sábado, novembro 07, 2020

O carteiro



Hoje, no DN, li um carteiro queixar-se da sua categoria profissional não ter ainda sido destinatária de um agradecimento público, pelo trabalho que executam, com os riscos inerentes, neste tempo de pandemia.

Humanamente, percebo-os, mas também eles já devem ter entendido que a imagem dos CTT se degradou muito, com efeitos no seu reconhecimento público, a partir do momento em que a empresa foi privatizada. Privatizada, sublinhe-se, quando era lucrativa e esse lucro ia para o erário público. Privatizada, assim, por uma mera decisão ideológica, tornada mais evidente ao ter sido ainda dada, como brinde no negócio, uma licença bancária. É que se era para melhorar a rentabilidade ou a qualidade dos serviços, o resultado aí está, bem à vista. Os CTT de hoje pouco têm a ver com os “Correios” que conhecíamos no passado. O seu serviço desceu a níveis inimagináveis, com uma imprevisibilidade de entrega da correspondência que os torna praticamente inúteis em casos de urgência.

As suas lojas converteram-se numa espécie de tabacarias, com os pobres dos empregados, muitos deles com um ar embaraçado, a serem forçados a tentar impingir-nos lotarias e bugigangas. Essa mudança de cultura de negócio confere à imagem dos honrados profissionais, que têm a seu cargo essa coisa da maior responsabilidade que é levar uma comunicação privada ou uma encomenda de valor, um ar de banalidade feirante, de ânsia obsessiva pelo lucro, que reduz fortemente a confiança na seriedade do seu trabalho. E o “llega cuando llega”, agora associado à incerteza na entrega da correspondência, acaba por ser a cereja no bolo da sua descredibilização profissional. 

Sei do esforço, para produzir melhorias, que hoje existe, por parte de quem tem a responsabilidade de gerir os CTT. Mas essas pessoas, bem como os trabalhadores da empresa, não escapam a ser hoje as caras do “pecado original” que foi colocar em mãos privadas um serviço público essencial. E pagam, inevitavelmente, por isso.

Deixo-os com um carteiro de outros tempos: aqui.

5 comentários:

Carlos Diniz disse...

A privatização dos CTT não era uma das medidas acordadas com a Troika, que o PS se viu forçado a assinar depois da desastrada, para não dizer quase criminosa, gestão de José Sócrates?

João Cabral disse...

Portanto, por trabalharem nos CTT privados, os carteiros (trabalhadores, note-se) não merecem uma nota especial. Oh senhor embaixador... Não se misture alhos com bugalhos. E bugigangas já se por lá se vendiam antes da privatização.

Francisco Seixas da Costa disse...

João Cabral. Ninguém disse que eles são culpados mas, quando uma empresa funciona mal, como é manifestamente o caso, os respetivos trabalhadores, que dela são a cara, são a linha da frente que paga esse descontentamento. Quanto à palavra pública, quem a pode e deve fazer que a faça. Quanto às bugigangas, tudo se agravou muito. Em outros tempos, eram quase só livros.

Anónimo disse...

Sócrates não teve uma gestão criminosa, como Carlos Diniz diz, de algum modo fazendo eco do que a Direita - PSD/CDS/IL/Chega - vão ladrando. O Governo de Extrema-Direita de Passos/Portas é que foi criminoso na forma como geriu a crise que se seguiu ao governo de José Sócrates.
Não sou, longe disso, simpatizante quer de Sócrates, quer mesmo do PS, mas foi a crise financeira, que a Banca internacional deu origem, que provocou a situação com que o Governo do PS/Sócrates, aqui e outros em Espanha, Itália, Grécia, etc, se tiveram de confrontar. No caso de Espanha, foram pedidos à Troika uns 150 mil milhões de EUR, sendo que mais de 90% dessa quantia foi directamente para a Banca espanhola salvar a pele, que os contribuintes espanhóis tiveram de pagar. Na Grécia, foram cerca de 100 mil milhões de EUR, cerca de metade daquilo que foi solicitado à Troika. No nosso caso, na altura foram 12 mil milhões de EUR, mas, que com o passar dos tempos, hoje já ultrapassa os 20 mil milhões de EUR.
Em resumo, Sócrates tinha um plano, aliás aprovado pela C.E e por Berlim, de PEC em PEC (foi até ao IV) que lá ia tentando resolver a situação. Mas, com a Banca portuguesa completamente endividada a outros Bancos estrangeiros (sobretudo Alemães, Franceses e espanhóis), começou o corte ao crédito a empresas e a partir dali foi o colapso gradual de várias empresas e o início de uma crise que acabou como sabemos, com a Extrema-Direita - Passos/Portas (que parece querer ser candidato presidencial em 2026!!) a ajoelhar-se perante a Troika e a aproveitar para impor um modelo Neo-Liberal que destruiu a classe média, levou à emigração de muitos quadros nossos, e jovens, e pôs o País na bancarrota.
Portanto, criminosos foram a Banca (portuguesa e estrangeira), os sistema financeiro internacional e o governo abjecto de Extrema- Direita de Passos Coelho e Paulo Portas.
a)Júlio D

Carlos Diniz disse...

"Vão ladrando"?
E que tal se o senhor anónimo das 00:24 fosse educado e comentasse dignamente?
Experimente, vai ver que não custa!

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