sexta-feira, novembro 20, 2020

Rudy Giuliani


Não, não vou colocar aqui a fotografia do advogado de Trump, Rudy Giuliani, com o suor tingido pela tinta do cabelo, como muita imprensa está hoje a fazer, um pouco por todo o mundo. A baixeza que a utilização dessas imagens representa coloca quem recorre a esse expediente ao nível de Trump e dos seus sequazes, de que Giuliani é um dos expoentes notórios.

Quando, há quase 20 anos, fui viver para Nova Iorque, já conhecia Giuliani de nome, como presidente do município local. Era então notado por ter introduzido um estilo de rigor securitário na cidade, sendo com isso acusado de ter fomentado arbitrários controlos a suspeitos, normalmente negros. Mas, numa lógica de “law and order”, tinha imensos admiradores.

Giuliani era defensor de uma particular teoria com que eu simpatizava (e simpatizo, aplicando-a sempre que posso, na minha vida diária, pessoal ou profissional): a da “broken window”. A ideia é simples. Se uma janela aparece partida, se uma porta fica com ar degradado, se uma lâmpada se funde, se algo surge estragado, deve proceder-se de imediato ao respetivo conserto: a degradação “chama” degradação, banaliza o desleixo, cria um ambiente que favorece quem fomenta o tipo de atitude do “deixa andar”. 
No caso de Nova Iorque, Giuliani atacou e reduziu o vandalismo, criando uma forte consciência pública contra a degradação da cidade. Dizia-me quem vivia em Nova Iorque que a cidade ficou bem melhor para viver no período de Giuliani.

Com Giuliani, que já antes perseguira a máfia e desmantelara o “red light district” que enchia a zona de Times Square (de que eu bem me lembrava, quando visitei a cidade em 1972), o crime urbano baixou drasticamente, embora a doutrina se divida sobre se parte desse mérito não se deverá a fatores demográficos e económicos de outra natureza. Não sei o suficiente para ter opinião nesse debate. 

Numa das primeiras vezes que saí de casa, nesse mês de março de 2001, para dar um passeio pelas redondezas depois do jantar, apercebi-me de que havia um batalhão de viaturas de televisão à volta de uma moradia, situada a escassas centenas de metros do prédio onde ficava o meu apartamento. Se, em lugar no “New York Times” e do “Washington Post”, eu lesse o “Daily Mail” ou o “New York Post”, teria logo percebido o que isso queria significar.

A casa chamava-se Gracie Mansion e era a residência oficial do chefe da municipalidade nova-iorquina, Rudy Giuliani. Mas ele já não vivia lá. O “cerco” mediático devia-se à circunstância da sua mulher “oficial”, com quem tinha rompido pelo facto do marido se exibir publicamente com outra senhora, se recusar a abandonar a casa. Giuliani estava a acabar o seu tempo de “Mayor” mas a sua vida sentimental e respetivo escândalo pública tinham então maior relevo do que os seus feitos no município.

Isso iria mudar radicalmente, meses depois. Com um comportamento exemplar no 11 de setembro, passou a figura venerada e, até, um pouco por todo o mundo, a personificação da cidade agredida barbaramente. A sua ambição política ressurgiu então, embora sempre com limitado sucesso. Este só viria a surgir na sua qualidade de advogado, de que Trump se tem utilizado, no seu esforço patético para se agarrar ao poder.

Ontem, voltámos a vê-lo, na defesa de Trump. Por muito qualificado que Giuliani, como advogado, possa ser, a verdade é que vê-lo titular este combate contrasta um pouco, para pior, com a elegância da figura de James Baker, que, em 2000, na Flórida, tinha conduzido com sucesso a batalha legal que levou à eleição de George W. Bush.

13 comentários:

Corsil Mayombe disse...

Falta esclarecer, como foi possível viajar para o estrangeiro, aos vinte e quatro anos de idade, com o serviço militar por cumprir...!

Anónimo disse...

Ó FSC, até você cai nessa da "Flórida"? "Florida", que raio: "a terra florida".

Já agora, diz "Arcansó" ou Arkansas?

Anónimo disse...

Pode ser muito bom, o que duvido, devido a todas essas cenas e ainda daquela do Borat. Mas o facto que mais ainda o desqualifica é o facto de ser advogado de uma peça daquelas como Trump.

jose reyes disse...

Ao venenoso Mayombe:
Também viajei para o estrangeiro nos anos 70 sem ter cumprido o serviço militar. Bastou-me pedir autorização a quem de direito.

Anónimo disse...

Boa tarde 🌻

Falando com dois amigos sobre Rudy Giuliano eu dizia que o admirava pela atitude que tinha tomado em 11 de Setembro. A minha amiga dizia sempre que só um bronco teria reagido de outra maneira. Quando o assunto vem á baila pergunta "ainda o admiras?" Fui respondendo "agora menos mas estou desapontada".

