"Só o tempo nos dará bem a noção do tempo, e dos estragos feitos nesse tempo, que estes quatro anos de Donald Trump fizeram perder ao mundo. No que toca à Europa, de cuja unidade no pós-2ª Guerra Mundial os Estados Unidos foram o grande promotor, a América de Trump revelou-se um aliado hostil, agravando o relacionamento com os parceiros e favorecendo mesmo alguns fatores desagregadores, como o Brexit. A meu ver, a grande distância, contudo, a mais gravosa atitude de Trump foi a sua oposição ao Acordo de Paris, um passo vital para a sobrevivência da humanidade, que o presidente americano tornou refém de interesses económicos de curto prazo. A reversão dessa insensatez foi já anunciada por Joe Biden. Esperam-se também da nova administração, ainda na área multilateral, gestos concretos para recuperar o caos que os EUA induziram na funcionalidade da Organização Mundial de Comércio, bem como na revitalização e credibilização da Organização Mundial de Saúde. E um regresso à Unesco. No plano bilateral, veremos se a sintonia que os democratas têm com os republicamos na questão da China se expressa ou não num discurso diferente. O possível regresso dos EUA ao acordo gizado pela administração Obama, com aliados europeus, para conter as ambições nucleares do Irão é outra das questões a observar. Do mesmo modo, como se comportará a nova América quanto a outros “avanços” entretanto ocorridos no cenário do Médio Oriente. A embaixada dos EUA volta a Tel-Aviv? E as relações com a Rússia? Depois das “cumplicidades” de Trump com Putin, que fará Biden? E a Coreia do Norte? E a Venezuela? E Cuba? E Guantanamo? A prometida “Cimeira das Democracias” pode fazer perigar a inclusividade da ordem internacional, tutelada pelas Nações Unidas, introduzindo uma nova clivagem à escala global? Até ver, António Guterres tem razões para dormir descansado - e razões para crer que o poderá continuar a fazer em Nova Iorque no próximo quinquénio."
1 comentário:
Esperam-se também da nova administração, ainda na área multilateral, gestos concretos para recuperar o caos que os EUA induziram na funcionalidade da Organização Mundial de Comércio
Pois, pois. Biden já começou a prometer sanções comerciais ao Brasil, caso este não pare o abate de árvores na Amazónia. Ora, o caminho das sanções comerciais é o caminho do caos comercial.
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