sumol. Nos meses da recruta na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, naquelas horas chatíssimas em que nos mandavam em exercícios, pelas traseiras da unidade até ao chamado Alto da Vela, fronteiro à estrada que leva para o Juncal (na imagem), vinha colocar-se estrategicamente junto ao muro uma carrinha, em cujo tejadilho surgia um vendedor de garrafas de Sumol. 

Quando a instrução se suspendia para um descanso, deixada a nossa G3 ao cuidado de colegas, era ver-nos descer, em bandos, de lá de cima, de junto às árvores, para comprar o refresco que nos ajudava a matar a sede e entreter o tédio. Até que o comandante de pelotão dava por fim o intervalo e chamava os "nossos cadetes" para a retoma desses infernais dias "de verde".

Foi há uns exatos 50 anos, mas parece que foi, não digo ontem, mas, vá lá!, anteontem.

sábado, setembro 02, 2023

Jornalismo


A partir da Ucrânia, Sérgio Furtado tem feito, para a CNN Portugal um trabalho notável de reportagem. Sereno e equilibrado, com uma linguagem enxuta, desadjetivada e uma leitura dos factos com o rigor que as circunstâncias permitem, é imensamente justa a atribuição deste prémio.

Isto

 


Domus municipalis


É em Bragança, dentro do castelo. A tradição diz ser um espaço que, na época medieval, era usado para as conversas entre os munícipes, sobre assuntos da urbe. 

A cada dia, sinto o espaço de comentários deste blogue a desempenhar essa função. Eu, como já devem ter notado, quase não me meto... Já pensei mesmo cobrar inscrições!

sexta-feira, setembro 01, 2023

Isto

"Ventura admite apoiar Passos Coelho ou Gouveia e Melo" - no oráculo de uma televisão. É preciso dizer mais alguma coisa?

quinta-feira, agosto 31, 2023

Trabalho em férias...

 


Salut, Paris!


Deixo aqui uma saudação à cidade de Paris onde, no final do dia de hoje, será posto um ponto final à circulação das famigeradas trotinetes elétricas de aluguer - uma decisão que Lisboa e a generalidade das cidades portuguesas deveriam ter a coragem de tomar, a bem do bem-estar coletivo.

G20

Xi Jin Ping e Vladimir Putin não vão estar presentes na próxima reunião do G20, na Índia. Claramente, querem desvalorizar um encontro de onde não irá sair o menor consenso, dada a expectável intenção dos representantes do mundo ocidental de aí abordar a questão ucraniana.

"A Arte da Guerra"


Nesta sua segunda edição, depois de férias, "A Arte da Guerra" traz uma análise à deslocação de Marcelo Rebelo de Sousa à Ucrânia e uma reflexão sobre o futuro do grupo Wagner na manobra político-militar russa, uma atualização do estado da arte na política espanhola (com o "beijogate" pelo meio) e uma avaliação do papel internacional do Brasil de Lula, dos BRICS à CPLP, passando por Angola e pelas ambições na ONU. 

Pode ver e ouvir aqui.

"Vocês sabem lá..."

Acabo de ver um vídeo em que um jovem participante na "universidade de verão" do PSD trata o presidente da República por "você". 

Nada de novo: trata-se do conhecido virus do "você" - essa cada vez mais difundida praga, para a qual ainda só há a vacina da boa educação, mas que se não vende nem nas farmácias nem nos bares de "shots".

Adieu, Françafrique !

Por décadas, Paris habituou-se a ver a sua influência "respeitada" em África, embora a "Françafrique" tivesse vindo a dar, nos últimos tempos, sinais de um crescente declínio. 

Agora, quase de um momento para o outro, Paris vê a "sua" África sub-saariana começar a cair como um castelo de cartas. A isto há que somar o degradado estado atual das relações com Marrocos, a Tunísia e a Argélia. 

Emmanuel Macron pode vir a ficar, na história francesa, como o titular de um inédito tempo de afastamento com a África, que já não parece ser recuperável. 

De Gaulle e Foccart devem estar a dar voltas nas tumbas.

"A Arte da Guerra"?


Vem aí em breve um novo "Blake & Mortimer", da já longa série feita "d'après Edgar P. Jacobs". Escusavam era de copiar o nome - "A Arte da Guerra" - do nosso podcast no "Jornal Económico"! Já bem bastava ter aparecido um (recente) chinês chamado Sun Tzu a fazer o mesmo...

quarta-feira, agosto 30, 2023

Que dias!


