Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos.
São quase 700 páginas (isso mesmo!) de crónicas das minhas andanças político-diplomáticas, com um prefácio de Jaime Gama e uma introdução a que deliberadamente dei o nome de "Isto não são memórias". O volume recolhe lembranças avulsas, episódios de 1975 em diante.
Última nota. Por minha decisão, metade dos direitos de autor, resultantes da venda deste livro, serão entregues pela editora à APDP - Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal.
Um ignoto secretário da Defesa americano ficou famoso um dia por ter afirmado que "o que é bom para a General Motors é bom para a América".
Como agora se viu no caso de Israel e da Palestina, nem sempre o que é bom para os EUA é bom para todos os seus aliados.
Na votação na Assembleia Geral das Nações Unidas. Parabéns a António Costa e João Gomes Cravinho. E a Marcelo Rebelo de Sousa, que seguramente esteve solidário com esta posição. Uma política externa constrói-se com coragem e com valores. E Portugal teve-os. No sítio onde se vota.
Em boa hora chegámos porque, pouco tempo depois, houve uma enchente e a Varina passou a não ter um único lugar vago. Ao casal estrangeiro que já lá estava, que meteu conversa connosco, explicámos que a mesa onde se sentavam era a que habitualmente era ocupada por José Saramago. Eram canadianos, muito simpáticos e achavam, sinceramente, que Saramago era espanhol. Ela tinha lido o "Ensaio sobre a Cegueira", ele era cultor de "slow food", o que se notava pela calma com que ia debicando o que tinha à frente. Viram-nos comer umas pataniscas e uns grenadinos de vitela (é o único sítio onde ainda encontro, com esse nome, aquela espetada de vitela com bacon), duas coisas que quase sempre pedimos por ali. Saímos com eles a encomendar os grenadinos, comigo na esperança de que não achassem que, aqui por Lisboa, "a carne é fraca"...
Gostei de regressar à Varina, onde julgo que não ia (não, não é "desde a última vez que lá fui", como diria o venerando Thomaz) desde a última noite de Santo António em que, como em outros anos, por lá reuni mais de uma dezena de amigos à volta das sardinhas e das febras. Ontem, foi mais uma noite boa na Madragoa.
A maior ironia do Médio Oriente é que se alguém for apanhado a dizer que é 100% favorável à existência do Estado de Israel, com fronteiras seguras e internacionalmente reconhecidas, é tido por hostil ao governo israelita. Porquê? Porque Israel não aceita essas fronteiras.
Ontem, telefonou-me um amigo, colega diplomata, com quem vou falando episodicamente pelo telefone, dada a dificuldade em nos encontrarmos.
Ouve-me em aparições televisivas e quis transmitir-me um sentimento: a sua profunda preocupação sobre o momento que o mundo atravessa, em face do que considera ser a conjugação "perfeita" de fatores de instabilidade, que pode facilmente levar a uma tragédia. Falámos quase uma hora. Coincidimos em muitas coisas, divergimos marginalmente em algumas.
Ele vê bastante televisão, imagens das guerras. Ouve comentários, avalia opiniões e tem juízos muito ponderados - quatro décadas de diplomacia ajudam muito. Tem vivido os últimos dias marcado pelos acontecimentos, embora com sentimentos interiores que confessa serem, às vezes, algo contraditórios.
Julgo que ficou chocado quando lhe disse que, desde há muito tempo, sou quase incapaz de assistir a um telejornal, de ouvir um debate televisivo, mesmo na "minha" CNN. E surpreendeu-se ao saber que, para me informar, apenas leio textos, muitos textos, e que deixei, quase em absoluto, de ver imagens de atualidade. E que, nos dias de hoje, me encharco de futebol, de Mezzo e de filmes "light", sem dramas nem sentimentos profundos. Ele sabe que, além disso, continuo a trabalhar bastante - e que o trabalho, desde que me conheço, entretem-me muito e, em geral, até me diverte.
Cada um de nós tem a sua forma de estar no mundo. Mas, curiosamente, mantemo-nos de acordo no essencial, como sempre aconteceu. E, em comum, comungamos hoje uma forte preocupação.
Na Polónia, o partido mais votado vai, muito provavelmente, perder a chefia do governo, com os restantes a entenderem-se para criar uma nova maioria.
Estou a tentar lembrar-me do nome do país onde, há oito anos, uma solução similar foi acusada de ser anti-democrática.
Nunca fui um homem das manhãs. Sou mesmo um assumido "late riser". O silêncio da noite e das madrugadas é-me essencial para a leitura e trabalho. Mas, às vezes, abro algumas exceções, nesta década de "novas profissões" que levo como "ex-reformado", como alguém costuma chamar-me.
Fiz parte, por vários anos, de uma tertúlia de discussão sobre temas económicos e sociais, com uma dezena de pessoas, que se reunia, cerca de duas vezes por mês, das nove e meia às 11 da manhã. Nem um minuto mais. E era um belo exercício. Um dia, por razões que não vêm ao caso, teve de acabar.
Também no âmbito de uma empresa de que sou consultor, organizo, desde há vários anos, a audição de personalidades com funções ou conhecimentos relevantes, em torno de pequenos-almoços de trabalho. Essas pessoas fazem uma curta palestra, a que se segue um período de debate, que me cabe coordenar. Os convidados para ouvir o orador são umas dezenas de gestores de topo, oriundos de empresas de diversos setores. É gente muito ocupada, que tem muito pouco tempo: o exercício começa assim às oito e meia e termina exatamente uma hora depois. Ontem, foi mais uma dessas ocasiões. Uma excelente apresentação e uma bela discussão.
Não duvido que as novas gerações serão a principal alavanca para garantir uma mudança de atitude da sociedade face à questão ambiental. Mas duvido que essa mesma sociedade algum dia venha a aceitar que isso possa ser feito pelo recurso a ações à margem da ordem (que, relembro, é) democrática.
Foi bastante criativo o poema lido por A Garota Não nos Globos de Ouro, no qual usou, a certa altura, a expressão "a sorte que tive deu-me muito trabalho", ou uma coisa parecida. A artista, claro, não reivindicou a paternidade (deverei dizer maternidade?) da expressão, mas houve, nas redes sociais, quem achasse a frase uma original "trouvaille".
Há por aí uma pequena confusão na análise dos dissídios europeus. Convém, assim, separar as águas. Os governos polaco e húngaro têm vindo a mostrar, desde há anos, comportamentos inconformes com os tratados europeus, em especial pela falta de respeito pela separação de poderes e outras "malfeitorias" anti-democráticas. Por essa razão, vivem sob escrutínio das instâncias comunitárias competentes. Curiosamente, a Polónia é ferozmente anti-russa (embora tenha tido um recente e pontual conflito cerealífero com a Ucrânia) e a Hungria é precisamente o contrário (embora com idêntico problema com Kiev). Surge agora, no mercado da polémica, o caso da Eslováquia, por coincidência também com um conflito com a Ucrânia por virtude dos cereais. Se, como tudo o indica, um futuro novo governo eslovaco vier a mostrar-se mais favorável a Moscovo e mais distanciado do apoio europeu maioritário à Ucrânia, nomeadamente opondo-se à entrada desta na NATO, a Eslováquia em nada incumprirá com os tratados europeus. O facto de não gostar do governo de Zelensky não tornará o novo líder popular junto da maioria dos parceiros europeus, mas, até prova em contrário, não o faz incorrer em qualquer ilegalidade face ao normativo comunitário. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Ontem, uma prima ofereceu-me duas sacas de figos secos. Não lhes digo quantos já comi. Há poucas coisas no mundo gustativo de que eu goste m...