quinta-feira, novembro 12, 2020

As meninas da rampa


Quem se lembra? Era a meio da rampa do Calvário, lá por Vila Real, nos tempos em que o fluxo de trânsito era outro.

Os instrutores de condução levavam por ali os instruendos a aprender a fazer “inversão de marcha” - tal como os ensinavam a estacionar entre as árvores, a caminho da Meia Laranja. Os carros eram sempre uns Volkswagen ”carocha”, com dois volantes.

Era então uma delícia ver os atrapalhados alunos a fazer “ponto de embraiagem”, para a frente e para trás, com as mudanças “a arranhar”, fortes gemedeiras do motor, frequentemente a “ir-se abaixo”.

Lembro-me de meninas de pescoço esticado para os retrovisores, bem agarradas ao volante, afogueadas e coradas, pelo esforço que lhes era exigido, somado à “vergonha” pelos nossos olhares e ditos atrevidos. Elas apressadas pelo embaraço, nós sem ter nada para fazer, na cidade chata de então.

E recordo-me bem do olhar feroz do senhor Miguel do Bazar, de cotovelo de fora da janela da porta do carro, a ouvir o Olívio das bicicletas recomendar, da comodidade gozona do passeio: “Ó menina! Meta bem a primeira!”

1 comentário:

Luís Lavoura disse...

Ah, que alívio ter tirado a carta na Pensilvânia! Nunca tive que arranhar mudanças nenhumas!

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...