Por que será que, nestes dias de regresso a Lisboa, arrasado de férias, me invade uma insuperável moleza que me trava qualquer tentativa de escrita decente, que me impele a uma sesta depois de almoço e a um copo de branco antes do jantar? Por este andar, qualquer dia, tenho mesmo de pensar em me reformar.

terça-feira, agosto 29, 2023

Isto!

 



 

Aa férias já eram ! (13)

 


As férias já eram ! (12)

As férias já eram ! (11)

 


As férias já eram ! (10)


As férias já eram ! (9)


As férias já eram ! (8)

 


As férias já eram ! (7)



As férias já eram ! (6)

 


As férias já eram ! (5)

 


As férias já eram ! (4)

 


As férias já eram ! (3)


As férias já eram ! (2)

 


As férias já eram ! (1)

 


segunda-feira, agosto 28, 2023

Qual é a pressa?

De um momento para o outro, em meados de 2023, a direita decide discutir o nome do seu candidato a umas eleições que terão lugar em janeiro de ... 2026! 

Não têm mais nada que fazer?

João da Câmara


Quando, há quase 25 anos, convidei o João da Câmara para ser meu chefe de gabinete, ao tempo que era secretário de Estado dos Assuntos Europeus, "esqueci-me" de lhe perguntar o que é que ele era politicamente. Quem, durante esses cinco anos e meio, trabalhou no meu gabinete - e estamos a falar de quase quatro dezenas de pessoas - pode testemunhar que essa pergunta nunca foi colocada a ninguém. 

Mas pus-lhe uma questão: "Você gosta de fado?". Ao contrário de mim, que adoro fado e do castiço, constatei que o João não apreciava. Logo ele, que era filho de Vicente da Câmara (esse mesmo, o das "Tranças Pretas"), sobrinho de frei Hermano da Câmara e irmão de José da Câmara, para além de primo dos inúmeros Câmara Pereira! Mas o João, pelos vistos, não era muito de fados.

Conheci o João nos anos 80, então um jovem diplomata, recém-entrado para a carreira Era um homem sereno, educado e atencioso, com um sorriso bom e uma imensa capacidade de diálogo, com uma conversa que encantava as mulheres. Convidei-o para chefiar o meu gabinete num período bem complicado - a presidência portuguesa da União Europeia, em 2000. Viajámos imenso, pela Europa e não só, com ele, discreto e extremamente eficaz, a aturar-me algumas impaciências, a organizar as minhas agendas e a resolver (bem) muitos problemas, a montante de eu ter de os enfrentar. 

No final desse exercício, exausto como estava pelo trabalho executado, o João foi merecidamente colocado em Londres. Por lá o fui encontrar, meses mais tarde, num jantar em sua casa, em Wimbledon, quando me confessou: "Bons tempos foram os seus aqui por Londres, Francisco, quando o salário dos diplomatas portugueses permitia viver no centro da cidade. Agora, só dá para estar na periferia ..." Era verdade.

Com os ciclos profissioniais e as distâncias a separarem-nos, fomo-nos perdendo de vista. Íamos tendo notícias um do outro, através de amigos comuns. Soube das suas estadas como embaixador no Zimbabué, em Angola, na Índia e no Canadá, que foi o seu último posto, onde me desafiou a ir fazer umas palestras, ideia que as circunstâncias vieram a tornar inviável.

Um dia, tive o gosto de recomendar o seu nome para uma delicada função oficial, que ele veio a cumprir com o rigor e a imparcialidade do grande servidor do Estado que sempre foi. Na ocasião, perguntaram-me:"Tem, por acaso, ideia do que é que ele é, politicamente?" Não sei se acreditaram, quando respondi que não fazia a menor ideia.

Há poucos meses, jantámos, num grupo de amigos. O João dava evidentes sinais dos efeitos de uma grave doença de que padecia, desde há vários anos. Acabo de saber que morreu. Os meus sinceros sentimentos à família do meu amigo João da Câmara.

domingo, agosto 27, 2023

Almoço na Catedral

 


Academia Socialista


Fui convidado a intervir na Academia Socialista, promovida pelo Partido Socialista, pela Juventude Socialista e pelo Grupo dos Eurodeputados Socialistas Portugueses, destinada a 80 jovens entre os 18 e os 30 anos.

Na minha intervenção, que terá lugar no dia 8 de setembro, em Évora, abordarei o papel do Multilateralismo no atual contexto geopolítico internacional.

sexta-feira, agosto 25, 2023

Grande Caminha!


