Estávamos nos sofás do King David Hotel, em Jerusalém. Mário Soares tinha acabado de ter uma conversa solta com jornalistas portuguesas.
Por esses dias, viviam-se por ali tempos de imensa tensão. Três dias depois, o primeiro-ministro israelita seria assassinado.
Era a primeira visita de um presidente da República portuguesa a Israel e, depois, a Gaza. Eu era o membro do governo, recém-empossado, que acompanhava o chefe do Estado.
Soares recordou que aquele mesmo edifício fora objeto, em 1946, de um ataque bombista de um grupo radical judeu, o Irgun, que havia vitimado cerca de uma centena de pessoas, entre as quais uma trintena de oficiais britânicos. Um dos responsáveis pelo ataque foi Menachem Begin, mais tarde primeiro-ministro de Israel.
- Ó Mario, que conversa mais despropositada para quem vai dormir aqui! Bom, vou-me deitar, disse Maria Barroso, de quem os presentes se despediram.
O olhar atento de Soares seguiu-a até ao elevador, com um enigmático sorriso nos lábios. Quando a figura da sua mulher desapareceu do horizonte, com uma gargalhada, pediu:
- Ó Zé Blanco, agora que a Maria de Jesus já foi para o quarto, traga lá "A Relíquia" para nós recordarmos o que o Raposão dizia sobre a Terra Santa...
O meu amigo José Blanco e outros presentes na conversa recordar-se-ão.
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