sexta-feira, novembro 06, 2020

“Isto é pior que Braga, Topsius!”


Foi há 25 anos, nos primeiros dias de novembro. 

Estávamos nos sofás do King David Hotel, em Jerusalém. Mário Soares tinha acabado de ter uma conversa solta com jornalistas portuguesas. 

Por esses dias, viviam-se por ali tempos de imensa tensão. Três dias depois, o primeiro-ministro israelita seria assassinado. 

Era a primeira visita de um presidente da República portuguesa a Israel e, depois, a Gaza. Eu era o membro do governo, recém-empossado, que acompanhava o chefe do Estado.

Soares recordou que aquele mesmo edifício fora objeto, em 1946, de um ataque bombista de um grupo radical judeu, o Irgun, que havia vitimado cerca de uma centena de pessoas, entre as quais uma trintena de oficiais britânicos. Um dos responsáveis pelo ataque foi Menachem Begin, mais tarde primeiro-ministro de Israel. 

- Ó Mario, que conversa mais despropositada para quem vai dormir aqui! Bom, vou-me deitar, disse Maria Barroso, de quem os presentes se despediram.

O olhar atento de Soares seguiu-a até ao elevador, com um enigmático sorriso nos lábios. Quando a figura da sua mulher desapareceu do horizonte, com uma gargalhada, pediu:

- Ó Zé Blanco, agora que a Maria de Jesus já foi para o quarto, traga lá "A Relíquia" para nós recordarmos o que o Raposão dizia sobre a Terra Santa...

O meu amigo José Blanco e outros presentes na conversa recordar-se-ão.

Sem comentários:

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...