É extraordinário encontrar, numa terra como Caminha, uma variedade de oferta de imprensa como a da Tabacaria Gomes. Sem contar com a também clássica Tabacaria Atenas. Viva o papel!

Prigozhin

Não iremos saber tão cedo quem matou Prigozhin. E, quando surgir a versão oficial, muitos não acreditarão nela. Uns por mero viés anti-Rússia. Os mais sensatos porque é hoje evidente a falta de independência e, por essa razão, de credibilidade das atuais instituições russas.

Bolas!

Agora a sério: passa pela cabeça de Luis Rubiales, presidente do futebol espanhol, que tem alguma hipótese de se manter no cargo? Há cada cromo!

Turismo

Hoje deu-me para ir ao estrangeiro. Fui a Tuy, para ver se havia manifestações contra ou a favor de Luis Rubiales, o beijoqueiro presidente da liga da bola de lá. Mas estava tudo a fazer a sesta. Meti gasolina (desculpa, Fernando Medina!) mais barata e regressei logo a Valença.

Vamos então a isto!


quinta-feira, agosto 24, 2023

O efémero

A intensidade dos comentários televisivos que faço sobre a guerra na Ucrânia está a criar em mim uma insuperável retração a escrever seja o que for sobre o tema. Fico com a sensação de que já disse tudo o que queria dizer e que, acabado que seja qualquer texto, factos novos o tornarão rapidamente irrelevante. Tenho de pensar melhor sobre isto.

quarta-feira, agosto 23, 2023

Adeus, Linda!

Telefonei hoje para um (bom) restaurante em Viana do Castelo, a marcar uma mesa para sábado: "Só marcamos às 19:30 ou depois das 21:30, mas na condição de poder ter de esperar". Não janto à hora do lanche nem pago caro para ter de esperar. Desejo muito boa sorte à Tasquinha da Linda. Sem mim, claro.

É assim!

Em Espanha, a história da agressão sexual a uma jogadora de futebol não apenas diluiu o que deveria ter sido o júbilo nacional pela conquista do título mundial como está a marcar a agenda pública de tal forma que quase compete com a discussão sobre a formação do governo.

Sorry!


Eu sei que estou em atraso na publicação da minha última lista de restaurantes, a que refere Lisboa e arredores - localidades como Moscavide, Estoril, Queijas, Cascais, Linda-a-Velha e lugares assim. Peço um pouco mais de paciência. A vida, no Minho, tem sido dura...

A cor dos meus dias

 


terça-feira, agosto 22, 2023

Lá por Vila Real...


Com esta temperatura, a minha mãe punha-me mais dois cobertores, dava-me sumo de laranja e mandava chamar o dr. Tibúrcio.

É só para saber!

Se o presidente da federação espanhola de futebol, que deu um beijo na boca da jogadora, fosse uma mulher, será que se tinha levantado todo este escarcéu?

Saída?

 


Será mesmo esta a saída?

segunda-feira, agosto 21, 2023

Ainda há o VAR, claro!

Com todo o respeito, institucional e pessoal, que (com toda a sinceridade) me merecem o presidente da República e Marcelo Rebelo de Sousa, acho que ainda há muito de João Galamba no veto presidencial de hoje. O país assiste a um jogo Costa-Marcelo que só espero não vá a penaltis.

Quando...


 .... for grande, quero ser magistrado!

Guerra é guerra

Hoje, a guerra muda de terreno. De Zaporizhzhya e Bakhmut, passa para a habitação e para os professores. À noite, no comentariado, Zelensky e os F16 serão substituídos por Marcelo e os decretos. Ambos irão ter oportunidade de falar, daqui a dias, sobre as respetivas guerras.

domingo, agosto 20, 2023

Sérgio Vieira de Mello - 20 anos


“Você sabe, Francisco, só me aparecem desafios que não consigo recusar!” – foi a frase que retive da última conversa com Sérgio Vieira de Mello, quando lhe telefonei, de Viena para Genebra, a desejar sucesso para a sua nova missão em Bagdad. Ironizámos então com o facto de Paul Bremer, o primeiro "administrador" americano no Iraque, com quem Sérgio teria que se articular, ter coincidido comigo em posto diplomático na Noruega, nos idos de 70: prontifiquei-me para "meter uma cunha", se ele precisasse…

Só conheci pessoalmente Vieira de Mello em Setembro de 1999, quando o protocolo nos sentou lado-a-lado, num almoço em Nova Iorque. Acabara, há pouco, a sua missão nos Balcãs e entre nós passou, de imediato, uma corrente de empatia luso-brasileira, logo cimentada pelo mútuo culto do humor. Recordo-me de termos falado da possibilidade de ele chefiar a nova missão da ONU em Timor, ainda semanas antes de Kofi Annan lhe propor o lugar. Eu não tinha a pretensão de estar a ser presciente: limitava-me a ecoar o nome prestigiado que circulava já por alguns corredores, afirmando-lhe a certeza antecipada de que o Governo português o acolheria com muito agrado. Na altura, Sérgio retorquiu-me, com o seu sorriso confiante, que não, que “ia precisar de algum tempo para descansar”. Felizmente, isso acabou por não acontecer.