Um outro amigo respondeu-me "Realmente no 11 de Setembro portou-se bem mas lembra-te que é um mafioso".

Um resto de dia com 🌞

Saudades

Joaquim de Freitas disse...

Grandeza e decadência....Quando o Washington Post escreve assim de Giuliani:"Rudy Giuliani is a mess" Uma confusao...ou uma bagunça como dizem os brasileiros , que até parece pior...



No tribunal, Giuliani alegou "fraude eleitoral generalizada em todo o país da qual isso faz parte". E então ele admitiu que, bem, não havia fraude no sentido legal, apenas no sentido histérico, invençao trumpiana. Durante toda a tarde, Giuliani falou mal, chamando Joe Biden de "Bush". Ele foi denegrido pelo advogado de defesa. Ele expressou desânimo que os condados republicanos não deixaram os eleitores enviar as cédulas voto pelo de correio, mas voltou a sua ira legal sobre os condados democratas que o fizeram.

Tudo e todos aqueles que tocam mesmo ao de leve em Trump ficam contaminados ...

J.Tavares de Moura disse...

Estou pasmado com a condenação da utilização de imagens de uma conferência de imprensa, que foi tranmitida pela quase totalidade das cadeias de televisão. São imagens pública de um acto público que estava a ser tranbsmitido em directo.

Baixeza? A sério?

Assiti em directo, na CNN, ao acto. Giuliani podia ter interrompido a conferência e evitado aquela situação, mas em vez disso decidiu continuar. Mais, depois disso fez pior ainda, tirou um lenço do bolso assuou o nariz, limpou a boca e de seguida enxugou a cabeça e o rosto sujo com o mesmo lenço. Obviamente que toda a gente ficou pasmada com o inusitado da situação e ninguém já tomava atenção ao que era dito.

O que é que sugeria? Que as Tv's tivessem feito o mesmo que o "anchor" da FOX News e tivesse interrompido a transmissão quando ainda estavam a falar outras advogadas.

Quanto à versão resumida elogiosa de Rudy Giuliani, ela é omissa em muitas acções controversas enquanto mayor de NY (a começar pela actuação violenta e racista da polícia de NY nesse tempo) e mais recentemente, enquanto advogado de Trump, procurando plantar provas na Ucrânia para incrimar Biden e o seu filho com objetivos de manipulação política.

Francisco Seixas da Costa disse...

J. Tavares de Moura. Não me pronunciei sobre as transmissões televisivas, as quais, perante o caso, se comportaram como seria natural. Giuliani, naturalmente, não se deu conta do que estava a acontecer, pelo que se comportou como se viu. A Fox foi mais decente e, logo que pôde, fugiu de divilgar essa imagem. Trata-se, muito simplesmente, de não explorar uma imagem física conjunturalmente menos feliz. O que referi foi que não faria a utilização de uma fotografia desse incidente. Ao contrário das televisões, a imprensa ou as redes sociais, se tiverem bom gosto e decência, devem evitá- la. Como eu fiz. Quanto às acusações de racismo, leia melhor o texto.

Francisco Seixas da Costa disse...

A nota de Corsil Mayombe tem algo “pidesco”. Não comento.

Lúcio Ferro disse...

É isso e o clip do Borat. Também foi censurado, bem sabemos. Mas não há diplomacia que valha a falta de carácter e de lucidez do rudy, é uma vergonha, é ridículo, trágico-cómico.

Corsil Mayombe disse...

Ao expert Reyes:

C'os diabos,estranha coincidência !
O Reyes é a reencarnação do chefe de brigada da PIDE/DGS que me rotulou de VENENOSO?
Só pode!

Corsil Mayombe disse...

Francisco Seixas da Costa se não é bruxo...parece!

Anónimo disse...

Rudy Giuliani não estará no seu melhor dia. Nem Trump no seu melhor quadrieno. Mas naquele campo há boas razões para assim estar. Uma das inquietações chama-se Dominion.
Hoje em dia haverá poucos de nós que não estejamos horas a olhar para o écran de um computador. Haverá poucos que não tenham já reparado que o computador, não poucas vezes, começa a fazer (às escondidas) o que lhe apetece, e nós a olhar sem obter as nossas respostas... Sabemos que no "background" de um processamento informático se passam automaticamente infindáveis actividades, programadas, para conseguir certos fins, lícitos ou não, que nós no "foreground" desconhecemos.
Entretanto a empresa responsável por milhares de terminais de voto, a "Dominion", aparentemente recusa ser auditada. Como diría o Snoopy: a densidade do "plot" aumenta.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...