Sérgio Vieira de Mello fez em Timor um trabalho notável, como várias vezes tive ocasião de referir, em nome de Portugal, em intervenções no Conselho de Segurança da ONU. E – confesso – fi-lo com uma sinceridade que nem sempre é regra nos discursos oficiais. Com ele combinei, nas derradeiras fases do processo pré-independência, o tom comum das nossas intervenções em Nova Iorque, por forma a garantir o apoio que o secretário-geral da ONU e o Governo português entendiam necessário que fosse dado aos timorenses pela comunidade internacional, nos difíceis anos que se seguiriam. Recordo também os pedidos que fez, por meu intermédio, para que Portugal “deixasse cair”, a nível adequado, palavras de acalmia e bom-senso junto de responsáveis políticos de Timor, a fim de atenuar alguns litígios menores, mas que ameaçavam a estabilidade do processo interno.

Em Novembro de 2002, convidei Sérgio Vieira de Mello para ir a Viena, falar ao Conselho Permanente da OSCE, já na sua qualidade de Alto-Comissário da ONU para os Direitos Humanos. Foi uma sessão memorável, que gerou um debate interessantíssimo, em que o à-vontade diplomático de Sérgio sublinhou o seu profundo conhecimento da situação internacional. Mas que também revelou a firmeza das suas convicções. No almoço em minha casa que se seguiu, e perante uma observação mais tensa avançada pelo meu colega americano, não deixou de lhe recordar que os prisioneiros de Guantanamo “não vivem na Lua” e que, também a eles, se deviam aplicar, em pleno, “todos os Direitos Humanos devidos aos cidadãos da Terra”.

Foi em 19 de Agosto de 2003 que Sérgio Vieira de Melo morreu, de forma violenta, em Bagdad.

sexta-feira, agosto 18, 2023

"Já não é o que era..."



Sei que a alguns poderá parecer uma mania algo masoquista. Desde há anos, decidi ir dormir, de quando em vez, a unidades hoteleiras que um dia já estiveram no topo do imaginário turístico português e que, por uma razão ou por outra - sendo o tempo e o uso intensivo as principais dentre elas -, entraram num processo de decadência. 

Claro que só visito unidades que ainda conservam alguma qualidade e charme, com pormenores arquitetónicos ou de decoração que guardaram memória dos velhos e mais gloriosos tempos. E, obviamente, só hotéis que nunca desceram abaixo das "4 estrelas"; é que já não tenho idade para sacrifícios...

Não farei aqui a lista nominativa dessas históricas unidades hoteleiras, por razões de simpatia para com o esforço que, nos dias de hoje, é feito para a sua manutenção. Umas mantêm ainda algum brio residual, outras deixaram-se cair, por falta dele. O serviço, em algumas, ainda é esforçado e cordial, em outras é penosamente burocrático, quase "de Leste", sem estímulo nem estamina, quiçá devido a salários menos apelativos. É a vida!

Não tarda muito que eu conclua o meu percurso por esse Portugal hoteleiro da série "já não é o que era...". No dia de hoje, estou precisamente numa dessas unidades.

quinta-feira, agosto 17, 2023

As Festas!


Com pena o digo: este ano não vou às Festas! Vou ter de faltar àquela que é, lá por Viana do Castelo, a maior e a mais animada romaria do país. Vai-me fazer falta o ruído dos bombos na Praça e aquela agitação pelas ruas. Mas a vida é assim. Num passado recente, até já fui presidente de honra das Festas de Nossa Senhora da Agonia - e nem imaginam o prazer e a honra que tive em aceitar o convite. Quem não conhece as Festas de Viana não sabe o que perde! 

Deixo-os com o cartaz da primeira romaria da Senhora da Agonia a que "assisti": 1948.

A inveja da sarjeta

Há pouca coisa que, na nossa terra, irrite mais os medíocres: ver alguém destacar-se. Por isso, porque já perceberam que não conseguem sair ...